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sábado, 16 de julho de 2016

O chororô de nossos políticos



Rodrigo Maia chora na vitória. Eduardo Cunha chora na derrota. São chorões só os políticos ou todos os brasileiros? 

Brasileiro chora quando perde (Eduardo Cunha) e quando ganha (Rodrigo Maia). Enquanto o primeiro-ministro britânico David Cameron, agora ex, se despede do comando do Reino Unido fazendo piada e cantando “doo dooo, doo doooo”, os políticos brasileiros ficam com olhos cheios de lágrimas. Na vitória ou na derrota.

E é sempre ao falar da família. Eduardo Cunha abandonou a frieza quase psicopata, ficou com a voz ainda mais fina e os olhos injetados, a boca entortando como menino que teve a bala roubada, ao mencionar a mulher, Cláudia Cruz, e uma filha, atingidas por seu “trust” inocente na Suíça alimentado por dinheiro público e propina. Não me pareceram lágrimas de crocodilo, só de perdedor.

Rodrigo Maia aguentou firme na Câmara até mencionar o pai em seu discurso, o ex-prefeito do Rio de Janeiro Cesar Maia. Ao agradecer ao pai, virou menino também, enxugou as lágrimas, os olhos ficaram vermelhos, quase soluçou, juntou frases improvisadas e ficou um pouco fora de si. Não é virtude nem defeito. É cultural? Essa emoção incontida parece muito verde-amarela. Nenhum inglês, francês, americano, alemão faria isso na Câmara ou no Senado ao assumir um comando. Aliás, nem espanhol, italiano ou português. Talvez, nem argentino.

Ao assumir como presidente na Argentina, Mauricio Macri ensaiou uns passos muito cafonas de dança, bem desengonçado. Claro, nenhum poderoso neste planeta chega aos pés de Barack Obama, que dança em qualquer ritmo, discursa em qualquer país, universidade ou situação delicada, de diplomacia, emergência ou terror, sem escorregar na pista ou na palavra.

Acho engraçado, curioso mesmo, que um cara de 46 anos como Rodrigo Maia, deputado veterano há quase duas décadas, ao ser eleito presidente da Câmara faça um discurso lacrimoso e diga publicamente que tomou três calmantes! Você não sabe se chora junto com ele ou se ri. Você afinal se envergonha ou se comove? Para quem está acostumado aos rituais políticos bem mais sóbrios na Europa, parece uma pantomima. O presidente da Câmara também falou, no discurso de vitória, do “Rodriguinho”, seu filhinho caçula e único varão. Rodrigo Maia é pai ainda de três filhas.

Perguntei ao psiquiatra Luiz Alberto Py os motivos dessa emoção que extravasa e expõe. “Primeiro, é cultural. É óbvio. A cultura do norte da Europa, anglo-saxônica, é mais fria que a cultura mediterrânea e latina. Mesmo no convívio e na rua, brasileiros se abraçam, se beijam, são mais expansivos. Em países do norte, emoção é algo reservado, privado, íntimo. Aqui no Brasil não há o menor constrangimento, nenhum esforço para reprimir. Até quando se ri, é com gargalhadas. Nada a ver com o humor britânico. Nosso humor é escrachado, rimos de nossas desgraças. E reagimos com uma intensidade que chega ao nível da falta de educação.”

Py lembra que uma vez, em Londres, estava no vagão do metrô e o trem parou de repente. Ninguém falou nada por vários minutos. Silêncio total. Até que uma voz no alto-falante disse que tinha havido uma pane e todos ficariam ali por um tempo ainda indefinido. “O cara que estava sentado a meu lado deu um profundo suspiro! E só”, disse Py. Sabemos bem que, se um trem para de repente num túnel no Brasil, todo mundo vai reclamar em voz alta, puxar conversa com o vizinho, gritar. Essa expansividade pode ser mais que um traço latino. Pode ser resultado de nossa mistura particular de latinos, indígenas e africanos. Nosso caldeirão.

Já que estamos às vésperas da Olimpíada, preparem seus lenços. Quando um atleta brasileiro, esforçado, estiver disputando uma medalha, em qualquer modalidade, todos se esquecerão das inconveniências do prefeito Eduardo Paes, e do governador parado no hospital, e do governador parado em exercício e até da Secretaria de Insegurança. Publiquei aqui uma coluna, em 2008, intitulada “Essa gente bronzeada e o chororô olímpico”. Os leitores se dividiram, entre elogios e ataques a meu suposto “antipatriotismo”. Eu escrevi, há oito anos: “A mídia dá cambalhotas para minimizar o constrangimento de anunciar repetidas derrotas de atletas brasileiros para telespectadores insones. Ninguém aguenta mais acordar cedo para ver o Brasil perder. Na falta de medalhas, a mídia entrevista famílias com voz embargada. E vamos todos à maternidade, onde está o filho recém-nascido do Marcelinho do vôlei. Close nos olhos vermelhos de todos. A musa Ana Paula também chora com saudade do filho. E o brasileiro chora junto, porque é sentimental e adora uma novela. Na categoria de choro derramado, o Brasil já é ouro.”

Brasileiro também chora com o hino, embora nem saiba a letra inteira. Tudo bem. Só não dá para chorar por político nenhum, em exercício ou afastado, em presídio ou em liberdade. Não merecem um pingo de nossa emoção.

