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quinta-feira, 28 de setembro de 2017

''Mas Maluf já não estava preso?'

A  pergunta veio de uma amiga, assustada com o fato que o Supremo Tribunal Federal segue analisando recursos do deputado federal de São Paulo.

Paulo Maluf é um dos grandes comunicadores da história recente do país. Calhou de ser um dos mais políticos mais corruptos também, o que – para muitos eleitores de São Paulo – é apenas um detalhe.  Questionado sobre suas contas no exterior, que receberam milhões desviados dos cofres públicos de São Paulo, repetiu por sua própria boca ou pela de seus assessores uma frase que se tornou icônica: ''Paulo Maluf não tem nem nunca teve conta no exterior''.

Não importa que aparecessem testemunhas, documentos estrangeiros, batom na cueca, foto de saque em caixa eletrônico fazendo sinal da vitória. Por anos, entregou a mesma frase com tanta frequência que, por vezes, parecia rir junto dos repórteres diante daquela nonsense situação. Em outras, incorporava tão bem o papel de acusado injustamente que, para aqueles que curtem um autoengano, entregava a encomenda.

Uma delas ocorreu no período em que ficou preso na carceragem da Polícia Federal na capital paulista em entre setembro e outubro de 2005. Na época, chorou em entrevista à rádio Jovem Pan. Disse que esperava ser recompensado ''no outro mundo'', que não merecia aquele sofrimento e que era uma ''preso político''. Ficou 40 dias no xilindró.

Geddel Vieira Lima também chorou quando foi preso. Em julho deste ano, o ''querido amigo'' de Michel Temer foi levado para trás das grades por suspeita de atrapalhar investigações da Operação Cui Bono, desdobramento da Lava Jato, que apura fraudes na liberação de créditos da Caixa Econômica Federal. Geddel teve um cargo no banco durante o governo Dilma e teria se beneficiado de esquema envolvendo grandes empresários. 

Depois de alguns dias no presídio da Papuda, foi liberado pela Justiça para cumprir prisão domiciliar. Depois, acabou preso novamente no dia 8 de setembro por conta dos R$ 51 milhões encontrados no apartamento da alegria em Salvador. Na primeira prisão, assegurou ao magistrado que analisava sua soltura que ''com toda a força da alma'' não faria nada para leva-lo novamente à cadeia, para evitar o constrangimento pelo qual estava passado. E chorou.

Como aqui já disse, essa é uma parte da história que me fascina. Não me importa se as lágrimas dos políticos são falsas ou verdadeiras, mas qual tipo de psicopatia está relacionada a alguém que comete crimes em série e não encara as consequências de cabeça erguida? Como alguém que ocupa cargos importantes e tem sido sistematicamente envolvido em casos de corrupção, pode apelar para um expediente tão patético?

Talvez esteja exatamente nisso sua resistência e durabilidade. Afinal, em uma guerra nuclear, apenas os animais mais adaptados, que fazem o que for preciso ser feito, sobrevivem ao final. Maluf é talvez o animal político que mais roubou para si mesmo na história recente do país e segue pimpão. Perto dele, Geddel é um guri.

Em 2004, quando a imprensa noticiou que a Suíça enviara provas de suas contas, informando sobre um depósito de US$ 154 milhões, Dr. Paulo não se deu por rogado: ''Vou mandar providenciar num cartório em São Paulo uma escritura pública de cessão de direitos. Tanto não tenho contas, que vou passar uma escritura. O primeiro que encontrar a conta, o dinheiro é dele''. Gênio. O dinheiro vem sendo repatriado. Mas Maluf continuou se elegendo, mantido por liminares, apesar da Lei da Ficha Limpa.

Após ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal, em maio deste ano, a mais de sete anos pelo crime de lavagem de dinheiro, o deputado federal recorreu. O ministro Edson Fachin votou a favor de manter a condenação e Marco Aurélio Mello pediu vista do processo nesta terça (26), adiando a decisão. Se confirmada a condenação, ele pode ir para regime fechado ou contar com algum benefício dada a sua idade (86 anos).

Na última eleição, Maluf foi o oitavo candidato a deputado federal mais votado em São Paulo, com 250.296 eleitores depositando nele sua confiança.  [Maluf é o único político que não precisa fazer campanha eleitoral para ser eleito, bastando apenas informar aos seus eleitores que é candidato.] Parte do eleitorado brasileiro já provou que escolhe heróis em todos os partidos políticos, da esquerda à direita, e segue com eles até o fim – independente do que aconteça. Basta que esses heróis reafirmem suas narrativas com um mínimo de convicção.

