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quarta-feira, 6 de março de 2019

Os perigos das redes sociais

Campanhas de ódio, assédios, exposição da intimidade alheia e até tentativa de homicídio usando a internet como meio de aproximação são riscos enfrentados com frequência cada vez maior pelos internautas

A internet e as redes sociais criaram um espaço infinito para a livre circulação de ideias e opiniões. A reboque, nesse território são instalados tribunais instantâneos que elevam ou enterram as reputações de celebridades e gente comum sem a menor piedade. Nesse meio é possível ter acesso aos mais brilhantes pensadores e conhecer gente bacana para, no clique seguinte, entrar na mira do pior dos criminosos ou ser vítima do mais insuspeito mau-caráter. Há notícias falsas, mentiras políticas, campanhas de ódio, constrangimentos públicos, agressões verbais, preconceitos, assédios, exposições de intimidade e até tentativa de homicídio usando os canais para aproximação com a vítima.

No caso de repercussão recente mais grave, Elaine Caparróz por pouco não foi assassinada em seu apartamento, no Rio de Janeiro, na madrugada do domingo 17. Há oito meses ela trocava mensagens de texto e voz por rede social com Vinícius Serra. O que deveria ser um primeiro encontro regado a queijo e vinho se tornou um espancamento de quatro horas. Mãe do lutador de jiu-jitsu Rayron Gracie, ela tinha noções de defesa pessoal, evitando ser estrangulada mesmo ferida. As razões para a agressão não estão claras. [o comportamento da Elaine violou os mais elementares principios de segurança, deixando até espaço para se atribuir a uma condição de abandono de todas as precauções e de bom senso, talvez empolgada pela excelente conquista que ela julgava ter efetuado.

Um ponto que muitos considerar dar mais segurança, ao contrário, reduz e facilita a a fuga, a não identificação de um criminoso:
- marcar encontro em sua residência, achando que por estar em território conhecido leva inibe eventual intenção criminosa do 'visitante'.
Nada disso. Ao contrário, só facilita.


- Quando o encontro ocorre em um motel, há uma relativa segurança, não total,  mas, que existe e facilita a vítima obter socorro;

- na casa do criminoso, este encontra algumas dificuldades, inclusive em caso de assassinar a visitante, ele tem o problema de se livrar do corpo e suas chances de roubar a vítima são mais reduzidas  (no caso você, o visitante,  é quem deve se preocupar em não fornecer material para eventual chantagem - o visitado pode dispor de um 'arsenal', camuflado,  para gravações em áudio e vídeo);

- indo para a casa da vítima, o criminoso não precisa se preocupar tanto com segurança. Basta se assegurar que a vítima estar sozinha, que não está sendo filmado ou se o for não será identificado e caso mate a vítima, tem bastante tempo para efetuar furto  (afinal está dentro de residência da vítima, com livre acesso a qualquer dependência e sem nenhum problema de se livrar do corpo: basta ter cuidado na hora da saída para não ser visto/filmado e torcer para que ninguém apareça por horas ou alguns dias, de forma o ocorrido só ser descoberto devido o mau cheiro do cadáver.

Assim, se você, mulher ou homem decide receber alguém em casa, procure avisar para alguém de sua confiança que está com alguém e deixar junto ao visitante que aquela pessoa virá a sua cada ou telefonará.
As vezes até a simulação de um telefonema para alguém te ajuda. ]

