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sexta-feira, 7 de fevereiro de 2020

Um pouco além do coronavírus - Fernando Gabeira, jornalista

Em Blog
 
O coronavírus ainda é dominante no noticiário internacional. Agora não apenas pelas mortes e transtornos, mas também pelo impacto econômico. Empresas brasileiras que exportam para a China, por exemplo, tiveram redução brutal no seu valor. É algo que pode ser recuperado adiante, mas de qualquer forma a inevitável queda do ritmo chinês tem consequências planetárias.

De modo geral, o mundo não está ainda preparado para uma pandemia. Quem afirma isso é Bill Gates, um homem muito rico que usa bem tempo e dinheiro para se informar. Gates mencionou a hipótese de uma pandemia com potencial de matar 30 milhões. Esses números são discutíveis. Mas ele previu que algo poderia surgir dos úmidos mercados chineses onde se vendem e comem os mais estranhos animais. O raciocínio de Gates aponta para um erro de análise. Enquanto se gastam trilhões em defesa e preparação para as guerras, deixa-se de lado algo que pode ser decisivo para evitar mortes em grande escala, incluído o investimento em vacinas.

Se menciono Bill Gates, é porque cheguei à conclusão de que suas ideias são muito inspiradoras para os políticos brasileiros. Ele foi capaz de focar no saneamento básico e compreender que esse tema envolve não só a vida de milhares de crianças, como também a saúde e a disposição dos povos. Em defesa dos políticos brasileiros é possível dizer que Gates, com sua fortuna imensa, pode focar num tema dessa natureza e até aumentar seu prestígio internacional, cooperando com governos, ONGs e todos os que de alguma forma se interessam pelo saneamento básico.

Governos têm de lidar com um espectro muito amplo de problemas. Isso não diminui o acerto de Gates ao definir prioridades. São duas coisas distintas: ampliar o saneamento no mundo e prepará-lo para enfrentar pandemias.  Esses temas, porém, se encontram, pois ambos tratam da segurança biológica. A ausência de saneamento talvez não produza por si as grandes epidemias anunciadas por Gates, embora em certos momentos, como no Haiti, a cólera tenha sido devastadora. Mas é evidente que a vulnerabilidade nacional é tanto maior quanto menor for seu índice de saneamento.
Estar ou não preparado para os eventos extremos ou mesmo para potenciais pandemias como a do coronavírus é outro tema que ainda não se esgotou para mim. 

Ele transcende a existência de alguns laboratórios e equipamentos. Os relatos de Wuhan mostram como é complexa a situação. Centenas de pessoas não chegaram ao hospital, por falta de lugar ou de capacidade de diagnóstico em grande escala. E ainda há, depois de ser atendido, uma burocracia a ser cumprida no comitê do partido no bairro. [sendo recorrente: só que em Wuhan a situação é ruim, mas, se trata de fatos que estão ocorrendo na China, país em que se constrói um hospital com mais de 2.000 leitos em dez dias.

Graças a DEUS, que não é no Brasil. Aqui, no DF, vai fazer catorze meses que o governador prometeu construir um hospital na Ceilândia - o que existe é único na cidade e tem que atender toda a demanda da satélite (tempos atrás, quando o DF, era uma maravilha, as cidades eram chamadas de cidade satélite, por orbitar em torno do Plano Piloto, que antigamente era área nobre - hoje só orbita em torno dele a marginalidade) e mais a demanda da região do Entorno - por baixo mais de 1.000.000 de pessoas.
Pois bem, até hoje sequer foi definido o local de construção do hospital.]
 
A construção de um hospital em dez dias foi uma grande conquista, pois certamente vai resolver essa grande demanda. Muitos analistas no Brasil atribuíram a celeridade da resposta chinesa ao seu regime autoritário, que dispensa formalidades democráticas. É verdade, em parte, no entanto a burocracia partidária é um entrave em muitos momentos. Países como o Japão, sem regime autoritário, conseguem muita rapidez e eficácia nas respostas. No meu entender, ela depende não só da solidez das instituições públicas, mas do nível de preparo da população.  O Brasil tem dado a resposta de acordo com as normas internacionais, até repatriando seus cidadãos de Wuhan, como fizeram outros países. Mas, estruturalmente, nossas defesas são fracas. As reportagens sobre a Anvisa mostram que no maior aeroporto do Brasil, o de Guarulhos, há apenas um fiscal sanitário. Os investimentos nessa área caíram e isso tem importância não só para a saúde das pessoas, como da economia, sobretudo do agronegócio.

