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domingo, 12 de dezembro de 2021

O preconceito contra os evangélicos - Revista Oeste

 J. R. Guzzo

André Mendonça teve de responder a questionamentos sobre a sua fé religiosa, como se isso fosse alguma coisa suspeita algo que não aconteceu com nenhum dos outros membros do STF

É  um problema, mais um, que a elitezinha brasileira de todos os dias, essa que diz ao resto do país o que está acontecendo, o que é aprovado e proibido e o que você tem de pensar a respeito de tudo, está fazendo de conta que não existe. O problema é a distância cada vez maior que vai separando esse Brasil, o que aparece nas manchetes de jornal e no horário nobre, dentro do qual se tomam as decisões e se determinam quais os assuntos que devem ser debatidos, e a população evangélica. É complicado, porque há cada vez mais evangélicos — e fingir que eles se resumem a meia dúzia de empregadas domésticas e umas igrejinhas perdidas no fundão das periferias não é mais, definitivamente, uma opção. Os evangélicos deixaram de ser uma coleção de grupos religiosos formados por minorias que discordam da grande corrente central da Igreja Católica. Estão se tornando uma classe social.

O ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, André Mendonça | Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo
O ex-ministro da Justiça e ex-advogado-geral da União, André Mendonça | Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo

 Ter preconceito contra o que pode estar se transformando numa maioria é um convite aberto à guerra política

E agora? Não se trata mais de debater uma questão religiosa, e sim uma realidade política. Os evangélicos, simplesmente, são muitos — são numerosos demais, portanto, para serem ignorados e, sobretudo, excluídos do debate nacional. Não faz nenhum sentido. O Brasil é um país onde a maioria esmagadora da população é pobre. A maioria dos pobres é evangélica — não só porque vai ao culto e paga o dízimo ao pastor, mas porque tem valores próprios, e esses valores são os mesmos das profissões de fé evangélicas, a começar pelos que envolvem moral, família e costumes sociais. Mas o Brasil “oficial”, o Brasil da mídia, dos formadores de opinião e das classes intelectuais, insiste em ignorar essa realidade, porque ela é muito incômoda. Pior: o Brasil que se considera “superior” é francamente hostil ao universo evangélico. Pior ainda: tem preconceito explícito contra seu modo de vida, suas ideias, suas crenças, suas posições políticas e seu sistema ético. É um problema, e de bom tamanho. Ter preconceito contra uma minoria é um erro moral. 
Ter preconceito contra o que pode estar se transformando numa maioria é um convite aberto à guerra política. É precisamente onde estamos neste momento.

A elite brasileira que existe aí — bem, você sabe quem é essa gente. São as empresas desesperadas em atender às exigências dos “movimentos” negros, feministas ou gays ou, mais exatamente, às exigências feitas pelos proprietários dessas organizações. É a imprensa em peso. São os militantes do clima — soldados da Amazônia e inimigos do aquecimento global. São os departamentos de marketing que trocaram a ideia de vender pela ideia de ser “justo”. É a universidade como um todo. São os cientistas políticos, os banqueiros de investimento e, de um modo geral, o mundo de quem não vive do trabalho manual. São os donos dos “movimentos sociais”, das ONGs e das organizações em favor da “democracia popular”. São os defensores dos direitos de quem está do “lado certo da contradição” — apenas desses. São os encantados com o Black Lives Matter, a máscara para toda a eternidade e os concursos de “Miss” ganhos por homens. São as grandes empresas e as lideranças políticas que aparecem no jornal. 

Enfim já deu para ter uma boa ideia, não é? Pois então: este mundo todo está convencido de que os evangélicos brasileiros são o mal em estado puro. Não tem, é claro, a mais remota ideia do que fazer com eles na prática: como conviver com milhões de pessoas que estão incomodando, ou se livrar delas? 
Mas são contra a sua existência na vida real. Imaginam um Brasil sem evangélicos. Não se conformam, talvez mais que tudo, com o fato de que esses milhões de brasileiros pobres não são de “esquerda”. Se são pobres deveriam, é claro, pensar como pensam os editorialistas da imprensa ou os diretores de comerciais de TV. Mas não pensam. É o diabo.
 
O preconceito contra os evangélicos que existe na elite brasileira é incomparavelmente pior do que qualquer preconceito racial, ou contra homossexuais, ou contra mulheres, que possa existir no Brasil de hoje. 
É visível no desprezo aberto pelas práticas religiosas, pela conduta social e pelas ideias, crenças, valores e hábitos cotidianos dos evangélicos. 
Está presente, de forma explícita ou disfarçada, nos editoriais da imprensa que pregam as virtudes do “Estado laico”. É visto todos os dias na maneira depreciativa ou francamente irritada com que se trata a “bancada evangélica” um mal em si, para a crônica política, algo que deveria merecer a repressão imediata do ministro Alexandre de Moraes e do seu inquérito perpétuo contra “atos antidemocráticos”.  
 