Convicção que vem de treino, mil vezes em frente ao espelho se for preciso, para que, diante de provas, eles possam repetir, sem piscar, acreditando no que dizem e não se importando com o que o mundo inteiro pense. Mesmo que isso soe ridículo.
Triste um povo que precisa de heróis.

Fonte: Blog do Sakamoto 

domingo, 26 de março de 2017

A grande história de Tancredo Neves

Olhando-se para o enrosco da política de hoje, sente-se a falta que faz um Tancredo. O que ele faria? Sabe-se lá, mas ele saberia

Nas próximas semanas chegará às livrarias “Tancredo Neves, o príncipe civil”, do repórter Plínio Fraga. Uma biografia daquele mineiro miúdo, culto e conciliador é sempre algo mais do que uma visita ao passado. É também uma iluminação para o presente. Tancredo Neves (1910-1985) foi eleito presidente da República, adoeceu e só entrou no Planalto morto.
Arquiteto da grande conciliação de 1984, a única que partiu da oposição, Tancredo, um civil, foi a maior das figuras políticas do período em que o Brasil era governado por generais. Olhando-se para o enrosco da política de hoje, sente-se a falta que faz um Tancredo. O que ele faria? Sabe-se lá, mas ele saberia. Plínio Fraga reconstruiu a figura do político conservador que viveu numa oposição legal que abrigava a esquerda, o democrata intransigente, conciliador com lances de inesperada inflexibilidade. Depois da grande campanha pelas eleições diretas, ele se elegeu presidente pelo sistema indireto. O livro de Fraga mostra, aos poucos, como ele operava essa mistura.

O menino Tancredo teve um pajem, o negro Custódio, neto da cozinheira dos Neves, que continuou com a família depois da Abolição. Custódio ficou com os Neves até morrer, aos 90 anos, anexando o sobrenome dos velhos senhores. Sabendo-se disso, conhece-se a alma patriarcal de Tancredo. Fraga revirou arquivos da família, do Departamento de Estado e do Serviço Nacional de Informações, entrevistou dezenas de pessoas e produziu um cartapácio de 648 páginas, dividido em capítulos curtos.

Um trabalho desse tamanho carrega sempre imprecisões, felizmente pouco relevantes.
Juarez Távora não combateu com a Força Expedicionária Brasileira, e na fotografia da posse de Tancredo como ministro da Justiça, em 1953, o chefe da Casa Civil Lourival Fontes está na legenda, mas não está na cena.  “O príncipe civil” faz revelações relevantes de fatos que sempre circularam à boca pequena no andar de cima, desde que não fossem contados à turma de baixo. Segredos que os Polichinelos administraram por mais de 30 anos.

Fraga expôs a caixa da campanha de Tancredo. Maluf, seu adversário, era acusado de ser “o candidato do milhão.” A caixa de Tancredo foi gorda, abastecida por dezenas de endinheirados, entre eles o empreiteiro Sebastião Camargo e o industrial Jorge Gerdau.
Na equipe de coletores estiveram os empresários Sérgio Quintella e João Pedro Gouvêa Vieira, mais Tancredo Augusto, filho do próprio candidato, e José Hugo Castello Branco, que viria a ser chefe da Casa Civil do novo governo. Lá estava também o banqueiro Ronaldo Cezar Coelho, que hoje é freguês da Lava-Jato.

Estima-se que a caixa de Tancredo tenha amealhado o equivalente a US$ 45 milhões em dinheiro de hoje. A maior parte desse dinheiro foi gasta. Talvez tenham sobrado uns US$ 10 milhões. Cadê? Teriam ido para instituições de caridade ou para Risoleta, viúva de Tancredo.  “Conversa fiada”, disse Tancredo Augusto a Plínio Fraga. Ele acrescenta, referindo-se a um depositário das “sobras”: “Filho da puta.”

Uma pessoa devolveu um cheque dessa caixa. Foi Antônia Gonçalves de Araújo, a poderosa secretária de Tancredo. Essa é a segunda exposição de Fraga.  “Dona Antônia”, uma bonita morena, era funcionária do Congresso quando conheceu Tancredo em 1971. Ela tinha 38 anos, ele 61. A relação dos dois durou até 1985. Foi um romance diferente daqueles que Getúlio Vargas, Juscelino Kubitschek e Fernando Henrique Cardoso tiveram fora de seus casamentos.

