Com
a aposentadoria de Celso de Mello, o ministro Edson Fachin assumiu o
posto no STF (Supremo Tribunal Federal) de principal crítico do
presidente Jair Bolsonaro e da atuação política de militares.
Assim como fez o ex-decano da corte no início do atual governo, o
magistrado tem alertado para eventuais riscos à democracia que a
militância bolsonarista pode representar.
O último episódio de acirramento na relação entre o Supremo e o Palácio
do Planalto surgiu justamente de uma nota em que Fachin responde ao
ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas e afirma ser “intolerável e
inaceitável qualquer tipo de pressão injurídica sobre o Poder
Judiciário”.
O ministro se referia às revelações do general da reserva de que a
publicação de um tuíte em 2018 para pressionar a corte um dia antes do
julgamento que levou à prisão do ex-presidente Lula (PT) foi elaborada
por ele junto com “integrantes do Alto-Comando” das Forças Armadas.
Com as críticas aos militares e ao chefe do Executivo, Fachin manda
sinais para a esquerda, responsável pela sua indicação ao STF e por quem
é considerado inimigo político desde que assumiu a relatoria da Lava
Jato na corte.
Não foi apenas no embate com Villas Bôas que Fachin criticou a
movimentação política de militares. Em recente entrevista à Folha, o
ministro citou a “remilitarização do governo civil” como um dos sete
sintomas que revelam a existência da “corrupção da democracia” no
Brasil.
E classificou como "preocupante" a presença do general Eduardo Pazuello no Ministério da Saúde.
Relator da Lava Jato no STF, o magistrado será presidente do TSE
(Tribunal Superior Eleitoral) entre fevereiro e agosto de 2022, ano de
eleição presidencial, e tem apontado o comportamento de Bolsonaro como
um risco ao sistema eleitoral brasileiro. Sem mencionar o presidente, ele listou à Folha a “recusa antecipada de
resultado eleitoral adverso” e a “depreciação do valor do voto” como
sintomas da corrupção democrática do país.
A afirmação ocorreu pouco mais de um mês depois de o chefe do Executivo
ter declarado que o Brasil pode ter um “problema pior que nos Estados
Unidos” caso não tenha voto impresso no pleito de 2022.
Bolsonaro fez referência à invasão do Congresso americano por uma
multidão que não aceitava a vitória de Joe Biden contra Donald Trump,
aliado do presidente brasileiro. Fachin, no entanto, teme que o risco no Brasil seja maior, uma vez que
nos Estados Unidos não houve “adesão de lideranças políticas à tentativa
de golpe nem ocorreu a atuação ilegítima das forças de segurança e das
Forças Armadas”.
O ministro tem sido visto no tribunal como o sucessor de Celso de
Mello, que se aposentou em outubro do ano passado, no enfrentamento com
Bolsonaro e com a participação política de militares no governo. Em maio do ano passado, no auge da crise entre os Poderes, quando
Bolsonaro participou de manifestação que pedia fechamento do Congresso e
do Supremo em frente ao Quartel General do Exército, o então decano deu
a declaração mais dura de um ministro da corte contra o presidente.
"Guardadas as devidas proporções, o 'ovo da serpente', à semelhança do
que ocorreu na República de Weimar (1919-1933) parece estar prestes a
eclodir no Brasil", afirmou em mensagem enviada a outros ministros do
Supremo.
Agora, apesar de ainda não ter feito uma comparação tão pesada, Fachin
tem adotado a mesma linha de alertar para o risco dos ataques da
militância bolsonarista às instituições.
Esta também é uma forma de o ministro tentar se reconciliar com a
esquerda, que garantiu sua ascensão ao Supremo e passou a criticá-lo
pela defesa que faz da Lava Jato.
A posição favorável à operação e crítica do atual governo, porém, faz com que seja criticado por ambos os campos políticos.
Após comentar as revelações de Villas Bôas sobre os bastidores da
publicação de um tuíte às vésperas do julgamento de Lula, o ministro foi
ironizado pelo próprio general da reserva pelo fato de a reação ter
ocorrido três anos depois e também foi contestado pelo petista.
Na última quinta-feira (18), em entrevista ao UOL, o petista questionou
o momento escolhido por Fachin para comentar o caso. "Por que o Fachin
veio falar agora, três anos depois? Por que se acovardou na hora?",
disse.
Em 2015, porém, a maior parte do PT apoiou e comemorou a escolha de Fachin.
Na época, a então presidente Dilma Rousseff (PT) já estava com a
popularidade em baixa e enfrentava críticas inclusive da esquerda por
ter adotado uma linha econômica mais liberal ao nomear Joaquim Levy no
Ministério da Fazenda. A presidente, então, decidiu nomear Fachin como um aceno a partidos considerados progressistas e aos movimentos sociais.
Advogado de carreira, ele contava com extenso currículo acadêmico, mas
os questionamentos surgiram devido à vinculação com o partido da então
presidente. Em 2010, Fachin chegou a participar de um evento em apoio a
Dilma e a ler um manifesto, em nome de inúmeros juristas, a favor da
eleição da petista.
O ministro chegou ao Supremo de maneira discreta. O magistrado não
costuma dar entrevistas e usa uma linguagem mais técnica ao proferir
seus votos.
No início de 2017, porém, Teori Zavascki, que era o relator da Lava
Jato, morreu em um acidente de avião, e Fachin agiu para assumir seu
lugar à frente da operação que gozava de amplo prestígio popular. Desde então, tornou-se um dos principais defensores da operação que
levou à debacle do PT. Como consequência, passou a ser criticado pelo
partido que era próximo e o indicou ao Supremo.
Filhos
Já o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) afirmou, em entrevista à jornalista Leda Nagle, que "se a esquerda brasileira radicalizar, uma resposta pode ser via um novo AI-5". "Se a esquerda radicalizar a esse ponto, a gente vai precisar ter uma resposta. E uma resposta pode ser via um novo AI-5, pode ser via uma legislação aprovada através de um plebiscito como ocorreu na Itália. Alguma resposta vai ter que ser dada"
Ministros
Após a fala polêmica de Eduardo sobre o AI-5, o chefe do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, general Augusto Heleno, disse em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo que editar um "novo AI-5", como sugeriu o deputado, exigiria estudos. "Não ouvi ele falar isso", afirmou.
"Se falou, tem de estudar como vai fazer, como vai conduzir. Se houver uma coisa no padrão Chile [referência a protestos que se espalharam pelo país em 2019 e 2020], é lógico que tem de fazer alguma coisa para conter."
O ministro da Economia, Paulo Guedes, também minimizou a declaração de Eduardo?
DefesaNet - Transcrito em 23 fevereiro 2021
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