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domingo, 30 de dezembro de 2018

Não entre de otário na agenda bobalitária


O Governo Bolsonaro vai começar. Tudo indica que iremos nos irritar e nos divertir com o previsível show de horrores da oposição burra. A agenda do ativismo bobalitário será confrontada pela pauta conservadora de Bolsonaro. Ideólogos de esquerda vão apanhar mais que massa de pizza. Celebridades papagaias terão faniquitos. Mas os bolsonaristas não podem repetir, às avessas, o papo furado dos adversários (ou inimigos)... Por isso, o problema da ideologia merece um amplo debate/embate. Sobretudo, uma discussão baseada em um novo conceito que desenvolvemos em 2007. Vamos refletir sobre a “ideocracia”. Tal conceito vai muito além da conhecida, mas indevidamente estudada “ideologia”. 


E a ex-presidente, escarrada, foi demitida definitivamente pelo leitor mineiro da vida pública -  também seu amigo e colega de assassinatos, o aloprado Fernando Pimentel (tão sem noção que nos tempos de guerrilha quando tentava realizar um sequestro e foi atropelado pelo carro do 'quase' sequestrado.

O cara continua tão desgovernado que comunicou oficialmente seu não comparecimento à posse do Bolsonaro - qual a utilidade do futuro presidiário petista caso compareça ao evento?ser vaiado.)]

Ideocracia é a aplicação prática dos modelos ideológicos para a conquista e manutenção do poder. São Maquiavel sabe do que estamos falando...

Governado por “ideologias ou ideocracias fora do lugar”, o mundo parece um espaço reprodutor de erros e vícios, em que o ser nasce condenado, cresce sufocado e reprimido. Nele, o próprio ser violentado pratica a violência e reproduz a opressão do sistema. O ser se destrói existencialmente. Enfim, condena-se à morte em vida. E o ciclo de opressão e violência parece se perpetuar – como se fosse intrínseco ao ser humano. Será que é? Eis a questão.

As 
ideocracias nos fazem perder a noção da realidade objetiva. As verdades subjetivas distorcem as coisas, explicam falsamente a realidade e alimentam os conflitos individuais e coletivos. As ideocracias e suas ideologias, sempre com o intuito de “salvar o ser humano”, nascem e evoluem neste cenário de controle, dominação e manipulação. No fim das contas, as ideocracias e suas ideologias querem o poder. Não necessariamente o poder para a felicidade humana.

Para que servem as 
Ideocracias? As ideologias (conjunto de idéias)são usadas como mecanismos políticos de dominação, controle e manipulação das massas, através da padronização e simplificação das idéias. Já as ideocracias são os modelos ideológicos aplicados para a conquista e manutenção do poder. As ideocracias e suas idéias influenciam o meio “bio-psicossocial”. Atuam sobre a “vida” e a mente dos seres organizados socialmente. Ideologia é "um conjunto de idéias, pensamentos, doutrinas e visões de mundo de um indivíduo ou de um grupo, orientado para suas ações sociais e, principalmente, políticas". O conceito de ideologia precisa ficar bem claro, para que seja compreendido seu emprego ideocrático.

Muitos autores definem ideologia como sinônimo de “visão de mundo”. Mas isto nem sempre é exato. Costuma-se conceituar visão de mundo como a perspectiva com a qual um indivíduo, uma comunidade ou uma sociedade enxergam o mundo e seus problemas, em um dado momento da história, reunindo em si uma série de valores culturais e o conhecimento acumulado daquele período histórico em questão. Mas as ideologias vão além da visão, sobretudo em um mundo controlado por oligarquias financeiras e seus restritos “clubes” de poder.  A ideologia é um fenômeno histórico-social decorrente do modo de produção. Karl Marx desenvolveu uma teoria da ideologia concebendo-a como uma forma de falsa consciência cuja origem histórica ocorre com a emergência da divisão entre trabalho intelectual e manual. É a partir deste momento, desta alienação, segundo Marx, que surge a ideologia. Ela é derivada de agentes sociais concretos (os ideólogos ou intelectuais), que tornaram autônomo o mundo das idéias. Desta forma, os ideólogos ou intelectuais teriam invertido a realidade.

De linha marxista, a filósofa Marilena Chauí caracteriza a ideologia como um mascaramento da realidade social que permite a legitimação da exploração e da dominação. “Por intermédio dela, tomamos o falso por verdadeiro, o injusto por justo”. Marx acreditava que a ideologia cria uma “falsa consciência” sobre a realidade que visa a reforçar e perpetuar a dominação. Já
Antônio Gramsci , conceitua que a ideologia não é enganosa ou negativa em si, constituindo qualquer ideário de um grupo de indivíduos. Não é à toa que os modelos de pensamento gramscianos se mostram tão adequados aos diferentes sistemas ideocráticos aplicados no mundo atual. Por sua vez, Louis Althusser retoma a linha original de Marx, definindo que a ideologia é materializada nas práticas das instituições. Desta forma, o discurso, como prática social, seria a “ideologia materializada” na prática.

