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segunda-feira, 22 de agosto de 2022

Corda intacta e liberdades rompidas - Diogo Forjaz

Dia sete de setembro vamos às ruas pra respirar uma vez mais, em liberdade.

A escalada ilegal, inconstitucional e autoritária do STF parece não incomodar os cidadãos romanos da esquerda. Sim, a esquerda hoje assemelha-se ao império romano pelo mundo, em qualquer país eles tudo podem e os nativos nada valem. Os BlackNadaMetters de ocasião podem agredir idosos, incendiar mercados, destruir patrimônio público, privado e símbolos históricos, “pacificamente”.

Intocáveis como os romanos em Israel, ou na Germânia, tanto faz, mas basta um “Franco” grito de basta por um coração patriota(qualquer pátria) para ser um terrorista “à francesa”. Assim uma placa com um artigo constitucional é inconstitucional ataque a democracia, enquanto os gritos histéricos que incitam esfregar o presidente no asfalto quente para arrancar-lhe os olhos, pedidos públicos para que o esfaqueiem, ou ainda publicadas no jornal as “razões” pelas quais se deve desejar-lhe a morte são a mais pura e pacífica expressão democrática.

 É com esta dinâmica de dois pesos e nenhuma medida que a mídia, e o senso mediano, nada comum, fabricado por ela entre leitores de manchete estamparam crime como lei, violação como proteção, fato como fake e mentiras como verdades.

Não é difícil identificar cidadãos presos por trabalhar e políticos libertos por roubar, 52 milhões em espécie são testemunhas disso.

Deputado preso por falar e traficante livre sem motivo. E por falar em motivo, o mesmo vírus que trancou o país em casa e arrancou-lhe os empregos, o destino, em um desafinado desatino libertou, sob as mesmas canetas 70 mil criminosos, traficantes assassinos, latrocidas e estupradores “de família".

À polícia cabe punir com rigor o crime de caminhar, trabalhar, reclamar, falar ou agir pra fugir do horror da fome, e só. Tranquilos nos morros ficam todos aqueles que vendem drogas, brincam com vidas e reduzem as esperanças das comunidades a seu principal produto, o pó.

E é com cheiro branco de torpor que a redação única de nossa mídia múltipla intoxicou a sociedade com mentiras profissionais para tornar as vítimas, “manipulados”, youtubers e jornalistas de verdade,  “manipuladores”, heróis da liberdade, “ ditadores vilões” e vilões de capa preta em “heróis paladinos da justiça” em seu palácio de lagosta.

Assim, alguns ainda perguntam quando a corda vai romper. Parece que embriagados, alguns ainda esperam não romper a corda. Que corda? a que amarra nossas liberdades, nossa voz?

A que enforca a constituição e mata o direito?

A que laçou a democracia?

Não se preocupe leitor de manchetes, esta corda está firme, como rédea nas mãos da toga. A corda está intacta, as liberdades é que estão rompidas.

Este artigo de Diogo Forjaz foi publicado no excelente portal Tribuna Diária, 31/08/2021.


sexta-feira, 5 de junho de 2020

Brasil da pandemia convive com país de Bolsonaro - Blog do Josias


Nos últimos cem dias, a pandemia matou 34.021 brasileiros, guindando o Brasil ao terceiro lugar no pódio mundial de vítimas do coronavírus.

Nesse mesmo período, Jair Bolsonaro formulou a teoria da gripezinha, afastou dois ministros da Saúde, converteu o ministro da Justiça de "ícone" em delator, [delator sem provas - apresenta suas conclusões, algumas baseadas em ilações, e apresenta como provas.] tornou-se investigado num inquérito criminal, inaugurou uma temporada de distribuição de cofres para o centrão, informou ao país que não é "coveiro", perguntou "e daí?" e declarou que "todos morrerão um dia", [o presidente mentiu?]  é coisa do "destino".

Fica claro que há dois países no mesmo pedaço de mapa. Há o Brasil da pandemia, que perde a guerra para o vírus, e o Brasil em que Bolsonaro decidiu viver, num estado de isolamento institucional. O brasileiro começa a sentir a falta que faz um presidente.