“Dona Antônia” era também a chefe de gabinete do “Doutor Tancredo” e, por alguns meses, foi a mulher mais poderosa da República. Mencionar seu nome demonstrava prestígio, revelar sua condição, suicídio. Fraga entrevistou “Dona Antônia”. Aos 84 anos, ela tem na parede de sua sala o ato de Tancredo nomeando-a secretária do presidente da República.  Antônia fala ao longo de sete páginas emocionantes, sobretudo quando conta como conseguiu entrar no hospital, à sorrelfa, para se despedir de Tancredo.

Fonte: Elio Gaspari, jornalista - O Globo




terça-feira, 6 de dezembro de 2016

Ministro Marco Aurélio: Jorge Viana também é réu - como fica? ele pode ficar na linha sucessória e Renan não?

Valentina de Botas sugere a Marco Aurélio um lembrete para colocar na geladeira: Jorge Viana também é réu

O Brasil sempre foi um hospício, mas agora já começa a faltar medicação

O ministro Marco-adoro-causar-Aurélio, do STF, afastou Renan-11-inquéritos-Calheiros da presidência do Senado e, por consequência, do comando do Congresso, na véspera de votações importantes: a PEC da Previdência e a do teto, importantes para o governo e cruciais para o país; e do tal projeto de abuso de autoridade cujo relator é o senador Roberto Requião, aquele da jagunçada contra o impeachment no Congresso, come mamona e recomenda alfafa para quem vai a manifestações que ele proibiria se pudesse, humilhou numa fila de um aeroporto a filha de Jorge Amado, Paloma  enfim, Requião.

Por quase 9 anos, Renan Calheiros escondeu a amante com as bandalheiras de fora no termo “a gestante”, chegou a renunciar à presidência do Senado para escapar à cassação em razão das denúncias segundo as quais era a construtora Mendes Júnior que pagava as despesas de Mônica Veloso, a gestante. A coisa ainda se deu naqueles tempos longínquos de 2009, quando os escândalos não aconteciam quatro vezes ao dia como hoje. Havia tempo para que os brasileiros assimilassem a coisa. Ainda assim, os alagoanos (a exemplo dos paulistas com Maluf, paranaenses com Requião, cariocas com Lindbergh, etc.) insistiram com Renan e lhe deram, em 2011, o terceiro mandato de senador.

Aos brasileiros de bem que estão comemorando o afastamento dele neste momento, convido a pensar se, na véspera da votação do impeachment, Eduardo Cunha tivesse sido afastado, o que teria sido do país que prestaConvido também a contemplar o substituto de Renan no Congresso – Waldir Maranhão, aquele que simplesmente revogou a votação que aprovou o impeachment na Câmara -; e no Senado o petista Jorge Viana. 

Ao ministro Marco Aurélio, que já causou concedendo liminar para abertura de impeachment contra Temer, faço um lembrete para ele colocar na porta da geladeira: se Renan tem de ser afastado da linha sucessória da presidência por ser réu, Jorge Viana também é réu por improbidade numa ação movida pelo Ministério Público Federal, assinada pelo procurador da República Paulo Henrique Ferreira Brito, por crime de improbidade administrativa quando Viana governava o Acre, o estado-feudo da família. Se é que o ministro não se lembrava disso. Do que ele, o STF lento e imprevisível (como o resto do Judiciário tão caro quanto ineficiente) e o Congresso necrosado não se lembram é do país, mero detalhe que não está no lembrete na porta da geladeira dessa gente.

Contemplando esta fieira de homens públicos – Requião, Renan, Viana, Maranhão -, deixo o lembrete aos brasileiros: precisamos urgentemente votar melhor. Contemplando as sandices, os arroubos e a covardia de quem não tem nada a perder, vou anotar para eu não me esquecer: o Brasil sempre foi um hospício, mas agora já começa a faltar medicação. E, antes que me esqueça: Bertolucci e Marlon Brando, dois rematados canalhas.