Também de linha marxista, o psicólogo e sociólogo Erich Fromm sempre se mostrou profundamente impressionado pelo que ele via como uma poda da liberdade humana, pelo modo como as pessoas se submetiam, inconscientemente, a desempenhar papeis mecânicos dentro da sociedade exclusivista estruturada na ideologia do capitalismo. Vale conferir o conceito de Erich Fromm, exposto em seu livro "
A revolução da esperança por uma tecnologia humanizada(Círculo do Livro, São Paulo s/data. 190p.)":   "As ideologias são idéias formuladas para consumo público, satisfazendo a necessidade que todos têm de aliviar sua consciência culpada, na crença de que elas agem em favor de algo que lhes parece bom ou conveniente. As ideologias são mercadorias de pensamento já prontas, divulgadas pela imprensa, oradores e ideologistas a fim de manipular a massa do povo para finalidades que nada têm a ver com a ideologia, e que muitas vezes são exatamente o oposto”.

Erich Fromm pega na veia: “Essas ideologias são muitas vezes manufaturadas "ad hoc". Por exemplo, quando uma guerra é popularizada sendo descrita como guerra de libertação ou quando ideologias religiosas são usadas para racionalizar o status quo político”. Viram como é legal usar o raciocínio da esquerda contra ela própria?

A Oligarquia Financeira Transnacional, que controla o mundo, usa as ideologias do capitalismo, do socialismo, da globalização ou da “pqp” como melhor lhe convém para dominar as nações e exercer o poder do dinheiro. O grande desafio do mundo contemporâneo é entender os mecanismos ideocráticos e sua influência sobre os indivíduos e as sociedades. Quem ignorar a ideocracia será uma presa fácil de seus modelos ideológico. É bom ficar esperto, para não ser devorado pelas “ideocracias fora do lugar”.
Repito: São Maquiavel que nos ajude e guarde! Não merecemos ser feitos de otário pelas ideocracias e por seus agentes de ativismo, principalmente as estrelas artísticas e outras subcelebridades menos votadas.


PS – O artigo deste domingão é uma atualização do texto publicado neste Alerta Total em 14 de maio de 2007 – “Os perigos da Ideocracia”. 

Leia também o artigo de Renato Sant’Ana: Ativismo Agendado



domingo, 9 de dezembro de 2018

A tropa de assalto

“A velha política é muito resiliente, a montagem do novo governo começa a mostrar padrões tradicionais”


Ao emergir do chamado baixo clero da Câmara e chegar ao poder, o presidente eleito, Jair Bolsonaro, confirmou a tese de que a Presidência da República não é apenas um querer, é destino. Fez uma campanha eleitoral distributiva e antissistêmica, que derrotou os maiores partidos do país, falando o que maioria dos eleitores queria ouvir. A desmoralização dos políticos pela Operação Lava-Jato e uma facada na barriga que quase o matou, entre outros fatores que estão no terreno da fortuna, não lhe tiram o mérito de político sagaz, que soube agarrar a oportunidade com as duas mãos. Isso é o que Maquiavel chamou de virtù.


O “mito”, porém, está diante da uma realidade inescapável: governar é uma atividade essencialmente política, na qual a fortuna e a virtù se correlacionam; quando mudam as circunstâncias, certos atributos positivos viram negativos. Além disso, a velha política é muito resiliente, contraria a retórica dos que acham que tudo mudará na marra. Não é por outra razão que a montagem do novo governo começa a mostrar padrões tradicionais, entre os quais, o de que a tropa de assalto não serve para a ocupação.

O primeiro a ficar de fora do governo foi o senador capixaba Magno Malta (PRB-ES), que recusou o convite para ser vice de Bolsonaro, mas foi um baluarte de sua campanha. [convenhamos que a recusa do senador não reeleito em ser vice de Bolsonaro, teve potencial para causar sérios danos à candidatura 'desprezada' - felizmente tais danos não ocorreram - superiores até mesmo aos eventuais benefícios que Magno possa ter propiciado como 'baluarte.'] Perdeu a reeleição no Espírito Santo e esperava ter uma vaga na equipe ministerial. Acabou surpreendido pela indicação da pastora Damares Alves, sua ex-assessora parlamentar, para a pasta de Direitos Humanos, Família e Direitos da Mulher. Magno não foi sequer consultado, a advogada teve apoio da bancada evangélica e da ala de mulheres bolsonaristas da Câmara.

Outro comandante da tropa de assalto corre risco de não tomar posse. É Onyx Lorenzoni, o coordenador da equipe de transição e futuro ministro da Casa Civil, que começou a ser fritado pelos militares do governo e pelo próprio Bolsonaro, cujos comentários podem ser interpretados como uma sugestão para o auxiliar cair fora. Na quarta-feira, o presidente eleito disse que vai “usar a caneta” se houver “denúncia robusta” contra o futuro ministro da Casa Civil. Na sexta, Onyx perdeu a cabeça e abandonou uma coletiva. O ministro é alvo de denúncias de executivos da J&F de que teria recebido um repasse de R$ 100 mil por meio de caixa dois em 2012. O fato está sendo apurado pela Procuradoria-Geral da República por determinação do ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF).