Blog do Josias - Josias de Souza, jornalista - UOL

domingo, 5 de janeiro de 2020

Sonhos de King - Nas entrelinhas

”’O ethos do ‘destino manifesto’ justificou a expansão territorial e a supremacia branca nos Estados Unidos, cujo eixo era a ideia de que Deus os estaria ajudando a comandar o mundo”

Memphis é uma das três cidades mais importantes da música norte-americana, com Nova Orleans e Nashville, famosa por ser a casa de Elvis Presley entre 1948 e 1977. A mansão Graceland, patrimônio da família Presley, continua sendo um dos pontos mais visitados do estado, atraindo cerca de 600 mil pessoas por ano. Ofusca o fato de que, poucos sabem, foi em Memphis que o pastor batista Martin Luther King Jr., prêmio Nobel da Paz, foi assassinado em março de 1968, aos 39 anos, durante uma visita em apoio aos trabalhadores em greve no serviço de saneamento da cidade.

Martin Luther King reivindicava salários dignos e mais postos de trabalho para a população negra. Além disso, defendia os direitos das mulheres e foi contra a Guerra do Vietnã, que considerava moralmente corrupta. Formado na Universidade de Boston, tornou-se pastor e membro da Associação Nacional para Avanço das Pessoas de Cor. Destacou-se como líder dos direitos civis por organizar protestos por todo o sul dos Estados Unidos, inclusive o boicote ao sistema de ônibus de Montgomery. Em Birmingham, no Alabama, em 1963, foi preso por duas semanas ao participar de um protesto, o que só aumentou seu prestígio.

Quando foi solto, King liderou a Marcha sobre Washington, na qual proferiu seu famoso discurso “Eu tenho um sonho”, que está entre os dez mais importantes do século XX, no qual afirma: “Tenho um sonho de que meus quatro filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, mas pelo teor de seu caráter”. Seu êxito político se deve não somente à sua combatividade e resiliência e, enfim, ao seu martírio, mas à estratégia assentada em três eixos: a luta contra a ignorância, a não violência e o combate às desigualdades.

O pastor batista se inspirou num outro grande líder do século XX, Mahatma Gandhi, que derrotou o Império Britânico com métodos não violentos e muita perseverança na sua campanha pela independência da Índia. A crença de supremacia racial no Sul dos Estados Unidos era muito arraigada, mas não era um fenômeno isolado, mesmo depois da derrota dos nazistas na II Guerra Mundial. Ainda há muita gente que pensa assim. Na lógica da discriminação, crenças fervorosas estimulavam as pessoas a cometerem atos bárbaros, que exigiam uma mudança de atitude como resposta para detê-los. King dizia que “a ignorância sincera” era a ameaça mais perigosa que existe na face da Terra.

O sistema como um todo era racista no Sul dos Estados Unidos; King defendia a ação direta como forma de protesto para romper o bloqueio político-institucional existente, reformar a política e garantir a participação dos negros na democracia americana, o que se tornou, mais tarde, um objetivo alcançado plenamente, com a até então inimaginável eleição de Barack Obama à Presidência da mais poderosa nação do planeta. Na prática, o movimento pelos direitos civis teve que vencer as atitudes das maiorias em relação às minorias, para que essas pudessem usufruir de uma mudança duradoura.

Destino
Ao contrário de Malcolm X e Stokeley Camichael, líderes negros radicais, que defendiam a luta armada, King via a não violência nas ações diretas como uma demonstração de força moral, ainda que isso significasse apanhar da polícia durante os protestos. Foi agredido e ferido algumas vezes, mas nunca revidou fisicamente. Houve situações em que chegou a cancelar protestos e evitar discursos para não estimular mais violências. Entretanto, como até hoje está em nossas memórias, as cenas de ações brutais de policial contra os negros acabaram se transformando em poderoso instrumento de formação de uma opinião pública contrária à discriminação.


Decisiva para a ampliação da luta contra o racismo foi a agenda de King contra as desigualdades, lançada em 1963, com a “Marcha em Washington por Emprego e Liberdade”. Exigia que o governo investisse pesado contra a pobreza, com um programa de três pontos: renda mínima, moradia digna e acesso ao mercado de trabalho. Ele acreditava que a pobreza e a ignorância caminham de mãos dadas, o que é verdade.