Para o Brasil correto, civilizado e que sabe pensar, o “evangélico” assim mesmo, no genérico, como se fossem todos uma pessoa só é o exemplo perfeito e acabado do brasileiro primitivo, atrasado e grosseiro, tanto do ponto de vista político como do ponto de vista social. O “evangélico”, nessa visão de mundo, é o sujeito que atravessou a fronteira do “fascismo”, ou está chegando a ela. É alguém francamente malvisto nos departamentos de RH das empresas “progressistas” como a Fiat, etc; não vai conseguir emprego se souberem que frequenta o culto. A discriminação contra o evangélico deixou, há muito, de ser uma patologia apenas religiosa. Passou a ser o mais malicioso preconceito de classe no Brasil de 2021.

André Mendonça e toda a população evangélica vão sendo tratados como inimigos de classe pela esquerda

Tudo isso ficou claro, mais uma vez, na aprovação do nome do advogado André Mendonça como novo ministro do Supremo Tribunal Federal. Sem que até hoje tivesse aparecido a menor justificativa para o que aconteceu, o seu nome levou quatro meses para ser submetido à aprovação do Senado uma aberração que não recebeu o menor reparo de ninguém. [o tratamento especial recebido por André Mendonça, teve como principal motivação o fato de ter sido indicado pelo Presidente da República Federativa do Brasil, JAIR MESSIAS BOLSONARO  - além da aversão decorrente da impossibilidade de impedir a autoridade máxima da Nação brasileira de exercer uma competência constitucional, eles se desesperam que até o final do seu segundo mandato o capitão indicará, no mínimo mais seis - prevendo a aprovação da PEC revogando a muleta que criou a bengala. Os deixa mais assustados a possibilidade de ser  estabelecido mandato fixo e único de dez anos.] Na sabatina, teve de responder a questionamentos sobre a sua fé religiosa, como se isso fosse alguma coisa suspeita, ou francamente ilícita — algo que não aconteceu com nenhum dos outros membros do STF. Ninguém questionou os seus conhecimentos de Direito; só se falou da sua religião

Desde que o presidente da República apresentou o seu nome, André Mendonça tem sido visto pela mídia com desprezo — como se fosse um mero servente de Jair Bolsonaro. Os intelectuais o tratam como um homem das cavernas em relação às questões de costumes. Está tendo de explicar o fato de ser evangélico — como se isso não fosse um direito legítimo de qualquer cidadão brasileiro. Se um conjunto de manifestações assim não é preconceito, direto na veia, então o que é?

Sabatina de André Mendonça, na CCJ - Foto: Marcos
Oliveira /Agência Senado

A verdade é que André Mendonça e toda a população evangélica vão sendo tratados cada vez mais como inimigos de classe pela esquerda e por seus atuais satélites — o centro” que se define como “liberal, democrático e equilibrado”, e que vive no pavor de ofender Lula, desagradar aos artistas da Globo e parecer “de direita”. Qual é o problema? Num país em que a Constituição estabelece a plena liberdade de religião, André Mendonça tem tanto direito de ser evangélico, e estar no Supremo, quanto os outros têm direito de estar lá com as suas próprias religiões ou sem religião nenhuma. Ou não tem esse direito? Do jeito que a sua ida ao STF está sendo tratada, a impressão é que o sujeito tem de ser militante do aborto ou do casamento gay para ser membro de um tribunal superior de justiça no Brasil de hoje. É perversão da ideia de que uma sociedade deve ter lugar para pessoas de convicções diferentes. 

Convicções como as de André Mendonça, segundo o Brasil “que pensa”, não deveriam ser permitidas. São “antidemocráticas”. Assim como o STF diz que a liberdade de expressão tem “limites”, e que não pode ser utilizada se o cidadão é de direita, as forças que discriminam os evangélicos acham que a liberdade de religião também é “relativa” e só deveria valer para os que aceitam os tratados do ministro Luís Roberto Barroso e seus companheiros sobre comportamento sexual, relações familiares e outras questões de costumes.

Na sua sabatina, o novo ministro desfez as objeções do Comitê Nacional de Vigilância Religiosa em poucas palavras. Disse que, como cidadão, é evangélico. Como juiz, obedece à Constituição — e pronto, acabou a discussão. Se obedecer mesmo será um avanço notável em relação a diversos dos seus colegas, que fazem exatamente o contrário. 
Podem ser leigos de puríssimo sangue. Mas na hora de assinar os seus votos decidem o oposto do que está escrito na lei. Qual é a vantagem? A postura de um magistrado em relação à religião não pode, obviamente, ser critério para a sua ida ao Supremo Tribunal Federal. Também não pode ser um impedimento.

O preconceito contra os evangélicos está criando dois Brasis. É um caminho perigoso.

Leia também “O ministro sem fronteiras”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste  

 

segunda-feira, 8 de novembro de 2021

A repressão identitária - Revista Oeste

 J. R. Guzzo

Já não se trata mais de fazer propaganda contra a homofobia, ou as atitudes de discriminação — trata-se de intimidar quem não participa do “movimento gay” e seus similares 

O linchamento moral e profissional do atleta Maurício Luiz de Souza, medalhista de ouro da seleção olímpica brasileira de vôlei, é um novo marco na história, cada vez mais violenta, da repressão às liberdades no Brasil por parte do condomínio que se diz “identitário” a mistura de grupos que monopoliza os “movimentos” homossexuais, negros, feministas e indígenas neste país. É o DOI-Codi, ou a polícia política da ditadura, no Brasil de hoje. A partir de agora, pela decisão dos controladores desse mecanismo, os brasileiros que entrarem em sua lista negra, por qualquer razão que seja, serão punidos com a perda de emprego uma agressão inédita a um dos direitos mais elementares do cidadão. Não basta mais, para as milícias “identitárias”, envenenar em público a reputação das vítimas. É preciso, também, tirar o seu sustento.