Fonte: Blog do Augusto Nunes - Por: Valentina de Botas




 

domingo, 27 de novembro de 2016

Presidente do SEBRAE perde excelente oportunidade de ficar calado = FALOU BOBAGEM

Para presidente do Sebrae, governo pode cair se não houver reforma política

Presidente do Sebrae afirma que, caso não seja convocada uma assembleia exclusiva para a reforma política, a pressão social pode ser capaz de derrubar o governo. Para ele, é necessário que Temer chegue a 2018 para que se faça o acerto das urnas

Guilherme Afif Domingos, 73 anos, construiu sua imagem pública como o antipolítico. E não há ninguém mais político do que ele. Sua trajetória de alianças inclui, nessa ordem, Maluf, Quercia, Itamar, Pitta, Lula, Kassab, Alckmin e Dilma.
Com um espectro tão amplo de relações, assevera que a Lava-Jato vai atingir toda a classe política. Ninguém conseguirá escapar da lista de doações fraudulentas das empreiteiras, avisa. Menos ele, ressalva. Explica que não precisou de dinheiro graúdo para campanha porque seu foco é temático: defende há quatro décadas os pequenos negócios. Até 2018 presidirá o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae). Está lá desde 2015, depois de ser ministro de Dilma.
Fundador do PSD, participou do primeiro escalão da petista ao mesmo tempo em que era vice-governador de São Paulo, fato que criou inédita confusão jurídica.

Candidatou-se apenas uma vez à Câmara, na Assembleia Constituinte, eleita em 1986. Foi o sexto candidato mais votado à Presidência na eleição de 1989, a primeira após o regime militar. Perguntado se arriscaria de novo, devolve um enigma: Não sei. Não posso responder isso sobre ninguém. Hoje, não se sabe quem terá condições de se candidatar em 2018”. [uma certeza; Afif Domingos não tem condições de se candidatar sequer para vereador = terá menos votos do que os que o filho de Lula teve em São Bernardo do Campo.]


Existia uma expectativa de que, com a mudança de governo, a economia reagisse.  senhor acreditava nisso?
Não. O desemprego no Brasil  é estrutural, exatamente por conta de uma legislação trabalhista que não retrata mais as relações econômicas entre capital e trabalho. O mundo mudou. A revolução digital traz outras formas de convivência. Aí não se fala mais só do emprego formal, se fala da ocupação em termos do trabalho. Veja a lei da terceirização, uma coisa absolutamente óbvia, amarrada, que não acontece. A terceirização é a forma de formar cadeias produtivas com outro tipo de relação, sem ser uma legislação da primeira metade do século passado.





 

quarta-feira, 8 de junho de 2016

O circo pegou fogo

A Lava-Jato desmantelou o PT, continuou sua marcha e chegou ao braço tradicional e onipotente da oligarquia

A Lava-Jato corroeu a presidência petista de Dilma Rousseff, está perto de chegar em Lula, botou na cadeia José Dirceu e João Vaccari, ex-presidente e ex-tesoureiro do PT. Com o pedido de prisão para José Sarney, Renan Calheiros, Eduardo Cunha e Romero Jucá, o procurador-geral Rodrigo Janot levou a faxina para os salões do PMDB. 

Desde 2014, quando a operação começou, a oligarquia nacional cultiva a fantasia de que ela seria paralisada por poderosos interesses. Enganou-se em todos os casos. Ela não chegaria à Odebrecht. Chegou. Não prenderia o doutor Marcelo. Prendeu. Ele não falaria. Falou. O impensável aconteceu e continuará acontecendo porque as forças poderosas tornaram-se impotentes.

Em 1996, Sérgio Moro tinha 24 anos, formara-se em Direito pela Universidade Estadual de Maringá e foi aprovado num concurso para juiz federal. No Banco Central trabalhava o advogado Teori Zavascki. Havia sido aprovado num concurso para juiz, mas preferira continuar por algum tempo no BC. 

Em março daquele ano, no meio de uma crise provocada pela quebra do Banco Econômico e da ameaça de instalação de uma CPI, o presidente Fernando Henrique Cardoso registrou em seu diário: “O Ângelo Calmon de Sá [dono do Econômico] teria dito que na CPI diria tudo o que sabe sobre o PFL [atual DEM] no Nordeste, veja o clima que se está criando. Esta gente está brincando com fogo.”
(Uma pasta rosa encontrada no gabinete de Calmon de Sá expusera a contabilidade secreta das doações de bancos a candidatos. Sem lê-la direito, um poderoso hierarca do Banco Central vazou seletivamente parte de seu conteúdo. Deu-se mal.)

Na mesma época aconteceu um telefonema do governador de São Paulo, Luiz Antonio Fleury, sempre girando em torno da CPI, e FHC registrou:  “Haverá os dossiês que existem no Banco Central sobre deputados e senadores, eles vão aparecer, haverá uma lavagem de roupa suja, isso vai pôr fogo no circo”. 