King confrontou o ethos do “destino manifesto”, a doutrina do XIX que justificou a expansão territorial e a supremacia branca nos Estados Unidos, cuja ideia central era a de que Deus estaria ajudando os norte-americanos a comandarem o mundo. Expressão cunhada pelo jornalista John Louis O’Sullivan, no ano de 1845, coincidiu com a Marcha para o Oeste. Sustentava que a “providência divina” havia lhes dado o direito de conquista de todo o continente e também a missão de levar a liberdade a todos os povos. Muitos até hoje acreditam nisso, inclusive aqui no Brasil.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

sábado, 27 de janeiro de 2018

O destino de uma nação

A tradição nacional garantiu por décadas uma lendária impunidade aos poderosos, que foi caindo por terra pouco a pouco no desenrolar da Lava Jato. No curso dos julgamentos, mais uma vez, na última quarta-feira 24, a operação que desbaratou o maior e mais venal esquema de corrupção do Brasil cumpriu o seu destino. Os três desembargadores da oitava turma do TRF-4, em Porto Alegre, fizeram história e confirmaram a condenação, com agravante de pena para 12 anos e um mês, do réu ex-presidente e líder petista, em outros tempos proclamado benfeitor das minorias, Luiz Inácio Lula da Silva. Nunca antes um ex-mandatário da República havia sido alvo de julgamento por crime comum. Muito menos há registro por essas bandas de alguém que, após exercido o cargo, tenha chegado tão perto de passar seus próximos anos na cadeia, como deve acontecer com Lula

Fechou-se um ciclo da vida política nacional e abriu-se uma larga avenida para um futuro melhor onde a soberba e as afrontas às instituições republicanas por parte daqueles que se imaginam acima do bem e do mal não terão vez. É pré-condição de uma democracia madura que o primado das leis valha para todos. Eis uma lição inarredável que ficou daquele julgamento. Ao tirarem Lula do pedestal de inimputáveis no qual ele imaginava estar, a Nação experimentou um avanço enorme na escala de princípios. Como pontuou um dos juízes da sessão, quanto mais alto o posto maior a responsabilidade daqueles que exercem cargos públicos a serviço da população. Lula e seu séquito de adoradores não conseguiram entender que, mesmo aos trancos e barrancos, o Brasil evoluiu. Vem deixando para trás o velho modelo patrimonialista, dos tempos de colônia, no qual a Justiça era refém, protegia e estava a serviço dos donos do poder e de seus cupinchas. 

A democracia mostra robustez quando as instituições cumprem a rigor as atribuições que lhe cabem. Foi o que aconteceu exemplarmente no TRF-4. Ao contrário do que militantes do lulopetismo buscaram insinuar, a sentença que saiu dali e inviabilizou os planos de seu líder não denota qualquer viés político. Tratou-se de uma punição dentro da mais rigorosa análise dos autos. Foram constatadas práticas de corrupção e lavagem de dinheiro, a partir de um arrazoado de provas cabais, testemunhos, documentos e acontecimentos que levaram ao veredicto unânime e severo. Numa atuação digna de nota, os senhores magistrados fundamentaram seus argumentos nos fatos, não se deixando levar em nenhum momento por paixões ou arroubos midiáticos. Com método de análise e clareza na comunicação, sem recorrer a jargões fora do entendimento comum, os juízes conduziram seu raciocínio dentro de uma lógica para a qual não restaram dúvidas ou outra conclusão que não a da culpabilidade do réu. Muito difícil, para não dizer improvável, qualquer tribunal superior reverter condenação tão contundente. 


Sinalizaria uma instabilidade jurídica perigosa. Mesmo o Supremo, com seu pendor à espetacularização dos casos, deve evitar criar brechas para uma candidatura em todos os sentidos ilegal. Até aqui quatro juízes já demonstraram em minúcias que Lula incorreu em delitos graves. Estariam todos errados? O conjunto probatório dos malfeitos está à disposição, mas a militância ignara prefere manter a fé cega no salvador messiânico. A encenação do Partido resulta de todo modo em nada. Os bajuladores ainda insistem em vender a imagem de um mártir das causas populares quando as evidências e as acusações contra ele se avolumam. Os brasileiros, de qualquer maneira, saem renovados e fortalecidos desse perrengue, confiantes de que uma etapa importante do amadurecimento social foi cumprida. Do ponto de vista eleitoral, é positivo que Lula tenha sido alijado do processo. Não por ser quem é, mas pelo que vinha representando ao debochar das leis e dos processos a que responde – sete ao todo, por enquanto – insistindo em uma candidatura que tem como objetivo claro e deplorável escapar das grades.

