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sábado, 16 de janeiro de 2021

Questionado sobre prova de fraude em 2018, Bolsonaro cita dados públicos do TSE

Questionado sobre a alegação de que teria vencido as eleições de 2018 no primeiro turno se não fosse por uma fraude, o presidente da República, Jair Bolsonaro, citou dados públicos da apuração minuto a minuto do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que mostravam que ele chegou a ter mais de 50% dos votos válidos quando a apuração ainda estava incompleta. A situação foi classificada pelo mandatário como um "indício fortíssimo" de fraude, apesar de viradas ao longo da apuração serem corriqueiras em pleitos apertados.
 
O presidente também sugeriu que as informações da evolução por minuto da apuração seriam reservadas, apesar de se tratar de um dado publicamente disponibilizado pelo Tribunal. "E daí chegou uma pessoa para mim e mostrou, numa tela do computador, a apuração minuto a minuto que vinha ocorrendo no TSE. Coisas que vocês não têm aí. Nós acabamos tendo aqui", disse. As declarações foram dadas por Bolsonaro no início da noite desta sexta-feira, 15, durante entrevista ao programa Os Pingos nos Is, da rádio Jovem Pan.
 
Ao longo do programa, Bolsonaro voltou a dizer que, se não fosse por uma fraude, teria vencido as eleições no primeiro turno. Como ele afirma, desde março do ano passado, que iria provar a afirmação, foi indagado sobre as evidências pelo apresentador. "Então, em mais ou menos duas horas, duas horas de apuração, uma hora dava (que) eu ganhava, num minuto era eu e no minuto seguinte era o (Fernando) Haddad. Eu, Haddad, eu, Haddad. Por aproximadamente 120 vezes. Eu, ele, eu, ele. Se você for falar em estatística, a chance disso acontecer é de você ganhar três vezes seguidas na Mega Sena da virada. Quer maior indício disso? Além de outros, de outro grupo (que teria chamado atenção para outro indício de fraude)", alegou.
 
Dados amplamente divulgados pelo TSE mostram que o presidente chegou a ter mais de 50% dos votos válidos por cerca de 1 hora e 15 minutos durante a apuração. Primeiro, isso aconteceu por 11 minutos, das 17h02 às 17h12. Depois, isso aconteceu por outros 66 minutos, das 17h18 às 18h23. Diferentemente do que disse o presidente, Haddad não chegou a virar a eleição, permaneceu em segundo lugar pela maior parte da apuração, descontado o começo da contagem. A virada que se deu foi entre Bolsonaro estar abaixo de 50% dos votos válidos - situação que demanda segundo turno - ou acima dessa porcentagem, o que significaria que ele seria vencedor já no primeiro turno.
 
Não foram registradas 120 viradas, mas duas. Ou seja, em duas ocasiões, Bolsonaro esteve com mais de 50% dos votos válidos durante a apuração. Essa situação não é incomum em eleições apertadas. No segundo turno das eleições presidenciais anteriores, em 2014, em que a petista Dilma Rousseff disputou contra o tucano Aécio Neves, também ocorreu virada. Aécio começou na frente mas, depois que mais urnas foram sendo contadas, Dilma foi reduzindo a diferença. A petista ultrapassou o tucano às 19h32.
 
Em março de 2020, quando Bolsonaro prometeu que iria provar que venceu eleição de 2018 no primeiro turno, ele foi rebatido pelo TSE, pela então presidente da corte, ministra Rosa Weber, e pelos ministros Luís Roberto Barroso e Marco Aurélio Mello. Em novembro de 2018, logo depois de vencer as eleições, Bolsonaro se encontrou com ministros do tribunal e disse que, "no calor dos acontecimentos, a gente dá umas caneladas". A frase foi entendida como um pedido de desculpas pelas críticas feitas durante a campanha, quando ele colocou em dúvida a lisura das urnas eletrônicas.

Política - Correio Braziliense

 

sábado, 6 de abril de 2019

'Não nasci para ser presidente, e sim militar’, afirma Bolsonaro

Presidente pediu desculpas pelas 'caneladas' e, em tom de brincadeira, disse que se pergunta o que fez errado para ter que lidar com tantos problemas

O presidente Jair Bolsonaro fez uma espécie de desabafo e um ‘mea culpa’ diante das dificuldades que o cargo impõe. “Desculpem as caneladas. Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar”, disse em discurso no Palácio do Planalto para inauguração do Espaço de Atendimento de Ouvidoria da Presidência da República. Na quinta-feira, 4, o presidente também havia se desculpado pelas “caneladas” em reunião com dirigentes de alguns partidos, segundo o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni.

