Folha de S. Paulo - O Globo
Em dois dias, governo foi da onipotência à mistificação
O que aconteceu foi inédito: erraram nas notas
Aos fatos:
Vitor Brumano, 19 anos, candidato a uma vaga num curso de Engenharia, viu que sua nota não conferia. Tentou se queixar, mas não havia onde. Ligou para um 0800, e a atendente lhe disse que era isso mesmo. Registrou sua reclamação junto à Ouvidoria do Inep e recebeu a seguinte resposta: “O edital que regulamenta o exame não prevê a possibilidade de recorrer da nota, pois o desempenho do participante na prova objetiva é calculado com base na TRI, a prova do Enem tem 180 questões objetivas. Portanto, a média não é exatamente proporcional à quantidade de acertos porque as perguntas têm grau de dificuldade diferente”. Conversa de educateca.
Vitor criou um grupo no WhatsApp. Começou com sete jovens tungados e em poucos dias teve dois mil comentários.
No sábado, o ministro da Educação, Abraham Weintraub, disse que “nós
encontramos algumas inconsistências na contabilização da segunda prova
do Enem. (...) Um grupo muito pequeno de pessoas teve o gabarito
trocado. (...) Estamos falando de 0,1%”. Conta outra, doutor, foram pelo
menos seis mil jovens, e nenhum deles seria lesado em 0,1% de seu
desempenho mas, em muitos casos, em 100%.
Jair Bolsonaro e Weintraub sempre trataram o Enem como uma questão ideológica. Que seja, mas como diz o seu nome, é um exame. Quem quiser, pode travar uma guerra cultural em torno dos tipos de berinjelas. Afinal, entre outras, há as italianas e as chinesas (comunistas e globalistas). Acima das ideologias, vale a lei do professor Delfim Netto: A quitanda do governo tem que abrir cedo, com berinjelas para vender e troco para a freguesa.
Folha de S. Paulo - O Globo - Elio Gaspari, jornalista
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