Alvos fáceis
Pior destino teve Fabiane Maria de Jesus, morta por linchamento em 2014 no Guarujá, em São Paulo. Ela foi confundida com uma sequestradora que agiria na cidade e que teve o retrato divulgado no Facebook. Dias depois, foi descoberto que nem sequer a suspeita era ligada ao caso. Cinco pessoas foram presas. Distantes entre si no tempo e no espaço, esses crimes brutais tiveram como ponto comum o uso de redes sociais para atingir mulheres. Estimativas apontam que elas são vítimas de 70% dos ataques nas redes. Celebridades também acabam sendo alvos involuntários. Este mês a atriz de telenovelas Marina Ruy Barbosa se viu envolvida como pivô da separação entre os colegas de profissão José Loreto e Débora Nascimento. Casada, Marina foi transformada na manjada figura machista da destruidora do lar alheio. Loreto foi mantido relativamente incólume pela inquisição da opinião pública. Já a atleta do salto ornamental Ingrid Oliveira passou por um linchamento moral mais intenso e que ainda prossegue. Nos Jogos Olímpicos de 2016, foi divulgado que ela levou para seu quarto o canoísta Pepê Gonçalves, que saiu com fama de “pegador”. Atacada, Ingrid teve sua carreira prejudicada e hoje está sem patrocínio. Marina e Ingrid são vítimas de “slut-shaming”, que consiste em humilhar, expor e culpar publicamente mulheres por suas atitudes, sexuais ou não.


(...)


Como ensinou o intelectual e romancista italiano Umberto Eco, falecido em 2016, esses comportamentos agressivos contra tudo o que é novo ou diferente são indícios do que chamava de fascismo primordial. Em “O Fascismo Eterno”, Eco explicou que não é difícil encontrar “apelo às classes médias frustradas, desvalorizadas por alguma crise econômica ou humilhação política, assustadas pela pressão dos grupos sociais subalternos”. E, nas redes, todos sentem-se protegidos pelo anonimato. “As pessoas ganham coragem para falar o que bem entendem. Acham-se ocultas no meio da massa”, afirma Karen Mercuri, estudiosa de linchamentos virtuais da Universidade

A incapacidade de respeitar o outro nas redes começa finalmente a trazer consequências para quem acredita que pode pregar desprezo e sair incólume. Em janeiro, em São Paulo, o estudante de Direito Pedro Baleotti foi expulso da faculdade após publicar um vídeo em que dizia que “essa negraiada vai morrer, vai morrer”. Ele também foi indiciado por racismo e perdeu o emprego.

(...)



Em última instância, vale a crítica ácida de Umberto Eco sobre a estridência das redes sociais: “Deram o direito à fala a legiões de imbecis que, antes, falavam só no bar, depois de uma taça de vinho, sem causar dano à coletividade. Diziam imediatamente a eles para calar a boca, enquanto agora eles têm o mesmo direito à fala que um ganhador do Prêmio Nobel”.

MATÉRIA COMPLETA em IstoÉ


 

sábado, 14 de outubro de 2017

A direita se transforma no último refúgio dos canalhas

É conhecida a frase do inglês Samuel Johnson (1709-1784): "O patriotismo é o último refúgio de um canalha". Acabou distorcida. Referia-se a uma situação específica da política do seu tempo. Não hostilizava ou renegava os "patriotas", então uma corrente política. Criticava vigaristas que passaram a se abrigar sob tal manto, pervertendo ideias que considerava virtuosas. Nestes dias, o liberal brasileiro está obrigado a dizer: "A direita é o último refúgio de um canalha". 

Nesta quarta (11), fiz o que não faço quase nunca. Acompanhei um tantinho, nas redes sociais, as reações de grupos organizados "de direita" à sessão do STF que decidia se medidas cautelares impostas pelo Judiciário a parlamentares devem ou não ser submetidas à respectiva Casa Legislativa. "As direitas" não estavam entendendo nada. Os ditos direitistas, excetuando-se raras ilhas de compreensão, esmeravam-se em vomitar ignorâncias contra "todos os políticos". Sentem-se moralmente superiores a seus antípodas por atacar a política ela mesma, em toda a sua extensão. O mal dos adversários estaria na seletividade. Entendi. Os esquerdistas se orgulham de olhar no olho de suas vítimas antes de atirar. Justiça que enxerga! A direita de que falo atira antes de olhar. Justiça cega! 