O surgimento do coronavírus em meio às chuvas de verão e os graves problemas do abastecimento de água no Rio de Janeiro são alguns temas que nos revelam não só os tempos presentes, mas também como a energia política está longe deles, a quilômetros da visão de Bill Gates. Quando vejo o marco legal do saneamento perdido entre outras grandes prioridades, temo por ele. Não há nada mais urgente entre os grandes temas. Estamos em estado de emergência por causa do coronavírus. Mas, ao ver uma cidade como Belo Horizonte se desmanchar nas chuvas, derrotada por seus rios canalizados, e a crise da água no Rio, sinto que a emergência é muito mais ampla.

Tudo isso num quadro já nada animador. Tínhamos a dengue, vieram a zika e a chikungunya. Testemunhei o nascimento de crianças deformadas pela zika em Pernambuco, a dor crônica dos contaminados por chikungunya em Sergipe. Para mim não há dúvidas. A própria volta da febre amarela e o surto de sarampo também revelam que a caixa de surpresas assustadoras ainda está por aí. O saneamento não resolverá todos esses problemas, mas reduzirá a mortalidade infantil, as doenças, enfim. Além disso, levantaria o ânimo das pessoas. Tantos deputados e senadores por aí e a realidade enviando mensagens inequívocas, por que não decidir logo: vamos dar um empurrão no saneamento e começar por aí uma longa adaptação do Brasil aos novos tempos.

Blog do Gabeira - Fernando Gabeira, jornalista

 
Artigo publicado no Estadão em 07/02/2020


terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

O País do carnaval

Os milhões que não vão às ruas por Lula e pela política se esbaldam no carnaval

Dois milhões de brasileiros foram às ruas de São Paulo no sábado e, no domingo, um milhão invadiu a Rua da Consolação, no centro da capital paulista. As fotos são impressionantes e dão muito o que falar e o que pensar. O “povo” não quer só desgraça, o “povo” quer festa e carnaval! Eles protestavam contra ou a favor da condenação do ex-presidente Lula na Justiça? Ou da ameaça de prisão do maior líder popular do Brasil? Ou seria contra ou a favor do governo Michel Temer? Da reforma da Previdência? Da reforma trabalhista? Da privatização da Eletrobrás ou da combinação da Embraer com a Boeing dos Estados Unidos?  Seria então contra ou a favor da posse da deputada Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho? Do auxílio-moradia de juízes, procuradores e parlamentares? Ou da falta de julgamento dos políticos com mandato pelo Supremo?

Ah! Foi por causa do aquecimento global, da crise hídrica, das peripécias de Donald Trump, da implosão da Venezuela? Senão, foi contra o Aedes aegypti, que continua dando um banho nas autoridades brasileiras? Ou diretamente contra as doenças transmissíveis? Num ano, zika, chikungunya, H1N1. No outro, febre amarela. Febre amarela, que se combate com vacina???  Não, nada disso. Milhões de pessoas estão indo às ruas de São Paulo, do Rio, de Salvador, do Recife... para pular o carnaval e mostrar que o Brasil é muito maior do que sua corrupção e seus poderosos. Aliás, uma semana antes de o carnaval começar, como os deputados e senadores, que abriram o Ano Legislativo ontem já com um pé no avião para a folia nos seus Estados ou para uma “folga” numa cidade bem bacana ou em praias paradisíacas.

O fato é que, como a gente sempre fala aqui neste espaço, tem sempre alguém prevendo protestos, quebra-quebras, incêndios e mortes se Dilma Rousseff cair, se mudarem as regras do pré-sal, se o Congresso derrubar as denúncias da PGR contra Temer, se a reforma isso ou aquilo passar, se... Nada disso aconteceu, nem mesmo quando o TRF-4, de Porto Alegre, não apenas manteve a condenação de Lula como aumentou a pena imposta pelo juiz Sérgio Moro, de 9 anos e meio para 12 anos e 1 mês, pedindo cumprimento de pena após tramitação dos recursos no próprio tribunal. Um punhado de militantes desfilava com suas bandeiras vermelhas, enquanto a Bovespa batia recorde e o dólar caía. Tudo dentro dos conformes.