O caráter amplo das eleições não sofrerá o mínimo abalo em razão de sua eventual ausência. No plano legal, Lula tem todo o direito, se assim for seu intento, de se defender até o ultimo recurso possível. Mas surpreende que ele e seus asseclas busquem contrariar a Lei da Ficha Limpa sancionada, por ironia do destino, em sua própria gestão. Em outras palavras, ao insistir na candidatura, o demiurgo de Garanhuns busca rasgar as regras que no passado endossou. Um contrassenso para perpetuar seu descaso com a ordem constituída. Faz parte do show que rege atualmente a seita lulopetista. De uns tempos para cá a agremiação conduz os militantes a uma espécie de devaneio coletivo – vendendo a mentira de uma implacável perseguição das “elites” – numa estratégia que desemboca em barbaridades como a da incitação à morte em nome da causa, tal qual fez a presidente petista Gleisi Hoffmann. A máscara já caiu. A farsa que prometia um “outro mundo possível” de igualdade e descambou para a corrupção generalizada, aparelhando o Estado com dirigentes partidários que encheram as burras de dinheiro, ficou evidente. Ao menosprezar as instituições representativas os petistas escolheram o atalho do arbítrio. 

Flertaram com o autoritarismo, no mesmo caminho percorrido pela Venezuela hoje mergulhada em um banho de sangue, miséria e desnutrição por conta de uma mensagem socialista enganosa que subjugou as massas e impôs a ideia do “nós contra eles” para conflagrar o País. Sob todos os ângulos que se observe, o veredicto dado na quarta-feira fatídica foi um extraordinário avanço para o destino do País. É inevitável concluir que Lula está politicamente acabado. Aquele a quem o americano Obama chamou de “O cara”, no auge de sua popularidade, segue em cena como mera caricatura dele mesmo. Nem eleitores, nem correligionários apostam um vintém na sua volta. Todos sabem agora que mesmo as cabeças coroadas estão sob a espada da lei, pelo bem geral da Nação.

Editorial - José Carlos Marques, diretor editorial da Editora Três
 

domingo, 21 de janeiro de 2018

Três homens e um destino

Quem são e o que pensam os desembargadores que definirão se Lula entrará para a história como vítima de uma monumental perseguição ou como um reles corrupto

Às 8h30 desta quarta-feira, os olhos do Brasil estarão voltados para uma sala de 115 metros quadrados localizada no 3º andar da sede do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4), em Porto Alegre. Ali, estará sendo escrito o que pode vir a ser o derradeiro capítulo da biografia do ex-presidente Lula. Os três desembargadores da 8ª Turma vão decidir se acolhem ou não o recurso do petista contra a sentença do juiz Sergio Moro, que o condenou a nove anos e seis meses de prisão em regime fechado. 

Dependendo do resultado, o ex-presidente poderá ter sua carreira política encerrada da maneira mais melancólica possível preso e impedido de disputar qualquer cargo eletivo. O ex-presidente também pode ser absolvido, e, caso isso aconteça, terá argumentos para sustentar que é vítima de uma implacável perseguição judicial promovida por delegados, procuradores e magistrados mal-­intencionados. Qualquer que seja a decisão, da pequena sala de Porto Alegre vai emergir uma passagem importante da história recente do país. Afinal, Lula é o líder das pesquisas eleitorais sobre a corrida presidencial. [líder duplo: tanto é líder para ser eleito quando é líder em rejeição; considerando que o índice de rejeição é bem superior ao de aceitação e também superior em muito ao de rejeição dos outros candidatos, Lula não tem  chance de ficar sequer entre os cinco  primeiros colocados.]

A Lava-Jato quebrou um paradigma: o de que a lei era incapaz de alcançar os poderosos. Em quase quatro anos de investigação, políticos e empresários envolvidos em corrupção foram caindo um a um, num dominó que o país nunca tinha visto. Apontado como o chefe da quadrilha que tomou de assalto os cofres da Petrobras, Lula é o maior expoente dessa constelação. Foi condenado por ter recebido como suborno um apartamento avaliado em 1,3 milhão de reais — uma ninharia diante dos 270 milhões de reais que delatores disseram ter repassado a ele como dividendos de propina e caixa dois, mas que pode lhe render uma condenação pesada o suficiente para fulminar sua carreira. Na manhã do dia 24, os desembargadores João Pedro Gebran Neto, Leandro Paulsen e Victor Laus vão definir o futuro do ex-presidente e, em alguma medida, estarão moldando a solidez democrática do Brasil. 