Não tinha acontecido nada de semelhante até agora — não com uma personalidade conhecida pelo público como é Maurício de Souza. A mensagem que os proprietários dos “movimentos” citados acima estão mandando é a seguinte: “Ninguém mais está seguro no seu emprego. Somos nós que damos as ordens nos departamentos de R.H. e de marketing de um número cada vez maior de empresas privadas. Se você fizer alguma coisa, qualquer coisa, de que a gente não goste, estará no olho da rua. Aliás: não precisa fazer nada — basta dar uma opinião que a nossa polícia considere homofóbica, racista, machista, etc. que a punição virá na hora. Você não tem direito à defesa, nem antes nem depois da demissão”. O próximo passo, que na verdade já vem sendo ensaiado, será jogar os inimigos na cadeia, por conta das crescentes exigências de “criminalização” da homofobia ou do racismo. Repressão sempre exige mais repressão — nunca é o contrário. É inevitável, simplesmente, que ocorra em todos os sistemas que funcionam aplicando os métodos das tiranias. “Demissão”, “proibição”, “cassação”, “criminalização”, “prisão” — é essa a linguagem de que eles gostam, e que estão usando cada vez mais no Brasil.

Fiat e Gerdau fizeram uma chantagem explícita para que o atleta fosse demitido

Exagero? O que aconteceu com Maurício, na vida real, é a melhor prova de que pouca coisa que se diz sobre a repressão “identitária”, hoje em dia, é algum exagero. 
Quem poderia acreditar, antes do episódio, que uma história dessas seria possível? 
Mas foi. Os fatos não deixam nenhum tipo de dúvida. Como milhões de pessoas ficaram sabendo, a Fiat e a Gerdau, patrocinadoras do Minas Tênis Clube, fizeram uma chantagem explícita para que o atleta fosse demitido; ou isso, ou então elas cortariam as verbas que mantêm a equipe. 
O Minas aceitou — e Maurício foi desligado. (O técnico da seleção brasileira de vôlei apareceu para executar os feridos depois de acabada a batalha; aproveitou o clima e cortou o atleta do time. É mais um herói das lutas “identitárias”.) Locutores de rádio e de televisão, na segurança habitual dos departamentos de esporte — onde se pode fazer discurso político sem correr risco nenhum —, se juntaram ao linchamento.
A acusação contra o atleta foi “homofobia”. Muito bem: qual foi então, concretamente, a ação homofóbica praticada por ele? Sem um ato objetivo não pode haver culpa nem responsabilidade, não é mesmo? Pois aí é que está: Maurício não fez nada que possa ser descrito, mesmo pelo militante mais radical do Ministério Público, como ato, gesto ou simples pensamento homofóbico.  
 
Tudo o que ele fez foi dizer que não gostou do novo Superman gay; também disse que homens biológicos não deveriam jogar em times femininos de basquete, e que desaprova a ideia da Rede Globo de fazer uma novela com “linguagem neutra”. (Aquela coisa de falar “ile”, “alune” e outras bobagens.) Onde está, em qualquer dessas três coisas, o delito de homofobia? Não há nenhuma lei sobre homofobia, nem decisões do Supremo a respeito, dizendo que é obrigatório gostar de algum personagem de gibi, de qualquer “gênero” ou, contrariamente, que é proibido desgostar do Superman gay.  
Da mesma forma: onde está escrito que é crime, ou contravenção, ou falha de ordem moral, não gostar de “linguagem neutra”? 
É absolutamente lícito, enfim, manifestar-se sobre a presença, em equipes esportivas femininas, de homens que passaram por cirurgias e se apresentam como “transgêneros”. Há gente que é contra. Há gente que é a favor. Maurício é contra — trata-se de sua opinião pessoal, unicamente isso, como qualquer outra. Onde está o crime?

É raro armar-se uma acusação tão desprovida de qualquer fundamento, ou tão sem pé nem cabeça, como a denúncia de que Maurício de Souza cometeu atos de homofobia em alguma das suas manifestações públicas. Mas é essa, justamente, a nova marca do “movimento gay” — pouco importa se a acusação é justificada ou não, e menos ainda importam os fatos; o que interessa, hoje e cada vez mais, é criar uma atmosfera de terror em torno da questão “identitária”. Já não se trata mais de fazer propaganda contra a homofobia, ou as atitudes de discriminaçãotrata-se de intimidar ativamente quem não participa do “movimento gay” e seus similares

Não basta respeitar o homossexual como ser humano e cidadão; é indispensável, também, concordar com a visão de mundo do “movimento”, com as suas iniciativas e com as suas prioridades a cada momento. 
Os homossexuais, obviamente, não têm nada a ver com isso — como não têm os negros, as mulheres ou os índios. Em sua imensa maioria, estão cuidando de suas próprias vidas, trabalhando, indo atrás dos seus projetos pessoais e pagando imposto. 
Quem fala por eles, exige coisas que não estão pedindo e comete violências em seu nome — como a que está sendo praticada contra Maurício — são indivíduos que sequestram em seu próprio benefício a causa do “gênero”. Eles controlam a direção (e as verbas) dos movimentos “identitários”. Estabelecem o que pode e o que não pode. Têm presença decisiva nas empresas, na mídia e na máquina do Estado.

Fiat e Gerdau, na verdade, nem são militantes ativas da nova ordem. Como tantas outras empresas, terceirizam todas as suas questões de “sociedade” homofobia, racismo, direitos das “mulheres”, “sustentabilidade”, defesa da democracia, alimentação orgânica e salvação do planeta a escritórios de marketing e a agências de correção política, que suspostamente sabem o que é certo e errado sobre os assuntos relacionados acima e todos os outros. A partir dessa fuga, seus diretores passam a obedecer a ordens. É um ambiente perfeito para a covardia de rebanho, como no caso de Fiat e Gerdau. É, também, muito mais seguro para os seus executivos.

O fato é que com a degeneração dos movimentos contra a discriminação, os preconceitos e a desigualdade, está sendo criada uma situação que poderia ser descrita como a “nova injustiça”
Como aceitar, perante a lei brasileira e todo o seu aparato gigante de proteção ao trabalhador, que um cidadão seja demitido do seu emprego por ter dado uma opinião? 
Não acontecia isso desde o AI-5 — e, assim mesmo, naquela época a pessoa com a opinião política errada perdia o seu ganha-pão de maneira mais discreta; os perseguidores, então, tinham mais vergonha daquilo que faziam. Quem terá coragem, agora, de dar um lugar para Maurício num time de vôlei? Também é incompreensível que se exija a punição da vítima. O atleta foi alvo, pelo menos, do crime de calúnia, segundo está escrito no artigo 138 do Código Penal Brasileiro. Ele foi acusado publicamente de um crime que não cometeu, o de homofobia — e a lei diz que imputar falsamente a alguém um fato definido como crime é calúnia. O atleta não é réu, como querem o “movimento” gay e os seus servidores; ao contrário, é vítima. Como é que fica, então?

(Há 24 dias, desde 12 de outubro, quando expressou nas redes sociais sua opinião sobre a bissexualidade do filho do Superman, o Ministério Público ainda não acusou Maurício de crime nenhum.)

O mundo “identitário” está agindo com os mesmos métodos operacionais das tiranias. É esta a sociedade que os seus comandantes querem no Brasil.

Leia também “A polícia das ideias”

J. R. Guzzo, colunista - Revista Oeste

 

 

quarta-feira, 8 de setembro de 2021

As mulheres invisíveis do Afeganistão - Revista Oeste

Ana Paula Henkel

Onde estão as feministas para salvar as afegãs da barbárie? 

Há quase um ano, bem antes da eleição presidencial norte-americana de 2020, muitos caminhos já mostravam que uma possível vitória da chapa Joe Biden e Kamala Harris tinha potencial para ser um desastre em várias áreas da política americana. Mas ninguém esperava que, perto de Joe Biden, Jimmy Carter — um dos piores presidentes da história dos EUA — pareceria moderado.
Mulher afegã em Cabul | Foto: Shutterstock
Mulher afegã em Cabul | Foto: Shutterstock
 

A economia, que, mesmo durante a pandemia, dava fortes sinais de recuperação nos últimos meses da administração Trump, atualmente enfrenta grandes desafios. A impressora de dinheiro (e fábrica de inflação) anda ligada 24 horas por dia em Washington. Há uma crise migratória e humanitária sem precedentes na fronteira sul. Estima-se que 2 milhões de imigrantes ilegais possam entrar no país apenas neste ano. Com sete meses no Salão Oval, a já desastrosa administração Biden ainda nos ofereceu o espetáculo da despreparada retirada das tropas norte-americanas do Afeganistão. Joe Biden deixou para trás não só mais de US$ 85 bilhões em equipamentos e veículos militares. Ele também desenhou um futuro sombrio para as mulheres afegãs.

Em reação aos atentados de 11 de setembro, os EUA e seus aliados invadiram o Afeganistão em 2001, para combater os terroristas da Al Qaeda. Com isso, criaram um clima de liberdade inédito no país. Desde então, uma geração de meninas cresceu seguindo o modelo das primeiras corajosas afegãs que estudavam, dirigiam, usavam maquiagem, praticavam esporte e eram livres para sonhar e trabalhar. Em 2016, a equipe nacional feminina de ciclismo foi até indicada ao Prêmio Nobel por um grupo de políticos italianos. As atletas afegãs começaram a competir no exterior e tinham esperança de participar da Olimpíada de Tóquio. Até que a terrível situação com a segurança em seu país interrompeu o sonho.