Vi antipetistas fanáticos, anticomunistas patológicos e convictos fascistoides de direita a aplaudir o voto de Luís Roberto Barroso. Junto com a esquerda. Aquele cheiro de sangue no ar. O que a etimologia ensina sobre "canalha"? Resposta: "cachorrada". É que o doutor lavou o seu relativismo constitucional com o linchamento do senador Aécio Neves, que não era nem citado naquela ADI. Seu voto ia apertando todos os "botões quentes" da polêmica, para empregar uma expressão que Umberto Eco cunhou muito antes de conhecermos o bueiro do capeta das redes sociais. 

Sem vergonha na toga e da toga, o doutor começou atacando o foro especial, que não estava em julgamento. A direita salivava. Depois apelou à metáfora dos "peixes pequenos", sempre punidos, e dos "graúdos", sempre impunes. Mais baba. Poderia ser o "Sermão de Santo Antônio aos Peixes", de Padre Vieira. Era só o "Proselitismo Esquerdopata de Barroso aos Tolos". Aí resolveu condenar Aécio, que nem réu é ainda.
Dinheiro, ensinou, tem de passar pelo banco, ou a corrupção está comprovada. E, se é assim, pode-se rasgar a Constituição em nome da honestidade. É precisamente o que faz a esquerda mundo afora. Ele nem teve a delicadeza de dizer qual foi a contrapartida –ou promessa de– oferecida pelo senador a Joesley Batista, o que poderia caracterizar corrupção passiva. A cachorrada se afogava de prazer na gosma peçonhenta. 

A ficha das "direitas" não caiu nem quando, negando a sua condição de "ativista judicial", Barroso afirmou ser contrário ao STF legislador e interventor, mas só nas matérias de natureza constitucional. E, mesmo nesse caso, deixou claro, dá-se o direito de legislar sobre "direitos de minoria" e "proteção às regras da democracia". Não por acaso, é o gênio da raça que resolveu fazer uma interpretação extensiva de um habeas corpus e, pimba!, decidiu "legalizar" o aborto até o terceiro mês de gestação. Não ficou claro se o assassinato do feto, que não pode correr nem se defender, é um "direito de minoria" ou uma "regra da democracia". 

Por 6 a 5, depois das adaptações, decidiu o STF que a Justiça pode, sim, aplicar a parlamentares as medidas cautelares do Artigo 319 do Código de Processo Penal, mas tudo o que afeta o mandato deve ser submetido à Casa Legislativa a que pertence o punido por prevenção. Das aberrações, a menor. A confusão, agora, vai se estender a Assembleias Legislativas e Câmaras de Vereadores. 

A direita dos humores pegajosos, constatou minha mulher, ainda agora se afoga em secreções de puro rancor. Queria mais inconstitucionalidade. Que o Brasil sobreviva ao patriotismo dos canalhas! 

Fonte: Folha de S. Paulo - Coluna do Reinaldo Azevedo

sábado, 23 de julho de 2016

A Hora do Medo

Quando li sobre o ataque a machadadas e facadas feito pelo afegão de 17 anos em um trem que chegava a Würzburg, Alemanha, fiquei muito chocada. Como pode um adolescente ainda tão próximo da infância ser assim cruel, violento, desgraçado?

O que será que o levou a se transformar nesse monstro? Depois, como se alguém puxasse pelos meus cabelos para que meu cérebro acordasse, eu me dei conta de que, para uma carioca, ler esse tipo de notícia não devia ser chocante. Triste, sim, sempre. Mas chocante não já que aqui, nesta linda e outrora aconchegante cidade, crimes cruéis são cometidos a cada 2 horas. Já devia estar habituada a ler sobre o mal, o ódio, a sanha que pode levar o homem a se transformar numa besta-fera.

A VEJA de 13 de julho faz um relato do que aconteceu nas primeiras 48 horas do mês de julho: das 20 horas do dia 1º, uma sexta-feira, às 20 horas do domingo 3, foram vinte e sete mortos,  vinte feridos, dezenove tiroteios, sete arrastões. [clique para ler] 

A descrição de alguns dos crimes cometidos nessas 48 horas é terrível.  Depois de ler a reportagem, podemos avaliar o crime do afegão como brutal, feroz, bestial? E é nesta cidade que teremos no mês de agosto os Jogos Olímpicos. O cenário é perfeito, o carioca já gosta de uma festa, é apaixonado pelo circo.  Ao pão creio mesmo que prefere o circo. Receberemos  milhares de pessoas, boas, más, violentas, pacíficas, cruéis, bondosas, perigosas, gente de todo tipo.

