Sem estudos, países tateiam na intensidade das restrições contra o coronavírus
Ainda não se dispõe de resposta auspiciosa para os que perguntam quando o
pesadelo da pandemia do coronavírus estará superado e a vida voltará ao
normal. Países que pareciam estar lidando bem com a crise, mantendo a curva
epidemiológica sob relativo controle sem sacrificar demais a circulação
de pessoas e a economia, como Singapura, Japão e Suécia, já se preocupam
com as estatísticas mais recentes e anunciam medidas de restrição mais
drásticas.
A própria China, que começa a relaxar o cerco sobre as áreas mais
atingidas, age com extrema cautela. O receio é que o vírus volte a ter
transmissão sustentada, dando início a um segundo surto epidêmico. Os europeus Áustria, Dinamarca, Noruega, República Tcheca e Bélgica
previram retomadas graduais de atividades após a Páscoa, e a Eslováquia
reabriu parte do comércio. Mesmo nessas nações, cujos sistemas de saúde
não ficaram sobrecarregados, a cautela predomina.
Não é simples conter uma pandemia. A melhor forma de fazê-lo consiste em
desenvolver uma vacina, e alguns dos melhores cientistas do mundo
trabalham nisso. Não há garantia, porém, de que conseguirão achá-la
rapidamente e produzi-la em escala comercial.
Sem isso, epidemias de grande porte tendem a só acabar depois que
determinada parcela da população já tiver sido infectada e desenvolvido
imunidade contra o patógeno. À medida que a proporção de imunes aumenta,
diminui a probabilidade de uma pessoa infectada encontrar uma
suscetível para transmitir-lhe a doença. A certa altura, chega-se à chamada imunidade de rebanho. Não sabemos, porém, quando a teremos. Faltam bons estudos epidemiológicos sobre o Sars-CoV-2. A quantidade de
pessoas que um doente típico infecta —a informação mais importante a ser
obtida— foi inicialmente estimada em algo entre 1,4 e 3,9, mas
trabalhos mais recentes sugerem números mais elevados.
Também se desconhece a proporção de pacientes assintomáticos para cada
infectado que identificamos. Se elevada, como sugeriu um modelo de
pesquisadores da Universidade Oxford, a distância para a imunidade de
rebanho cai. A boa notícia é que estão em curso trabalhos que prometem oferecer
algumas dessas respostas, indispensáveis para um bom planejamento tanto
das necessidades hospitalares como de um eventual relaxamento das
restrições. Alguns desses estudos, como o conduzido em Heinsberg, na Alemanha, devem trazer resultados preliminares já nos próximos dias. Até o devido conhecimento, resta aos governos de todo o mundo guiarem-se
por prudência e flexibilidade para rever orientações a partir da
experiência acumulada.
Editorial - Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário