Há sinais promissores de que o aumento de empregados com carteira assinada poderá ser mais rápido do que o de trabalhadores informais
Além da gradual redução da taxa de desemprego que vem registrando, o
mercado de trabalho pode começar a mostrar também uma melhora
qualitativa. Há sinais promissores de que, com a recuperação da
confiança dos consumidores e dos investidores, que tende a estimular o
crescimento da atividade econômica, o aumento do número de trabalhadores
empregados com carteira assinada poderá ser mais rápido do que o de
trabalhadores informais. A recuperação do emprego formal foi expressiva
no ano passado. Em 2019, o mercado de trabalho criou 644.079 empregos
com carteira assinada, de acordo com dados do Cadastro Geral de
Empregados e Desempregados (Caged) divulgado na sexta-feira passada pela
Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia. É o melhor resultado
do mercado de trabalho formal – que oferece empregos de melhor
qualidade, com mais garantia para os trabalhadores e com remuneração em
geral mais alta do que os do mercado informal – desde 2013, quando o
descalabro político, administrativo e fiscal do governo Dilma Rousseff
ainda não era claro.
O número de postos de trabalho com carteira assinada abertos no ano
passado ultrapassa em 115 mil o do ano anterior e elevou para 39 milhões
o número de empregos com vínculo formal, isto é, com todos os registros
exigidos pela legislação e, consequentemente, com as garantias e as
obrigações definidas em lei. É uma recuperação ampla. Todos os setores da economia registraram saldo
positivo de emprego formal no ano passado. O destaque do ano ficou com o
setor de serviços, que abriu liquidamente 382.525 postos; as novas
vagas oferecidas pelo comércio somaram 147.475 mil e pela construção
civil, 71.115. O menor resultado foi o da Administração Pública, que
abriu 822 vagas no ano passado. Pode ser um sinal de que, se não por
racionalidade administrativa, o setor público contratou menos por
notórios problemas financeiros.
A melhora é ampla também regionalmente. O emprego formal fechou o ano
passado com saldo positivo em todas as cinco regiões do País. Com a
geração de 184.133 postos de trabalho com registro em carteira, São
Paulo foi o Estado onde mais se contratou no ano passado; em seguida vêm
Minas Gerais, com 97.720, e Santa Catarina, com 71.406. Em dezembro, houve também ganho no salário médio de admissão, que
cresceu 0,63% em relação a novembro e alcançou R$ 1.626,06; e no salário
médio de desligamento, de R$ 1.791,97, ou 0,7% maior do que o do mês
anterior.
O resultado líquido de contratações em dezembro foi negativo, como
ocorre normalmente na época, em razão do desligamento dos contratados
nos meses imediatamente anteriores para o atendimento da demanda de fim
de ano. Mesmo assim, a redução do emprego formal em dezembro de 2019,
com o fechamento de 307.311 postos, foi menor do que a do ano anterior
(redução de 334.462 empregos).
Economistas de empresas e consultorias privadas atribuem o bom resultado
do Caged no ano passado ao aumento da confiança do empresariado na
retomada da economia e na política fiscal do governo. O secretário de
Trabalho do Ministério da Economia, Bruno Dalcolmo, evitou fazer
previsões para 2020, mas disse que “a tendência é clara, o crescimento
tem sido mais vigoroso”. No cenário mais otimista, de crescimento de 3%
do PIB em 2020, o número de novos empregos formais pode chegar a 1
milhão.
As projeções predominantes no setor privado são bem mais modestas, mas,
mesmo assim, a estimativa mais clara é a de que neste ano o PIB crescerá
mais do que nos três anos anteriores, quando foi pouco maior do que 1%.
Considerada essa hipótese e levando-se em conta também as perspectivas
melhores para o desempenho da economia e o aumento do contingente
ocupado aferido pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad)
Contínua do IBGE, deve se intensificar a migração da informalidade para a
formalidade. Ainda que tardia, será uma migração bem-vinda: até agora,
as ocupações informais vêm liderando a geração de vagas.
Editorial - O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário