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domingo, 29 de outubro de 2023

Autoridades erram feio na Segurança e transformam Rio de Janeiro em território ocupado pelo crime - O Estado de S. Paulo

J. R. Guzzo

Governos ficam lamentando, falam em mandar ‘tropas’, mas sabem que tudo o que tem de fazer é simular atividade e ficar esperando o tempo passar

O Congresso Nacional, o supremo sistema judiciário e as classes intelectuais, que querem pensar por todos os brasileiros, transformaram o Brasil num território livre para o crime
Tomaram 30 anos atrás, ou algo assim, uma decisão fundamental: ficar ao lado dos criminosos e contra os cidadãos. 
 Com o apoio da maior parte da mídia, dos “movimentos sociais” e dos advogados criminalistas mais bem pagos, o Poder Legislativo passou a aprovar sistematicamente, nestas três décadas, leis em benefício direto da bandidagem e dos bandidos.

A grande teoria é que o crime, no fundo, é um “problema social”, causado pela pobreza, pela incompetência dos governos e pela “sociedade”. Enquanto não se resolver isso tudo, sustenta o “campo progressista”, a prioridade do poder público não pode ser a repressão aos atos criminosos. Tem de ser a recuperação moral dos bandidos, a oferta de oportunidades para que possam viver honestamente e, acima de tudo, a multiplicação permanente dos seus direitos diante da Justiça.

Ônibus incendiado no Rio após morte de miliciano; regiões inteiras da cidade não fazem mais parte do território nacional Foto: Pedro Kirilos/Estadão - 23/10/23
Deu espetacularmente certo para os criminosos – e errado para o cidadão. Na última explosão de banditismo no Rio de Janeiro, os marajás do crime organizado queimaram ônibus, fecharam ruas e mostraram quem manda nas suas áreas de ação. 
O trabalhador ficou sem transporte. É o “novo normal” do Rio. 
Regiões inteiras da cidade não fazem mais parte do território nacional; é como se tivessem sido ocupadas por uma tropa estrangeira, que não reconhece a existência da República Federativa do Brasil, nem do “Estado”. 
Nos episódios mais recentes de violência, inclusive, as quadrilhas capricharam em esfregar na cara dos governos que no país controlado por elas existe a pena de morte – e que estão dispostas a continuar aplicando suas sentenças. 
As autoridades ficam lamentando; falam em mandar “tropas”, mandar “verbas”, mandar o Batman. Sabem que tudo o que tem de fazer no momento é simular atividade e ficar esperando o tempo passar. Daqui a pouco as pessoas esquecem – e o Rio de Janeiro voltará às suas condições normais de temperatura e pressão.

Os brasileiros que cumprem a lei sabem, há muito tempo, que o Estado deixou de assegurar o seu direito constitucional à vida.  

Sabem, também, que os peixes graúdos do aparelho público que controlam as suas vidas, além dos milionários, vivem num país onde não há crimes, nem qualquer ameaça para a sua segurança pessoal – rodam em carros blindados, têm esquadrões armados em sua volta e não precisam chegar a menos de 50 metros de distância da população. Sua única preocupação é condenar a até 17 anos de cadeia os acusados de um quebra-quebra que consideram “golpistas”.

 

J. R. Guzzo, colunista - O Estado de S. Paulo

 


quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Mandante fora da lei: vocês todos têm culpa no cartório! - Gazeta do Povo

Rodrigo Constantino - VOZES

Alexandre de Moraes passou de todos os limites. Autorizou busca e apreensão, censura em redes sociais e congelamento de contas bancárias de empresários com base em absolutamente nada, em conversas particulares num grupo fechado de WhatsApp, publicados por um site de fofocas.

O pedido, como agora sabemos, não partiu sequer da ala alexandrina da Polícia Federal, mas sim do senador saltitante Randolfe Rodrigues. 
O mesmo que recentemente convocou seus companheiros do MST a tomar as ruas e de lá não mais saírem até "derrubar o governo Bolsonaro".

O deputado Paulo Eduardo Martins, candidato ao Senado pelo Paraná, desabafou: "Eu achava que um dos problemas do nosso sistema político era a randolfização da política, que implica em acionar o STF pra tudo. Errei. O problema é muito maior do que enxerguei. A randolfização da política levou à randolfização da Suprema Corte, o que é ainda mais danoso."

Ficou tão insustentável a situação que até a mídia mainstream começa a se afastar do arbítrio. Se Vera Magalhães ainda aplaude no Globo a "medida preventiva" contra um golpe imaginário futuro, a ser perpetrado por empresários na faixa dos 70 anos com reputação ilibada, alguns editoriais e colunistas passam a subir o tom.

Foi o caso da Band, que leu um editorial em seu telejornal acusando Alexandre de ser "mandante fora da lei" caso não apareçam provas ou indícios mais robustos para tamanha agressividade. Paulo Martins aplaudiu: "Jornal da Band dá exemplo e em editorial questiona a decisão do STF que determinou uma devassa na vida de empresários no caso do 'golpe do WhatsApp'. Antes de qualquer posição política, as garantias constitucionais".

Carlos Andreazza também publicou uma coluna em que condena o abuso e constata: "Não temos Batman". Para ele, o ministro da Corte constitucional "foi à pesca com a Polícia Federal", e isso abre perigoso precedente já que "será difícil lhe cassar a vara depois". Moraes, afinal, "não tem mandado de pacificador; muito menos de justiceiro". E Andreazza acrescenta: "ainda que diante do pior dos Coringas".

Eis meu ponto aqui: antes tarde do que nunca, mas esse tipo de condenação mais veemente vem muito tarde sim!  Essa imprensa passou pano por tempo demais, relativizando inquérito ilegal, aplaudindo CPI circense comandada por figuras como Alexandre Frota e Joice Hasselmann ou Renan Calheiros, Omar Aziz e Randolfe Rodrigues. Tudo pois o alvo era o bolsonarismo.
 
Milícias digitais, gabinete do ódio, fascistas, golpistas, as narrativas sempre alimentaram esse clima paranoico que acaba permitindo o "vale tudo" contra tais "monstros".  
Hoje a imprensa começa a se dar conta de que pau que bate em Francisco também dá em Chico, algo que alertei desde o começo. 
Mas virei "bolsonarista" por apontar o óbvio.
 
Com raras e honrosas exceções, como esta Gazeta do Povo e a revista Oeste, a triste verdade é que boa parte dessa mídia tem culpa no cartório.  
Xande não virou a "muralha" a impedir o golpismo bolsonarista em capa de revista que já foi importante? 
O ministro não passou a ser ícone da resistência democrática, da turma que assina cartinha boboca ao lado de lulistas?
 
O perdão é sempre belo e cristão. Poderemos perdoar muitos, desde que haja arrependimento sincero e aprendizado de importantes lições. Vocês todos brincaram com fogo. E agora temos um incêndio a apagar. Juntem-se o quanto antes aos patriotas que têm clamado por respeito à Constituição e criticado com firmeza os abusos supremos
Isso não é "ataque às instituições", como vocês repetem com frequência. Isso é defesa das liberdades básicas!
 
Rodrigo Constantino, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

terça-feira, 30 de agosto de 2022

Não temos Batman - Carlos Andreazza

Alexandre de Moraes é ministro de Corte constitucional. Não o Batman. Peço vênia pela franqueza. Nada é pessoal. Sou, sobretudo, óbvio. Moraes, ou qualquer outro de seus pares, não tem mandato de pacificador; muito menos de justiceiro
Ainda que diante do pior dos Coringas: não tem. E deveria mesmo zelar pelo esvaziamento de sua presença monocrática. Nada contra a vaidade. Tudo pelo foco. Não temos Batman. Mas há o prestígio de estar no lugar mais alto do Judiciário. Deveria bastar. Um entre os 11. Não um porque entre os 11. 
 
O Supremo não pode ser plataforma para a impulsão moderadora de um juiz onipresente; de repente tranquilo para decidir — para mandar entrar na casa das pessoas e lhes bloquear as contas — com base em reportagem jornalística
Pense-se no efeito cascata disso. Aqui o magistrado se move — mal — a partir de bom jornalismo. Imagine-se, porém, o precedente aberto para canetadas judiciais, Brasil profundo adentro, assentadas em publicações fraudulentas.

A obviedade: a força de uma Corte constitucional está na voz do colegiado. Não no exercício da musculatura individual ao alcance de seus integrantes; o que deveria ser exceção — não abuso.

Abusa-se. Estou à vontade. Denunciei os perigos do inquérito das fake news no dia em que instaurado
Tudo caberia no escopo daquela defesa institucional sem objeto definido, em que a vítima também seria o julgador, antes ainda promotor. 
Aquela largueza sugeria desdobramentos temerários. Era março de 2019; e não tardaria até que produzisse censura contra uma revista, a Crusoé, que publicara reportagem incômoda para o então presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli.

Ali se subiu um degrau nas liberdades para que o relator, Moraes, agisse, porque em defesa da democracia, a seu bel-prazer. Já temos a volta do PowerPoint.

O que é defender a democracia? 
Qual a possível defesa da democracia pelo Supremo? Como um ministro do STF pode defender a democracia? 
Até onde pode avançar, o monocrático, para defendê-la? 
O que a urgência em defendê-la permite? 
Permitimos que se defenda a democracia à margem das balizas republicanas? Vale a pescaria?

Moraes autorizou buscas contra empresários que, em conversas privadas asquerosas, manifestaram predileções golpistas. Sua decisão informa que não há outros elementos fundamentando as medidas — também bloqueio de redes sociais que não simplesmente aquela troca de mensagens estúpidas entre idiotas ricos.

É grotesco. Porque as mensagens, per se, não indicam organização para financiamento de atividade antidemocrática o que seria, aí sim, crime. Não indicam; nem forçando a barra. 
E não será aceitável que um guarda da Constituição, com base somente naquilo, respalde antecipação coercitiva ao que intui ser a fumaça da pretensão golpista. Moraes não tem esse poder. 
 
Não tem o poder de agir com base na previsão de que a estupidez manifestada no zap por endinheirados desaguaria em financiamento à instabilidade no dia da Independência. 
Não tem o poder de ordenar atos para dissuasão escorados em bravatas desprovidas da mais mínima articulação
Não tem mandado para agir preventivamente pela garantia de um 7 de Setembro pacífico. 
Não lhe é papel mover-se estrategicamente para, antecipando ação policial, desencorajar possíveis intenções de bancar ataques à ordem republicana. 
 
O que significará um ministro do Supremo afirmar, sustentado apenas naquelas conversas cretinas, não ter dúvidas “de que as condutas dos investigados indicam a possibilidade de atentados contra a democracia e o Estado de Direito”? 
Que loteria é essa, em que a indicação de possibilidade lastreia certeza materializada em intervenção policial?

Juiz nenhum pode ter tal poder. Advirta-se que, sendo agora esses excessos bacanas, exceções virtuosas, excentricidades que permitimos porque contra o mal, será muito difícil retirar adiante essa autorização caçadora de quem a esbanja. Advirta-se também que a licença que se dá a Moraes vira precedente a um Mendonça.

Não precisamos de mais um herói togado. Herói togado é oximoro que expõe a doença de uma sociedade à procura de mitos. Já os temos muitos. Está aí nossa tragédia. Herói togado é convite à briga de rua; terreno em que o bolsonarismo será imbatível. E aqui não duvido de que Moraes almeje o bem. Bem faria o Supremo, ajudando na pacificação do país, se, em sua máxima expressão, a plenária, impessoal e derradeira, defendesse a matéria constitucional agredida pelo orçamento secreto — corda e caçamba bilionária para a permanência do populismo autocrático que erode a República no Brasil.

Cadê? Isso seria defender a democracia. Moraes não deveria ambicionar o posto de homem que evitou o golpe de Estado. O golpe que está em curso prospera com a omissão do STF. Nem sugerir, aqui e acolá, que a imprensa só reage agora contra suas gestões arbitrárias porque tocaram em empresários potenciais anunciantes. [matéria excelente; só que nessa frase, o ilustre articulista, deixou transparecer a verdadeira motivação da imprensa militante - sempre silenciosa diante de outros supremos abusos - se manifestar criticando a suprema monocracia do ministro Moraes.] Isso, essa fraqueza conspiracionista, é linguagem bolsonarista. A briga de rua contamina mesmo.

Carlos Andreazza, colunista - O Globo


quarta-feira, 8 de junho de 2022

Mitologia eleitoral - Percival Puggina

Mito é um produto de imaginação, partilhado por uma cultura ou por uma sociedade, ao qual estão atribuídos certos significados, poderes, expressões de caráter, etc. Muitos eleitores de Bolsonaro o saúdam efusivamente proclamando “Mito, mito, mito!”.

Ainda que em nosso presidencialismo e nas tensões que marcam a relação do governo com o Congresso e com o STF os “poderes míticos” de Bolsonaro estejam condicionados à dureza dessas refregas, a aclamação tem forte apelo político e eleitoral. Isso é bom ao confronto assinalado para o mês de outubro.

A persistente observação da conduta adotada pela maioria dos ministros do STF acabou por tornar evidente para mim que também essa maioria vê Bolsonaro como um ser mitológico. 
Pessoas como Alexandre de Moraes, Roberto Barroso, Edson Fachin, não saem às ruas dizendo mito, mito, mito. 
No entanto, ao escalá-lo como inimigo preferencial, atribuem a ele construtos de sua própria imaginação. Projetam nele seus fantasmas. Para os ministros, o presidente é uma espécie de Coringa, num filme em que cada um se vê como Batman.

A vida me ensinou que posso muito bem avaliar o caráter de alguém conhecendo seus amigos e seus inimigos. Queiramos ou não, entre estas paixões humanas – amizades e inimizades – nosso caráter se desnuda por inteiro. A porta que assim se abre faz parte da sabedoria universal, expressa no conhecido “Dize-me com quem andas e dir-te-ei quem és”. Sabem os pais, ensinam-no aos filhos, têm consciência disso os cidadãos.

O fato de alguns ministros revelarem sua malquerença e sua inimizade da forma como fazem, ultrapassando os limites da sensatez, é um enorme erro estratégico!  Ninguém valoriza mais seu inimigo do que aquele que faz de sua destruição o sentido de seu agir.

No momento em que um indivíduo investido em poder, ou o colegiado de um poder de Estado torna notória sua inimizade, imediatamente é acionado no observador, no cidadão, no eleitor, o mecanismo de comparação: “Quem são os amigos desses que revelam sua inimizade ao presidente da República? Com quem eles confraternizam?”. É exatamente o que, de modo simétrico, fazem os inimigos do presidente, combatentes entrincheirados em um poder que deveria ser neutro, quando se referem aos eleitores de Bolsonaro como malfazeja horda.

Eles precisam ver assim as famílias que saem às ruas e praças, rezando, cantando o hino nacional e expondo suas convicções enquanto agitam com orgulho bandeiras do Brasil. Os inimigos do presidente, ao coibi-los, confrontá-los, desqualificá-los, prestam-lhe inestimáveis serviços.

Percival Puggina (77), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do Brasil. Integrante do grupo Pensar+.


domingo, 15 de maio de 2022

Porte de voz proibido (para conservadores)... - Adriano Alves-Marreiros

Tolerância libertadora, então, significa intolerância com movimentos da Direita, e tolerância com movimentos da Esquerda.

Herbert Marcuse. (Escola de Frankfurt).

 Porte de arma deveria ser proibido para pessoas de bem, até porque, segundo eles, pessoas de bem não existem.  Existem e importam apenas aqueles que querem nos empurrar o “bem maior” que é algo que não deve ser questionado.  Já para o pessoal ideológico, o porte de armas pode até ser ostensivo sem problemas: só eles precisam de segurança.  Suas vidas valem mais que as nossas.

Mas esse porte já se discute há muito tempo e sempre há tendências totalitárias que querem desarmar o porco espinho para os leões poderem fazer a festa...  Hoje estou falando de outro, que eles acham que é mais perigoso que pegar em armas: o porte de VOZ.  O porte de uma opinião própria que contrarie quem determina o que é politicamente correto: a turminha da ideologia, da revolução, da transformação social, de um tal “mundo melhor”[1]...

Minhas crônicas são tradicionalmente curtas. Prefiro assim: é o meu estilo.  Esta não será!  Se não gosta de ler coisas maiores e mais densas que um tuíte, sugiro ir ler outra coisa.  Esta será longa até para eu exercer o meu porte de voz o suficiente para me satisfazer...  Tenho que curtir o máximo enquanto posso, enquanto não caçam o meu porte.

Critiquei ontem o famigerado “garantismo” penal[2], doutrina consolidada por Aquele Italiano que não Deve Ser Nomeado.  Essa turma vive chamando os outros de “punitivistas” e, por vezes, até de “fascistas” (como ensinou o genocida Stalin), alegando que “punir não resolve”, “prender não resolve”.  Mas... prossigamos...

É curioso que tem gente que acha que o grande problema do país é a corrupção.  Besteira!  Como já explicou algumas vezes meu amigo Motta, o maior problema do Brasil é a impunidade: a corrupção é só uma das decorrências dela...

E o Brasil é engraçado.  “Em se plantando tudo dá”, segundo Pero Vaz.  Mas o Brasil vai além da agricultura nesse quesito.  Plantando-se uma ideia no solo correto, aquele que não oferece resistência ao arado, e por mais absurda que seja, você verá brotar uma colheita maldita sob aplausos, sorrisos e comemorações.  Aqui nós vimos, deste a década de 80, o crime aumentar com o laxismo penal e a cada ano o que se propõe é mais molezinha pra bandido...

A Análise Comportamental e a Análise Econômica do Direito mostram bem isso[3]...  A consequência punitiva sempre vai gerar uma menor probabilidade de repetição daquele padrão comportamental no futuro.  E o que se faz por aqui??? Quanto mais crime menos se pune e mais se propõe punir menos e forma de evitar a prisão: e até o processo!!!  Atribuem por vezes a Einstein, por vezes a outros gênios, uma frase que define a estupidez como continuar fazendo as mesmas coisas e esperar resultados diferentes.  Mas não precisa ser gênio para entendê-la e concordar com ela.  Não importa quem disse: isso é o básico de lógica...

E o pior é que a liderança dessa turminha sabe disso.  Eles entendem bem que punir faz diminuir o comportamento do futuro: não só do punido (que recordará de sua história comportamental), como das demais pessoas (que perceberão um contexto de punição quando ocorre aquele comportamento).  No Brasil, a história comportamental do bandido e o contexto geral são de impunidade.  Mas essa turminha sabe, sim, que punir adianta: a questão é o QUE eles querem punir.  
Aliás, o que, não: QUEM, porque para o politicamente correto, não importa o que se diz, mas quem diz.  E os conservadores devem ser calados, como ensinou, por exemplo, Marcuse: na frase que abre esta crônica...

Briguet avisou que o crime sem castigo levaria ao castigo sem crime.  E hoje vemos isso: plantou-se a impunidade para crimes e colhemos a punição para quem não praticou crimes.  E não só a punição com insegurança, medo, perda de propriedades, de sonhos, de pessoas queridas... Prisão mesmo: e longa!

Hoje vemos, cada vez mais, a punição pra quem não muda de pensamento adotando a narrativa politicamente correta e a submissão ao establishment.  A punição para quem não esconde dentro de si as verdades proibidas pela narrativa.  A punição para o dissidente.  O crime de pensamento, crimidéia: como profetizado por Orwell.  Hoje, nada é mais grave que discordar de ideologia extremista, e os extremistas (estes os reais), usando da falácia do espantalho, afirmam que os dissidentes são aquilo que não são, afirmam que os dissidentes fizeram o que não fizeram.  
Aí os criticam duramente pelo falso ser ou falso fazer que inventaram, repetem histrionicamente, como papagaios, palavras de ordem — que hoje são expressões como “discurso de ódio”,  “extremistas”, “fascistas”, “liberdade de expressão não é para (...)”, sem sequer saberem o que significam e querem punir os dissidentes por isso: puni-los com a cadeia da qual querem tirar traficantes, assaltantes, assassinos...  Deve ser pra dar vaga pra isso como Pessi já explicou narrando fatos antigos [4] e mostrando quem eram os “fascistas” segundo os comunistas...

Não à toa tantos “garantistas” apoiam duras punições a crimes de opinião, mesmo que QUAISQUER deles não fossem puníveis em razão de dispositivos constitucionais expressos e autoaceitáveis.  Os malditos anos em que todos usaram máscaras foram justamente aqueles em que mais máscaras caíram: e só então percebemos quem já as usava muito antes da pandemia...

A corrupção do CP e do CPM nem é o pior tipo de corrupção.  Nem é o pior mal que o corrupto pode praticar.  O pior é quando ele se vale dela (ou até sem ela) para conseguir implantar a corrupção da inteligência de que bem fala o Gordon, que não é o Comissário amigo do Batman: muito embora até o Batman esteja correndo perigo de ser desconstruído, ou ser calado, se resistir à desconstrução...

“Assim  é  narrada  por  Aleksandr  Soljenítsin  a chegada de seu grupo de prisioneiros a um campo disciplinar  -de “extermínio pelo trabalho” -da  União  Soviética,    no  dia  14 de agosto de 1945 (coincidentemente, a mesma data em que foi proclamada a rendição do Japão). A cena iria se repetir no final do  Verão  e  no  Outono  daquele  ano  em  todas  as  ilhas  do “Arquipélago  Gulag”,  onde  a  chegada  dos  “fascistas”  abriria caminho  para  a  libertação  dos  presos  comuns  (o  que  incluía estupradores,  assaltantes  e  traficantes  e  até  mesmo  desertores), anistiados por Stalin. Mas  quem  eram  os  fascistas,  afinal?  Eram  os  presos políticos  enquadrados  no  artigo  58  do  Código  Penal  de  1926. Segundo  observou  Soljenítsin,  não  havia  debaixo  da  cúpula celeste  conduta,  desígnio,  ação  ou  inação  que  não  pudesse  ser punido  pela  mão  pesada  do  art.  58.  De  seus  catorze  parágrafos nenhum  era  interpretado  “de  maneira  tão  ampla  e  com  tão ardente   consciência   revolucionária   como   o   décimo –‘A propaganda    ou    agitação    que    contenham    um    apelo    ao derrubamento  ou  enfraquecimento  do  Poder  Soviético...  e também a difusão, preparação ou conservação de literatura com esse mesmo conteúdo’” –, cuja pena não possuía limite máximo!

Diego Pessi

Crux Sacra Sit Mihi Lux / Non Draco Sit Mihi Dux 
Vade Retro Satana / Nunquam Suade Mihi Vana 
Sunt Mala Quae Libas / Ipse Venena Bibas

(Oração de São Bento cuja proteção eu suplico)

P.S.  Agora o livro 2020 D.C. Esquerdistas Culposos e outras assombrações tem uma trilha sonora com canções e músicas de filmes citados: 

P.S.2: Compre o livro de crônicas.

Publicado no excelente portal Tribuna Diária, originalmente 

 

sexta-feira, 23 de julho de 2021

Conspiração auditável - Gazeta do Povo

Guilherme Fiuza

Você está preocupado à toa com a eleição do ano que vem. Está tudo bem. A corte que reabilitou Lula, tornando-o elegível apesar dos seus crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, tem um ministro bem atento na presidência do TSE que já contratou simpatizante petista para explicar que o sistema é seguro e à prova de fraude. Dá ou não dá uma tranquilidade total isso aí?
Não há o que temer. Quem põe um ladrão no jogo e usa simpatizante dele para atestar que o jogo será limpo só pode estar bem intencionado.

Esse mesmo ministro diligente esteve nos Estados Unidos na eleição presidencial e concluiu em 24 horas que o processo foi perfeito. As próprias instituições americanas levaram dois meses averiguando uma torrente de indícios de fraude – e apesar da diplomação do novo presidente estão averiguando até hoje em vários estados – mas o observador oficial brasileiro é mais sagaz do que todas as instituições norte-americanas juntas: a ele bastou uma olhada por alto para dar o veredicto instantâneo da lisura.

E a proposta da instituição no Brasil do voto auditável, por meio de comprovante impresso? Não precisa. Não é o caso. Deixa pra lá. Assim tá bom. Não esquenta – argumentaram os eminentes árbitros do processo. Mas a matéria seguiu em frente, as audiências trouxeram técnicos comprovando a possibilidade de fraudar as urnas inauditáveis, e aí o deixa pra lá virou de jeito nenhum!

Pelo menos duas togas esvoaçantes decolaram da suprema caverna em direção ao poder parlamentar e reuniram em torno de si um bom punhado de líderes partidários. Depois desse movimento cinematográfico, tudo mudou. A comissão temática do voto auditável sofreu uma metamorfose ao vivo. Com vários transplantes de membros, deixou de ser um fórum favorável ao aprimoramento da segurança eleitoral para se tornar um matadouro do voto auditável. Santa coincidência, Batman!

Detalhe: tudo isso à luz do dia, na cara de todo mundo. Não tem ninguém inibido nesse front. Deputados que participaram das audiências e formaram seu juízo a partir de discussões técnicas foram simplesmente rifados pelos partidos e substituídos por integrantes novinhos em folha que não tinham participado de nada. Santa convicção, Batman! E de onde terá vindo tão súbita e irremovível convicção contra a instituição do voto auditável? Adivinha.

Repetindo: não tem ninguém inibido nesse exótico balé de togas e gravatas. Inibido aqui só você, que está vendo essa coreografia estático, da primeira fila – e nas piruetas mais arrojadas as togas e as gravatas chegam a dar na sua cara. Continua sentado aí até a eleição de 2022 pra ver o que te acontece.

Então o resumo é esse:
o anseio de grande parte da sociedade por mais segurança no processo eleitoral está em jogo numa comissão da Câmara que foi operada por um lobby togado, na frente de todo mundo, para assassinar a reforma no nascedouro. Esse lobby acha que vai matar a possibilidade de auditagem da eleição com uma manobra de gabinete, metendo o bisturi numa comissão restrita, transplantando uns deputados e correndo pro abraço.

Vejamos se o país vai ficar assistindo ou vai mostrar o seu tamanho aos anões morais dos gabinetes.

Guilherme Fiuza, colunista - Gazeta do Povo - VOZES


segunda-feira, 18 de novembro de 2019

Papai, quero ser juiz do Supremo - Folha de S. Paulo

Vinicius Mota

Quem tem mais poder: Super-Homem ou um ministro do STF do Brasil?

Quem tem mais poder: Super-Homem, Thor, Mulher Maravillha, Aquaman ou um ministro do Supremo Tribunal Federal do Brasil? A presidente da República nomeia um político para o ministério, mas um juiz da corte desfaz o ato numa canetada. O Congresso aprova um projeto nas duas Casas, arregimentando maiorias, e o chefe de Estado o sanciona, mas o super-herói da capa preta é capaz de suspender a norma numa fração de segundo. Sozinho. E que tal impedir jornalistas de entrevistar um político preso? Ele pode. Sentar sobre um processo o quanto quiser, até que o clima esteja bom para o resultado que deseja? Pode. Inventar o impeachment sem perda de direitos? Sim, senhor.

O herói plenipotenciário também excele na conversa e tentará nos convencer de que nunca age por iniciativa própria. Só quando provocado. Não tem faltado provocador sobre tudo quanto é assunto, no entanto. De uns tempos para cá, apareceu um novo superpoder, o da autoprovocação. O presidente da Casa quis investigar fake news contra os membros da corte, mas não confiava na via normal de acionar o Ministério Público. Então designou ele mesmo um colega para tocar o inquérito.

Raios, trovões, tornados e terremotos começam a jorrar do dispositivo, que está para as prerrogativas judiciais quase como as joias do infinito estão para Thanos na série dos Vingadores. Ai de quem publique algo desabonador sobre nossos heróis. Corre o risco de ser censurado. Outra tendência na Liga da Justiça do cerrado é o supremo ministro requisitar informações sensíveis da República que circulem por aí. Foi assim com os arquivos dos hackers da Lava Jato e, agora, com os dados sigilosos de transações financeiras de 600 mil pessoas do antigo Coaf.