Minha oração a Deus é que não permita que a espoleta que esses visitantes possam trazer chegue perto da pólvora que nossa criminalidade armazena há tanto tempo... O terror que ameaça o mundo de hoje ficará tentado a vir ao Rio? Aqui encontrará guarida entre os traficantes? Morro de medo dessa gente, confesso. E mais insegura fico ao ver as declarações conflitantes de nossas autoridades. O prefeito dá entrevistas divergentes ao The Guardian. Ora o Rio está à beira de muitas tragédias, ora se você quiser desfrutar de um agosto tranquilo, venha para o Rio.

O governo francês pede proteção extra para os liceus que mantém no Brasil e para as sedes de suas escolas de língua francesa em território brasileiro.  Nossa Abin se aconselha com o Mossad, com o FBI, com a CIA...  E querem me fazer crer que não há razão para medo?
O medo é o sentimento mais primitivo do homem. Os recém-nascidos tremem na mão do parteiro que os segura mal saem do ventre de suas mães e é de medo que tremem.  O coração acelera, a respiração fica ofegante,  as pernas e os braços se agitam.  É o corpo se defendendo do medo.  E por toda a nossa vida, em momentos de grande medo, assim ficaremos.
Eu me pergunto como se pode matar o medo? Como dar um tiro no coração de um fantasma, ou cortar sua cabeça fantasmagórica,  ou estrangular sua garganta espectral?”, foi a pergunta que Joseph Conrad fez e que ficou sem resposta.

Já Averróis, Jean-Paul Sartre e Umberto Eco não nos deixaram perguntas sobre o medo; definiram o que pensavam sobre esse sentimento que pode ser devastador:

De Averróis: A ignorância leva ao medo, o medo leva ao ódio e o ódio conduz à violência.  Eis a equação.
De Sartre:  Todos os homens têm medo. Quem não tem medo não é normal; isso nada tem a ver com a coragem.
De Eco: É sempre melhor que quem nos incute medo tenha mais medo do que nós.

Será? Neste Rio onde há uma morte a cada duas horas, onde a vida não vale nada, onde matar um ser humano é o mesmo que pisar numa formiga? Estou com muito medo. Quero afastar esse sentimento negativo, feio, escuro. Mas como?

Na verdade, o mundo está ameaçado. A maldade e o ódio parecem dominar todos os países. Nice, Paris, Bruxelas, Londres, Orlando, Madrid... Não há como fugir da constatação: como é frágil esta nossa nave.

Fonte: Blog do Noblat - Maria Helena Rodrigues Rubinato de Souza

 

sábado, 27 de fevereiro de 2016

Legião de imbecis?

Faz exatamente uma década que o comentarista Arnaldo Jabour cunhou o termo “pornopolítica” para designar a política como a maior expressão de nossa degradação moral 

Com a infeliz declaração do pensador Umberto Eco pouco antes de morrer, de que a internet dá voz a “uma legião de imbecis”, ofereço ao debate público o contraponto: uma legião de cidadãos políticos que passou a contar com um novo meio de participação na governança da sociedade.

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Faz exatamente uma década que o comentarista Arnaldo Jabour cunhou o termo “pornopolítica” para designar a política como a maior expressão de nossa degradação moral. E do episódio do mensalão pra cá, a grande mídia brasileira só fez ilustrar crescentemente o que este mesmo jornal, por exemplo, vem chamando de “escândalos em série”.  Tal qual uma produção novelesca sem fim, não vitimasse com recessão, desemprego, inflação e tensão social exatamente o cidadão leitor e assinante dos principais veículos de informação do país. Embora se saiba que em vários outros setores de nossa expressão cultural o país real resista bravamente, como demonstra o nosso sucesso em diversas atividades sociais, da medicina à aeronáutica, do agronegócio à indústria, é o setor da política que nos nivela todos por baixo.