Discretos, os três desembargadores não dão entrevistas, não gostam de fotografias, não falam fora dos autos. Os autos, no entanto, falam por eles, e é isso que preocupa o ex-presidente. Na terça-feira 16, Lula voltou a atacar a Justiça e defendeu a demissão do juiz Sergio Moro. Também dirigiu petardos ao presidente do TRF4, desembargador Thompson Flores, mas evitou críticas diretas aos três juízes que julgarão seu caso. “Não vou falar mal dos juízes de Porto Alegre porque não os conheço. Não posso julgar pessoas que não conheço”, disse. Durante o processo, a defesa do ex-presidente investiu várias vezes contra o desembargador João Pedro Gebran, o relator de todos os recursos da Lava-Jato no TRF4, sob a alegação de que ele não era isento para julgar em função de sua amizade com o juiz Sergio Moro, de cujos filhos seria padrinho. Gebran respondeu nos autos: “Não sou padrinho de qualquer dos filhos do juiz de origem, tampouco este é padrinho de qualquer um dos meus filhos”. 

VEJA fez um levantamento de todos os processos da Lava-Jato julgados até agora pela 8ª Turma. Os números, de fato, são pouco animadores — para os criminosos. Dos 113 condenados pelo juiz Moro, apenas cinco conseguiram reverter a condenação no TRF. Isso representa menos de 5% do total. Mais: em 76 casos as penas aplicadas por Moro foram mantidas ou até ampliadas. Somente dezesseis réus tiveram êxito em reduzir suas penas. O rigor tem sido uma marca dos julgadores da segunda instância. Um exemplo é José Dirceu, ex-ministro e braço-direito de Lula. Ele foi condenado pelo juiz Moro a vinte anos e dez meses de prisão, recorreu ao TRF na tentativa de anular a condenação e se deu mal. Sua pena foi aumentada para trinta anos e nove meses. Podia ter sido ainda pior: voto vencido, o desembargador João Pedro Gebran propôs que o petista ficasse atrás das grades por mais de quarenta anos.

Escolhido pela ex-presidente Dilma Rousseff em 2013, o paranaense João Pedro Gebran, de 53 anos, é considerado o mais duro da trinca de julgadores e criticado pelos advogados por raramente atender a pedidos de réus. “Moro ainda tem um coração bom porque eventualmente concede algum habeas-corpus. Gebran não”, diz um juiz que acompanha o dia a dia do tribunal. Gebran é autor dos votos que orientaram as mais longas punições da Lava-Jato, como no caso de Renato Duque, ex-diretor da Petrobras. Ele foi condenado a vinte anos de prisão, recorreu e teve a pena ampliada para quase 44 anos de prisão. “A culpabilidade deve ser considerada bastante elevada, na medida em que se trata de servidor público de altíssimo escalão, responsável por administrar a maior empresa nacional, movimentando bilhões de reais em contratos, sendo pessoa na qual tinha (ou deveria ter) sido depositada elevada expectativa para bem gerir o patrimônio público.”

As condenações do desembargador costumam vir acompanhadas de duras considerações, principalmente quando ele se refere a políticos. Ao votar pelo aumento da pena de José Dirceu, Gebran foi categórico. Segundo ele, a culpa do ex-ministro era elevada porque “tratava-se de pessoa com alta escolaridade e ganhos bastante razoáveis, compreendendo perfeitamente o caráter ilícito de sua conduta, tendo ainda ampla possibilidade de comportar-se em conformidade com o direito”. Afeito a superlativos, Gebran classificou logo em seus primeiros votos a Lava-Jato como uma operação de dimensões “estratosféricas” e “amazônicas”. Um trecho que aparece em quase todas as suas sentenças diz o seguinte: “Na medida em que a operação se desenvolve, cada vez mais fatos são descobertos, envolvendo novos personagens e núcleos, podendo-se comparar os esquemas de corrupção a um câncer, de alto poder lesivo e considerável capacidade de se espalhar”.
(...)


Revisor das ações, o gaúcho Leandro Paulsen, de 47 anos, o segundo desembargador a se pronunciar nos julgamentos, é autor dos votos que levaram à absolvição do ex-­tesoureiro do PT João Vaccari Neto em dois processos. Também nomeado para a corte pela ex-presidente Dilma, ele não é um juiz benevolente. Ao contrário: sempre atribui suas absolvições a fragilidades gritantes na coleta de provas pelo Ministério Público. Em suas decisões, deixa claro que não admite a possibilidade de delações serem usadas como única prova para condenar qualquer suspeito. Foi esse argumento, aliás, que orientou a primeira absolvição de Vaccari, em junho de 2017. Disse ele: “O conteúdo amealhado ao longo da instrução do presente processo comprova materialmente o repasse de propina ao PT (…) mas, em relação ao então tesoureiro da agremiação, consiste apenas na versão dada pelos réus colaboradores sem qualquer prova de corroboração”. Vaccari fora condenado por Moro a quinze anos e quatro meses de prisão por corrupção passiva, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
(...)