Fonte: Ruth de Aquino - Época

 

sábado, 28 de maio de 2016

Um soco no útero

No Brasil, a cada 11 minutos uma mulher sofre abusos. Pode um ator fazer piada com estupro na TV? 

[o mais trágico é que este caso, apesar da ampla divulgação, deixa a sensação que ficará impune... notem que os três suspeitos chegam a delegacia juntos para depor... óbvio que tiveram tempo suficiente para combinar os depoimentos.]

O estupro coletivo da jovem de 16 anos, “uma mina amassada” por mais de 30 homens, numa favela do Rio de Janeiro, me deixou com as mãos trêmulas, um misto de raiva e impotência. A garota se queixa de fortes dores internas, “como se fosse no útero”. Não vi o vídeo de 40 segundos que exibiu a moça inconsciente, com sua nudez violada e ensanguentada. Foi por seu corpo o mesmo corpo que deu à luz um filho quando ela só tinha 13 anos que “o trem-bala passou”.

“É nós, trem-bala Marreta”, gabou-se um dos estupradores no vídeo. Referia-se ao grupo de traficantes do Comando Vermelho chefiado por Luiz Cláudio Machado, o Marreta, preso em 2014 no Paraguai. Os homens estavam armados de fuzis e pistolas. A jovem tinha ido encontrar um rapaz de 19 anos, o “Petão”, em sua casa, na Zona Oeste do Rio. Saía com ele havia uns anos após se conhecerem no colégio. Disse que acordou no dia seguinte, observada pelos homens armados.

Não é o primeiro nem será o último estupro coletivo – ou gang rape, como se diz lá fora. Neste momento, o Piauí investiga uma denúncia de estupro coletivo de uma jovem de 17 anos. A cada 11 minutos, uma mulher é violentada no Brasil. No Rio de Janeiro, 12 são estupradas por dia. Os casos mais chocantes envolvem o próprio pai, parentes, namorados, vizinhos, ou gangues.

Muitos ataques terminam em morte. Os números não refletem a realidade. É um crime difícil de denunciar – pela vergonha e pelo desânimo. Pesquisas internacionais indicam que apenas 35% dos casos são notificados. A barbárie também está no inconsciente coletivo de sociedades machistas que culpam as vítimas. Quem usa saia curta ou namora traficante se sujeita a ser estuprada. Essa é a lógica das favelas e do asfalto.

Se isso explicasse o abuso, não haveria estupros em campus de universidades, em festinhas da elite ou dentro de casa. No ano passado, surgiu um blog com um manual Como Estuprar Mulher na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP. O blog, do “Tio Astolfo”, “em prol da Filosofia do Estupro”, chamava as estudantes de “vadias”. Não soube de nenhuma prisão por isso.

Essa moça no Rio de Janeiro foi estuprada por ser mulher. Os bandidos divulgaram sua façanha em vídeo entre risos e sem disfarce. Foi um soco na consciência nacional. Pela lei, quando a vítima do estupro tem entre 14 e 18 anos, a sentença para os criminosos é de oito a 12 anos de prisão. Quantos realmente são punidos?

Um crime hediondo desses deveria ser punido com a prisão perpétua sem levar em conta a idade dos criminosos. [discordamos da prisão perpétua para este tipo de criminoso - melhor seria a castração química, irreversível; se a broxura que deveria ser permanente se revertesse mesmo que após os 20 anos da aplicação, seria utilizada a castração física = extração dos testículos.] Sabemos que só a Educação, nas escolas e em casa, pode reduzir o abuso a longo prazo. Mas o investimento na Educação deve ser acompanhado do rigor na lei. A impunidade gritante encoraja outros a se sentir mais machos com os estupros.

“Esta aqui é a famosa ‘come rato’ da Barão”, diz um homem enquanto aponta para a moça desacordada e nua. “Mais de 30 engravidou (sic)”, diz outro. “Amassaram a mina, intendeu ou não intendeu (sic)?” “Olha como é que ela tá! Sangrando...”, disse, abrindo as pernas da jovem. Barbárie, covardia e o que mais? Não tem nome para isso.

A jovem soube do vídeo, foi à favela e pediu ao chefe do tráfico seu celular roubado. À polícia, ela disse que usa ecstasy e lança-perfume mas não usava entorpecente havia um mês. Da noite do crime, diz não se lembrar de nada. A mãe da moça é professora e pedagoga. A família chorou ao ver o vídeo. O pai disse: “Bagunçaram minha filha”.

Bagunçam o Brasil todos os que não se indignam. Mas especialmente figuras abjetas como o ator Alexandre Frota, recebido pelo ministro da Educação Mendonça Filho com “propostas para um ensino sem doutrinação”. O ministro disse em sua defesa:Não discrimino ninguém”. Dê uma olhadinha na participação de Alexandre Frota em um programa de TV em maio de 2014, Agora é tarde. E perceba como o senhor deve desculpas tardias a si mesmo e a sua família pela agenda descabida.

No programa do humorista (?) Rafinha Bastos, na Rede Bandeirantes, Alexandre Frota disse que fez sexo por trás com uma mãe de santo após deixá-la desacordada com pressão sobre a nuca. “Comi uma mãe de santo”, disse e repetiu Frota, provocando risos e aplausos. Nojo total.