Apedrejadas até a morte
O Talibã vê os esportes femininos como um sacrilégio, e os membros de suas famílias como traidores. O que essas mulheres incríveis fizeram para quebrar inúmeras barreiras também acabou colocando um alvo em suas costas. Com a retirada das tropas americanas do país nessa semana, milhares de profissionais autônomas, professoras e até ex-atletas enfrentarão um futuro sombrio. Quem conseguiu fugir do país reporta que mulheres estão queimando material de trabalho, pesquisas, roupas, diplomas e equipamentos esportivos para esconder o fato de que uma vez sonharam com caminhos melhores.
Quando o Talibã esteve no poder pela última vez, entre 1996 e 2001, as mulheres no Afeganistão não tinham permissão para deixar suas casas, exceto sob condições estritamente definidas. Eram forçadas a se vestir com burcas que cobriam seus corpos da cabeça aos pés. 
Foram proibidas de votar, trabalhar ou receber qualquer educação após os 12 anos de idade. 
Elas não podiam transitar em público sem um tutor do sexo masculino. Não era raro testemunhar chicoteamentos e espancamentos de quem violasse essas leis
Escravidão sexual também fazia parte do regime do Talibã. Mulheres acusadas de adultério eram apedrejadas até a morte.

Depois da invasão dos Estados Unidos em 2001, as restrições ao sexo feminino diminuíram. Um forte movimento foi gerado e apoiado por grupos e doadores internacionais, o que levou à criação de novas proteções legais. Em 2009, a Lei para Eliminação da Violência Contra as Mulheres criminalizou o estupro, a agressão e o casamento forçado, além de tornar ilegal qualquer tentativa de impedir que mulheres ou meninas trabalhassem ou estudassem.

Desde o começo de agosto, à medida que o Talibã retomou o controle sobre seu novo emirado islâmico no Afeganistão, grande parte das mulheres desapareceu das vias públicas. Os extremistas as forçaram a deixar seus empregos e suas casas, encerrando 20 anos de progresso em direção à liberdade e à igualdade. Ativistas de direitos humanos dizem que ainda não têm certeza se o Ministério dos Assuntos da Mulher vai reabrir. Nesse ínterim, o apoio internacional a programas para mulheres foi suspenso. Fontes do setor não podem dizer quando ou se ele será retomado.

Sororidade hipócrita
O que sabemos até agora é que os talibãs não permitiram que as mulheres retornassem a seus empregos normais, nem no governo. Algumas apresentadoras de noticiários de televisão foram forçadas a vestir roupas que cobrem quase todo o corpo e obrigadas a abandonar seus postos. O editor sênior de uma estação de TV privada reportou que o Talibã o pressionou para remover mulheres de seus cargos e tirá-las do olhar do público.

Será que perdi a campanha de Oprah Winfrey para angariar fundos para o resgate dessas mulheres?

Axana Soltan, que dirige uma pequena organização sem fins lucrativos de apoio a mulheres afegãs nos Estados Unidos, disse que alguns de seus parentes passaram a acreditar que a morte é preferível à vida sob o bárbaro regime do Talibã: “As mulheres no Afeganistão se sentem abandonadas, sem esperança, incertas quanto ao futuro e traídas. Falei com várias primas, e elas disseram que não têm esperança quanto ao futuro das mulheres afegãs. Uma delas descreveu sua condição como ‘viver dentro de um buraco negro de desesperança’ “, disse Soltan.

Diante de mulheres e meninas que viverão como se tivessem voltado aos tempos medievais, fica a pergunta: 
- onde estão as feministas para dar voz a essas mulheres e condenar a bestialidade do Talibã? 
Onde estão as mulheres que queimavam sutiãs “contra o patriarcado”? Onde estão as atrizes famosas de Hollywood, que só depois de juntar milhões de dólares em suas contas levantaram a voz contra produtores poderosos e predadores sexuais? 
Onde está Hillary Clinton, a ex-primeira-dama americana que permanece casada com um predador sexual cujos rastros ajudou a esconder? 
Onde estão Madonna, Alexandria Ocasio-Cortez, Meryl Streep, Alyssa Milano? 
Lady Gaga, por onde andas que não apareceu até agora para compor uma canção sobre as mulheres do Afeganistão? 
Será que perdi a campanha de Oprah Winfrey para angariar fundos para o resgate dessas mulheres?

Há uma série na Netflix, uma joia perdida entre muito títulos, chamada She-Wolves: England’s Early Queens (“Lobas: as primeiras rainhas da Inglaterra”, 2012), criada e estrelada pela historiadora ph.D. de Cambridge e escritora Helen Castor. A série é uma viagem fascinante pela trajetória de algumas das mulheres mais extraordinárias da monarquia britânica, daquelas que realmente desafiaram o poder, as injustiças, as convenções e que fizeram história. Feminismo raiz, e não de butique, que prega apenas o ódio contra os homens “opressores” do Ocidente, justamente aqueles que ajudaram a construir os tempos mais livres da história da humanidade.

Logo no primeiro episódio somos apresentados à mais antiga das “lobas”, chamadas assim até por Shakespeare: Matilde de Flandres (1031-1083), primeira mulher a exercer o cargo de rainha britânica com autoridade e não apenas como esposa decorativa do rei. A série ainda relembra Leonor de Aquitânia (1122-1204), Isabel da França (1295-1358), Margarida de Anjou (1430-1482), Joana Grey (1536-1554), Maria I (1516-1558) e Elizabeth I (1533-1603). Cada capítulo nos transporta para uma história de mil anos que mostra mulheres que, para muitos deslumbrados e desavisados de hoje, aparentemente nunca existiram. Porque jamais aceitariam essa sororidade hipócrita de hoje ou qualquer pedágio ideológico para merecer proteção. O tíquete para a relevância nos livros de história não se compra nos guichês de partidos políticos nem nos despachantes engajados de parte da imprensa.