É a capacidade de enxergar o que ocorre em outras dimensões, invisíveis ao mortal comum, que se agrega às habilidades do campeão togado. Antigamente meninos sonhavam em ter os poderes do Batman ou do Ultraman. Hoje, data vênia, devem ter outras aspirações de supremacia.
 
Vinicius Mota, colunista -  Folha de S. Paulo
 

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2019

Quando os reais ladrões da Petrobras serão incomodados pelo Ministério Público Federal e Judiciário?

Batman não pode seqüestrar, nem roubar ou corromper o bilionário Bruce Waine... Talvez por impossibilidade parecida a Comissão de Valores Mobiliários, uma autarquia do Ministério da Fazenda, não tivesse como punir o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, quando ele acumulou a Presidência do Conselho de Administração da Petrobras, na Era Dilma Rousseff - economista que, aliás, antecedeu Mantega no mesmo cargo, naqueles tempos sombrios em que a empresa foi atacada por uma conhecida organização criminosa...

O tempo passou... A Lava Jato descobriu muita coisa... Porém, ainda faltam alguns acertos de contas que o sistema Judiciário precisa promover... Por que o Ministério Público Federal, até agora, não propôs uma investigação mais séria ou um processo contra todos os principais executivos e conselheiros da Petrobras na Era Lula/Dilma? Será que já não passou da hora disto acontecer? Que tal responder à provocação do ex-diretor Nestor Cerveró? A tese da vitimização da Petrobras é insustentável por erros crassos, omissões e atitudes nada transparentes da companhia durante a temporada de corrupção nos governos petistas. Será que a empresa consegue responder, de maneira isenta, técnica e objetiva a pelo menos quatro questionamentos?

Pergunta básica 1: Por que a empresa, seus diretores, conselheiros e órgãos de controle interno  nada fizeram diante de pelo menos 20 manifestações de investidores, documentadas e com provas, chamando a atenção para a debilidade da governança corporativa e para as várias omissões e erros diante da escalada de corrupção na empresa.

Pergunta básica 2: Por que a Petrobras não entrou com ações judiciais regressivas contra seus principais dirigentes e conselheiros que, claramente, praticaram atos de corrupção ou foram omissos mesmo tomando conhecimento deles publicamente?

Pergunta 3: Por que a Comissão de Valores Mobiliários ignorou a maior parte de mais de 60 denúncias feitas por investidores contra a Petrobras, que foi omissa e complacente contra as aberrações cometidas por seus dirigentes?

Pergunta 4 e fatal: Por que a Petrobras, vítima ou não, pouco importa neste caso, indenizou os investidores lá de fora e segue negando o mesmo direito aos minoritários brasileiros? Tudo indica que a megarbitragem movida contra a Petrobrás na Bolsa de Valores deverá ajudar a desvendar esses mistérios que até agora parecem insondáveis no Capimunismo rentista tupiniquim.

Leia, abaixo, o artigo do Desembargador e Pesquisador Carlos Henrique Abrão: Petrobras se prepara para indenizar os investidores brasileiros   

Vida que segue... Ave atque Vale! Fiquem com Deus. 


Edição do Alerta Total – www.alertatotal.net
 
Por Jorge Serrão - serrao@alertatotal.net
Membro do Comitê Executivo do Movimento Avança Brasil


quarta-feira, 4 de outubro de 2017

Saiba quais são os presos do Rio que estão em presídios federais

 A relação apresenta os dez mais perigosos

Fernandinho Beira-Mar
O traficante Fernandinho Beira-mar Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
Foto: Guilherme Pinto / Agência O Globo
Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, foi preso em 2002. Passou pelo presídios de Catanduvas, no Paraná e, desde 2012, está em Porto Velho (RO). Em 2015, foi condenado a 120 anos de prisão. Ele comandou uma guerra de facções, em 2002, no presídio de segurança máxima Bangu I, na Zona Oeste do Rio, quando quatro rivais morreram.
 
Nem
Traficante Nem da Rocinha Foto: Reuters
Foto: Reuters
Antônio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, chefe do tráfico na Favela da Rocinha, está preso em Rondônia. Ele foi preso em novembro de 2011, por policiais militares na Lagoa, na Zona Sul do Rio. O traficante estava no porta-malas do carro do advogado e teria oferecido R$ 30 mil para que os PMs não o levassem.
 
Marcinho VP
O traficante Marcinho VP é um dos presos federais que podem voltar ao Rio Foto: Salvador Scofano / Agência O Globo
Foto: Salvador Scofano / Agência O Globo
Márcio dos Santos Nepomuceno, o Marcinho VP, é considerado um dos chefes do Comando Vermelho e está detido no presídio federal de Mossoró (RN). Ele frequenta o sistema penitenciário desde 1996, quando foi detido e levado ao presídio de Bangu 1, por tráfico de drogas.
 
 Além dos acima, estão entre os dez mais perigosos do Rio e que estão em presídios federais:

- Fabiano Atanásio da Silva, o FB, ex-chefe do tráfico na Vila Cruzeiro, no Complexo da Penha, está no presídio federal de Mossoró (RN). O traficante foi preso em janeiro de 2013 numa casa de luxo em Campos do Jordão, em São Paulo.
 
- Marco Antônio Pereira Firmino da Silva, o My Thor, está desde 1996 no presídio federal de Catanduvas (PR). My Thor era um dos chefes do Comando Vermelho e comandava o tráfico no Morro de Santo Amaro, na Zona Sul do Rio.  

- Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, está detido na penitenciária federal de Mossoró (RN) e é responsável pelo assassinato do jornalista Tim Lopes. 
 
- José Ricardo Couto da Silva, o Ricardo do Paiol, é chefe do tráfico do Turano, no Estácio, e da Reta Velha, em Itaboraí. Responsável pela compra de armas na fronteira do país. Está desde o ano passado no Presídio federal de Mossoró.
 