O presidente do TRF-4 circulou por gabinetes de Brasília, o ministro da Justiça foi a Porto Alegre, o centro da capital gaúcha foi isolado, atiradores de elite foram acionados. Muito ruído por nada. Nem os apoiadores de Lula nem os críticos de Lula queriam guerra nem “mortes”.  O povo brasileiro está cansado de escândalos, de roubos, de crises, de cortes, de todos os partidos embolados numa grande nuvem de confusões. Mas o povo brasileiro nunca se cansa de carnaval.

Aliás, não apenas nos tradicionais Rio, Salvador, Recife, porque o carnaval de rua cresce, ano a ano, em São Paulo e as fotos do Estado de ontem mostram a força não só dos blocos de rua, mas também da alegria e da disposição do brasileiro para a folia, para as festas populares. Se houve fotos impactantes assim na política foi nas Diretas-Já e em junho de 2013, quando um aumento de centavos nas passagens urbanas detonou um protesto gigantesco, surpreendente, sem lideranças, partidos, alvos diretos. Mas que continua provocando efeito. Aquela manifestação foi apartidária e um alerta geral aos poderosos. E é altamente improvável que se repita contra a prisão de condenados por corrupção, mesmo que esse condenado seja Lula. O “povo” é anticorrupção e pró-carnaval!



Eliane Cantanhêde - O Estado de S. Paulo



segunda-feira, 23 de janeiro de 2017

A febre amarela pode chegar às cidades?

O surto da doença em Minas Gerais lembra que o vírus se mantém à espreita 

No início de janeiro, no norte de Minas Gerais, eram pouco mais de 20 casos suspeitos de febre amarela, uma doença que já foi o principal problema de saúde pública no Brasil até o século XIX. Duas semanas depois, até o fechamento desta edição, já somavam 206 em 29 cidades do estado – além de oito casos no estado vizinho, Espírito Santo. Trinta e quatro foram confirmados, entre eles 23 mortes. 

Em São Paulo, quatro casos importados foram confirmados e no Distrito Federal registrou-se uma morte. A escalada de casos da doença – que mata cerca de metade dos pacientes graves por complicações renais, hepáticas e hemorrágicas – voltou a chamar a atenção das autoridades de saúde e de especialistas. Eles temem que o vírusda mesma família dos que causam dengue, zika e chikungunya – volte a assolar as cidades nas asas de um velho conhecido dos brasileiros, o mosquito Aedes aegypti.

O vírus chegou ao Recife em 1685, em um navio vindo da África que fizera escala nas Antilhas durante uma epidemia. No Brasil imperial, dizimava milhares a cada episódio. Em 1850, quando chegou ao Rio de Janeiro, 9.600 adoeceram e mais de 4 mil morreram. Em Salvador, vitimara 2.800. O desenvolvimento de uma vacina, em 1937, e uma campanha agressiva para erradicar o Aedes à base de um pesticida poderoso, o DDT, hoje proibido, afastaram a ameaça da cidade e a confinaram às áreas de mata. Desde 1942, quando os três últimos casos de febre amarela transmitida por Aedes foram confirmados em Sena Madureira, no Acre, não há registro em áreas urbanas do Brasil.

O vírus corre zonas silvestres em mosquitos dos gêneros Haemagogus e Sabethes, que vivem na mata e se alimentam preferencialmente do sangue de macacos, como bugios, mas também de humanos. Ano a ano, o país registra casos de pessoas que contraem febre amarela nas zonas rurais (leia o quadro acima). A cada sete anos, em média, há registros de surtos maiores. Se os casos suspeitos se confirmarem, o Brasil está a caminho de seu maior surto em décadas. Para cada infectado com sintomas, há outros dois assintomáticos. A Organização Mundial de Saúde estima que, em surtos, o número de casos seja entre dez e 250 vezes maior do que o confirmado. Como quase um terço dos casos é grave e o Aedes, o vetor urbano, é frequente nas cidades, o país convive com a sombra da reurbanização da doença.