A euforia durou menos de dois meses — e morreu na ponta da caneta do mesmo desembargador Paulsen. Em um terceiro processo, no qual fora condenado a dez anos por receber 4,5 milhões de dólares em nome do PT para financiar a campanha de Dilma Rousseff, Vaccari recorreu ao TRF, mas, dessa vez, sem êxito. Paulsen escreveu: “Agora, nesta terceira ação criminal, pela primeira vez, além das declarações de delatores, há depoimentos de testemunhas, depoimentos e, especialmente, provas de corroboração apontando no sentido de que João Vaccari Neto é autor de parcela dos crimes de corrupção especificamente descritos na inicial acusatória”. Com o voto de Paulsen, o tesoureiro teve a pena elevada para 24 anos de prisão. 

O terceiro desembargador é um ex-integrante do Ministério Público. Indicado pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o catarinense Victor Laus, de 54 anos, é considerado o mais garantista dos três julgadores e o principal foco de divergência em relação a Gebran. Nos julgamentos, não admite condenar ninguém se houver qualquer dúvida, ainda que mínima, sobre a culpa do suspeito. “Se, no momento do recebimento da denúncia, prevalece o interesse da sociedade para apuração da infração penal, ocasião em que se apresenta suficiente a prova da materialidade e indícios da autoria, diversa é a fase do julgamento, em que deve preponderar a certeza. Impera a aplicação do princípio in dubio pro reo”, escreveu logo no primeiro processo da Lava-Jato, que julgava um grupo de doleiros. Detalhista, ele costuma interromper os advogados se uma informação citada pelos defensores não estiver nos autos. Não raro, suspende os debates com pedidos de vista. Na Lava-Jato, é o único que já paralisou o julgamento de recursos para estudar melhor o tema. Para se blindar de críticas quanto a eventual demora em devolver um processo, recorre à definição do relator Gebran segundo a qual a Lava-Jato atingiu “dimensões amazônicas”.

(...) 

... pois que seu próprio tribunal, seguindo interpretação do Supremo, aderiu à tese. Desde então, em seus votos pró-condenação consta que, “encerrada a jurisdição criminal de segundo grau, deve ter início a execução da pena imposta ao réu, independentemente da eventual interposição de recurso especial ou extraordinário” em tribunais superiores. Traduzindo: Lula, se condenado, deveria ser preso assim que julgados eventuais recursos no TRF.

Publicado em VEJA de 24 de janeiro de 2018, edição nº 2566


segunda-feira, 3 de agosto de 2015

INACEITÁVEL

Jatinho exclusivo para Dirceu?
Quando receber autorização do Supremo Tribunal Federal (STF) para a transferência do ex-ministro José Dirceu para Curitiba, a Polícia Federal trabalha com a possibilidade de levar o petista de Brasília para a capital paranaense sozinho um jatinho. O objetivo é que, pelo menos em um primeiro momento, presos "expostos politicamente" não sejam colocados no mesmo ambiente que os demais detidos na Operação Lava Jato. Dirceu teve a prisão preventiva decretada pelo Juiz Sergio Moro, que também autorizou buscas e apreensões na casa do ex-ministro. A mulher de Dirceu acompanhou os policiais enquanto eles cumpriram os mandados na residência do petista.


Dirceu, a prisão e as ironias do destino
José Dirceu se sentia abandonado por companheiros de partido desde que caiu em desgraça com a condenação a sete anos e 11 meses por corrupção ativa no julgamento do mensalão. Longe das decisões de alta cúpula tomadas no Palácio do Planalto ou no Congresso Nacional, Dirceu passou nesta segunda-feira por uma daquelas ironias do destino quando foi levado por policiais de sua casa, no bairro nobre do Lago Sul, em Brasília, para a Superintendência da Polícia Federal, do outro lado da cidade.

Pelos vidros do carro negro da PF, passou diante do imponente prédio da Procuradoria-geral da República, responsável pelas acusações que o levaram pela primeira vez para a cadeia. A menos de 500 metros dali, viu os contornos do Palácio do Planalto, onde ocupou o poderoso quarto andar na chefia da casa Civil do primeiro mandato de Lula até 16 de junho de 2005.