Onyx já assumiu o caso e pediu desculpas, mas não deu informações sobre suposto recebimento de outros R$ 100 mil. Conforme os delatores da J&F, o repasse foi feito em 30 de agosto de 2012 em dinheiro vivo. É, por isso, que o futuro ministro está na frigideira. O chefe de cozinha é o vice-presidente Hamilton Mourão: “Uma vez que seja comprovado que houve a ilicitude, é óbvio que o ministro Onyx terá de se retirar do governo, mas, por enquanto, é uma investigação e ele prossegue aí com as tarefas dele. Nada mais do que isso”, disse o general ferrabrás, ao comentar o mesmo assunto.

Em família
Nada é mais constrangedor, porém, do que o caso de Fabrício Queiroz, ex-assessor do deputado estadual e senador eleito pelo PSL Flávio Bolsonaro, filho mais velho do presidente eleito. Ele foi exonerado [a pedido] do gabinete do deputado em 15 de outubro deste ano. O Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf), do Ministério da Fazenda, apontou movimentações bancárias suspeitas na conta de Queiroz de mais de R$ 1,2 milhão, entre 1º de janeiro de 2016 e 31 de janeiro de 2017. O relatório faz parte da Operação Furna da Onça, que prendeu 10 deputados estaduais no Rio e investiga 75 servidores da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). [o assunto 'constrangedor' tem de concreto, pelo menos até agora, uma movimentação atípica - não, necessariamente, ilegal - realizada pelo ex-assessor;
após as investigações é que poderá haver até o arquivamento do assunto (igual foi 'arquivada' a FAKE das  "doações para que Bolsonaro pagasse uma campanha de notícias falsas contra os adversários", que morreu de inanição, por falta de fatos, de pés e de cabeça) ou mesmo a comprovação de alguma ilegalidade e mesmo o envolvimento de alguém da família Bolsonaro - envolvimento improvável, mas, possível.]

Fabrício Queiroz era motorista de Flávio Bolsonaro e ganhava R$ 23 mil mensais. Uma das operações era um depósito de R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama, Michelle de Paula Bolsonaro, supostamente em pagamento de um empréstimo. “Não foram R$ 24 mil, foram R$ 40 mil. Se o Coaf quiser retroagir um pouquinho mais, vai chegar nos R$ 40 mil”, afirmou Jair Bolsonaro, em defesa da mulher. Segundo o presidente eleito, foram 10 cheques de R$ 4 mil.

Outra parte do relatório do Coaf revela saques em espécie no total de R$ 324.774, e R$ 41.930 em cheques compensados. Além disso, o Coaf identificou um grande volume de depósitos e saques inferiores a R$ 10 mil, o que, segundo o relatório, seria para dificultar a identificação da origem e do destino do dinheiro. Nathalia Melo de Queiroz, 29 anos, foi funcionária de Flávio Bolsonaro entre 2007 e 2016; depois, foi nomeada para o cargo de secretária parlamentar de Jair Bolsonaro na Câmara dos Deputados. Recebeu do pai R$ 84 mil. Além de Nathalia, a mulher de Fabrício, Márcia Oliveira de Aguiar, e outra filha dele, Evelyn Melo de Queiroz, trabalharam no gabinete de Flávio. No total, sete assessores fizeram depósitos na conta de Queiroz.

Nathalia foi exonerada do gabinete de Bolsonaro na Câmara dos Deputados em 15 de outubro, mesmo dia em que o pai dela deixou o gabinete de Flávio Bolsonaro na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). O episódio queima o filme do senador eleito pelo Rio de Janeiro, que chega ao Senado confrontando o ex-presidente da Casa Renan Calheiros (PMDB-AL), velha raposa política, que já empossou três presidentes da República como presidente do Congresso e sobreviveu a todos. [a sorte e, no caso Renan, a impunidade, um dia acabam.] Dos filhos de Bolsonaro, Flávio Bolsonaro é o mais experiente e articulado; passa a mão na cabeça do ex-assessor: “Ele me relatou uma história bastante plausível. Garantiu-me que não teria nenhuma ilegalidade nas suas movimentações”. As investigações sobre Queiroz, titular da “caixinha”, mostrarão o que houve.
Em tempo Vou tirar uma semana de descanso.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Comunismo - O PT agita a maré vermelha do Foro de São Paulo

Quem pensou que o Foro de São Paulo perderia força com suas derrotas na Argentina, Paraguai, Honduras e os escândalos no Brasil, deveria dar uma lida nas resoluções do seu 23º Encontro, encerrado em 18 de julho, em Manágua.