Leia também:  >> Por que estamos perdendo a guerra contra o Aedes aegypti
>> “É impossível acabar com o Aedes aegypti”, diz criadora de mosquito transgênico

Ler matéria completa em Época

 

quinta-feira, 26 de maio de 2016

Confusão burocrática - desde fevereiro, ainda no governo da Afastada - atrasa teste rápido para zika na rede pública

A Fiocruz, a Anvisa e o Ministério da Saúde não se entendem. E grávidas do país inteiro continuam sem acesso ao exame rápido para detectar o zika, que deveria ter chegado em fevereiro 

O obstetra Olimpio Moraes Filho viveu os piores momentos da epidemia do vírus zika, que passou a assustar o Brasil e o mundo em novembro de 2015. Ele administra uma maternidade no Recife ligada à Universidade Estadual de Pernambuco, Estado que concentra um em cada quatro dos 1.384 casos de microcefalia confirmados no país

Ele estava lá quando grávidas começaram a chegar com sintomas de uma doença que, até poucos meses antes, não era comum. Quando ultrassonografias passaram a diagnosticar com frequência microcefalia em fetos. Quando uma onda de pânico assolou gestantes ao se relacionar o novo vírus transmitido pelo Aedes aegypti à malformação congênita que impede o desenvolvimento normal do cérebro.

Seis meses se passaram, o mundo entrou em alerta com a epidemia que se espalhou por 46 países e o Ministério da Saúde divulgou seu plano para enfrentar o zika. Mas, no hospital em que Moraes Filho trabalha, a situação não melhorou: os casos de microcefalia continuam a ser diagnosticados e os médicos seguem sem respostas para as grávidas que chegam  com sintomas, como vermelhidão na pele, semelhantes aos causados pelo zika. Moraes Filho e seus colegas contam com as mesmas ferramentas de seis meses atrás: colher uma amostra de sangue da paciente e enviar a um dos 12 laboratórios públicos no país capacitados a procurar vestígios do material genético do vírus. O resultado demora um mês – e isso quando há resultado. “Só 20% dos testes que mandamos estão voltando”, diz Moraes Filho. “O volume é muito grande, e o governo não se preparou. Os laboratórios públicos não dão conta.”
 

Não deveria ser assim. Em janeiro, o ministro da Saúde à época, Marcelo Castro, afirmou que as gestantes contariam em breve com um novo teste. Com ele, em até oito horas, é possível detectar os vírus zika, da dengue e da febre chikungunya. O novo teste ganhou o apelido de “três em um”. A expectativa era de que começaria a ser distribuído em fevereiro. O fim de maio se aproxima e, até hoje, não há notícia do teste. O motivo é a falta de entendimento entre dois órgãos vinculados ao Ministério da Saúde e o próprio ministério, sobre as etapas regulatórias necessárias para liberar o exame. É o governo brigando com o próprio governo em meio a uma situação de emergência pública em saúde.


O anúncio inicial da novidade foi feito em janeiro, por duas entidades: a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), de pesquisas em saúde, ligada ao ministério, e o Instituto de Biologia Molecular do Paraná. Foram encomendados 500 mil kits. A Fiocruz diz que teria condições de produzir e distribuir os kits imediatamente. Seriam fabricados em sua unidade conhecida como Bio-Manguinhos, no Rio de Janeiro, responsável pela produção de vacinas, medicamentos e substâncias químicas usadas em exames, chamadas reagentes. 

O problema é que a Fiocruz acreditava que seu teste não precisaria passar pela aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária, a Anvisa, responsável por avaliar medicamentos e dispositivos médicos usados no Brasil. “Houve uma reunião na Fiocruz com o ministro Marcelo Castro, em janeiro”, diz Rodrigo Stabeli, vice-presidente de pesquisa e laboratórios de referência da Fiocruz. “Foi perguntado a ele: ‘Estamos em emergência. Podemos padronizar um teste que será distribuído não comercialmente em laboratórios públicos. Vai precisar passar pela Anvisa ou não?’. Ele respondeu que não”, afirma Stabeli.