O circo reaparece na narrativa do FHC um ano depois: “O Maluf telefonou para ele [o ministro da Articulação Política, Luiz Carlos Santos] para dizer que, se essa coisa da CPI dos Precatórios for adiante, ele vai botar fogo no circo; vai ver o negócio de financiamento de campanha, que ele sabe como são os financiamentos, que ele não vai morrer sozinho.” 

Para alegria dos palhaços que pagavam as festas de Ângelo Calmon, Fleury e Maluf, o circo está pegando fogo. Sérgio Moro e Teori Zavascki não são piromaníacos. Apenas pediram à oligarquia que mostrasse suas cartas, expuseram o blefe do andar de cima e acabaram com a mágica.

Sérgio Machado chegou aos cofres da Transpetro no consulado petista, mas sua militância vem do PMDB e do PSDB. Seu pai, o cearense Expedito Machado, foi ministro da Viação de João Goulart, exilou-se e foi um dos primeiros a retornar ao Brasil. Ao pé da escada do avião que o trouxe ao Rio, recebeu a escolta do seu conterrâneo Armando Falcão, poderosa vivandeira do novo regime. Passou pela polícia sem ser incomodado.
A teoria do circo pegando fogo é recorrente nas conversas grampeadas por Machado. Essa circunstância (o grampo) deveria inibir os movimentos dos poderosos da nova ordem. A colheita no vinhedo petista continua, mas agora a Lava-Jato chegou às velhas videiras francesas.

Fonte: O Globo - Elio Gaspari,  jornalista

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

Em boca própria


A partir da declaração bombástica do ex-presidente Lula de que não existe ninguém no Brasil mais honesto do que ele, é possível constatar que a Operação Lava-Jato, assim como já acontecera com o mensalão, provoca em caciques petistas uma autorreferente sinceridade que chega às raias da comicidade.

Para começar, sem querer Lula repetiu, anos depois, a mesmíssima frase que o deputado Paulo Maluf cunhou para se defender das acusações de corrupção. A tal ponto que na internet já surgem montagens afirmando que Maluf queixou-se de que Lula roubara-lhe a frase, logo num debate sobre roubalheiras.

Esquecendo-se do ditado que diz que "elogio em boca própria é vitupério", Lula foi tão convincente quanto quando se diz pioneiro da boa governança no país:Se tem uma coisa que eu me orgulho, neste País, é que não tem uma viva alma mais honesta do que eu. Nem dentro da Polícia Federal, nem dentro do Ministério Público, nem dentro da igreja católica, nem dentro da igreja evangélica. Pode ter igual, mas eu duvido”. Disse a blogueiros aliados, sem corar e nem provocar em seus “entrevistadores” reações de espanto ou risos.

Embora beire o ridículo, a frase de Lula tem o objetivo de criar constrangimento às investigações que se aproximam dele, tanto que o ex-presidente continuou em tom de desafio: “Duvido que exista um promotor, um delegado, com a coragem de afirmar que me envolvi em algo ilícito”. A postura de Lula tem antecedentes em diversos companheiros petistas, alguns deles na cadeia depois de pronunciá-las

A mais famosa e hilária pertence ao ex-ministro todo poderoso José Dirceu, ainda quando estava sendo investigado pelos crimes do mensalão, por que foi condenado. “Estou a cada dia mais convencido de minha inocência”, disse Dirceu, como se a cada reminiscência do que fizera como Chefe do Gabinete Civil de Lula, mais elementos absolutórios fossem agregados à sua memória. O resultado final dessa revisão foi que Dirceu acabou condenado pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão, e está novamente na cadeia, ainda sem condenação, devido à sua atuação nos escândalos do petróleo. E a cada dia deve estar mais convencido de sua inocência.

Também a presidente Dilma teve sua oportunidade de dar declarações assertivas sobre seu próprio comportamento.  Ao responder a uma pergunta de jornalistas estrangeiros sobre como reagiria se fosse constatado seu envolvimento nos escândalos do Lava-Jato, a presidente Dilma teve uma reação muito semelhante à do ex-ministro José Dirceu. Disse Dilma: "Eu sei que não estou nisso. É impossível. Eu sei o que eu faço”, assegurou ao canal francês TV France 24. Não fosse sua proverbial dificuldade em se expressar, a presidente Dilma poderia ter respondido a perguntas desse tipo de maneira direta, sem necessitar dar testemunho a seu próprio favor. O mesmo vício de linguagem pode ser encontrado em declarações do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, antes de ser preso na Operação Lava-Jato.

