Juntaram-se em Brasília neste início de 2020 três condições perigosas.
O
Congresso sente o cheiro das urnas municipais.
O presidente da República se
ocupa da criação do partido que servirá de plataforma para o lançamento de sua
candidatura à reeleição.
E a equipe econômica se pergunta até que ponto
conseguirá aprovar as reformas que ainda não foram feitas e que são vitais para
a recuperação da economia do país. Foi contra esse pano de fundo que o
secretário de Desburocratização do Ministério da Economia, Paulo Uebel,
informou que o governo levará à vitrine uma reforma administrativa "em
fases". A primeira fase chega ao Congresso em fevereiro. Antigamente,
quando se desejava empurrar uma reforma com a barriga, dizia-se que ela seria
aprovada em fatias. Agora, fala-se em "fases". Isso soa como conversa
de quem não sabe o que fazer. [ou explicação leve de um Governo que é tolhido pela atuação contrária aos seus projetos dos presidentes das duas Casas do Congresso.]
No início
da semana, Paulo Guedes havia passado uma impressão diferente numa entrevista.
Eis o que disse o ministro da Economia:
1) Embora tenha impedido o envio da
reforma administrativa para o Congresso no ano passado, Jair Bolsonaro continua
comprometido com as reformas.
2) Os presidentes da Câmara e do Senado
participam do processo de elaboração das reformas, dando sugestões.
3) Em vez
de enviar ao Legislativo reformas como pratos feitos, o governo estaria
negociando antes, para calibrar as propostas.
Uma coisa
parece não combinar com a outra. Ora, se há o aval do presidente e a harmonia
com o Legislativo, por que apresentar em fases o que pode ser debatido em
conjunto. [a harmonia com o Legislativo, a concordância daquele Poder com o Executivo, depende das conveniências políticas do 'primeiro-ministro' Maia que sempre leva a reboque seu fiel escudeiro Alcolumbre.] Reformas como a administrativa e a tributária são marcadas por uma
característica: é fácil encontrar quem as defenda, mas é muito difícil achar
duas pessoas com a mesma opinião. Ao optar pelo formato das fases, o governo
sinaliza a intenção de transformar reforma em novela. Fala-se agora em concluir
a reforma administrativa em 2022. É uma pena. Quem escolhe o momento exato
economiza muito tempo. Quem não enxerga essa obviedade perde tempo.
Josias de Souza, jornalista - Blog do Josias - Folha de S. Paulo/UOL
Brasília envia as
reformas para cima do telhado ... - Veja mais em
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