A Fiocruz entendeu, inicialmente, que o teste “três em um” se enquadrava dentro de uma categoria de exames, prevista por uma resolução da Anvisa, que elimina a necessidade de passar por um processo de aprovação sanitária. São os testes “in house” – desenvolvido e usado pelo mesmo laboratório. Por isso, a Fiocruz se surpreendeu, posteriormente, quando foi informada pela Anvisa de que deveria submeter o teste ao processo de registro na agência. Segundo a Fiocruz, essa informação foi passada por um técnico da Anvisa a um técnico da Bio-Manguinhos em fevereiro. O Ministério da Saúde afirmou que tudo não passou de um “mal-entendido”. E que a aprovação é, sim, necessária.


De acordo com a Anvisa, o teste “três em um” não pode ser considerado do tipo “in house”. “Ele não será realizado apenas em um laboratório, ele será distribuído para outros laboratórios públicos”, afirma Jarbas Barbosa,  diretor presidente da Anvisa. “O Ministério da Saúde terá de comprá-los. Nesse caso, precisa de registro.”

A Fiocruz discorda. “Não há venda. O Ministério da Saúde financia os custos de produção dos testes, a Fiocruz fabrica e o ministério distribui no sistema público”, afirma Cláudia Martins, assessora de gestão da vice-presidência de pesquisa e laboratórios de referência da Fiocruz. Para atender à exigência da Anvisa, a Fiocruz segue trabalhando nos documentos necessários para solicitar o registro à Anvisa. A previsão é de que o pedido seja entregue até o fim de maio. O prazo para a aprovação é incerto. A Anvisa pode pedir mais informações a Fiocruz, caso considere insuficientes ou incompletas as que constarem do documento. “Se não houver necessidade de complementos, o registro deve sair em menos de dois meses”, afirma Barbosa, da Anvisa. “Tudo relacionado ao zika tem prioridade.” Ainda que o processo transcorra sem nenhuma intercorrência e o teste triplo seja aprovado até julho, serão cinco meses de atraso.

Atualmente, os testes genéticos na rede pública usam reagentes importados, comprados pelo Ministério da Saúde. Neste ano, foram gastos R$ 6 milhões. As substâncias foram compradas de quatro empresas estrangeiras e de quatro empresas nacionais, filiais de empresas estrangeiras. O exame desenvolvido pela Fiocruz usa reagentes nacionais, o que baixará em 50% o custo do teste. Além disso, como é um kit pronto, que dispensa a mistura de reagentes, é mais fácil de usar e pode ser feito em mais laboratórios. O número de laboratórios públicos que fará o exame passará de 12 para 27. Isso deverá acelerar a entrega dos resultados.

Para Stabeli, da Fiocruz, a confusão burocrática que deixou milhares de pacientes sem acesso a testes rápidos para o zika é causada por interesses comerciais travestidos de excesso de zelo. “A partir do momento em que se coloca um teste feito por uma instituição pública nos laboratórios públicos, reduzindo a compra de testes externos, o país deixa de comprar de uma empresa e ela sai de um mercado para o qual vendia antes”, afirma Stabeli. “Deve ter havido pressão sobre a Anvisa para fazer o teste da Fiocruz passar pela aprovação. Com isso, empresas continuam ganhando ao vender para o ministério”, diz Stabeli. “A Fiocruz em nenhum momento pensou em entrar em um jogo comercial. Essa morosidade prejudica quem precisa agora dos testes.” O diretor presidente da Anvisa, Jarbas Barbosa, rebate a acusação. “Não podemos ter exigências diferentes para produtos fabricados por empresas privadas e por instituições públicas. A Fiocruz não pode querer baixar o sarrafo. O cidadão tem direito a um produto de qualidade.”

>> Um ano de zika: o vírus e as crianças que não podem ser esquecidos 

A importância de submeter medicamentos, exames e dispositivos médicos a avaliações de segurança e eficácia não está em discussão. Mas são absurdas a confusão de informações entre instituições públicas, durante uma situação de emergência, e a incapacidade de definir prazos para agir. “É preciso ter canais de comunicação mais ágeis entre a Fiocruz, que desenvolve o teste, e a Anvisa, uma agência reguladora”, diz o epidemiologista Gustavo Bretas, consultor de doenças transmissíveis da Organização Pan-Americana da Saúde.