O ator constrangeu uma menina, chamada na plateia para representar o traseiro da mãe de santo. Frota falava de bunda e alisava seu pau. “Como a mãe de santo não falou nada, então pensei: vou comer”. E por aí foi, estimulado por um sorridente Rafinha Bastos.  Todos ali são cúmplices de apologia ao estupro, mesmo que o ator troglodita tenha dito depois, diante de protestos, que tudo não passava de “uma piada”. País onde estupro é piada é país que dá soco no útero de suas mulheres.

Fonte: Ruth de Aquino - Revista Época 

Leia mais em:  suspeito de estupro diz... estou mais famoso que a ...

 grito contra o estupro


sexta-feira, 20 de maio de 2016

Dilma Rousseff, a Afastada, declara: "As instituições no Brasil são mais sólidas do que se imagina"



Na primeira entrevista após ser afastada da presidência, Dilma [a afastada]  diz ao jornalista Glenn Greenwald que o Brasil não vive o "fim da democracia" 

A maior celeuma da semana das redes sociais foi se Dilma Rousseff sofreu ou não "um golpe de Estado". Essa falsa questão incendiou o maniqueísmo burro das redes, transformou todo apoiador do impeachment em "golpista" e todo apoiador de Dilma em "democrata".

A questão é falsa porque qualquer alfabetizado sabe que um golpe, violento ou não, militar ou não, pressupõe suspensão do Legislativo, fechamento do Congresso, prisão ou exílio de oposicionistas e dos depostos, regime de exceção, com suspensão de direitos civis, cancelamento de eleições, decretos e atos institucionais. Algo parecido com a crônica anunciada da Venezuela de Nicolás Maduro.  Como Dilma bateu muito nesse ponto – para mobilizar jovens, militantes e artistas –, agora foi intimada pela ministra Rosa Weber, do Supremo Tribunal Federal (STF), a explicar, num prazo de 10 dias, quem são os golpistas, como se deu o golpe e por que mantém salário, palácio, assessores e todos os privilégios de presidente afastada temporariamente, com direito a defesa e a recurso no Supremo.

Dilma, a afastada,  também deu sua primeira entrevista após o afastamento, para o jornalista Glenn Greenwald. Coerente com seu discurso, negou crimes de responsabilidade, afirmou ser vítima de uma injustiça e apontou o dedo para o vice "traidor", chamando o novo governo de "ilegítimo". Greenwald perguntou se ela diria que o Brasil vive "o fim da democracia". Dilma surpreendeu. Ela disse "não".

"Não, não diria. Por que eu não diria que chegou ao fim da democracia? Porque hoje as instituições, elas podem até ter abalos, mas elas são mais sólidas do que se imagina."
Verdade.

Fonte: Ruth de Aquino – Época


domingo, 8 de maio de 2016

Tchau, querido

A suspensão de Cunha é um sinal a Temer. Não existe apoio a negociações de pastas num ministério inchado 

Lamento, querido Eduardo Cunha, mas o senhor foi vítima de si mesmo. Do personagem inescrupuloso construído por uma história de vida de fraudes, propinas, intimidações a adversários, advogados, delatores, doleiros, relatores, contas secretas na Suíça, mentiras indecorosas, extorsões, alianças espúrias e enriquecimento ilícito.

Cunha se achava tão digno de suspeita que mudou a plaquinha com o número da casa alugada no Rio de Janeiro, no bairro da Gávea, na Zona Sul. O endereço era Rua Sérgio Porto, número 171. Ele “falsificou” para 173 durante os nove anos em que esteve ali. Para não confundir o visitante. No Código Penal, como sabemos, o artigo 171 se refere aos “estelionatários”. Levou a plaquinha falsa quando foi embora.

Querido, o senhor caiu. E, se o Conselho de Ética tiver algum apego ao substantivo “ética”, o senhor será cassado por seus pares e ímpares. Não adianta seu vice Waldir Maranhão – que responde a três inquéritos criminais – surtar, sair correndo da Câmara e cortar o som das vozes dos deputados, como se dependessem de microfones para se fazer ouvir. O país continuará a clamar por sua cassação – e até por sua prisão preventiva, caso ainda tente obstruir a Lava Jato.

O senhor ameaça levar muitos figurões da República junto com o senhor para os quintos dos infernos. O senhor já disse que tem muito a falar. Que fale. Por 11 votos a zero no Supremo, o senhor foi declarado “sem condições mínimas” de estar onde está, na linha de substitutos da Presidência da República. Foi uma goleada acachapante. Não vale dizer agora que o juiz roubou, não é mesmo? [o juiz pode não ter roubado mas simplesmente contrariou um principio básico do Estado Democrático de Direito e que está inserido no artigo 1º do Código Penal; Cunha ainda não foi julgado, a pena que foi aplicada não existe na Constituição Federal.
Portanto, punir Cunha justifica aos olhos dos onze SUPREMOS ministros  inventar uma punição e inserir VIRTUALMENTE na Constituição Federal.]
 
