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sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

O capitão vence no jogo da morte - Fernando Gabeira

In Blog

Recentemente, um grupo de cientistas publicou na revista The Lancet um estudo calculando que 40% das mortes por covid-19 nos EUA poderiam ter sido evitadas se não fosse a desastrada política de Donald Trump. Um estudo semelhante colocaria Jair Bolsonaro em situação mais difícil. Bolsonaro é mais negacionista que Trump e na questão das vacinas se afasta radicalmente de seu ídolo americano. Afinal, Trump financiou a produção de vacinas e Bolsonaro é o único chefe de Estado do mundo que expressou uma visão negativa sobre elas.

A Confederação Nacional de Municípios [CNM - sigla versátil... permite várias interpretações da importância do que com certeza é mais um cabide de empregos.] lançou um documento em que registra as hesitações e os erros do governo no campo da vacinação em massa e pede a saída do ministro da Saúde, general Pazuello. Os prefeitos estão cobertos de razão. Nunca chegaremos a vacinar adequadamente os brasileiros com Pazuello à frente do processo. Ele prometeu que vacinaria metade das pessoas até junho, uma promessa tão absurda que não sei como senadores acreditam nela.

Bolsonaro negou a pandemia. No seu processo de negação, como todo populista, precisava de uma saída fácil para o problema. Optou pela hidroxicloroquina. Sempre afirmou que acreditava mais em remédios do que em vacinas, ao contrário da maioria dos governantes do mundo. Com essa falsa premissa começou a fazer bobagens, todas elas retardando a nossa possibilidade de ter as vacinas necessárias para imunizar rapidamente e sair da crise. Outros países tiveram mais êxito. Israel, mais da metade de sua população imunizada. A Inglaterra já alcançou 15 milhões de pessoas vacinadas. Israel tem pouca gente, a Inglaterra, por sua vez, dispõe de um sistema de saúde. [Israel além de pouca gente, possui área mínima; A Inglaterra começou a vacinar há meses, seu território é 1/65 do nosso e só vacinou até o momento um quarto da população. 
Adaptem os cálculos para o tamanho do Brasil e nossa população e vão concordar que, proporcionalmente, o Brasil vacinou bem mais - apesar de ter começado bem depois.]
Não importam tanto as características de cada um. Para ter êxito nesse processo é preciso ter vacinas. E Bolsonaro nunca pensou seriamente em comprá-las no prazo e na quantidade adequados.
 
Basta juntar duas declarações dele. Numa delas afirma que o Brasil, com seus mais de 200 milhões de habitantes, é um mercado super atraente para os produtores de vacinas. Passado algum tempo, ele diz: “Tenho R$ 20 bilhões para comprar vacinas, mas não consigo”. Não consegue mesmo é estabelecer relação entre as duas frases, não percebe que se enganou.
 
[Prezado Articulista: em parte concordamos com sua douta opinião. 
Para uma VACINAÇÃO EFICAZ a VACINA É ESSENCIAL.
Quanto a tentativa fadada ao fracasso de culpar o nosso presidente, atribuindo que ele se manifestou contra a vacina e demorou a comprar, refutamos:
a - apresente um único  brasileiro ou brasileiro que compareceu a um posto de vacinação, com a VACINA disponível - sempre ela, sem ela não se vacina - foi convidado a se vacinar e declarou que não aceitava se vacinar por ser o presidente Bolsonaro contra o uso do imunizante;
b - A União Europeia, união de países que são modelo de democracia, apoio cego à ciência, com dinheiro sobrando (alguns países discordam do fecha tudo e isola tudo e possuem baixo índice de mortes - Suécia, Noruega) tentou comprar vacina e não conseguiu na quantidade necessária.
A chefona da UE cogitou  de impedir que vacinas produzidas na Bélgica, país que integra a UE, fossem enviadas para a Inglaterra. Portanto, o que complica mesmo é o diabo da falta de vacinas - seja para o Haiti, Suécia, Brasil, Estados Unidos.]

A sabotagem de Bolsonaro às vacinas teve duas vertentes distintas. A primeira talvez seja produzida pelo obscurantismo científico. A vacina da Pfizer utiliza a técnica de RNA mensageiro, expressa uma tendência da medicina genética que vai ser usada na cura de outras doenças. Mas seus aliados diziam nas redes sociais que esse tipo de vacina altera nosso código genético. Daí surgiram o medo de virar jacaré e alguns obstáculos contratuais que afastaram a Pfizer.[alguns obstáculos contratuais: as únicas responsabilidades que a Pfizer aceitava assumir no contrato era entregar a vacina no prazo estabelecido por ela e receber o pagamento em dólar ou euro - dependendo poderia aceitar também libras esterlinas.]

A própria Sputnik V, que despertou o interesse do Paraná e é muito parecida com a Oxford, nunca chegou a interessar ao governo, até o momento em que foi adotada por um lobby de deputados do Centrão. E com isso perdeu um pouco de sua credibilidade, apesar da eficácia reconhecida em artigos científicos. Outra oportunidade perdida foram as vacinas do consórcio da Organização Mundial da Saúde, a Covax, que iria garantir vacinas para países que não a produzem. O Brasil poderia ter uma cota maior, correspondente a 50% da nossa população. Optou pela cota mínima, 10%.[que ainda não está disponível, seja na mínima seja na máxima.

Com uma sucessão tão robusta de erros, o governo de Jair Bolsonaro certamente iria fracassar no projeto de vacinação em massa. Isso não significa que no futuro não haja maior disponibilidade de vacinas. A tendência é do aumento da produção. No entanto, o conceito de fracasso é associado a dois fatores: o número de contaminações evitadas num determinado período e a capacidade de repor a economia em funcionamento o mais rapidamente possível.

Na medida em que as vacinas evitam também evoluções graves e letais da doença, quanto mais tempo se perde, mais vidas são levadas pelo vírus. Por essa razão uma pesquisa de cientistas sobre o peso da política negacionista no número de mortes encontraria um resultado diferente do constatado nos Estados Unidos. Os 40% de mortes atribuídas à política de Trump nos Estados Unidos seriam, aqui, acrescidos das mortes produzidas pelos erros na política de vacinação. Sem contar o fato de que Trump percebeu com alguma rapidez que a hidroxicloroquina era uma canoa furada e despachou os estoques para seu admirador tropical.

Nessa corrida para o troféu de mais mortes por estupidez política, Bolsonaro deverá suplantar Trump. O americano já se foi e aqui a sinistra batalha continua: faltam vacinas e uma nova variante se espalha pelo País, graças também à opção do governo de ignorá-la.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista

Artigo publicado no Estadão em 19/02/2021


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