A confusão mantém o país dois passos atrás do vírus. O teste genético da Fiocruz seria um belo avanço. Contar apenas com testes genéticos, porém, não é a melhor estratégia para diagnosticar o vírus zika. Eles procuram traços do vírus no sangue ou na urina do paciente – usualmente detectáveis no período em que os sintomas se manifestam e o doente procura atendimento. Mas 80% dos infectados não apresentam sintoma nenhum.



>> A breve vida de um bebê com microcefalia expõe a fragilidade da saúde no Brasil


Para dar uma resposta definitiva a grávidas que temem ter sido infectadas sem perceber e entender melhor a circulação do vírus pela população, o mais indicado é o teste que procura anticorpos específicos. Eles são produzidos pelo organismo em resposta ao vírus (leia o quadro). “Precisamos ter esses testes disponíveis na rede pública”, diz a obstetra Melânia Amorim, que trabalha no Hospital Municipal Pedro I, em Campina Grande, na Paraíba. A Fiocruz desenvolveu um teste desse tipo, em fase de análise pela Anvisa. O Instituto de Ciências Biomédicas da Universidade de São Paulo também desenvolveu um exame assim, prepara-se para submetê-lo à Anvisa e espera que ele esteja aprovado em até um ano. Os dois testes sorológicos, feitos em parceria com empresas privadas, serão vendidos. O Ministério da Saúde terá de negociar a compra para distribuí-los nos laboratórios públicos, se quiser e se puder. Estamos longe de obter resposta para a pergunta mais básica em uma epidemia – onde está o vírus?


Aedes aegypti  

Fonte: Revista Época
 

 

terça-feira, 16 de fevereiro de 2016

Em ano de dengue,m zika, governo federal, DF e 17 estados cortam recursos contra epidemias

Em ano de dengue e zika: Governo federal, DF e 17 Estados cortam recursos de luta contra epidemias 

No ano em que o país atingiu recorde de casos de dengue e entrou em alerta devido ao avanço do vírus da zika, os gastos do governo federal e da maioria dos Estados com vigilância epidemiológica (atividade de prevenção e controle de doenças) caíram. 

Levantamento da Folha aponta que, além da própria União, houve queda nos investimentos de pelo menos 17 Estados e no Distrito Federal. Com a recessão derrubando as receitas, os desembolsos federais para combater epidemias diminuíram 9,2% -em valores corrigidos e efetivamente pagos pelo Ministério da Saúde, somaram
R$ 4,6 bilhões em 2015, ante R$ 5,1 bilhões no ano anterior. 


A área de vigência epidemiológica compreende repasses a Estados e municípios, campanhas de prevenção de doenças e combate a potenciais vetores (caso do Aedes aegypti, por exemplo, que transmite dengue e zika) e oferta de insumos e testes de diagnóstico, por exemplo. 

A queda maior do que a nos gastos gerais em saúde, que foi de 2%, e ocorreu no ano em que o Brasil teve 1,6 milhões de casos notificados de dengue, com 863 mortes.
Foi em 2015 também que o país identificou a presença do zika, hoje apontado como a principal hipótese para o aumento de ocorrências de recém-nascidos com microcefalia - que, no ultimo balanço, tinha 462 casos confirmados. 

‘FUMACÊ’
Nos Estados, houve cortes de até 85% nas verbas destinadas vigilância epidemiológica entre 2014 e 2015, conforme dados dos relatórios de execução orçamentaria.  Esses recursos são voltados investigação de surtos de epidemias, pesquisas e manutenção de laboratórios. A verba também pode ser usada em ações de combate direto doença, como contratação de carros de pulverização de inseticida, o “fumacê”.

A redução atingiu até Estados nordestinos que são epicentro de zika e dengue.
Pernambuco, que lidera os casos de microcefalia, reduziu de R$ 33,7 milhões para R$ 24,1 milhões os recursos da vigilância. Na Bahia, o corte foi de 30%, de R$ 45,3 milhões para R$ 32 milhões. 