De sua leitura se depreende que “democracia”, na perspectiva dos partidos do Foro, é o que acontece quando, através deles (que tolos não são), seus militantes em camisas vermelhas, identificados como “o povo”, exercem o poder. Alinhadas com Antonio Gramsci, essas legendas reservam para si os papéis de novos Príncipes de Maquiavel. E vivem como tal, que ninguém faz revolução para passar necessidade, não é mesmo, senadora Gleisi Hoffmann?

Não surpreende, portanto, que persista, mesmo sob o sol dos fatos, o apoio desses partidos ao regime venezuelano. “Em respaldo à luta do povo venezuelano e defesa da Revolução Bolivariana” o FSP se declara em “estado de alerta e Sessão Permanente”. Todas as tropelias, todos os mortos, toda a miséria causada encontra justificação na causa política.

Ninguém no Brasil, fora do estreito círculo de extremistas concentrados no PT e nas pequenas legendas que com ele pegam carona, haverá de negar a completa ruptura do país vizinho com a democracia e com o estado de Direito. A Venezuela faliu sob a estupidez de um governo comunista e seu povo está sendo executado nas ruas, por ordem de um ditador que arroja milícias e polícias contra multidões desarmadas. Mas para obscurecer a realidade, a declaração final do 23º encontro recomenda às militâncias virtuais e aos professores que vinculem “o estudo de História com a Teoria Revolucionária, para dar batalha na luta das ideias, que é a mais importante das lutas revolucionárias”. Conforme o meu artigo Por que tantos professores de História são comunistas?”, danem-se os fatos!

Nesse cenário, durante a reunião do Foro, a senadora Gleisi Hoffmann, assim se expressou:
“O PT manifesta seu apoio e solidariedade ao governo do PSUV, seus aliados e ao presidente Nicolás Maduro frente à violenta ofensiva da direita contra o governo da Venezuela e condenamos o recente ataque terrorista contra a Corte Suprema. Temos a expectativa que a Assembleia Constituinte possa contribuir para uma consolidação cada vez maior da revolução bolivariana e que as divergências políticas se resolvam de forma pacífica.”

Essa farsa constituinte – denominada por Maduro “comunitária e chavista” – que o PT defende para a Venezuela está urdida de tal maneira que a oposição, mesmo com 80% da opinião pública, não vai compor maioria porque a regra definida, meio distrital majoritária, meio sei-lá-o-quê, o impedirá: dos 540 constituintes, 176 serão eleitos entre movimentos sociais controlados pelo chavismo; as grandes cidades, onde se concentra a maior parte da população e onde haveria votos universais suficientes para derrotar o chavismo, elegerão apenas dois representantes, de modo que por mais votos que o candidato oposicionista faça, sempre se elegerá um chavista em segundo lugar. 

É uma regra para perder e, assim mesmo, vencer. Com as bênçãos do petismo.
Se você não se sente ameaçado com isso, alarmado com isso e não dá importância a isso, assista este vídeo sobre a violência que grassa na Venezuela de Maduro. E se lhe parece pouco, pondere esta frase proferida pelo ditador no dia 27 de junho:
“Si Venezuela fuera sumida en el caos y la violencia y fuera destruida la Revolución bolivariana, nosotros iríamos al combate, nosotros jamás nos rendiríamos y lo que no se pudo con los votos lo haríamos con las armas, liberaríamos nuestra patria con las armas”.

Resumindo, o que o PT, através de sua presidente, apoia na Venezuela é: 
1º) uma constituinte inventada para compensar a perda de apoio popular e a derrota na eleição parlamentar; 
2º) uma regra eleitoral que permitirá ao governo vencer mesmo sem votos universais suficientes; 
3º) uma sentença do ditador determinando que vai às armas (e ele tem todas) se ainda assim for derrotado.

Fonte: Percival Puggina (72), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

sexta-feira, 4 de agosto de 2017

Folha prova que Temer disse a verdade sobre emendas; opinião pode ser mais tóxica que peixe podre

Os petistas obtiveram, na média, um empenho de verbas do Orçamento superior àquilo que conseguiram os tucanos que votaram contra a denúncia

Entrevistei ontem, no programa “O É da Coisa”, o presidente Michel Temer. Perguntei a ele como respondia à crítica de que estava comprando votos dos deputados com a liberação de emendas. Ele negou a acusação, que eu já sabia ser falsa, diga-se. Mas tinha a obrigação de indagá-lo a respeito. Eu mesmo lembrei que a Emenda Constitucional 86 tornou impositiva as chamadas emendas parlamentares. O Orçamento reserva, neste ano, R$ 6,3 bilhões para este fim. Na conversa com Temer, destaquei o caso da deputada Alice Portugal (PCdoB-BA), uma das que acusaram o presidente de comprar parlamentares. Ela própria está entre as que receberam as maiores dotações. Trato do assunto na minha coluna da Folha.

Pois é… Algumas línguas de trapo resolveram atacar a mim e ao presidente. Estaríamos, ora vejam!, mentindo sobre os números. Em conjunto. Clique aqui para ouvir  o que disse o presidente a respeito, a partir de 24min05s. A edição desta sexta da Folha traz uma reportagem sobre a distribuição de emendas. Ela prova, com dados, que Temer e eu falamos a verdade.

