Em alguns momentos, a convenção que selou a
candidatura do deputado parecia um culto de uma grande igreja evangélica
Delegados
com direito a voto havia apenas 96 no domingo em que o PSL selou a candidatura
de Bolsonaro a presidente da República. Mas o salão de convenções onde ocorreu
o ato estava lotado. A organização estimou em três mil o número de presentes.
Parece justo. Se não foi isso, estava muito próximo disso. Eram três mil
pessoas iguais, ou quase iguais, ou muito parecidas umas com as outras. Eram
unha e carne. Farinha do mesmo saco.
O salão
foi dividido em duas partes. Na frente, no cercadão VIP, umas mil pessoas
tinham visão privilegiada do palco. Atrás, outras duas mil pessoas, iguaizinhas
às da frente, muitas vezes precisaram ficar em pé para avistar o candidato que
estava sendo lançado. Eram na maioria homens, nas duas partes do salão, mas
havia também mulheres e crianças. Mesmo estas, se observadas atentamente, se
pareciam com aqueles.
Difícil
falar em classe social num grupo tão grande. Mas acho que dá para identificá-lo
através de algumas claras opções feitas pela maioria. Na religião, por exemplo,
todos são cristãos. Não importa a denominação religiosa, todos acreditam em
Deus e estão quase todos certos de que se tudo der errado ainda terão Deus para
lhes salvar. Por isso o lema “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”. [registro: Tudo é mais abrangente que todos; assim, o correto é Brasil acima de todos e Deus acima de tudo.]
Em alguns
momentos, a convenção parecia um culto de uma grande igreja evangélica. Até a
sacolinha rodou ao final do ato atendendo a pedido do mestre de cerimônias da
convenção. O apelo não foi religioso, mas foi demagógico. O líder falou que o
PSL não aceitava doações de empresas, para não repetir tudo o que já se viu
neste quesito, por isso a contribuição dos irmãos, digo, dos presentes, seria
muito bem-vinda. Não esperei para ver quem se coçou. Em outros
momentos, a sensação era de que se estava dentro de um quartel. Na hora do Hino
Nacional que abriu os trabalhos, muitos homens se colocaram em posição de
sentido, as mãos espalmadas grudadas nas pernas, o rosto ereto, o queixo
elevado. Nem um músculo fora do lugar. Apenas as carótidas se moviam enquanto
cantavam, quase gritando, o hino à pátria. Estes formavam o grupo dos
vibradores. [o Hino Nacional merece todo respeito e durante sua execução todos devem permanecer em posição de respeito;
militares em posição de sentido, prestando continência;
mas, os civis, os paisanos e todos que estiverem à paisana, ainda que militares, devem ficar perfilados, com a mão direita espalmada sobre o peito.]
Eram eles
também os mais tensos e excitados. Muitas vezes agressivos, não conseguiam
esconder seu amor à ordem unida. Quando o deputado major PM Olímpio foi chamado
a falar, um deles gritou bem alto para não ter dúvida de que seria ouvido:
“Manda bala!”. Ex-instrutor de tiro, Olímpio não mandou nada. Nem de seu discurso
saiu qualquer coisa que merecesse destaque. Quando um dos filhos do Bolsonaro
mencionou o coronel torturador em seu discurso, esta plateia de desfile
militar, em coro, gritou e repetiu: “Uhu, Uhu, Ustra!”.
O
Bolsonaro filho, aliás, mencionou o torturador [coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, herói nacional.] sem qualquer expressão de
emoção. Certamente não pensou um segundo sequer nos que se confrontaram com
Ustra amarrados a uma cadeira ou pendurados num pau de arara. Mas chorou quando
citou o capitão reformado Jorge Rodrigues, ex-chefe de gabinete do pai que
morreu de infarto em abril passado. Coesos,
bastava um puxar a palavra de ordem, não importa qual, todos seguiam em coro. A
imprensa, que ocupou um cercado no centro do salão, foi bem xingada. Mas
bastava qualquer um se interpor entre o palco e as câmeras de TV e jornais para
o mestre de cerimônia pedir para que se sentasse de modo a não impedir que as
imagens da cerimônia continuassem sendo feitas.
Alguns
discursos a massa entendeu perfeitamente. O de Magno Malta, óbvio demais até
para aquela plateia, foi ovacionado. Mas o de Janaína Paschoal aparentemente
não foi bem entendido. Quando ela disse ser muito hobbesiana, em referência ao
filósofo e matemático inglês do século XVI Thomas Hobbes, uma ouvinte comentou
com a outra: “Que isso? Bobagem. Ela está ótima, magrinha”.
Turismo
para candidato ver
Estudo
sobre turismo no Brasil será entregue aos candidatos a presidente pela
Confederação Nacional do Comércio e pelo Conselho Empresarial de Turismo e
Hospitalidade. A proposta é reverter curvas descendentes do setor que já
representou 6% do PIB nacional e empregou 2,9 milhões de pessoas. Hoje, o
Brasil recebe menos turistas que Madrid.
Turismo
dois
Os
principais pontos do estudo recomendam: 1) Desenvolver a infraestrutura do
setor e preservar o patrimônio histórico; 2) Estimular o turismo doméstico; 3)
Criar programa de turismo social na baixa temporada para famílias de menor
renda; 4) Tornar a Embratur uma agência de promoção internacional; e 5)
Estabelecer uma espécie de Brazil Air Pass, que ofereça vantagens a turistas
estrangeiros.
Vale a
pena ler de novo
O juiz
Marcelo Bretas não perdoa. Na Casa De Não Ficção das revistas Época e Vogue, na
Flip, ele disse que “pessoa condenada por corrupção não merece uma segunda
chance”. Para ele, a sentença deveria representar a morte política do corrupto.
Outra do
Bretas
Tribunal
não é local de vingança, mas sim de prestação de contas.
Ascânio Seleme - O Globo