Além da queda de verbas, os Estados nordestinos ainda enfrentaram greve de agentes de controle de vetores, corte nas equipes e falta de larvicida contra o aedes. O Distrito Federal foi o que mais cortou em 2015, enquanto o Piauí foi o que menos investiu: os relatórios apontam que apenas R$ 10 foram liquidado em vigilância epidemiológica em 2015. No ano anterior, foi ainda pior: zero. [o Distrito Federal está sendo a pior unidade da Federação em termos de Saúde Pública, Educação, Segurança Pública e Transporte Coletivo.
Para ficar só na Saúde Pública, informamos que há 6 (seis) meses está em falta na rede pública do DF a vacina contra tétano - importantíssima pelo fato do tétano ser uma doença letal e incurável, sendo a vacina a única forma de evitar.
Além de ser também uma vacina necessária para as mulheres grávidas. Desde agosto 2015 que não tem uma ampola sequer da antitetânica na rede pública de saúde.
A coisa está tão feia no DF, que por duas vezes o vice-governador, utilizou a imprensa para admoestar o atual governador: o incompetente Rollemberg. Só este mês o vice deu dois esporros públicos, ao vivo via Rádio e TV no atual governador.]

REDE DE VIGILÂNCIA
Municípios também dizem ter sentido os efeitos da falta de recursos, afirma Nilo Bretas, coordenador da assessoria tcnica do Conasems (Conselho Nacional de Secretários Municipais de Sade). 

Entre os impactos estão problemas na contratação de agentes que atuam no controle contra o aedes. “Nós temos prova de que a queda dos recursos causou esse cenário. Mas com certeza o subfinanciamento est ligado a isso.” 

O infectologista Kleber Luz, diretor da Sociedade de Dengue e Arboviroses, taxativo: a redução na vigilância tem impacto direto na saúde.
“Se tem inflação e o recurso diminui, a consequência pode ser isso que estamos vendo, com três epidemias [de dengue, zika e chikungunya].”




Leia a íntegra na Folha de São Paulo



 

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

OMS espera até 4 milhões de casos de Zika nas Américas; 1,5 milhão no Brasil



Segundo o órgão, o vírus se propaga de maneira explosiva no continente
A Organização Mundial da Saúde afirmou nesta quinta-feira (28) que o número de infectados pelo Zika vírus nas Américas pode ficar entre 3 milhões e 4 milhões, incluindo 1,5 milhão no Brasil. Segundo o órgão, o vírus se propaga de maneira explosiva no continente.

O temor da OMS se deve à rápida propagação da doença, segundo Marcos Espinal, chefe de doenças transmissíveis e saúde sanitária do escritório regional da organização nas Américas. "O vírus foi detectado ano passado na região das Américas, onde se propaga de maneira explosiva", afirmou a diretora da OMS, Margaret Chan, durante uma reunião de informações para os Estados-membros da OMS em Genebra. "Atualmente, casos foram notificados em 23 países e territórios na região. O nível de alerta é extremamente alto", acrescentou.

Frente à gravidade da situação, Chan decidiu convocar um comitê de emergência em 1º de fevereiro. Os especialistas vão decidir se a epidemia constitui "uma urgência de saúde pública de nível internacional", informou a OMS em comunicado.  A organização está particularmente preocupada com "uma potencial disseminação internacional".

A OMS também teme uma "associação provável da infecção com má formação congênita e síndromes neurológicas", mas também "a falta de imunidade entre a população nas regiões infectadas" e a "falta de vacinas, tratamentos específicos e testes de diagnóstico rápidos".

Segundo Chan, "a situação decorrente do El Niño (fenômeno climático particularmente poderoso desde 2015) deve fazer aumentar o número de mosquitos este ano".  Como a dengue e o chikungunya, o Zika, cujo nome vem de uma floresta de Uganda onde foi identificado pela primeira vez, em 1947, é transmitido através da picada do mosquito Aedes aegypti ou Aedes albopictus (mosquito tigre).

Na América Latina, o país mais afetado pelo Zika é o Brasil.  Apesar de a ligação causal direta entre o vírus e complicações - como microcefalia - ainda não ter sido estabelecida, Colômbia, El Salvador, Equador, Brasil e Jamaica recomendam que as mulheres não engravidem neste momento.