O que está em jogo, na verdade, é uma nova missão para a própria mídia de massa, que, exatamente por não poder concorrer com as redes sociais na agilidade de produção de notícias, passa a ter sua função de filtro mais valorizada ainda. O que significa que será composta mais de editores do que de repórteres, pois repórteres seremos todos nós, quaisquer cidadãos testemunhando os fatos ocorridos no dia a dia das comunidades em que vivem. Todavia, se os próprios cidadãos frequentam apenas as páginas das redes sociais para se informar, o panorama muda por completo, pois ficarão sempre mal informados, sem uma referência confiável da origem da informação, data, locais de ocorrência, protagonistas, causas etc., tarefas de checagem, filtro e seleção que só os profissionais de edição da grande mídia têm a expertise para levar avante.

É certo, como disse o pensador Umberto Eco, que “uma legião de imbecis” se expressa nas redes sobre os mais variados assuntos. Sobretudo, cultura pop, pornografia em si mesma, fofocas e outras trivialidades. Mas quando o assunto é política, mesmo que a pornopolítica brasileira, que me desculpe o filósofo italiano, o nível do debate público cresce de qualidade a olhos vistos. Se não, o mundo não teria visto os mais férteis movimentos de transformação da pornopolítica para uma cultura de plena cidadania nos mais variados países, como o Ocuppy Wall Street, nos EUA; o Podemos, na Espanha; o 5 Estrelas, na Itália, o Je suis Charlie, da França; e, mais recentemente, o Vote Leave inglês e o Vem Pras Ruas brasileiro, que, desde 2011, representa uma rede de dezenas de movimentos contra a corrupção política do país.

Ou seja, trata-se, na verdade, de uma nova divisão de tarefas, entre a função mobilizadora das redes sociais, formando cidadãos políticos prontos a participar da gestão pública e a função de qualificação da informação a cabo dos editores da grande mídia.  Por isso é que, ao lado da voz da legião dos imbecis a serem mal informados pelas redes sociais, se abre também o espaço público para a formação de uma legião de cidadãos pela mídia profissional.

 
Fonte: Jorge Maranhão é diretor do Instituto de Cultura de Cidadania A Voz do Cidadão

 

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2016

O talento número 1 de João Patinhas



Na semana passada, a literatura universal perdeu um dos mais eruditos entre seus exegetas e também um dos mais bem-sucedidos de seus criadores com a morte de Umberto Eco. Este, contudo, não levou para o túmulo um célebre axioma universal do romance policial, seja o mais popular, seja o mais sofisticado: o criminoso sempre volta ao local do crime.  

O grande mestre, porém, desapareceu sem ter tido a oportunidade de conhecer uma contribuição, dada pelo grupo de criminosos que promoveu no Brasil o maior assalto ao patrimônio público de todos os tempos e que, de certa forma, parodia esse truísmo: o novo tesoureiro sempre volta a cometer o crime do antigo.

Foi assim que o ex-tesoureiro do partido que manda na República há 13 anos (por coincidência, o número com que está inscrito na Justiça Eleitoral) Delúbio Soares, condenado na Ação Penal (AP) n.º 470, vulgo mensalão, por corrupção, entre outros delitos, foi imitado por seu sucessor. Como é notório, João Vaccari Neto já foi condenado por similar sequência de crimes após investigações da Polícia Federal e do Ministério Público Federal, e com penas impostas pelo juiz da chamada e muito aclamada Operação Lava Jato, Sergio Moro, da Justiça Federal do Paraná.

Com sua habitual dose de ironia, a deusa grega Clio, que rege a História, acaba de nos conceder exemplo da mesma natureza, que parece ter sido feito para confirmar a máxima anterior e exatamente na atividade em que o citado professor Eco foi pontífice máximo desde os anos 60: a comunicação de massas. Em depoimento na Câmara, em 2005, o publicitário baiano Duda Mendonça abalou os alicerces da política profissional no Brasil ao revelar que havia recebido em moeda estrangeira e em contas no exterior o pagamento por seus serviços à campanha vitoriosa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, do Partido dos Trabalhadores (PT). Mostrando que, em política e polícia, o raio pode cair no mesmo lugar, isso acaba de acontecer com quem o substituiu na função.