Cunha sempre faturou com a fé. Uma de suas empresas com a mulher, Cláudia Cruz, é a “Jesus.com”. Entre centenas de domínios de internet que registrou em seu nome, constavam em 2014 facebookjesus.com.br, compracrente.net.br, jesustube.net.br. Cunha não precisará rezar para ganhar dinheiro. O peemedebista continuará a ganhar R$ 33.763 por mês, benefícios como auxílio-moradia ou apartamento funcional, cota para passagens aéreas, gasolina, telefone e escritório, e verba de gabinete de R$ 92.053,20. [A Dilma durante o período que estiver afastada da presidência até ser chutada definitivamente continuará com direito a todas as mordomias - e Dilma já foi julgada três vezes e Cunha nenhuma.
Nos três julgamentos, Comissão Especial da Câmara, Plenário da Câmara e 
Comissão Especial do Senado, Dilma foi considerada culpada das acusações.] Poderá continuar com a residência e o carro oficial da presidência da Câmara, equipe de seguranças e jato da FAB. Escandaloso.

A suspensão de Cunha resgata a imagem do Brasil, dentro e fora. O país vinha sendo criticado por adotar dois pesos e duas medidas. Como afastar Dilma por crimes de responsabilidade fiscal e ao mesmo tempo permitir que um réu por corrupção no Supremo continuasse livre, leve, solto e poderoso no Legislativo?

Teria sido melhor que Cunha já tivesse sido suspenso desde dezembro, quando o procurador da República Rodrigo Janot elencou 11 argumentos para o STF afastar o deputado. O ministro Teori Zavascki alega ter aguardado o  tempo máximo antes de se arriscar a ver Cunha ocupando, como substituto, a cadeira de presidente da República. Não é normal que um Poder afaste o presidente de outro Poder. É uma decisão inédita. Esperava-se que a própria Câmara tirasse Cunha. Se Teori não agisse logo, na quinta-feira pela manhã, era possível que o STF aprovasse uma moção da Rede que apenas afastaria Cunha da presidência da Câmara, mas manteria intacto seu mandato.

Corta-se assim o Mal pela raiz? Os petistas sonham alto – querem anular a votação na Câmara pelo impeachment de Dilma Rousseff, sob a alegação de que um réu “em desvio de poder” não poderia presidir a sessão. Não se concebe, porém, que o STF interrompa no Senado um rito que vem cumprindo as normas constitucionais, com amplo direito a defesa e votação no plenário.

A saída de Cunha é uma advertência. Na Câmara, teme-se que a decisão do STF crie jurisprudência e os tribunais passem a suspender mandatos em massa de prefeitos, vereadores, governadores e deputados estaduais. Se tiverem de sair todos os políticos que “usaram seu cargo em benefício próprio”, vamos combinar que sai quase todo mundo.

A suspensão de Cunha também é um sinal a Michel Temer. Não existe apoio para um ministério inchado ou negociações de Pastas com sei lá quem em “pagamento” pelo apoio ao impeachment de Dilma. Não dá para entronizar um pastor da Universal no Ministério da Ciência e Tecnologia. É fazer pouco de um povo que passou a se interessar por política, a bater panela, a vaiar e a cobrar dos governantes. Um povo que não gostou de ser enganado por Dilma. Sem Cunha no caminho, os holofotes iluminam agora o querido senador Renan Calheiros, envolvido em inquéritos na Lava Jato.

Aguardem todos, sua hora vai chegar. “Afinal de contas”, como dizia Eduardo Cunha em seus tempos de radialista, “o povo merece respeito!” Queremos viver não em outro país, mas em outro Brasil. Tchau, queridos e queridas.

Fonte: Ruth de Aquino - Época
 

quinta-feira, 21 de abril de 2016

O que une o Brasil



Dilma ainda não foi desmascarada em metade de seus malfeitos. Que a investigação continue. E que todos os bandidos políticos sejam punidos por seus crimes 

Não sei como será o julgamento de Dilma Rousseff no Senado, mas espero que o nível dos votos seja melhor. Porque aguentar horas de arroubos suados "pela minha esposa", "pelos meus netos e o que está por vir", "pela minha tia Eurídice que cuidou de mim pequeno", "por Deus e pela honra de minha família", "pela bandeira de minha cidade", "por Marighela", "pelas vítimas da ditadura", "pelos corretores de seguro", "pelo fim da vagabundização remunerada",  "pelos policiais", "pelo fim do Estatuto do Desarmamento", "pelo fim da troca de sexo" e, por fim, "pela memória do coronel Ustra", conhecido [acusado de ser; embora todos os processos que o acusavam foram arquivados pela Justiça.]  torturador militar, foi, sim, demais da conta.

Vamos reduzir os votos de 10 segundos para 5 segundos na próxima etapa para evitar esse vexame todo? Sim ou não?  Não entendo o motivo do choque nas redes sociais com nossos representantes na Câmara de Deputados. Ninguém sabia que eles eram assim? O desconhecimento dos eleitores, mesmo os com diploma universitário, vai a esse ponto? Não sabíamos da indigência no idioma? Nem da falta de articulação, da falta de pruridos, da falta de raciocínio, da falta de classe, da falta de princípios, da falta de compromisso com ideias?

Ao vivo, dizem, é pior. Concordo. Muitos deputados pareciam imbuídos de uma missão divina, extraterrestre. Começavam num tom baixo e iam aumentando a um ponto tal que eu me encolhia na cadeira. Baixou a Janaina Paschoal na maioria deles. Surto coletivo das cobras. Poucos foram sóbrios.