O problema é que a opinião pública está pilhada pela irresponsabilidade de vigaristas, de idiotas, de canalhas, que falam o que lhes dá na telha, sem nenhum compromisso com os fatos. Antes de tratar dos números da Folha, algumas considerações.  Não estou nesta profissão a passeio. Também estou aqui para exibir minha lindeza. Antes de opinar, pesquiso, investigo, pergunto, escarafuncho. Já disse algumas vezes: opinião é como orelha, joelho, cotovelo e traseiro: todo mundo tem. Existem as opiniões qualificadas e as desqualificadas.

Uma fala judiciosa que se ancore num dado errado, numa informação falsa, numa impossibilidade, é, por si, uma opinião errada. Ainda que possa apontar para um horizonte que consideremos correto. Eu exemplifico. Opino que é preciso que se adotem medidas duras para que as empresas paguem suas respectivas dívidas com a Previdência. Ok. Mas é um erro afirmar que, se isso for feito, então se pode dispensar a reforma do setor. E por que é assim?

Porque a dívida das empresas com a Previdência, como lembrei na conversa de ontem com o presidente, é um estoque, é limitado, e o rombo do setor é um fluxo, é permanente, existe ano após ano. Assim, ainda que seja correto opinar que as empresas têm de pagar o que devem, trata-se de um erro afirmar que se trata de uma alternativa à reforma.  Querem o contrário? Pois não!

Se o Estado decidir eliminar de pronto todos os portadores de uma determinada doença contagiosa, em vez de tratá-los ou de permitir que se tratem, mais cedo o mal será debelado, e menos pessoas serão contaminadas. Pergunta: seria ético fazê-lo? É aceitável a opinião de que esse é um bom caminho?

Opinião é matéria delicada, queridos! Nas democracias, é, a um só tempo, esplendor e sepultura. Querem outro caso polêmico? Quantos de nós, ao passar pelas cracolândias da vida, já não pensamos: “Essa gente tem de sair daí!” E tem. Uns dirão: “Os viciados não podem privatizar o espaço público”. Outro ainda: “Meu direito de ir e vir não pode ser tolhido por essas pessoas”. Tudo verdade! Opiniões, no entanto, têm consequências. Como iremos tirá-los de lá? Pessoas as mais distintas no credo, na ideologia, nos valores podem, ora vejam!, concordar quanto aos fins, os objetivos, aquilo que se quer alcançar. O que as diferencia são os meios — razão por que revi o que Maquiavel nunca disse e cravei: os meios qualificam os fins. Nunca se junte a alguém apenas porque ambos querem a mesma coisa. Cumpre que você pergunte a quais meios a pessoa está disposta a recorrer para alcançar seus objetivos.

Agora aos dados
De fato, os empenhos com emendas parlamentares foram crescendo: R$ 768 milhões em maio; R$ 1,6 bilhão em junho; R$ 1,9 bilhão em julho. Como aponta a Folha, não há nem correlação entre os votos dos deputados e a liberação de emendas: na média, cada parlamentar que votou com Temer teve liberados R$ 3,4 milhões, e os contrários, R$ 3,2 milhões. Isso é média. A comunista Alice Portugal conseguiu R$ 10,5 milhões.

A acusação é de tal sorte mentirosa que os petistas, que votaram unanimemente contra Temer, receberam mais, na média, do que os tucanos que votaram com o presidente: R$ 3,85 milhões contra R$ 3,53 milhões.  Assim, meu querido leitor, você tem todo o direito, claro!, de opinar que o presidente Temer comprou os votos dos parlamentares. Mas será uma opinião falsa, uma opinião burra, uma opinião mentirosa. Os números a desmentem.

Muito provavelmente, você está se deixando contaminar pela gritaria de pistoleiros e pistoleiras que falam o que lhes dá na telha porque, de resto, não são nem mesmo donos de sua opinião. Estão a serviço de candidaturas e de interesses nem sempre postos à luz do dia.  Para encerrar: segundo exigência da Emenda Constitucional 86, 50% do valor que for liberado em emenda têm de ser destinados à Saúde. E um número final: as emendas parlamentares correspondem a apenas 1,2% da receita corrente líquida prevista no projeto orçamentário enviado pelo governo.

Cuidado com a peixaria de onde saiu o  produto que você anda consumindo. Opinião estragada é mais tóxica do que peixe podre.

 

segunda-feira, 22 de maio de 2017

Os papéis que desconstroem Dilma

ISTOÉ examinou as 820 páginas de processo em poder do STF. Os documentos incluídos como provas por João Santana e Mônica Moura mostram que a petista teve despesas pagas com dinheiro da corrupção, atuou dentro do Palácio do Planalto para obstruir a Justiça e participou do petrolão

A ex-presidente Dilma Rousseff nunca deu ouvidos para aquilo que o filósofo espanhol José Ortega y Gasset chamava de fundo insubornável do ser. Ou seja, o mais íntimo pensamento naquela hora em que o indivíduo encara o seu reflexo no espelho e tenta reconhecer a própria face. Para alcançar o poder e nele se manter a todo custo, repetindo uma prática de seu antecessor, Dilma sustentou uma imagem que nunca lhe pertenceu: a de uma mandatária pudica e incorruptível. 