As lobas de Helen Castor e as mulheres que, na quietude de seus anonimatos, inspiram aquelas que lutam contra regimes bárbaros, essas, sim, estão a salvo de modismos passageiros e fúteis e das ideologias revolucionárias de auditório. Seus nomes serão lembrados muito tempo depois que a geração da indignação seletiva tiver desaparecido.

Leia também “O fiasco de Joe Biden”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


sábado, 8 de dezembro de 2018

Tensão permanente

Qualquer coisa que atinja os filhos do presidente respingará no governo


Pela composição da chapa presidencial, pelo resultado da eleição para a Câmara e para o Senado, e pela escolha de alguns ministros que tendem a se pautar pela ideologia ou mesmo pela fé religiosa, é bastante provável que o governo de Jair Bolsonaro venha a ter no mínimo três focos permanentes de tensão.

O principal deles, e desse não há como escapar, está na família do presidente eleito. Pela primeira vez na história recente do País, e é possível que em todo o período republicano, um presidente da República terá três filhos com mandato parlamentar: Eduardo, deputado, Flávio, senador, estes dois pelo PSL, e Carlos, vereador no Rio de Janeiro pelo PSC. Todos eles conselheiros do pai, ativos politicamente, e muito atuantes pelas redes sociais.

Qualquer opinião deles a respeito de seja lá o que for, qualquer articulação que fizerem, qualquer coisa que os atinja, respingará no governo e será notícia com destaque.   Natural que seja assim, porque não há como desvincular o pai dos filhos sabendo-se que são tão unidos e que têm o pensamento praticamente igual. 

[lamentavelmente, sempre que possível, com uma interpretação contra o presidente eleito, ou uma omissão de um detalhe que, se mencionado,  deixaria a notícia mais clara e até  evitaria ilações negativas para o presidente eleito.

Ontem, uma emissora de TV noticiou que ex-assessor Fabricio foi exonerado, omitindo que tal exoneração se deu a pedido do mesmo, para tratar de sua aposentadoria.

A omissão deixou espaço para conjecturas sobre a exoneração ter sido por iniciativa do  parlamentar, devido algum comportamento inadequado do ex-assessor.]


Exemplos da grande repercussão de tudo o que envolve os filhos já há aos montes. Em abril o deputado w.d.. (PT-RJ) xingou o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, e disse que a solução para a Corte seria o seu fechamento, transformando-a em tribunal constitucional. O deputado Eduardo Bolsonaro disse em julho, numa palestra, no Paraná, que bastavam um cabo e um soldado para fechar o Supremo. O choque maior foi causado pela fala de Bolsonaro, pois ele vive a expectativa do poder. Damous já o perdeu.

Quando a disputa pelas presidências da Câmara e do Senado começar, qualquer coisa que Flávio Bolsonaro fizer no Senado, ou o irmão fizer na Câmara, será visto como um ato consentido do pai, o presidente da República, mesmo que nada tenha a ver com ele. Se por um lado Jair Bolsonaro pode dizer, como tem dito, que é um pai feliz por ter três filhos em cargos eletivos, por outro ele terá de aceitar que, pelas circunstâncias que envolvem o poder, os filhos são também um peso.

O segundo possível foco de tensão do governo de Bolsonaro estará no recém-criado Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos. Em primeiro lugar, porque é um ministério que atuará em áreas sensíveis da sociedade, envolvendo índios, minorias, direito das mulheres, comunidade LGBT e as novas siglas que a ela vão se interligando e direitos humanos. O ministério será um ímã para atrair a atenção dos grupos sociais mais organizados e engajados do País, levando-se em conta as opiniões conhecidas da futura ministra da pasta, a advogada e pastora Damares Alves.

Ela já se disse contrária ao aborto, que ninguém nasce gay, que não é a política, mas a igreja evangélica que vai mudar a Nação, e que as feministas promovem uma guerra entre homens e mulheres [exceto na parte que atribui a igreja evangélica mudar a Nação, endossamos plenamente as demais posições da ministra;
quanto a guerra 'promovida' pelas feministas, algumas mais radicais realmente buscam uma guerra entre os sexos - provavelmente por não curtirem o prazer advindo do relacionamento homem x mulher.]  