Nesta sexta-feira, 5, em tom de brincadeira, ele também afirmou que às vezes se pergunta o que fez para “merecer isso” (ser presidente do país). “Às vezes me pergunto, meu Deus, o que fiz para merecer isso? É só problema”, afirmou sobre a função de presidente da República, rindo, ao finalizar sua fala no evento de inauguração. Ele deu a declaração ao falar que não possui qualquer ambição e que não lhe “sobe à cabeça” o fato de ser presidente.

Depois do evento, ao ser questionado se o cargo é mais difícil do que pensava, o presidente negou e falou que “sabia das dificuldades por ser um país grande”. Ele justificou que existem “muitos vícios no Brasil”. Citou como fatores de preocupação a violência, a empregabilidade e a educação. Sobre a fala de que “não nasceu para presidente”, disse, aos risos, que “tem que se virar para não ser engolido”.

Questionado se os problemas mencionados no discurso estariam relacionados também às dificuldades no diálogo com parlamentares e partidos políticos, respondeu que “cada um vai defender seus interesses” e que “isso é natural”. “Temos que convencer o pessoal para mostrar a questão da (reforma) da Previdência. Se não aprovar agora, pelo menos grande parte, daqui a dois a três anos vai faltar dinheiro para pagar quem está na ativa, vamos virar uma Grécia”, declarou.

O presidente voltou a admitir que a proposta de capitalização na reforma da Previdência poderá não ser aprovada pelo Congresso e, assim, ser deixada para outra oportunidade. Ele já havia falado sobre a possibilidade em café da manhã com jornalistas, pela manhã.  “Nós queremos aprovar o que está aí, mas se os parlamentares entenderem que está complicado, difícil de explicar agora, podem decidir deixar para outra oportunidade”, disse. “A gente gostaria que a proposta enviada fosse aprovada na íntegra, mas com toda certeza vai ser aperfeiçoada por parte do parlamento”, minimizou.

Um presidente e o seu abacaxi

Sério, sorrindo ou em tom de piada

Capitão dispara inconveniências sorrindo

 
Sempre que Lula dizia inconveniências, os assessores dele na presidência da República saíam imediatamente em seu socorro. Chamavam os jornalistas e diziam assim: “Não levem a sério. Foi brincadeira dele, só brincadeira.” A diferença de Lula para o presidente Jair Bolsonaro é que o capitão dispara inconveniências sorrindo, e às vezes acompanhadas de um “taokey”. E aí os jornalistas se sentem obrigados a escrever: “Sorrindo…” [comentário: capitão, escrevo sem qualquer intenção  ideia de ensinar o senhor a governar;
quando votei no senhor foi acreditando, e continuo firme, na sua competência e capacidade de realizar um ótimo governo, talvez dois, mas, uma sugestão: 'evite a imprensa' - nada contra a imprensa, ela não é a culpada por, digamos, frases impensadas que o senhor ou seus filhos dizem, incluindo as ditas por aqueles dois ministros;
os jornalistas, tem o dever de publicar o que vêem ou ouvem, o direito a informação tem que ser respeitado, preservado (tem alguns jornalistas que realmente optam por publicar a notícia de uma forma a que o aspecto negativo, que possa ser usada contra seu governo prevaleça - mas, tais profissionais são exceções.).
O senhor evite entrevistas, comentários açodados, se empolgar demais - quem tem verdadeiramente poder não fica dizendo que tem, que vai fazer, ao contrário: se reúne com assessores de confiança e apresentam o pacote pronto.
Se cada medida de seu governo for divulgada, discutida, nem um mandato do tamanho do da rainha da Inglaterra será suficiente para o senhor fazer algo.

Um  dos presidentes com maior poder durante o Governo Militar foi o presidente Geisel e suas entrevistas eram raras. Armando Falcão, ministro da Justiça do Governo Geisel, foi o mais poderoso de todos que ocuparam aquele ministério, era econômico nas entrevistas e loquaz no uso do NADA A DECLARAR - e só para o senhor ter uma ideia, na -  digamos  - de um edificio no SCS, o ministro compareceu à solenidade e parte do SCS foi interditada, teve restrições de trânsito e tudo sem alarde - eu vi, eu estava lá.

