Ao dizer num seminário que sente cheiro de
retrocesso, Babalorixá de Banânia expõe o que entende por democracia:
PT, Cristina Kirchner e Nicolás Maduro
O golpe já foi dado. Lula é o presidente e nomeou Meirelles para o lugar de Levy
Luiz Inácio
Lula da Silva discursou na terça da abertura da 7ª Conferência
Latino-Americana e do Caribe em Ciências Sociais (Clacso), um dos muitos
organismos da esquerda na região que vivem mamando nas tetas dos
respectivos estados. Entre 2006 e 2012, quem comandou a entidade foi
Emir Sader, um subintelectual petista com sérios problemas até de
alfabetização. Mas deixo isso pra lá agora.
Em seu
discurso, o Babalorixá de Banânia atacou a imprensa livre — nem poderia
ser diferente — e deixou claro onde estão as raízes do seu, por assim
dizer, pensamento.
O chefão do
partido que protagonizou o mensalão e o petrolão — o que, tudo indica, o
fará beijar a lona por um bom tempo — afirmou sentir um forte “cheiro
de retrocesso” na América Latina e na América do Sul.
Retrocesso?
Explica-se:
no Brasil, o seu PT chafurda na lama. Na Argentina, o candidato de
Cristina Kirchner, Daniel Scioli, deve perder a eleição para Mauricio
Macri. Se não houver uma roubalheira de dimensões homéricas na
Venezuela, o ditador de chanchada Nicolás Maduro — é um palhaço amador,
mas ele mata — será fragorosamente derrotado pelas forças de oposição
nas eleições parlamentares de 6 de dezembro.
Em todos os
casos, as respectivas derrotadas significam fortalecimento das correntes
que defendem a democracia política e se opõem a regimes aparelhados por
milícias mais violentas (como na Venezuela) ou menos, como no Brasil.
Por enquanto ao menos. O Apedeuta
fez ainda uma comparação aloprada. Associou os movimentos em curso na
América Latina contra os governos de esquerda às agitações que
antecederam a Primavera Árabe — que “Primavera” nunca foi — e que
concorreram para o acirramento da desordem política na região.
A comparação
é um despropósito porque boa parte dos movimentos que promoveram o que
se chamou tolamente de “Primavera” era composta de fundamentalistas
islâmicos que queriam ditadura religiosa. Quem combate o PT no Brasil,
Cristina na Argentina e Maduro na Venezuela quer um regime de liberdades
públicas. Mas há um grão de verdade no que ele diz: aqueles grupos —
islâmicos, sim! —, lutavam contra ditaduras. O diabo é que queriam
outra, como Dilma, quando pertencia a grupos terroristas. Os
antipetistas, antikirchneristas e antibolivarianos querem democracia.
Pós-Primavera
Árabe, o que se tem, exceção feita à Tunísia, é banho de sangue e
ditaduras ainda mais ferozes, do velho ou do novo establishment. Lula,
por acaso, está nos ameaçando com guerra civil quando o PT for apeado do
poder pelo Congresso, pela Justiça ou pelas urnas? Lula, por acaso,
está nos ameaçando com um banho de sangue?
Sempre que este senhor sente um cheiro de retrocesso político, então é sinal de que a democracia avançou.
O golpe já foi dado. Lula é o presidente e nomeou Meirelles para o lugar de Levy
Titular da Fazenda fala a senadores e é triturado
ao defender CPMF; o candidato à sua cadeira critica imposto em conversa
com empresários
O comando do
Bradesco deveria fazer logo um favor a Joaquim Levy — sei que soa meio
estranho escrever desse modo — e afastar dele o cálice do Ministério da
Fazenda. Levy é um bom homem, é um profissional competente na sua área e
está passando por uma fritura desnecessária e penosa. Já foi derrubado
por Lula. Henrique Meirelles — ex-presidente do Banco Central e outro
profissional que nada entende de política econômica — é o virtual novo
ministro da Fazenda. Já está até concedendo entrevista nessa condição.
O que isso
quer dizer? Ora, que o golpe já foi dado. E, é claro, não foi pela
oposição nem pelos jovens que estão acampados nos gramados do Congresso.
Quem apeou Dilma da cadeira foi o grande golpista de plantão no Brasil:
chama-se Luiz Inácio Lula da Silva. Isso não é matéria de gosto, mas de
fato. Levy já
começou a ser desautorizado a céu aberto. Determinações suas estão sendo
descumpridas por Jaques Wagner, por exemplo, o lulista da Casa Civil.
Na terça, coitado!, em jantar com senadores tanto da base aliada como da
oposição, o ministro da Fazenda passou por um verdadeiro massacre. Fez
lá as suas antevisões de praxe e voltou a defender a CPMF, que não terá
vida fácil no Congresso.
E Meirelles?
Ah, esse já até concede entrevista como ministro. E parece não esconder
a excitação com a possibilidade. Indagado por jornalistas a respeito,
um modesto decoroso teria dito que a conversa não procede, que Levy faz
um excelente trabalho, que se deve deixar o ministro cumprir as suas
tarefas, essas coisas. Ele deveria ter dito isso tudo ainda que não
acreditasse em nada.
Ocorre que,
ainda que Meirelles fosse decoroso, a modéstia não é um mal que vá
matá-lo algum dia. Num evento na Confederação Nacional da Indústria,
nesta quarta, criticou a recriação da CPMF e a elevada carga tributária
brasileira. Parecia música aos ouvidos dos presentes. E era mais um
round da luta contra Levy. Indagado,
depois, pelos jornalistas se vai para o lugar do ministro da Fazenda,
deu esta significativa resposta: “Não posso comentar sobre coisas de que
não estou participando diretamente. Esse tipo de assunto, eu leio nos
jornais e não estou em condições de comentar”.
Heiiinnn? Cadê o decoro e o elogio de praxe ao atual titular? E notem: ele
diz não estar participando “diretamente” — entendo, pois, que participe
indiretamente e que haja um agente que cuida de sua nomeação. Há mesmo:
Lula.
Mas ele
aceitaria? Reitero: a única resposta elegante, em casos assim, seria
dizer que a Fazenda está em boas mãos — o que não impediria a sua
eventual nomeação. Mas ele preferiu dizer isto: “Questão de se eu
aceitaria ou não aceitaria, tenho uma postura há muito tempo: eu não
trabalho, não penso nem falo sobre hipótese. Só trabalho com situação
concreta. Acho que o importante hoje é definirmos o que precisa ser
feito no Brasil”.
Assim, a lógica obriga a que se conclua:
1 – sim, ele aceitaria;
2 – ele acha que não se definiu ainda o que precisa ser feito no Brasil;
3 – se ele aceita o cargo, então haveria essa definição.
Para
lembrar: Meirelles sempre foi o candidato de Lula para a Fazenda. Ocorre
que Dilma o detesta e está certa de que ele prestaria vassalagem, para
ficar em termos medievais, a outro senhor. E ela tem razão.
Mas parece
que essa é uma objeção que fazia sentido quando a presidente de direito
também era a presidente de fato. Não é mais. Está fora.
Como é que a gente vai agora pedir o impeachment de Lula se ele nem foi eleito?
Fonte: Veja - Blog do Reinaldo Azevedo