Alguém esperava algo diferente dessa figura lamentável que é Jair Bolsonaro? Pergunta-se como alguém que elogia um torturador em público pode ser mito em um país democrático. [Bolsonaro será o futuro presidente do Brasil e terá como seu vice o senador Ronaldo Caiado - entendam brasileiros que a maior parte do eleitorado elegeu e reelegeu coisas como Lula e Dilma.......... qualquer mudança é lucro................e Bolsonaro, tendo como vice o Caiado,  devolverá aos brasileiros do BEM o orgulho de ser brasileiro.]  O pior é que ele é de fato ídolo de muita gente no Brasil. Os seguidores de Bolsonaro são, para a nossa felicidade e alívio, uma minoria, mas há muitos por aí que disfarçam a admiração que sentem por ele. Sempre existirão Bolsonaros em todos os países, não podemos nos iludir. Ele deveria ser processado por quebra de decoro, porque defender tortura dentro do Congresso e diante da nação equivale a crime contra a humanidade. [o verme do ex-BBB, especialista em defender tudo que não presta, no entendimento de muitos profissionais da imprensa deveria ser condecorado por ter cuspido em Bolsonaro. Será isso que Dona Ruth pensa? defende?

A leitura do artigo primeiro do Código Penal Brasileiro, em plena vigência, sepulta o argumento de que defender tortura é crime. Vejam: Código Penal Brasileiro - artigo 1º - não há crime sem lei anterior que o defina nem pena sem previa cominação legal.]  Por outro lado, um voto desses é salutar por expor as vísceras do autoritarismo - que só assim pode ser combatido.

Outra coisa que chocou o país foi ver centenas de votos "pelo impeachment e pelo fim da corrupção" dirigidas, em tom de reverência, a Eduardo Cunha, campeão de acusações de enriquecimento ilícito por propinas e contas secretas na Suíça. "Presidente (Cunha), eu digo sim ao impeachment, sim ao fim da corrupção!". Essa fala dava um tom tragicômico à votação. De vez em quando um se revoltava e vinha com o dedo em riste chamando Cunha de canalha e ladrão. Cunha reagia assim: "como vota, deputado? como vota, deputado?" Já vi muitas sessões de Congresso em vários países ocidentais. Nunca vi nenhum parlamentar que não mova um músculo do rosto ao ouvir um colega o chamar de canalha e ladrão aos gritos. É caso de estudo esse Eduardo Cunha. Quanto mais cedo sair, melhor para o Brasil.

Não entendo a indignação dos governistas e petistas com a traição de todos os partidos de aluguel que eram da "base aliada" do PT. Ora, por acaso o PT fez algum esforço na última década para se manter fiel a suas raízes? Algum esforço para manter no Partido seus fundadores? Ou preferiu "fazer como todos faziam" e se aliar a todas as oligarquias rurais e corruptas que agora são acusadas de golpe? PP, PR, Maluf, Sarney, estavam todos sustentando Lula e Dilma. Quem é desleal com sua própria história não pode esperar lealdade de alienígenas.

Dilma abusou do erro - como presidente, como líder e como pessoa. Quando se escolhe um vice, e ela, Dilma, escolheu o decorativo Michel Temer, deve-se cortejá-lo, deve-se dar a ele o papel devido na liturgia, pois a carinha do outro está na chapa que ganhou 54 milhões de votos. Dilma deu tanto as costas a Temer que ele aproveitou sua fragilidade e a crise econômica do país para dar o bote. Dilma nunca foi engolida pelo PMDB nem pelo baixo clero. Foi, no máximo, tolerada. Lembram aquele áudio constrangedor da conversa do prefeito do Rio Eduardo Paes com Lula, reclamando do "mau humor" de Dilma? Lula sabia muito bem que essa era uma verdade universal no governo Dilma. O mau humor. A arrogância. A centralização. Dilma não foi talhada para ser uma presidente, e menos ainda uma presidente popular.

Não foi o fim da série, mas ontem vimos o último episódio de uma temporada. A baixa qualidade da Câmara ficou escancarada. A quem diz tratar-se apenas de nossa imagem refletida no espelho, é bom lembrar que apenas 35 dos 513 deputados foram eleitos por voto próprio - a grande maioria foi carregada pelas legendas dos partidos. Isso não nos exime de culpa. Por muito tempo o brasileiro só quis saber de carnaval, samba, suor, cerveja, praia, futebol e consumo. Alienou-se totalmente da política e até de se informar sobre o exercício da política partidária, como se não tivéssemos nada a ver com isso. Quantas vezes comentamos que nossos hermanos argentinos tinham muito mais consciência política do que nós. O que fazer para o brasileiro se interessar por política?

Já não é este o caso. Aos atropelos, empurrada por uma crise que desemprega, mata e pune com mais severidade as classes mais desfavorecidas e a classe média, Dilma sofre um pedido de impeachment que não inclui metade de seus malfeitos. Gostaria de ver investigado em detalhes o papel de Dilma no cenário arrasado da Petrobras, de Pasadena, de Belo Monte. Gostaria de ver investigada em detalhes a ligação do PT com o assassinato de Celso Daniel. Gostaria de ver investigado em detalhes o absurdo enriquecimento de Lulinha. Gostaria que José Dirceu falasse sobre Lula. Gostaria de ver investigado em detalhes o que entrou de doação ilegal e de propina de obra superfaturada na campanha da reeleição de Dilma e Temer em 2014. Gostaria de ver investigado em detalhes o que aconteceu nos bastidores dos programas Bolsa Família e Minha Casa Minha Vida.