A prisão temporária do sucessor de Duda na campanha de reeleição de Lula, em 2006, e nas vitórias de Dilma Rousseff, apoiada pelo antecessor, em 2010 e 2014, outro baiano, João Santana, confirma, de forma peremptória, a aplicação do aforismo sobre o tesoureiro quando se trata de marqueteiro. E não é mera coincidência. Afinal, nos tempos modernos da comunicação de massas, genialmente explicados por Eco, o guardador de dinheiro e o fabricante de sonhos para enganar eleitor têm importância capital na disputa pelo voto do povo. E distorcem a paródia de Hegel por Marx, segundo a qual a História acontece como tragédia e se repete como farsa. Na versão do PT brasileiro, só se conhecem tragédias.

Surpreendido pela notícia fatídica quando tentava asfaltar o caminho de volta de Danilo Medina, do Partido de la Liberación Dominicana, à presidência da República Dominicana, o marqueteiro defendeu-se como pôde. Ocorreu-lhe, por exemplo, dizer que o dinheiro que entesoura em bancos estrangeiros foi licitamente ganho em campanhas que assessorou no exterior. 

Convenhamos que imaginar que nos convence de que faturou milhões de dólares de candidatos de Venezuela, El Salvador, República Dominicana, nas Américas do Sul e Central, e Angola, na África, com economias a anos-luz da brasileira, por mais críticas que sejam nossas condições econômicas no momento (o que está longe de ser o caso nas primeiras campanhas de Lula e Dilma), é uma aposta muito arriscada em nossa estupidez coletiva

Por mais razões que algum observador cruel tenha para justificar esse motivo, é contar excessivamente com a credulidade popular. Muito embora sua imaginação publicitária tenha sido capaz de ludibriar mais de 54 milhões de eleitores brasileiros que sufragaram sua candidata em 2014 imaginando que com as asas de suas mentiras voariam sobre o abismo à vista.

Se Aristóteles pudesse ressuscitar e opinar, talvez o tutor de Alexandre, o Grande, arriscasse a hipótese mais lógica de que pode ter ocorrido exatamente o contrário: o propinoduto da Petrobras e a generosidade do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) podem ter financiado as campanhas dos companheiros venezuelano, salvadorenho, dominicano e angolano. Seria, no mínimo, curioso imaginar mais essa dívida da originalidade histórica a nosso PT: com o fracasso da exportação da revolução cubana de Fidel Castro e Ernesto Che Guevara para o Terceiro Mundo, a esquerda tupiniquim inaugurou a exportação da corrupção do Robin Hood às avessas, em que os pobres empobrecem para enriquecer os companheiros socialistas.

A hipótese, contudo, é absurda: para Hegel e Marx, os fatos históricos podem voltar a ocorrer, mas não seus protagonistas. Sem Aristóteles para nos tutelar, podemos concluir que enfrentamos uma tentativa de negar a História e, ao mesmo tempo, dotá-la de um espelho às avessas. A Operação Lava Jato mandou prendê-lo após reunir provas testemunhais e documentais acachapantes de seus crimes contábeis. Só que ele, contando apenas com seu extraordinário dom de iludir nosso eleitorado, se diz vítima de “perseguição” sem considerar nenhuma das evidências apresentadas por policiais e promotores federais, com aval de um juiz respeitável.

O desgoverno falido, assombrado pela hipótese de o Tribunal Superior Eleitoral interrompê-lo com a cassação de Dilma e Temer, diante de novas provas óbvias, argumenta que pagou R$ 70 milhões (!) pelo talento número um de João Patinhas. E, ainda assim, nada tem que ver com suas diabruras contábeis. Isso é tão convincente como persuadir policiais, promotores, juiz e todos nós de que o “chefe” citado nos e-mails de Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, publicados na capa da revista VEJA, seja Touro Sentado, Tibiriçá ou Winnetou. E que “madame” seja Pompadour, Bovary ou Ming.


quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Que o “Mein Kampf” seja publicado, debatido. E seu ideário, combatido, pelos que assim desejarem.