Mesmo depois do impeachment, ela insistia em se apresentar, em andanças pelo País e palestras além-mar, como uma espécie de vestal desprovida de mácula, vítima das circunstâncias. Não é possível mais manter a retórica de pé. ISTOÉ teve acesso às 820 páginas que compõem o processo de colaboração premiada dos marqueteiros João Santana e de sua mulher, Mônica Moura. Os documentos anexados como provas vão além da delação – e a liquidam de vez. Desmontam a tese, alardeada nos últimos dias por Dilma, de que aquele que atuou durante anos como o seu principal conselheiro político, bem como sua esposa, mentiram à Justiça em troca da liberdade.


Agenda entregue à Lava Jato por Mônica Moura com o registro “reunião pessoal tia” e bilhetes de viagem (trecho Nova York-Brasília) ajudam a comprovar encontro mantido entre a publicitária e a então presidente Dilma Rousseff  em novembro de 2014. Na reunião, Dilma disse que estava preocupada que a Lava Jato chegasse à conta na Suíça, que recebeu depósitos de propinas da Odebrecht

A militância costuma preferir narrativas a provas, para dourá-las ao sabor de suas conveniências. Não é o caso aqui. Reportagem de ISTOÉ tira o véu da “ex-presidenta inocenta”. A papelada comprova que Dilma incorreu em toda sorte de crimes ao ter: 1. Despesas pessoais pagas com dinheiro de corrupção desviado da Petrobras, mesmo quando não estava em campanha; 2. Atuado dentro do Palácio da Alvorada no sentido de tentar obstruir a Justiça; 3. Orientado a ocultação de recursos ilícitos no exterior e 4. Determinado a transferência de dinheiro sabidamente ilegal para os cofres de sua campanha, por meio de integrantes do primeiro escalão do governo. Em suma, os documentos atestam que a ex-presidente da República, durante o exercício do cargo, participou ativa, direta e pessoalmente do esquema do Petrolão.


(...) 

A petista demonstra que sempre desprezou as lições políticas de Maquiavel. A principal delas: “quando um governante deixa tudo por conta da sorte, do acaso, ele se arruína logo que ela muda”. Dilma contou muito com a sorte, até ser bafejada por ventos desfavoráveis. Depois de apeada do Planalto, a ex-presidente foi citada em 38 fatos de irregularidades na delação da Odebrecht, muitos dos quais se configuram crimes, como o uso de dinheiro sujo da corrupção na Petrobras. Por isso, a petista deverá responder a vários inquéritos por corrupção quando as delações chegarem ao juiz Sergio Moro, como já decidiu o ministro do STF, Edson Fachin. Hoje, ela já responde a um inquérito criminal por obstrução de Justiça ao tentar nomear Lula ministro da Casa Civil.
 
Coragem
Juristas ouvidos por ISTOÉ destacam que o material encalacra Dilma. Criminalista com 20 anos de experiência e especialista em direito penal pela Fundação Getúlio Vargas e Universidade Coimbra, Jair Jaloreto destaca que os fatos narrados indicam embaraço às investigações. “Em tese, qualquer pessoa que saiba que vai haver diligência e faz algo para impedir que essa ação seja exitosa, pratica obstrução da Justiça. Vinga o princípio de que todos são inocentes até que se prove o contrário, mas, se há provas suficientes, ela pode ser investigada, processada e condenada.” Professor de direito penal da Universidade Estácio de Sá, Rafael Faria diz que as delações e os documentos são fortes o suficiente para embasar o indiciamento da ex-presidente. Já o professor de direito e de temas anticorrupção na Universidade de Brasília, Thiago Sombra, destaca que as provas, em seu conjunto, formam um cenário devastador para a petista. “Isoladamente, seriam provas indiciárias, mas, quando consideradas no todo, têm um grau de consistência elevado”, avalia.


Em discurso de posse da primeira eleição em 2010, Dilma invocou um trecho da obra de Guimarães Rosa, Grande Sertão: Veredas. “O correr da vida embrulha tudo. A vida é assim: esquenta e esfria, aperta e daí afrouxa, sossega e depois desinquieta. O que ela quer da gente é coragem”. Não faltou coragem para Dilma. De fato é preciso coragem para, na condição de presidente da República, bolar dentro das fronteiras do Palácio da Alvorada uma estratégia sorrateira de comunicação eletrônica, a partir da criação de um email secreto, a fim de alertar subordinados sobre a iminência de suas prisões – o que configura obstrução clara e manifesta de Justiça. Do mesmo modo, é preciso muita coragem para ordenar, do alto do cargo de presidente da República, que terceiros bancassem suas despesas pessoais – e com o dinheiro sujo da corrupção. Como também são necessárias doses cavalares de coragem, além da certeza da impunidade, para sugerir a transferência de uma conta-paralela da Suíça para Cingapura destinada a acobertar ilegalidades das quais foi cúmplice. Para Dilma, o excesso de coragem pode sair caro. A ex-presidente quebrou um País, atentou contra os preceitos republicanos, e, se não roubou, foi no mínimo conivente. As barras da Justiça a aguardam.