Gostaria que Aécio Neves e todo o tucanato paulista fossem investigados em detalhes, com rigor e sem perdão. Gostaria que eles prestassem contas sobre as fraudes no metrô, nos transportes, na merenda escolar. Gostaria que o PMDB deixasse de ser essa eminência parda que dança conforme a música do poder. Gostaria que o Senado não fosse presidido por Renan Calheiros. Gostaria que todos os bandidos políticos e de colarinho branco fossem desmascarados e punidos de acordo com os crimes que cometeram.

Só assim se consegue unir o Brasil.


 Fonte: Ruth de Aquino - Época
 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Delação fatal


O que Otávio Azevedo falou é motivo para a saída de um presidente em qualquer democracia

Algum petista precisa convencer a presidente Dilma Rousseff a apoiar os trabalhos da Câmara nos fins de semana, sábados, domingos e feriados, para acelerar a votação do processo de impeachment. Dilma, apresse tudo por seu próprio bem.

Porque, a cada semana, a cada depoimento que ganha a luz do dia, sua permanência no Palácio do Planalto fica mais insustentável. Não tem encanador no mundo que dê jeito nos vazamentos desse esgoto de propinas. No seriado “Executivos contra o Executivo”, o conteúdo das denúncias é assombroso.

Vamos esquecer que este é um mau governo – uma constatação de eleitores de todas as classes sociais e todos os matizes ideológicos. Dilma jogou o Brasil numa crise sem tamanho. Um Brasil que ficou tão menor sob sua incompetência e irresponsabilidade fiscal. Um Brasil que só aumenta os gastos públicos, mete a mão na arrecadação de impostos e condena a população à inadimplência.

Vamos esquecer sua falta de liderança, atestada por políticos de todos os partidos, entre eles o PT. Vamos esquecer a alta da inflação e do desemprego. Vamos esquecer que, ainda hoje, com o país no abismo, Dilma negocia, em troca de votos de qualquer picareta, as Pastas de Educação e Saúde, como se fossem legumes na xepa ou moedas de cara ou coroa – só para se manter no poder. E que se dane o povo nas filas de escolas e hospitais, refém de epidemias graves e indicadores educacionais vergonhosos.

Vamos esquecer as pedaladas fiscais, manobras que sempre existiram, mas que dispararam com Dilma e chegaram a R$ 72 bilhões – pedaladas para financiar projetos do governo, pintar de rosa a realidade e ganhar a reeleição com base em grossas mentiras. Esses bilhões foram ressarcidos aos bancos públicos no último dia útil de 2015, com o governo já acossado por denúncias de ilegalidade.

Vamos esquecer as delações anteriores, de seu ex-líder na Câmara Delcídio do Amaral ou de operadores e presidentes de empresas, todos admitindo participar de uma rede de obras superfaturadas e do movimento de fortunas para beneficiar seu governo. Vamos esquecer até as críticas de Lula a seu estilo autoritário, Dilma, com socos na mesa e palavrões. Um estilo agora substituído por um sorrisinho debochado com chiclete e por comícios seletivos no Palácio do Planalto, com claque garantida.

Vamos esquecer o caos e nos ate à última delação, de Otávio Azevedo, ex-presidente da segunda maior empreiteira do país, a Andrade Gutierrez. O executivo diz ter pago, com outras construtoras, R$ 150 milhões em propinas disfarçadas de doações eleitorais para o PT e o PMDB, repartidos igualmente, para ganhar o contrato da usina de Belo Monte.
Quem ganhou a “concorrência” acabou sendo o amigo de Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai, com um consórcio de empresas formado às pressas. A amiga de Dilma, Erenice Guerra, calou as queixas de Otávio Azevedo, prometendo a ele que Bumlai contrataria a Andrade Gutierrez para executar a obra. E assim foi. Se não me engano, isso se chama “quadrilha”.

O executivo Otávio Azevedo também declarou ter sido intimado pelo tesoureiro da campanha de Dilma em 2014 e atual ministro da Secretaria da Comunicação Social, Edinho Silva, a doar dinheiro para a reeleição da presidente. Otávio argumentou que já tinha pago a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, hoje preso na Lava Jato. E que não poderia fazer a mesma doação novamente. As partes teriam então chegado a um acordo de doação de R$ 20 milhões. Doação registrada legalmente, mas que, segundo Otávio Azevedo, seria originária de propina de obras superfaturadas da Petrobras e obras das usinas de Angra 3 e Belo Monte, além do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj.

A delação de Otávio Azevedo não livra a cara do PMDB nem do PSDB, cujo candidato à Presidência, Aécio Neves, também recebeu doações da empreiteira. Segundo o depoimento, em 2009, R$ 600 mil em dinheiro vivo foram entregues ao ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, do PMDB. A delação também envolve o economista Delfim Netto, que teria recebido, segundo executivos da empreiteira, R$ 15 milhões de propina em 2010.