O espectro do Mein Kampf 

Setenta anos após a sua morte, o fantasma de Adolf Hitler volta à baila.  

Seu livro “Minha Luta” (Mein Kampf) caiu em domínio público e é estopim de debates acalorados em vários países. Por aqui, foi pego na rede da censura judicial, no Estado do Rio.

A polêmica acontece quando se questiona se é correto, ou não, publicar o manifesto nazista; se isto não disseminaria as ideias de ódio, racismo, de uma “ideologia universal” (Weltanschauung) e do “espaço vital” (Lebensraum), que pretenderam ser embasamentos teóricos para justificar o extermínio de milhões e milhões de judeus, homossexuais, ciganos, pessoas com deficiência, eslavos e outros povos tidos como inferiores pela concepção totalitária do nazismo.

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O caminho da proibição, da censura, é absurdo. Nunca deu certo em época alguma, em lugar algum do mundo. Quem a ele se contrapõe argumenta, com razão, que a melhor maneira de combater as ideias pregadas por Hitler é debatê-las. Assim pensa a ministra da Educação da Alemanha, Johanna Wanka, que recomendou os estudos do “Mein Kampf” nas escolas.

Queiramos ou não, Hitler é história, seu manifesto também. As ideias contidas em seu panfleto estão descritas em várias obras e o “Minha Luta” está disponível na internet, podendo ser acessado por qualquer um.   Ora, se somos contra a censura e se já há esse acesso na web, como enfrentar as ideias malignas do nazismo sem se estabelecer o confronto pela via do debate? 

O mais saudável é a publicação do livro de Hitler, preferencialmente acompanhado por esclarecimentos sobre a barbárie em que resultou o ideário nazista. Importa trazer o “Minha Luta” à luz do dia, como pretende fazer a editora Geração com uma edição que irá trazer o texto original do manifesto hitlerista acompanhado de mais de 300 comentários.  Isto não nada tem a ver com incitação ao ódio, como, infelizmente, entendeu um juiz do Rio de Janeiro ao proibir a publicação do livro.

O debate sobre publicar ou não a obra de Hitler também remete a outra discussão, tão ou mais importante, pertinentemente abordada pelo professor da Unicamp Leandro Karnal: “O problema é decidir, algo que era discutido por Benjamin Franklin no século XVIII, quem seria a pessoa capaz de selecionar o que o mundo deve ler. Quem seria o ser acima dos dramas humanos e mesquinharias da nossa espécie?”

Por aí se retrocede aos tempos do censor, “o legislador de preconceitos, defensor da baixeza e da mediocridade, ou melhor, da vulgaridade”, para citar a brilhante descrição de Orson Welles, em um artigo de 1952.  A humanidade já enfrentou esse dilema em muitos momentos de sua história. Na Idade Média o saber, o monopólio da leitura, estava nos mosteiros, como descreveu Umberto Eco em “O Nome da Rosa”.

Nos Estados Unidos deste século XXI, pasme-se, um grupo de estudantes universitários reivindica que determinados livros da literatura, clássicos que constam dos programas curriculares, tenham uma advertência na capa, por representar “perigo” para o “bem estar moral”. Um desses livros perigosos, “Metamorfoses”, do poeta Ovídio, foi publicado em latim no ano 8 D.C.. Ovídio era contemporâneo de Horácio, Virgílio e do imperador Augusto.

Os tutores do que deve ou não ser lido estão em toda parte. Aqui no Brasil, recentemente, Monteiro Lobato quase foi esvurmado do currículo escolar porque alguns “educadores” esquerdopatas entendiam que sua obra estimulava o racismo.  Quanto ao espectro de Hitler, ainda que seja pouquíssimo provável que nos dias de hoje seu ideário totalitário empolgue a maioria de um povo, o melhor é conhecê-lo e não escondê-lo.