MATÉRIA COMPLETA em ISTOÉ

 

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A metástase da corrupção em Brasília

Brasília derrete. Notória e agora escancarada a podridão naquelas paragens

A repulsa e mesmo o nojo que essa forma de fazer política provocam na população são inclassificáveis. Deputados, senadores, ministros e governantes, todos juntos, misturados num bolo fecal de roubos em série, como uma infestação de moscas a rondar sujeira. O sindicato do crime instaurado pelo PT em 13 anos de poder frutificou e se arraigou de tal maneira na Capital Federal que envolveu praticamente todos os atores numa grande fuzarca. Cambada de aloprados! Lula, o comandante supremo – como bem classificou a força-tarefa da Lava Jato – falava lá atrás, nos tempos idílicos de uma candidatura que se dizia contra tudo que está aí, que existiriam 300 picaretas comandando o Congresso. Hoje, sabe-se, são muito mais. Dentro e fora da casa parlamentar. E o autor da frase está prestes a ser condenado pelo mesmo crime, com requintes diabólicos, dignos de um Maquiavel focado em praticar o mal. Cuidado com o que ele diz e faz! 

Inúmeros depoimentos demonstram cabalmente que “a alma mais honesta que existe” – como o petista se autoproclamava – recebeu propina em dinheiro vivo, maquinou esquemas de desvios e de corrupção a torto e a direito e não se furtou de aproveitar as benesses do cargo para locupletar a família – filhos, irmãos & Cia. O odor putrefato das negociatas exala para cada lado. Todos se lambuzaram no melado nojento do caixa dois, das conveniências financeiras de venda, compra e troca de favores, nos mensalões, petrolões, num contubérnio onde o menos safado não passaria incólume em listas, mesmo preliminares, de transgressões e afrontas à lei. É ladroagem em profusão. E quem perdeu foi cada um de nós, que devemos aprender, da maneira mais dolorosa, com essa experiência, para nunca mais repeti-la.

Senhores brasileiros, saibam de antemão que, especialmente na era petista, está provado e reiterado –, se institucionalizou e tomou força a corrupção como política de Estado. Quem não entrasse na corriola era sacrificado. Representantes venais, em nome de eleitores ingênuos e com o apadrinhamento de caciques mal-intencionados, avançaram sobre a máquina pública, não encontrando limites ou freio. O aparelhamento estatal para saquear os cofres virou regra. Fez parte da rotina. Teve método e hierarquia definidos. Eis o saldo do populismo barato instaurado pelos que diziam representar o povo em causas justas.

Mentira! Simples assim. Eles irrigaram as contas da patota e saíram com o discurso de vítimas de golpe. As gravações, relatórios processuais e documentos provam. Nunca mais acredite nessa propaganda enganosa. Foi usada em várias ocasiões para furtar os seus sonhos e sofrida poupança. Cínicos, os assaltantes da riqueza nacional negam até a morte. Como num jogral ensaiado, logo após a divulgação da lista de envolvidos, a qualquer um que se perguntasse sobre a sua participação no esquema, vinha a resposta padrão: “Não foi comigo”, seguidas de epítetos como “as contribuições a minha campanha eram absolutamente legais”, “desconheço”, “não sei de nada disso”, “são inverdades”, “sempre atuei na legalidade”. Ilegal, com certeza, é a ilusão publicitária que esses arrivistas buscaram transmitir à população nos últimos tempos. 

Nojentas agremiações deram guarida à gatunagem sistêmica. Estava afinal certo o parlamentar, misto de menestrel oficial, Romero Jucá, quando disse que todos participaram da suruba. Desqualificados agora correm atrás de salvar o próprio pescoço. Sumiram de Brasília, que arde em chamas. Não mostram o mínimo de respeito ou de comiseração para com o eleitor, brasileiros que na maioria dos casos sofrem as chagas de um desemprego lancinante e de estruturas públicas entregues à falência. Tome-se o caso emblemático do estado do Rio de Janeiro, onde o ex-governador, já preso, Sergio Cabral, pintou e bordou. Comparsa de primeira hora do chefe de quadrilha, Lula, ele foi pego nas mais variadas circunstâncias de desfalques às finanças públicas.

Como afirmou o procurador Eduardo El Hage, que se disse impressionado com a voracidade dos desvios, Cabral “roubou em todas as áreas”. Ladrão contumaz, como diversos outros, que daqui para frente terão contas a acertar com a Justiça, graças à determinação dos agentes da Lava Jato. O vexame político não encontrou rédeas, mas a perseguição aos bandidos também não. Pelo bem da democracia.