Não há dúvidas de que a polêmica vai se instalar nessa área. Para piorar, o Ministério Público abriu ação civil pública contra uma ONG de Damares por “dano moral coletivo decorrente de suas manifestações de caráter discriminatório à comunidade indígena” por causa da divulgação de um filme sobre infanticídio indígena feito pela organização. Os procuradores pedem que a ONG seja condenada a pagar R$ 1 milhão. [quem cobra um valor exagerado, certamente  sabe que não tem elementos que lhe propicie a vitória ou não pretende receber.
Além do mais, Bolsonaro pretende estabelecer a igualdade entre os índios e demais brasileiros (os índios são tão cidadãos quanto os demais brasileiros e devem ter os mesmos DIREITOS e DEVERES.
Estabelecida essa justa igualdade, situações que agora podem ser até consideradas discriminatórias, deixarão de ser.]
O terceiro possível foco de tensão no governo de Bolsonaro está no vice-presidente, o general Hamilton Mourão. Acostumado a falar o que pensa sobre tudo e sobre todos, da política externa à política trabalhista, da necessidade de aprovação da reforma da Previdência à privatização de estatais, o vice causa barulho. Mesmo que diga que perdem tempo os que acham que vão intrigá-lo com Bolsonaro, suas declarações sempre vão causar impacto.
O Estado de S. Paulo


segunda-feira, 24 de setembro de 2018

Limites da LIBERDADE DE EXPRESSÃO: Afinal, no dia em que não se puder chamar de “cadelas” as mulheres de esquerda, então não haverá mais liberdade de expressão no Brasil, não é mesmo?

[importante: ressalte-se que o capitão JAIR BOLSONARO se encontra internado no Hospital Alberto Einstein se recuperando de graves ferimentos resultantes de covarde agressão que sofreu no ataque de um misterioso esfaqueador.

Tal situação, por óbvio, isenta o presidenciável de qualquer responsabilidade sobre os fatos abaixo narrados.

Que pela natureza estão mais para uma tentativa de sabotagem da candidatura Bolsonaro, que bem pode ser armação daquele partido que treme ao ouvir o nome BOLSONARO. 

Não gostamos, o que é fato, da maldita esquerda; 

mas, os eleitores de Bolsonaro certamente gostam de mulheres - da mesma forma que as eleitoras do capitão gostam de homens - sejam da esquerda, da direita ou de centro.

Se tentaram matar Bolsonaro para impedir sua eleição, imagine do que mais serão capaz?

tentar indispor a candidatura Bolsonaro contra eleitoras é tarefa que os membros daquele partido são capazes de fazer sem o menor remorso.] 

Música cantada por apoiadores de Bolsonaro fala em ‘ração na tigela’ para feministas

Canção ofensiva a mulheres embalou ato de apoio ao candidato em Recife

Uma música que fala em dar “ração na tigela” para feministas e compara mulheres “de esquerda” a “cadelas” foi cantada por apoiadores do candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) em um ato realizado na manhã deste domingo, em Recife. A canção pode ser ouvido em um vídeo publicado pelo site JC Online.

A letra ofensiva faz referências ainda à Central Única dos Trabalhadores (CUT) e a políticos de esquerda, como Jandira Feghali (PCdoB-RJ) e Jean Wyllys (PSOL-RJ). Há também referências a deputada federal Maria do Rosário (PT-RS), com quem Bolsonaro se envolveu em uma polêmica após o deputado afirmar que não estupraria “porque ela não merece”.

Os versos são uma paródia do funk “Baile de Favela”. Um dos trechos diz:  
“Dou pra CUT pão com mortadela / 
E pras feministas ração na tigela / 
As minas de direita são as top mais belas / 
Enquanto as de esquerda têm mais pelo que as cadelas”.

Outro trecho diz:
“Bolsonaro, capitão da reserva. Bolsonaro casou com a cinderela enquanto Jean Wyllys só tá vendo novela.”


O Globo



quarta-feira, 15 de fevereiro de 2017

Meninas yazidi são vendidas como escravas sexuais enquanto feministas marcham contra Trump

Em 21 de janeiro, alguns grupos de direitos das mulheres organizaram "Marchas das Mulheres" em diversas cidades dos Estados Unidos e ao redor do mundo. Os comícios em grande medida direcionados ao recém-empossado presidente norte-americano Donald Trump.

Havia inúmeras oradoras e participantes. A atriz Ashley Judd, que também tomava parte, leu um poema em Washington D.C. que questionava porque os "absorventes femininos são tributados enquanto o Viagra e o Rogaine não".  Enquanto a Sra. Judd falava sobre a sua devastadora tragédia, milhares de crianças e mulheres yazidis estavam sendo forçadas a se tornarem escravas sexuais no Iraque e na Síria nas mãos do Estado Islâmico (ISIS) e estarem disponíveis para a compra em mercados de escravas sexuais.

O ISIS atacou a terra natal dos yazidis, Shingal no Iraque em 3 de agosto de 2014, mais de 9.000 yazidis foram assassinados, sequestrados ou sexualmente escravizados. Os yazidis são uma minoria religiosa historicamente perseguida no Oriente Médio. O Estado Islâmico institucionalizou a cultura do estupro e da escravidão sexual. O ISIS está literalmente travando uma guerra contra as mulheres. O grupo terrorista chegou a publicar uma "tabela de preços" de meninas yazidis e cristãs - com idades que variam de um a nove anos de idade.

