J. R. Guzzo
Área de ‘humanas’ é o território ideal para a prática do estelionato pedagógico que vem se tornando a marca registrada do ensino em escolas de rico
O colégio Avenues, de São Paulo, cobra mensalidades de R$ 10 mil – quer dizer, é coisa exclusiva para gente muito rica.
Mas o colégio, ao que parece, não está satisfeito apenas com isso;
além do dinheiro dos pais milionários, quer também que os seus filhos saiam de lá prontos para combater na linha de frente da revolução socialista, ou comunista, ou coletivista, ou seja lá o nome que dão hoje aos movimentos de salvação da humanidade operados por aglomerações políticas de esquerda.
O resultado é que os pais pagam para os filhos aprenderem que eles, pais, são criminosos sociais perigosos, que estão destruindo o Brasil e o mundo com as suas atividades capitalistas – e precisam ser detidos o mais rápido possível. É o trabalho prático que, segundo se aprende na Avenues, a moçada terá de fazer quando sair da escola.
Um episódio ocorrido dias atrás mostra com perfeição o que os alunos estão recebendo em troca das suas mensalidades.
Um professor de antropologia, ele próprio militante político de “esquerda”, chamou para uma palestra a conhecida Sonia Guajajara, profissional do movimento “indígena” há anos, e presença garantida em manifestações contra o Brasil na Europa, ou contra o agronegócio aqui na frente do Congresso.
Guajajara, é óbvio, disse que a atividade agropecuária é uma desgraça terminal para o Brasil: está destruindo o país com “agrotóxicos”, extermina os índios e é responsável direta por uma montanha de crimes sociais hediondos. Um dos alunos, na hora do “debate”, quis discordar: ouviu um cala-a-boca do professor-antropólogo. O homem disse que era doutor em antropologia, especialista “em Harvard”, e que o garoto só poderia se manifestar no dia em que soubesse tanto quanto ele em matéria de ciência antropológica.
Mas não era um debate, com a palavra livre para os alunos?
Não no modelo de debate que vigora no colégio Avenues.
É claro que essas coisas não acontecem nas aulas de matemática ou física, mas só nas áreas de “humanas” – o território ideal para a prática do estelionato pedagógico que vem se tornando a marca registrada do ensino em escolas de rico. O desfecho do episódio é uma aula perfeita sobre a vida real nesse mundo. O aluno foi repreendido por que “discordou da senhora Guajajara de maneira desrespeitosa”.
O professor continua lá – o máximo que disseram é que a sua intervenção repressora não foi a mais apropriada. Os garotos vão continuar recebendo lavagem cerebral. Os pais vão continuar no papel de bobos – acham que por pagarem R$ 10 mil por mês seus filhos estão aprendendo alguma coisa. É um dos maiores contos do vigário que se encontra hoje na praça.
J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo
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