Fonte: Carlos José Marques - Editorial IstoÉ

 

segunda-feira, 28 de março de 2016

Maquiavel para brasileiros



Não se viu manifestação popular expressiva durante os oito anos do governo Lula. As “pessoas de bem”, hoje vestidas de verde e amarelo, amantes dos símbolos nacionais e preocupadas com o destino do país, não ergueram suas vozes contra a ditadura petista que se erguia a olhos nus.

A partir do momento em que Maquiavel publica O Príncipe a política torna-se ciência autônoma. Até então, pode-se dizer que esta mesma dimensão da vida humana era compreendida dentro da perspectiva teleológica e metafísica que preponderava no Ocidente, como se observa nos escritos de Aristóteles ou nos pensadores medievais.

É o caso também de Santo Isidoro de Sevilha, que ainda na Antiguidade Tardia (expressão que empresto do professor Renan Frighetto), foi o grande responsável por converter a corte visigoda ao cristianismo. Em sua obra máxima, Etimologias trata também de política, pois era preciso não apenas converter os governantes bárbaros, mas também ensiná-los a governar como membros da Igreja. E foi Isidoro quem formulou – talvez pela primeira vez na história da Igreja – o conceito de príncipe cristão: aquele que age em nome de Deus na busca do bem comum.

Isto deu tão certo e foi tão difundido durante a Idade Média, que é comum encontrarmos referências a esta mesma noção em obras tardias que revelam, no conjunto, a preocupação dos políticos católicos em ser esta ação inspirada por Deus na sociedade. Desde o batismo de Clóvis, no início do século VI, até os reis taumaturgos do medievo central (ver a obra de Marc Bloch a respeito), passando por esta problematização consciente e propositiva de Santo Isidoro, é justo afirmar que a política, antes de Maquiavel, era encarada como forma de caridade (a isto fez referência o Papa Francisco recentemente). Obviamente houveram desvios individuais, mas o argumento geral é válido e historicamente atestado. O livro de Marcelo Cândido da Silva, A Realeza Cristã na Alta Idade Média, traça um perfil desta nobreza religiosa (particularmente a francesa), demonstrando a relação íntima e indissociável entre teologia e política.

Ou seja: Maquiavel iniciava, com sua obra moderna, a quebra de um paradigma, percebida na particularização e segmentação da política. Segundo sua visão, os governantes são dispensados do  dever moral e da observância de valores a priori (discussão que remonta a Aristóteles, novamente, e que envolve concepções jurídicas opostas). Há tradicionalmente quem defenda o direito natural e as leis inscritas no coração do homem – o que significa, a grosso modo, uma crença na origem metafísica do mundo e um reconhecimento de direitos fundamentais e atemporais, como à vida e à liberdade. Mas o autor de O Príncipe está na outra ponta: para ele e toda uma nova e complexa escola surgida a partir de então, o direito e a moral são frutos da vida social e das escolhas a posteriori. Não há hierarquia de valores e princípios, diz Maquiavel, nem moral desejável (senão aquela determinada pela constituição social, conduzida pelo governante).

Daí que o sentido de sua conhecida frase (“os fins justificam os meios”) seja justamente este: o governante deve ser julgado pelos seus resultados, e não pela motivação ou causa de suas ações. É aqui que a realidade política brasileira entra: por quanto tempo nossos meios de comunicação, nossos “intelectuais”, nossos atores públicos e classe política foram coniventes com o Partido dos Trabalhadores? Eu respondo: pelo tempo que duraram os bons resultados econômicos (sejam eles mérito do PT ou não).

Não se viu manifestação popular expressiva durante os oito anos do governo Lula. As “pessoas de bem”, hoje vestidas de verde e amarelo, amantes dos símbolos nacionais e preocupadas com o destino do país, não ergueram suas vozes contra a ditadura petista que se erguia a olhos nus, com aparelhamento das instituições (inclusive do STF), conchavos políticos à luz do dia (vide Mensalão), homicídios mal explicados (Celso Daniel), monopólio dos jornais, dos institutos de pesquisa, da produção cultural etc.

O que estava fazendo a brava gente brasileira durante esse período de costura maquiavélica feita pelo (hoje) odiado PT? Respondo de novo: salvo parcelas minoritárias da população, estava curtindo a boa onda econômica, aplaudindo os resultados petistas. Maquiavel não poderia estar mais contente. Aqui no Brasil sua teoria encontrou ressonância como em poucos lugares do mundo. Os governantes e os governados concordam que um roubo ali, um aborto de anencéfalos aqui, não tem problema. Importa o resultado final, que deve expressar a moral eleita coletivamente. No nosso caso, money no bolso.

É preciso dizer que a crise política atual é o aspecto mais superficial da baixeza moral e espiritual a que nos dispomos viver e transmitir desde 1500. Lembremos disso ao iniciar a limpeza que dizemos ser necessária.

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