Naquela época, não existia ainda o edificio sede do Banco Central e o cofre do BC funcionava na quadra 2 do SCS, o dinheiro chegava em carretas, era descarregado por horas e horas e NUNCA ninguém tentou assaltar.

Me estendi, apenas para dar exemplos de que muitas vezes dizer que pode ou que vai fazer funciona bem menos do que fazer sem nada dizer. 
Ministro que não está dando certo o presidente demite, nada de dizer que vai demitir na semana que vem, depois diz que fica, etc.
E, ao me estender, mostrei, ainda que involuntariamente, que falar ou escrever demais, além de nem sempre agradar aos destinatários também geral mal entendidos.]
Ou então eles escrevem: “Em tom de piada…” Porque para os jornalistas, mas não somente para eles, muitas vezes soam como piadas certas coisas ditas por Bolsonaro, sorrindo ou sério. Entre tantos disparates cometidos ontem por ele em três ocasiões distintas, vale a pena destacar as que seguem. Elas parecem trair o visível desconforto de Bolsonaro com suas novas funções.
“Desculpem as caneladas, não nasci para ser presidente, nasci para ser militar, mas no momento estou nessa condição de presidente e, junto com vocês, nós podemos mudar o destino do Brasil”.

“Não tenho qualquer ambição, não me sobe à cabeça o fato de ser presidente. Eu me pergunto, olho pra Deus e pergunto: Meu Deus, o que eu fiz para merecer isso? É só problema.”

“Confesso que nunca esperava chegar à situação que me encontro. Primeiro porque sobrevivi a um atentado, um milagre. Depois, o outro milagre foi a eleição. A gente estava contra tudo, né? Imprensa, fakenews, tempo de televisão, recurso de campanha… Mas Deus estava do nosso lado”.

“Na campanha, eu disse que em janeiro ou estaria aqui nessa cadeira ou na de praia. Me dei mal. Pode assumir a cadeira, Moro!”
No meio desta semana, em visita a Israel, Bolsonaro afirmou que governar era um abacaxi. Talvez por isso ele seja o único presidente desde a redemocratização do país que já faltou ao expediente no Palácio do Planalto para ir pela manhã ao cinema com a mulher. Sim, e  outra vez ele faltou a parte do expediente da tarde para ir rezar com amigos. Bolsonaro está muito bem de saúde. Não é por causa dela que volta cedo para o Palácio da Alvorada onde mora. Antes de ir dormir, confere se o revolver está ao alcance da mão.

Seu compromisso com o que diz é quase sempre ralo. Em café da manhã com os jornalistas, ele deu todas as indicações de que na próxima segunda-feira demitirá do cargo o desastroso ministro da Educação. No final da tarde, admitiu que ele poderá ficar. Por sinal, ao referir-se à sua equipe de governo, Bolsonaro o fez em tom de queixa: “A maioria dos ministros não tem nenhuma habilidade política. Vivência política. Ontem, alguns (presidentes de partido) reclamaram de ministros, de bancos oficiais”.
Para desespero do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, ao falar sobre a reforma da Previdência, Bolsonaro reconheceu que o Congresso não irá aprová-la do jeito que foi proposta. Isso até Guedes sabe. Mas não é assim que se negocia, ora. Se a reforma for mais esquálida do que se anuncia, parte da culpa por isso caberá a Bolsonaro. E se for esquálida a um ponto que desagrade Guedes, ele simplesmente irá embora.

domingo, 16 de dezembro de 2018

Cadê o Fabrício Queiroz?



Desde que o Coaf acendeu o sinal amarelo, Bolsonaro está dois lances atrasado 

Jair Bolsonaro lidou com a primeira crise do seu governo com uma mistura de onipotência e ingenuidade. Diante de um problema no qual ele e o filho Flávio (eleito senador) não são investigados ou acusados de coisa alguma, transformaram o silêncio em suspeita. 
[salvo improvável engano a legislação que fundamenta as atividades do Coaf não exige que o autor de uma movimentação considerada atípica, tenha que comparecer, sem intimação ou mesmo uma simples notificação, àquele Conselho ou a qualquer outro órgão e apresentar esclarecimentos.

Cabe ao Coaf, Ministério Público, Polícia notificar o autor da movimentação e intimá-lo para que preste esclarecimentos dentro de determinado prazo.
É assim que funciona em um 'estado democrático de direito'. 
Ao que nos consta, até o presente momento o Fabricio Queiroz não foi formalmente citado, intimado ou equivalente.

