A tradição nacional garantiu por décadas uma lendária impunidade aos
poderosos, que foi caindo por terra pouco a pouco no desenrolar da Lava
Jato. No curso dos julgamentos, mais uma vez, na última quarta-feira 24,
a operação que desbaratou o maior e mais venal esquema de corrupção do
Brasil cumpriu o seu destino. Os três desembargadores da oitava turma do
TRF-4, em Porto Alegre, fizeram história e confirmaram a condenação,
com agravante de pena para 12 anos e um mês, do réu ex-presidente e
líder petista, em outros tempos proclamado benfeitor das minorias, Luiz
Inácio Lula da Silva. Nunca antes um ex-mandatário da República havia
sido alvo de julgamento por crime comum. Muito menos há registro por
essas bandas de alguém que, após exercido o cargo, tenha chegado tão
perto de passar seus próximos anos na cadeia, como deve acontecer com
Lula.
Fechou-se um ciclo da vida política nacional e abriu-se uma larga
avenida para um futuro melhor onde a soberba e as afrontas às
instituições republicanas por parte daqueles que se imaginam acima do
bem e do mal não terão vez. É pré-condição de uma democracia madura que o
primado das leis valha para todos. Eis uma lição inarredável que ficou
daquele julgamento. Ao tirarem Lula do pedestal de inimputáveis no qual
ele imaginava estar, a Nação experimentou um avanço enorme na escala de
princípios. Como pontuou um dos juízes da sessão, quanto mais alto o
posto maior a responsabilidade daqueles que exercem cargos públicos a
serviço da população. Lula e seu séquito de adoradores não conseguiram
entender que, mesmo aos trancos e barrancos, o Brasil evoluiu. Vem
deixando para trás o velho modelo patrimonialista, dos tempos de
colônia, no qual a Justiça era refém, protegia e estava a serviço dos
donos do poder e de seus cupinchas.
A democracia mostra robustez quando
as instituições cumprem a rigor as atribuições que lhe cabem. Foi o que
aconteceu exemplarmente no TRF-4. Ao contrário do que militantes do
lulopetismo buscaram insinuar, a sentença que saiu dali e inviabilizou
os planos de seu líder não denota qualquer viés político. Tratou-se de
uma punição dentro da mais rigorosa análise dos autos. Foram constatadas
práticas de corrupção e lavagem de dinheiro, a partir de um arrazoado
de provas cabais, testemunhos, documentos e acontecimentos que levaram
ao veredicto unânime e severo. Numa atuação digna de nota, os senhores
magistrados fundamentaram seus argumentos nos fatos, não se deixando
levar em nenhum momento por paixões ou arroubos midiáticos. Com método
de análise e clareza na comunicação, sem recorrer a jargões fora do
entendimento comum, os juízes conduziram seu raciocínio dentro de uma
lógica para a qual não restaram dúvidas ou outra conclusão que não a da
culpabilidade do réu. Muito difícil, para não dizer improvável, qualquer
tribunal superior reverter condenação tão contundente.
Sinalizaria uma
instabilidade jurídica perigosa. Mesmo o Supremo, com seu pendor à
espetacularização dos casos, deve evitar criar brechas para uma
candidatura em todos os sentidos ilegal. Até aqui quatro juízes já
demonstraram em minúcias que Lula incorreu em delitos graves. Estariam
todos errados? O conjunto probatório dos malfeitos está à disposição,
mas a militância ignara prefere manter a fé cega no salvador messiânico.
A encenação do Partido resulta de todo modo em nada. Os bajuladores
ainda insistem em vender a imagem de um mártir das causas populares
quando as evidências e as acusações contra ele se avolumam. Os
brasileiros, de qualquer maneira, saem renovados e fortalecidos desse
perrengue, confiantes de que uma etapa importante do amadurecimento
social foi cumprida. Do ponto de vista eleitoral, é positivo que Lula
tenha sido alijado do processo. Não por ser quem é, mas pelo que vinha
representando ao debochar das leis e dos processos a que responde – sete
ao todo, por enquanto – insistindo em uma candidatura que tem como
objetivo claro e deplorável escapar das grades.
O caráter amplo das
eleições não sofrerá o mínimo abalo em razão de sua eventual ausência.
No plano legal, Lula tem todo o direito, se assim for seu intento, de se
defender até o ultimo recurso possível. Mas surpreende que ele e seus
asseclas busquem contrariar a Lei da Ficha Limpa sancionada, por ironia
do destino, em sua própria gestão. Em outras palavras, ao insistir na
candidatura, o demiurgo de Garanhuns busca rasgar as regras que no
passado endossou. Um contrassenso para perpetuar seu descaso com a ordem
constituída. Faz parte do show que rege atualmente a seita lulopetista.
De uns tempos para cá a agremiação conduz os militantes a uma espécie
de devaneio coletivo – vendendo a mentira de uma implacável perseguição
das “elites” – numa estratégia que desemboca em barbaridades como a da
incitação à morte em nome da causa, tal qual fez a presidente petista
Gleisi Hoffmann. A máscara já caiu. A farsa que prometia um “outro mundo
possível” de igualdade e descambou para a corrupção generalizada,
aparelhando o Estado com dirigentes partidários que encheram as burras
de dinheiro, ficou evidente. Ao menosprezar as instituições
representativas os petistas escolheram o atalho do arbítrio.
Flertaram
com o autoritarismo, no mesmo caminho percorrido pela Venezuela – hoje
mergulhada em um banho de sangue, miséria e desnutrição por conta de uma
mensagem socialista enganosa que subjugou as massas e impôs a ideia do
“nós contra eles” para conflagrar o País. Sob todos os ângulos que se
observe, o veredicto dado na quarta-feira fatídica foi um extraordinário
avanço para o destino do País. É inevitável concluir que Lula está
politicamente acabado. Aquele a quem o americano Obama chamou de “O
cara”, no auge de sua popularidade, segue em cena como mera caricatura
dele mesmo. Nem eleitores, nem correligionários apostam um vintém na sua
volta. Todos sabem agora que mesmo as cabeças coroadas estão sob a
espada da lei, pelo bem geral da Nação.
Editorial - José Carlos Marques, diretor editorial da Editora Três
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