Sério, sorrindo ou em tom de piada
Capitão dispara inconveniências sorrindo
Sempre que Lula dizia inconveniências, os assessores dele na presidência
da República saíam imediatamente em seu socorro. Chamavam os
jornalistas e diziam assim: “Não levem a sério. Foi brincadeira dele, só
brincadeira.” A diferença de Lula para o presidente Jair Bolsonaro é que o capitão
dispara inconveniências sorrindo, e às vezes acompanhadas de um
“taokey”. E aí os jornalistas se sentem obrigados a escrever:
“Sorrindo…” [comentário: capitão, escrevo sem qualquer intenção ideia de ensinar o senhor a governar;
quando votei no senhor foi acreditando, e continuo firme, na sua competência e capacidade de realizar um ótimo governo, talvez dois, mas, uma sugestão: 'evite a imprensa' - nada contra a imprensa, ela não é a culpada por, digamos, frases impensadas que o senhor ou seus filhos dizem, incluindo as ditas por aqueles dois ministros;
os jornalistas, tem o dever de publicar o que vêem ou ouvem, o direito a informação tem que ser respeitado, preservado (tem alguns jornalistas que realmente optam por publicar a notícia de uma forma a que o aspecto negativo, que possa ser usada contra seu governo prevaleça - mas, tais profissionais são exceções.).
O senhor evite entrevistas, comentários açodados, se empolgar demais - quem tem verdadeiramente poder não fica dizendo que tem, que vai fazer, ao contrário: se reúne com assessores de confiança e apresentam o pacote pronto.
Se cada medida de seu governo for divulgada, discutida, nem um mandato do tamanho do da rainha da Inglaterra será suficiente para o senhor fazer algo.
Um dos presidentes com maior poder durante o Governo Militar foi o presidente Geisel e suas entrevistas eram raras. Armando Falcão, ministro da Justiça do Governo Geisel, foi o mais poderoso de todos que ocuparam aquele ministério, era econômico nas entrevistas e loquaz no uso do NADA A DECLARAR - e só para o senhor ter uma ideia, na - digamos - de um edificio no SCS, o ministro compareceu à solenidade e parte do SCS foi interditada, teve restrições de trânsito e tudo sem alarde - eu vi, eu estava lá.
Naquela época, não existia ainda o edificio sede do Banco Central e o cofre do BC funcionava na quadra 2 do SCS, o dinheiro chegava em carretas, era descarregado por horas e horas e NUNCA ninguém tentou assaltar.
Me estendi, apenas para dar exemplos de que muitas vezes dizer que pode ou que vai fazer funciona bem menos do que fazer sem nada dizer.
Ministro que não está dando certo o presidente demite, nada de dizer que vai demitir na semana que vem, depois diz que fica, etc.
E, ao me estender, mostrei, ainda que involuntariamente, que falar ou escrever demais, além de nem sempre agradar aos destinatários também geral mal entendidos.]
Ou então eles escrevem: “Em tom de piada…” Porque para os jornalistas,
mas não somente para eles, muitas vezes soam como piadas certas coisas
ditas por Bolsonaro, sorrindo ou sério. Entre tantos disparates cometidos ontem por ele em três ocasiões
distintas, vale a pena destacar as que seguem. Elas parecem trair o visível desconforto de Bolsonaro com suas novas funções.
“Desculpem as caneladas, não nasci para ser presidente, nasci para
ser militar, mas no momento estou nessa condição de presidente e, junto
com vocês, nós podemos mudar o destino do Brasil”.
“Não tenho qualquer ambição, não me sobe à cabeça o fato de ser
presidente. Eu me pergunto, olho pra Deus e pergunto: Meu Deus, o que eu
fiz para merecer isso? É só problema.”
“Confesso que nunca esperava chegar à situação que me encontro.
Primeiro porque sobrevivi a um atentado, um milagre. Depois, o outro
milagre foi a eleição. A gente estava contra tudo, né? Imprensa,
fakenews, tempo de televisão, recurso de campanha… Mas Deus estava do
nosso lado”.
“Na campanha, eu disse que em janeiro ou estaria aqui nessa cadeira ou na de praia. Me dei mal. Pode assumir a cadeira, Moro!”
No meio desta semana, em visita a Israel, Bolsonaro afirmou que governar
era um abacaxi. Talvez por isso ele seja o único presidente desde a
redemocratização do país que já faltou ao expediente no Palácio do
Planalto para ir pela manhã ao cinema com a mulher. Sim, e outra vez ele faltou a parte do expediente da tarde para ir
rezar com amigos. Bolsonaro está muito bem de saúde. Não é por causa
dela que volta cedo para o Palácio da Alvorada onde mora. Antes de ir
dormir, confere se o revolver está ao alcance da mão.
Seu compromisso com o que diz é quase sempre ralo. Em café da manhã com
os jornalistas, ele deu todas as indicações de que na próxima
segunda-feira demitirá do cargo o desastroso ministro da Educação. No
final da tarde, admitiu que ele poderá ficar. Por sinal, ao referir-se à sua equipe de governo, Bolsonaro o fez em tom
de queixa: “A maioria dos ministros não tem nenhuma habilidade
política. Vivência política. Ontem, alguns (presidentes de partido)
reclamaram de ministros, de bancos oficiais”.
Para desespero do seu ministro da Economia, Paulo Guedes, ao falar sobre
a reforma da Previdência, Bolsonaro reconheceu que o Congresso não irá
aprová-la do jeito que foi proposta. Isso até Guedes sabe. Mas não é
assim que se negocia, ora. Se a reforma for mais esquálida do que se anuncia, parte da culpa por
isso caberá a Bolsonaro. E se for esquálida a um ponto que desagrade
Guedes, ele simplesmente irá embora.