Sendo intimado é seu dever comparecer e fornecer os esclarecimentos e se estes forem considerados insuficientes cabe ao MP ou mesmo a Polícia Federal adotar as providências necessários, providência também válida se os esclarecimentos implicarem  qualquer outra pessoa, incluindo, sem limitar, integrantes da família Bolsonaro, devendo os implicados serem intimados  a apresentar esclarecimentos.
Se os esclarecimentos prestados não forem satisfatórios as autoridades competentes devem tomar as providência necessárias.

Se o ex-assessor não foi intimado ele não tem obrigação de comparecer ou de prestar qualquer esclarecimento e menos ainda aceitar ser entrevistado.

O mesmo vale para qualquer outro cidadão, incluindo qualquer um do clã Bolsonaro - o único erro dos Bolsonaros até o presente momento é prestar esclarecimentos que não estão, até o presente momento, obrigados a fornecer.]

Queiroz pediu demissão do gabinete de Flávio Bolsonaro no dia 16 de outubro, uma semana depois do primeiro turno. Ele teria feito isso para cuidar de sua passagem para a reserva. No mesmo dia, foi afastada sua filha Nathalia, que trabalhava com Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. (Fernando Haddad, derrotado na disputa pela Presidência, levantou a suspeita de que a surpresa do Coaf tenha chegado ao conhecimento de Bolsonaro, “no máximo, em 15 de outubro”.) [levantou a suspeita - o 'levantador de suspeita' é exatamente o candidato derrotado fragorosamente por Jair Bolsonaro. Esse individuo - que até hoje não se sabe suas fontes de renda, como suas viagens e outros gastos são bancados, que responde a 32 processos - tem alguma moral ou isenção  para levantar suspeita? 

(...)

Durante uma semana os Bolsonaro reiteraram sua confiança em Queiroz, e o senador eleito informou que ouviu dele “uma explicação plausível”. Apesar da plausibilidade do que ouviu o senador eleito, Queiroz manteve-se em silêncio e, pelo que se sabe, pretende falar ao Ministério Público nesta semana. Deixando-se de lado o piti do futuro chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, que interrompeu uma entrevista ao ser questionado sobre o assunto, Bolsonaro foi onipotente e ingênuo ao supor que o silêncio de Queiroz poderia ser compensado por suas breves declarações. Tanto ele como o filho, repetiram que estão fora da investigação e quem tiver feito algo errado deverá pagar. Até hoje, a questão é só uma: Cadê o Queiroz? [um dos procedimentos que costuma ser adotado quando um cidadão é intimado, na forma da lei, para prestar esclarecimentos e não comparece, é  que seja conduzido coercitivamente, sendo válido até mesmo decretar sua prisão e não não se apresentando e/ou localizado, seja declarado fugitivo.
Até o presente momento nada disso ocorreu com Fabricio o que representa evidente indicio de que falta às autoridades motivação para que tais medidas sejam estabelecidas.]

(...)

Caneladas
A União Europeia nunca esteve disposta a fechar um acordo comercial com o Mercosul, e Bolsonaro presenteou-a com um álibi.
Em poucas semanas a França e a Alemanha afastaram-se das negociações atribuindo as dificuldades ao novo governo brasileiro.
Com um ministro da Economia dizendo que o Mercosul “não é prioridade” e um chanceler condenando o “globalismo”, a equipe de Bolsonaro pôs a cereja no bolo da Europa.
Na diplomacia da canelada, o Brasil entrou com a canela.
 
Dilma fala
A ex-presidente Dilma Rousseff deu uma entrevista ao repórter Leonardo Fernandes. Tratou de seu legado, da desigualdade social e das formas de oposição ao novo governo. Num momento de bom humor, disse que “a alegria é a forma básica de resistência”.

(...)

“Eu acho que esse vai ser um momento fundamental para se voltar a investir nas lutas fora da institucionalidade, na organização fora da institucionalidade. E dessa combinação entre a institucionalidade e as lutas fora da institucionalidade é que está o ‘X’ da nossa resistência. A luta das mulheres, dos trabalhadores, dos sem-terra, dos desempregados… É importantíssimo buscar organizar os desempregados porque hoje não há uma perspectiva que dê sentido para a luta deles. (...) Não basta só a luta institucional. Não basta só a organização de massa. Ela é crucial, mas não basta uma só, isolada da outra.”
“Fora da institucionalidade” pode significar muita coisa, inclusive nada.

(...)

Matéria Completa, Folha de S. Paulo