- O miliciano Ricardo Teixeira da Cruz, o Batman, está no presídio federal de Mossoró (RN), desde 2009. Em novembro de 2013, ele foi condenado a 30 anos de prisão, apontado como chefe da milícia conhecida como Liga da Justiça.
 
- Natalino José Guimarães, condenado, junto com o irmão, Heterônimo José Guimarães, acusados de chefiar a “Liga da Justiça, a maior milícia do estado, que atuaria em Campo Grande, Guaratiba, Paciência, Cosmos, Santa Cruz e outros bairros da região. Está no presídio federal de Mossoró.
 
- Ricardo Chaves de Castro Lima, o Fu da Mineira, dono do tráfico de drogas do Complexo do Lins, é um dos chefes da ADA. Apontado como um dos responsáveis pelos confrontos nos morros da Mineira, Fallet, Coroa, Catumbi e em Santa Teresa em 2015 que deixaram quatro mortos e cinco feridos.
 
 

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Juízes se julgam deuses, procuradores santos e advogados, a ética pura

A política é um circo. Quanto menos você tiver esperança política, menos você se iludirá sobre a realidade política. O ceticismo em filosofia sempre aconselhou uma postura mais conservadora e cuidadosa quanto às promessas políticas. Desde que a política se tornou objeto de fé, passamos a ter expectativas salvacionistas através da política. E a política não passa da conquista, gestão, manutenção e distribuição do poder.

Não há nenhuma dimensão "ética" na política, nem nunca houve. O que há são sociedades mais ricas em que seus políticos destruíram outras sociedades no mundo para garantir o aspecto de santos nas suas próprias (e a população goza dessa santidade na mesma medida).  Eu, pessoalmente, espero o mínimo da política. Que não nos atrapalhe em demasia, por isso, que seja mínima.

O erro crasso de quem espera uma redenção política é não prestar atenção na política mais próxima dele. É comum grandes canalhas cotidianos agirem de modo politicamente canalha nas instituições em que trabalham, mas sustentarem um discurso "ético" na "grande política" (esse mito de gabinete). Por exemplo, mentir, manipular o cotidiano institucional, usurpar ganhos alheios, destruir carreiras de colegas em universidades, igrejas, sindicatos de classe, grupos artísticos, corporações de todos os tipos, enfim, fazer política real. Mas quando se trata de falar da "grande política", enche os olhos de lágrimas em nome da justiça social.

A redenção do mundo via política virou um mercado para canalhas específicos. Pense bem e verá que há um perto de você. O mundo não é perfeito, claro. Mas o Brasil parece, nos últimos tempos, trabalhar duro para destruir nosso cotidiano. O homem é um animal frágil moralmente, sempre foi e sempre será. Mas vivemos agora, de fato, a ruína moral dos Poderes no país.  Em matéria de Poderes da República no Brasil, o Executivo sempre teve vocação getulista, ou seja, a vocação de ser o "pai ou mãe dos pobres". A miséria no país sempre foi um importante capital para correntes coronelistas-populistas como a do PT.
O Legislativo é a representação perfeita do fisiologismo corrupto. Trabalha para si mesmo. Basta ver a corrida dos insetos em busca das misérias pós-Temer. Dane-se a estabilidade econômica. Querem a miserável Presidência por alguns meses.  A economia é a única coisa que importa nisso tudo, mas, infelizmente, semiletrados de todos os tipos pensam que, quando se diz que é a economia que importa, estamos a defender "O Capital". Chega a ser ridícula a força desse mito ("Das Kapital") no pensamento.

Não, "economia" aqui significa que você perde o emprego, deixa de comprar coisas, e os outros perdem o emprego porque você deixou de comprar coisas. Estágios são fechados, lojas também. Tudo para de circular. Mas você, que acredita em Papai Noel, ainda não entendeu que é a economia que sustenta tudo, inclusive coisas fofas, como os direitos humanos. E o dinheiro nunca foi produzido pela Chapeuzinho Vermelho.

E o Poder Judiciário? Esse mesmo que até pouco tempo muita gente pensava ser um produto real da Marvel. Uma mistura de Batman, Super-Homem, Capitão América, Homem de Ferro e Thor. Não. O Poder Judiciário não é um monólito de pureza. Se o Executivo tem vocação ao populismo, e o Legislativo à corrupção pedestre, o pecado do Judiciário é a arrogância e a onipotência. Juízes se julgam deuses, procuradores santos, advogados representantes da ética nacional. Risadas?

Para ingênuos talvez, mas não para quem já leu mais do que dois livros na vida. O Poder Judiciário, inclusive, ou principalmente o STF, é também um poder "político" na medida em que sofre a mesma pressão para articular, privilegiar, perseguir, em nome dos interesses materiais ou ideológicos de seus membros.  E em meio a isso tudo, vem a moçada das diretas já, como num surto de gozo dos anos 1980. Como se a maioria desses (afora os ingênuos) não fossem os fanáticos da soberania popular "pura" ou não fossem os coronelistas do PT apostando na ressurreição do seu Drácula de bolso.


Fonte: Folha de S. Paulo - Luiz Felipe Pondé



terça-feira, 19 de julho de 2016

O 'suicídio' da América





A possibilidade de o Trump ser presidente já é um filme de horror
A realidade está mais louca do que a ficção. Assim sendo, a ficção tem de ser muito mais louca do que a realidade. A destruição ambiental, a sordidez mercantil, a estupidez no poder, o fanatismo do terror, em suma, toda a tempestade de bosta que nos ronda está muito além de qualquer crítica. O mal é tão profundo que denunciá-lo ficou inútil.