Fonte: AFP


quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Microcefalocracia, pode ser a causa da desorientação da presidente Dilma – doença grave, ainda sem cura e que pode exigir o afastamento da mandatária



O principal sintoma dessa doença é a capacidade reduzida de usar o cérebro no exercício do poder
Microcefalocracia é um mal que acomete países, Estados ou cidades, infectando os poderes constituídos e suas autoridades nos diversos poderes. Os sintomas são claros e fáceis de detectar. O mais característico e que por isso acaba sendo usado para batizar a moléstiaé a capacidade reduzida de uso do cérebro no exercício do poder, resultando em governantes e parlamentares inaptos. Trata-se de uma síndrome com diversas formas de manifestações que em alguns pacientes aparecem de forma combinada e assoladora. Falta de visão, incapacidade de ouvir, pensamento pequeno, insensibilidade ao problema alheio, dificuldade em se expressar (em alguns indivíduos, essa deficiência pode aparecer em sentido oposto, com extrema facilidade de expressão, mas com discurso alienado do real – [ levando até mesmo a que se cogite  que a autoridade utilizada um idioma alienígena].) estão entre elas. Há também a ocorrência de complicações psiquiátricas, como a negação da realidade, episódios de delírio, tendências de comportamento megalomaníaco e sensação de onipotência.

Um dos principais aspectos do portador da microcefalocracia são as baixas taxas de espírito cívico e autocrítica. O microcefalocrata não consegue planejar em longo prazo e atua de forma obsessiva na preservação de seu poder. Mudanças de opinião súbitas, bipolaridade, compulsão por privilégios, talvez provocadas pela redução da capacidade cerebral, são identificadas com frequência entre os portadores da síndrome. Também bastante comum nesses quadros é a mitomania, transtorno psicológico caracterizado por contar mentiras, algumas bem aceitas socialmente – em casos mais sérios, pode levar a pessoa a ter dificuldade em separar o verdadeiro do fictício.

A microcefalocracia se alastra rapidamente. Algumas regiões do Brasil já apresentam situação de infestação endêmica. A transmissão se dá através da picada da mosca azul do poder, que se reproduz com extrema facilidade em repartições, gabinetes públicos, palácios e parlamentos, sejam municipais, estaduais ou federais. O vetor alimenta-se de ambição e propina e os maiores exemplares da espécie foram observados no Planalto Central brasileiro. Também são descritas grandes quantidades de casos de transmissão oral, já tendo sido registrados inclusive em gravações feitas por autoridades policiais, digo, sanitárias.

 Cleptomaníacos estão entre os mais suscetíveis a adquirirem a moléstia.
Do ponto de vista físico, a microcefalocracia não costuma provocar danos aos seus portadores. Ao contrário, muitos deles, ao longo do tempo, costumam exibir sinais exteriores de prosperidade, tornam-se mais vaidosos e ganham peso. Os efeitos colaterais costumam atingir o ambiente ao seu redor e aqueles que dependem de suas decisões. E, então, são devastadores.  

A queda da imunidade social, por exemplo, é uma das decorrências mais relevantes. Por conta dela, todo um país pode ficar sujeito a manifestações oportunistas de pragas que se julgavam extintas, mas que estavam apenas incubadas à espera de um momento de fragilidade de organismos políticos, econômicos e sociais. Desemprego, sarampo, inflação, chikungunya, déficits orçamentários, zika... A microcefalocracia atua em um processo degenerativo de instituições e cidadãos

Estes perdem empregos, entram em depressão, tornam-se alvo de desgraças produzidas pelos microcefalocratas e, quando procuram ajuda num órgão público, encontram o estado dilapidado e sem condições de lhes dar atendimento digno.

Ainda não se descobriu cura para a microcefalocracia. Há, no máximo, paliativos como a reclusão dos governantes infectados em instituições corretivas. O combate à mosca azul do poder é imperativo e deve ser feito com a desinfecção dos ambientes em que ela se reproduz. É trabalho que leva tempo e exige empenho de todos. A lei e o voto são antídotos eficientes, mas precisam ser aplicados nas doses corretas. O primeiro pode ser usado desde já. O segundo, a partir do ano que vem. O caso do Brasil é de urgência.

Fonte: Luiz Fernando Sá – Diretor de Mídias e Projetos da Editora Três