Mas o que está mesmo em jogo é um valor do qual não se pode abrir mão: o livre circular das ideias. Que o “Mein Kampf” seja publicado, debatido. E seu ideário, combatido.

Fonte:  Hubert Alquéres

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Até o pescoço, pela liberdade



O “totalitarismo religioso”, para usar as palavras do escritor Salman Rusdhie, não pode achar que o mundo está se curvando a ele
 “Estamos em guerra. Até o pescoço. O Exército Islâmico é o novo nazismo. Quer dominar o mundo, como quando eu era pequeno e vivia sob bombardeio”.

Umberto Eco, autor da frase, é escritor (“O nome da Rosa”) e semiólogo- aquele que estuda a palavra e suas significações. Ele não se preocupou em bordar ou suavizar as palavras com que definiu o massacre de Paris, aquele em que dois psicopatas invadiram a redação do Charlie Hebdo, um jornal satírico, e mataram doze pessoas - entre as quais quatro cartunistas tidos como geniais- a rajadas de suas Kalashnikov e aos gritos de que o profeta Maomé estava vingado. Milhares de pessoas foram às ruas, em Paris e em outras cidades europeias, em solidariedade aos jornalistas mortos e empunhando cartazes que diziam “Je suis Charlie” - todo mundo virou Charlie, e as praças se encheram em defesa da liberdade-porque é disso que se trata.

Mas atrás da poça de sangue que restou da reunião de pauta do Charlie Hebdo, os antropófagos da democracia começaram a roer os ossos dos mortos e a relativizar o ataque dos fanáticos islâmicos e a colocar, como colchão entre a civilização e a barbárie, as suas ponderações recheadas da habitual vigarice ideológica. “Sou contra ataques terroristas, mas…”.

Mas o que? Ao o jornal era muito agressivo e não respeitava a fé islâmica; ah, o ataque vai aumentar a escalada xenofóbica na Europa e vai fortalecer a extrema direita; ah, a liberdade de imprensa tem que ter limites; ah, um jornal satírico não pode ser desrespeitoso com as crenças do outro… e muitos outros mas.

Eles matam, mas a frágil consciência do Ocidente a respeito da riqueza de seus próprios valores civilizatórios, como a democracia, a liberdade e o pluralismo, deixa espaço para que aflore a dúvida:  quem sabe a culpa não seja nossa? Ampliar esse espaço de dúvida e plantar o medo dentro das fissuras que eles abrem a golpes de Kalashnikov, esse é o objetivo tático dos terroristas.

A melhor resposta é ir à rua e proclamar que a estratégia de cercear as liberdades através do medo não funciona. O “totalitarismo religioso”, para usar as palavras do escritor Salman Rusdhie, que já foi vítima de uma fatwa que o condenou à morte, não pode achar que o mundo está se curvando a ele. Se ele perceber que a tática do medo é eficaz, continuará avançando e destruindo as liberdades que encontrar pela frente. Pelas frestas da covardia, a intolerância se instala, se impõe e domina.

É muito simbólico que o ataque tenha sido contra a redação de um jornal, porque é através da liberdade de imprensa que a liberdade de expressão se torna um valor irremovível e inegociável de uma determinada forma de ver e viver o mundo. Mais simbólico ainda que tenha sido contra um jornal humorístico, satírico, desbocado, anárquico, insolente e desrespeitoso contra todas as convenções políticas, sociais e religiosas, mesmo as mais caras às tradições francesas.

Como disse Daniel Cohn Bendit, o revolucionário de 68, o Charlie exagerava nas piadas, sim, mas “essa era a concepção deles, de um jornal satírico onde o exagero era justamente parte da concepção; se você diz que eles exageraram, diz que eles não têm razão de ser. Uma sociedade livre é justamente aquela que suporta o excesso”. A guerra de Umberto Eco, aquela em que estamos metidos até o pescoço, é a guerra pela liberdade.

Por: Sandro Vaia Jornalista – O Globo