Essa anomalia da vida atual aumenta a tradicional paranoia ocidental, principalmente nos Estados Unidos. E aí surge um estranho fenômeno que tento entender: a vontade de salvar o país e um desejo simultâneo de destruí-lo. A América parece querer suicidar-se. Por exemplo, a possibilidade de o Trump ser presidente já é um filme de horror. Se esse rato for eleito, aí sim, o mundo pode acabar. [quem desmoralizou a América foi a eleição e reeleição do Obama, que prestigiou a desmoralização da família, incentivou a proliferação da praga gay, da famigerada ideologia de gênero e tudo o mais que conspira contra os valores tradicionais da cultura ocidental.]

Também na cultura americana, são impressionantes os filmes de ação e catástrofe que destroem o país ou o mundo, produzidos por Hollywood. É estranho; imaginem o cinema francês destruindo Paris sem parar, invadido por alienígenas (aliás, como os terroristas) ou o cinema brasileiro

arrebentando o Pão de Açúcar e o Corcovado! Eles acham isso normal. E lucrativo. Vejam os filmes dos últimos anos: “Independence Day 1”, “Godzilla”, “Armagedom”, “Terremoto — A falha de San Andreas”, “2012”, “Impacto profundo” e tantos outros.
Por que esse amor e ódio? Creio que vêm de uma insatisfação da vida americana atual, uma grande angústia nacional. A América não sabe mais o que dizer sobre si mesma. Os Estados Unidos eram a “cultura da certeza”. O paraíso americano era a perfeição do funcionamento. Com o 11 de Setembro, junto com as torres, caíram também a arrogância e o orgulho da eficiência. Será que esta é a causa desse ataque doentio contra si mesmos?

Pensando nessas coisas deprimentes, fui ver o novo “Independence Day”. Não gostei e concordei com críticos que dizem que o filme é tolo. Um deles diz: “assistir a alienígenas explodindo de forma espetacular não é desculpa para passar duas horas no ar condicionado”. Tenho visto muitos filmes de ação. Já sou entendido nas missões impossíveis, nas porradas, nas cidades destruídas, nas armas assassinas. Nunca o cinema foi tão útil para esquecermos o mundo atual e nunca os filmes foram tão brutais para, pelo avesso, exorcizar o medo da morte.

Na sala de cinema, sinto-me dentro de uma máquina de sensações programadas. Não há mais tempo para um filme ser visto, refletido, com choro, risos, vida. No escuro, mergulho em suspense, em prazeres sádicos, em assassinatos explosivos, em vinganças sem fim, narrados como uma ventania, como uma tempestade de “planos” (cenas) curtos, nunca mais longos do que 4 segundos, tudo tocado por orquestras sinfônicas plagiando Ravel para cenas românticas ou Stravinsky para violências e guerras.

O conflito é permanente, de modo a impedir o espectador de ver seus conflitos internos. Não podemos desgrudar os olhos da tela. O desejo dos produtores é justamente apagar o drama humano dentro de nossas cabeças. Os filmes comerciais antigos apelavam para a comoção das plateias, estórias onde o “bem” era recompensado, onde o amor movia personagens, onde chorávamos ou riamos desde o Gordo e o Magro até Hitchcock. Logo depois da Guerra Fria, os filmes mostravam uma América em “frenética lua de mel” consigo mesma. Obras-primas como “Cantando na chuva” foram feitas por razões comerciais. Os musicais da Metro eram a felicidade democrática.

Hoje, passamos por emoções que nos exaurem como se fossemos personagens dentro daqueles mundos em 3D, de pedras e balas que voam e nos fazem em pedaços espalhados pela sala, junto com os copos de Coca-Cola e sacos de pipocas. Somos pipocas nesses filmes. É uma nova dramaturgia de Hollywood: a estética do videogame, onde a personagem principal não é mais o “outro”, mas nós mesmos, com o “joystick” na mão e nenhuma ideia na cabeça.

Os roteiros são feitos em computador, de modo a encher cada buraco, para que nada se infiltre na atenção absoluta. E mais importantes que as personagens são as “coisas” em volta. Sim, as coisas. Personagem é só um pretexto para mostrar o décor. E o décor é um grande showroom dos produtos americanos: maravilhosos aviões, supercomputadores, a genialidade técnica lutando por algum “bem” inexplicável , porque a ideia de “futuro” esmaeceu. Assim, não importam mais nem o enredo, nem o roteiro; só o gozo da cena.

Antigamente, sofríamos durante a trama, esperando que os heróis fossem felizes no final. Hoje, sabemos que tudo vai acabar bem, mas nos fascinam mais os infernos que eles terão de atravessar, para chegar a um desfecho fatalmente bom. A catarse chegará, mas antes temos amputações, bazucas estourando peitos, bombas, rios de sangue. Na vida americana, como nos filmes, perdeu-se a ideia de sentido. O happy end é coisa dos anos quarenta.

No entanto, acho novidades nisso tudo. Num mundo sem rumo, na América dividida, a tecnologia está criando uma nova estética. Acabou a linearidade narrativa e, com a visão de mundo desencantada, em meio à avalanche brutal de informações, está surgindo uma nova forma de profundidade “superficial”. Uma espantosa nova linguagem não linear, polissêmica, surgiu e cresce como um “transformer”, nas telas do mundo. Parece até uma vanguarda tecnológica emergindo entre os efeitos especiais cada vez mais audaciosos. Talvez, daqui para a frente, só essa língua dará conta de nossa solidão, de nossa fome de ilusão.

Agora, mesmo falando essas coisas, confesso que adoro os filmes da Marvel. Já vi alguns “blockbusters” de extraordinária imaginação “wagneriana”. “Avatar”, por exemplo, “Batman”, ou a obra-prima “Thor” já fazem parte de uma nova “escola” estética. Não falo de “nova arte” ou uma nova cultura, pois isso já denotaria a ideia de “finalidade”, de meta a ser atingida. Falo de um caos maravilhoso que nos submerja para sempre num “presente” inexplicável.

Fonte: Arnaldo Jabor – O Globo