Caso essa delação seja verdadeira, o que Otávio Azevedo falou é, por si só, motivo para a saída de um presidente ou de um primeiro-ministro em qualquer democracia civilizada. Causa espanto que Dilma se indigne não contra o conteúdo da delação, mas contra “os vazamentos seletivos” que favorecem “o golpe”. Causa espanto que o Partido dos Trabalhadores refute a última delação não em tom de revolta contra invenções absurdas, mas contra o que o PT chamou de “ilações”. Fraco.

Todos os acusados negam malfeitos. Mas não acreditamos mais. Precisamos passar o Brasil a limpo. E isso significa punir todos os bandidos, a torto e a direito, sem apegos a siglas, mas aos fatos.

Fonte: Época - Ruth de Aquino

sexta-feira, 25 de março de 2016

Vermelho é a cor mais quente

Quase todos estão no vermelho no Brasil real. Nossa convulsão mais sangrenta não é política, é econômica 

Quase todos estão no vermelho no Brasil real. E isso explica a ampla rejeição ao governo Dilma. Explica também o apoio da maioria dos brasileiros à saída da presidente da República – seja pelo impeachment, seja pela cassação de sua chapa com novas eleições, seja por sua renúncia. A voz das ruas, das pessoas mais simples – as que não têm tempo, estudo ou dom para discussões eternas, técnicas ou ideológicas, sobre esquerda, direita, legalidade de grampos, obstrução da Justiça e condução coercitiva –, é a seguinte: “O Brasil precisa voltar a andar”.

Mesmo na crise, os gastos do governo Dilma continuam a aumentar, e isso inclui as despesas com funcionários públicos. Não é pedindo ao Congresso aval para um rombo de R$ 96,65 bilhões em 2016 que Dilma vai recuperar o apoio popular perdido. Números podem ser chatos de ler, mas não dão margem a interpretações mirabolantes de juízes, ministros, parlamentares, petralhas ou coxinhas. A meta do governo era um superavit de R$ 24 bilhões. Só que o azul virou vermelho. É a cor mais quente, a que demonstra o maior crime de responsabilidade contra o país. É a cor do Planalto e das contas dos brasileiros.

O governo está no vermelho profundo, como lava fumegante de vulcão. Mas o nome de Dilma endividada não irá para a lista negra do SPC – somente os nomes dos brasileiros comuns e sem foro privilegiado, que não podem apelar ao Supremo Tribunal Federal. Esse deficit do governo federal está subestimado, porque não leva em conta os R$ 6 bilhões da renegociação da dívida com os Estados. Além disso, todos os planejamentos do ministro Nelson Barbosa contam com a injeção, no caixa, de uns R$ 10 bilhões da CPMF. 

Companheiros e companheiras, o rombo do governo Dilma este ano deve superar os R$ 100 bilhões. É o descrédito na capacidade desse governo de recuperar ou estabilizar a economia que acentua a insatisfação geral e as olheiras de Dilma. Não é só o nojo com a corrupção. O golpe que pode derrubar Dilma é o que freou a mobilidade social dos pobres e da classe média. Ao depositar o voto na urna, acreditavam que subiriam na vida e que seus filhos e netos poderiam estudar em boas escolas e ser alguém. Poderiam ser bem tratados em hospitais. O golpe da gestão incompetente de Dilma rasgou as bandeiras sociais do próprio PT. Desde 1992, o Brasil registrou pela primeira vez, em 2015, a combinação de queda de renda e aumento da desigualdade.

O desemprego recorde em sete anos, de 8,2% no mês de fevereiro, atinge quase 10 milhões de brasileiros. É muita gente que acreditou no Partido dos Trabalhadores. Eles estão na busca frenética de trabalho e dormem nas filas do seguro-desemprego, que torturam quem está ali ao exigir documentos de décadas atrás para conceder o benefício. Ouvir depoimentos de quem busca seu direito legítimo ao seguro-desemprego é uma aula para entender a impopularidade de Dilma. Só em janeiro e fevereiro, 428 mil vagas de trabalho foram destruídas, 40% delas no comércio.

A desculpa do governo para descumprir a meta, jogar pelos ares o ajuste fiscal e assumir gastos irresponsáveis é um primor: “Achamos que neste momento o governo tem de atuar para estabilizar a economia”, disse Nelson Barbosa. Quem, em sã consciência, acredita que pode estabilizar alguma coisa contraindo dívidas e mais dívidas? Se a Odebrecht tem uma central de propinas para caranguejo, avião, nervosinho, drácula, lindinho, passivo, proximus, atleta, grego, múmia, viagra, feira, há, no Palácio do Planalto e em seu Ministério da Fazenda, uma central para imprimir dinheiro e disseminar mentiras.

A convulsão mais sangrenta no Brasil não é política, mas econômica. A Petrobras fechou 2015 com prejuízo de quase R$ 35 bilhões e uma dívida de quase R$ 500 bilhões. A recessão levou 277 indústrias a fechar as portas. Trabalhadores ocupam instalações de empresas que decretaram falência. O protesto não é pela esquerda nem pela direita. Eles não empunham bandeiras do Brasil nem muito menos vermelhas. Querem sua dignidade de volta. Não querem só comida, mas até o alimento anda escasso.