Em uma reunião do PT, ele disse ao microfone a seguinte pérola, sendo muito aplaudido, a respeito da quebra de seu sigilo telefônico: “Eu sei o que fiz. Não vão encontrar nada”. O que tanto pode significar que ele não fez nada de ilegal, como também que está convencido de que escondeu tão bem suas falcatruas que não há chance de ser descoberto.

Depois disso, Vaccari não apenas foi preso, como já foi condenado em primeira instância pelo juiz Sérgio Moro a 15 anos e quatro meses de prisão pelos crimes de corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa. Essa reação conjunta de lapsos e atos falhos de petistas graduados só pode ter origem na ansiedade de se livrar de acusações que a cada dia se mostram mais comprováveis, através das delações premiadas que fornecem informações confiáveis aos investigadores.

Fonte: Blog do Merval Pereira


quarta-feira, 29 de julho de 2015

Cunha, o orgasmo petista



Sob o governo petista, o país enfrenta um pacote de crises endógenas, todas de produção própria, caseira.
Ser petista ficou dureza. Imagina o sujeito que passou a vida exaltando as elevadas qualidades morais e o discernimento com que o PT oposicionista apontava soluções para os problemas do país. Sonhava com o PT no poder. Nas tendas e barracas em que o PT vendia adesivos, distintivos, camisetas do Che e bandeirinhas de Cuba, o cara tinha conta em caderno. Pagava por mês e ainda contribuía para o caixinha do partido. Era fã do Zé, do Genoíno, da Marta. Entrava em surto cívico até nos discursos do Suplicy. Tinha foto com o Lula na parede da sala, adesivo com estrela no carro e bandeirinha vermelha tremulante na janela. 

A vida era cheia de certezas. Numa delas, o PT salvaria o Brasil de si mesmo porque o partido tinha aquele caráter que parecia faltar ao eleitor brasileiro, esse vendilhão de votos em troca de favores. O PT seria o fim da estrada para a política do "é dando que se recebe". E, sobre tudo, havia o Lula, o metalúrgico pobretão, apto a mudar o mundo com um megafone.

Lula dizia, o PT repetia e a vida confirmava: do outro lado da cena política atuava um bando de patifes. Contados um a um pelo próprio líder maior, eram mais de 300. Entre eles, o Collor, o Renan, o Maluf, o Sarney, o Barbalho, o Quércia. Santo Deus! Que bênção seria livrar o Brasil do poder dessa gente. E isso só o PT poderia fazer porque só o PT tinha a força moral necessária.

Durante os muitos anos em que fui filiado ao PP, os petistas com os quais participava de debates tentavam colocar na minha conta o fato de ser, este, "o partido do Maluf". E eu me obrigava a dizer que o Maluf jamais pisara na soleira da sede do partido no Rio Grande do Sul, porque sabia não ser, aqui, benquisto nem bem-vindo. Até que um dia, Lula - quem poderia antever? - abraçou-se com Maluf, o procurado pela Interpol, nos jardins de sua mansão. E sorria, sorria muito o Lula, num sorriso deslavado e encardido. De um ou de outro modo, em diferentes cenários e agendas, o mesmo aconteceu com todos aqueles que, nos tempos de oposição, provocavam arrepios éticos na fina sensibilidade dos petistas.

Passaram-se 13 anos. Dezenas foram condenados, presos e estão sendo processados. Bilhões de reais escoaram para bem enxaguadas contas. Escabrosas histórias envolvendo o partido, seus agentes e parceiros são contadas mundo afora. Sob o governo petista, o país enfrenta um pacote de crises endógenas, todas de produção própria, caseira. Na contramão de uma conjuntura internacional favorável (a economia mundial crescerá 3%), o Brasil é assolado por inflação, recessão, desemprego, descrédito e o PIB cairá 2%. Apenas 9% dos brasileiros aprovam o governo. Mas o PT vive dias de muita comemoração. Afinal, o arqui-inimigo Eduardo Cunha, presidente da Câmara dos Deputados, foi acusado de ser pilantra sem que ninguém se surpreendesse. A alegria petista diante desse fato, faz lembrar o Tavares, o canalha rodriguiano, criado por Chico Anysio: "Sou, mas quem não é?".