O menino que deixou um saco de paçoquinhas no meu espelho retrovisor lateral por R$ 2,00 me comoveu, embora seja ilegal e arriscado o magrelo correr em meio aos carros na avenida. Não gosto de paçoca, mas as palavras na etiqueta eram: “Quem dorme sonha. Quem trabalha conquista”. Abri a janela do carro e comprei o doce de amendoim, torcendo para ele não ser atropelado e voltar para casa. Seria bom se sonho e trabalho fossem garantidos a ele. Era hora de aula. Deveria estar na escola, não é mesmo, Dilma?

Fonte:  Ruth de Aquino - Época
 

 

segunda-feira, 7 de março de 2016

Contra mártires e pela decência na política



Acho pouco oportuno levar Lula para depor no camburão com policiais armados. É dar palco para ele se fazer de vítima [o porte de arma é inerente a função policial e necessário tanto para proteger o próprio policial quanto a proteção do preso (no caso de Lula, na sexta-feira passada, o termo conduzido é mais apropriado) e também evitar tentativa de resgate.
Quanto ao Lula ser conduzido em camburão (o que não ocorreu, já que foi transportado em um S.U.V descaracterizado da PF) é apenas mera questão de tempo que isto se torne rotina, já que camburão é a viatura adequada para transportar criminosos. Lula, devido a idade, talvez seja poupado das algemas.]

É obsceno que representantes do povo usem mandatos para enriquecer ilicitamente e garantir mordomias vitalícias ou imunidade. Há décadas ouvimos dizer que Paulo Maluf está sendo investigado, processado e condenado - mas precisamos da Justiça francesa para encurralar um dos políticos mais caras-de-pau já produzidos pela República. Maluf está na lista de procurados da Interpol desde 2010, abrigado pela condescendência brasileira.

Um país que beneficia clãs como os Sarneys, com descendentes como a ex-governadora Roseana vivendo como filha de paxá, acumulando aposentadorias, pensões, subsídios e privilégios. Um país que reabilita figuras como Fernando Collor, impedido como presidente, mas anos depois amigo e cúmplice do "poder popular", abraçado a Lula. 

 [Collor nunca foi impedido; no transcorrer do processo de impeachment a conjuntura política levaria fatalmente ao seu  impedimento e para evitar ele renunciou e, posteriormente, foi absolvido pelo STF.
Só que os crimes dos quais Collor era acusado eram insignificantes quando comparados com o da atual mandatária, que circulou com desenvoltura tanto na área dos crimes de responsabilidade, quanto na área penal (estelionato eleitoral e fraudes na campanha.]

Num país assim, transformar o presidente da Câmara Eduardo Cunha em réu, por unanimidade no STF, deve ser motivo para celebrar. Num país assim, vir à tona o que os últimos presidentes Lula e Dilma fizeram é motivo para celebrar. Se for verdadeiro o depoimento de Delcídio do Amaral, não um mero doleiro mas o ex-líder do governo Dilma Rousseff no Senado, foram crimes e mais crimes contra o povo, contra os recursos públicos, contra as prioridades de um país em desenvolvimento, contra o Orçamento e contra a democracia.

Os ventos estão a favor de mãos limpas. Espero que a Lava-Jato, a Procuradoria-Geral, o Ministério Público, o Supremo Tribunal Eleitoral, o Tribunal Superior Eleitoral e a Polícia Federal abram as asas sobre nós e não poupem aves ou tucanos de nenhuma plumagem, vermelha, verde ou amarela. E é sempre salutar começar por quem está nos Poderes. Federal, estaduais e municipais. Começar por quem manda! Por quem meteu o Brasil nesse buraco negro.

Que todos olhem para seu umbigo, suas contas e seu passado e se perguntem: recebi propina alguma vez? Lavei dinheiro? Roubei? Favoreci empresários em troca de doações? Empreguei amigos de amigos para ganhar favores? Traí meus eleitores e os deixei à míngua para beneficiar minha família e decuplicar o patrimônio dos que têm meu sangue? Por que me tornei político?

A sexta-feira foi um dia excelente para não tomar partido com paixão nas redes sociais e correr, assim, o risco de perder a razão. Achei pouquíssimo oportuno levar Lula para depor na Polícia Federal em Congonhas logo após a publicação do rol de denúncias de Delcídio do Amaral - que não confirmou nem desmentiu o conteúdo da reportagem exclusiva da IstoÉ.

De que adianta a Polícia Federal transformar o ex-presidente em mártir, quando na verdade ele não tem nada de vítima? Acho meio patético colocar Lula num camburão e juntar tantos homens armados para nada. E dar palco para ele fazer mais um discurso populista e se dizer ofendido? 

Lula tem muito a explicar ao país, ao eleitorado e ao partido sobre o depoimento devastador do senador do PT à Procuradoria-Geral da República, onde é acusado de agir como o pior dos mafiosos. Ou poderia ser tudo invenção de Delcídio? Tudo? O mais importante acabou ficando em segundo plano. Vamos deixar de lado os açodamentos.

Não torço pela prisão de Lula e Dilma nem por qualquer arbitrariedade ou show. Torço para que o Brasil deixe de ser ludibriado em nome de um projeto de poder que beneficia uma casta política e sindical, arrasa com a economia do país e pune sobretudo os destituídos e os jovens. Torço pela decência no exercício da política.

Fonte: Ruth de Aquino – Época