Raymond Ibrahim especialista em Oriente Médio assinalou o seguinte acerca de uma menina yazidi escravizada aos 15 anos de idade e sofrendo meses no cativeiro antes de conseguir fugir:
"Lembro de um homem, que parecia ter pelo menos 40 anos de idade, ter aparecido e levado uma menina de dez anos. Quando ela se recusou a ir ele a espancou brutalmente usando pedras e teria atirado nela se ela não tivesse aceito acompanhá-lo. Tudo isso, obviamente, contra a sua vontade. Eles normalmente vinham e compravam as meninas que não tinham preço estabelecido, melhor dizendo, eles costumavam dizer às meninas yazidi: vocês são sabiya (espólios de guerra, escravas sexuais), vocês são kuffar (incrédulas), vocês estão aí para serem vendidas a qualquer preço", querendo dizer que não havia nenhum valor de referência. Algumas meninas yazidis eram "vendidas" por míseros maços de cigarro.
"Todo dia eu morria 100 vezes. Não apenas uma vez. A cada hora eu morria, a cada hora. Pelos espancamentos, pela miséria, pela tortura", disse ela.

Mirza Ismail, fundador presidente da Organização Internacional de Direitos Humanos Yazidi, salientou em seu discurso no Congresso dos Estados Unidos:
"Segundo relatos de inúmeras mulheres e meninas que conseguiram fugir e com as quais conversei no Norte do Iraque, as yazidis sequestradas, em sua maioria mulheres e crianças, somam mais de 7.000.
"Algumas dessas mulheres e crianças foram obrigadas a assistirem, bem diante de seus olhos, enquanto crianças de 7, 8 e 9 anos de idade derramavam sangue até a morte depois de serem estupradas inúmeras vezes por dia pelas milícias do ISIS. As milícias do ISIS queimaram muitas meninas yazidis, vivas, por elas se recusarem a se converter e casar com homens do ISIS. Por que? Porque não somos muçulmanas e porque o nosso caminho é o caminho da paz. Por isso estamos sendo queimadas vivas: por vivermos como homens e mulheres de paz".
Em dezembro de 2015 informes divulgaram que o ISIS vendia mulheres e crianças yazidis na cidade de Gaziantep (ou Antep), no sudeste da Turquia. Gaziantep ficou conhecida pela proliferação generalizada das atividades do Estado Islâmico na cidade.  No entanto, esta e muitas outras ameaças não impediram defensores dos direitos das mulheres em Gaziantep de protestarem devido a inércia do governo turco em face das atividades do Estado Islâmico.
A ativista do grupo "Plataforma das Mulheres Democráticas de Gaziantep", Fatma Keskintimur, leu um comunicado à imprensa que dizia em parte o seguinte:
"O fato de gangues de jihadistas que lutam na Síria terem recebido o maior apoio da Turquia e a existência de esconderijos de células usadas por eles... não é segredo para ninguém. Dado a natureza do perigo que esta situação apresenta para os habitantes de Antep o mal-estar está se intensificando a cada dia que passa".
Mesmo nessas condições os defensores dos direitos das mulheres na Turquia - em particular os curdos - continuam lutando e protestando contra o governo.  No ano passado, por exemplo, a "Assembleia das Mulheres Yazidis" comemorou o dia 3 de agosto como o "dia de ação internacional contra massacres das mulheres e do genocídio". Os membros do partido pró-curdo Partido da Democracia Popular (HDP) organizou protestos em várias cidades por toda a Turquia para condenar o genocídio Yazidi e mostrar solidariedade para com as vítimas.
Safak Ozanlı, ex-ministra do parlamento do HDP, assinalou que o ISIS ainda mantinha 3.000 mulheres yazidis como escravas sexuais: "o ISIS vê as mulheres em Shingal e Kobane como espólio de guerra. As mulheres que continuam vivas são vendidas para xeques árabes. Nós - como mulheres - permaneceremos unidas contra o ISIS e contra todos os ditadores".

Membros da minoria religiosa alevita também apoiaram o protesto em Mersin. Zeynep Kaya Cavus, uma líder ativista alevita, assinalou que as mulheres yazidis são "sequestradas e escravizadas como espólio de guerra e expostas a sistemáticas agressões sexuais e isto constitui um genocídio contra as mulheres".

Há também um número bem reduzido de americanas que está dando o melhor de si para ajudar os yazidis, como por exemplo Amy L. Beam, uma ativista de direitos humanos que vive juntamente com os yazidis e os defende em tempo integral desde 2014. Seu livro O Último Genocídio Yazidi deve ser publicado em breve. Ela é a diretora executiva da "Amy, Azadi and Jiyan" (AAJ -- "Friend, Freedom, and Life"), uma organização humanitária localizada no Curdistão iraquiano.
"Milhares de yazidis têm uma longa lista de familiares mortos ou desaparecidos em poder do ISIS no Iraque ou na Síria", ressaltou ela. "O estado de espírito deles é muito ruim por contarem com uma ajuda internacional muito tímida desde o primeiro aniversário do ataque."
"Meninas e mulheres yazidis juntamente com suas filhas... são submetidas a espancamentos e estupros por combatentes do ISIS. A cada combatente é dado uma menina como troféu de guerra. Mais de 1.000 dessas meninas e mulheres conseguiram fugir ou foram libertadas pelo ISIS".
Espera-se que as ativistas nos EUA façam com que suas vozes sejam ouvidas no tocante aos ataques genocidas contra mulheres e crianças yazidis. Mas elas nada fazem. "Grupos de direitos das mulheres nos EUA não têm dado apoio às mulheres do Iraque e da Síria que estão sendo oprimidas, sequestradas e estupradas" de verdade, ressaltou Beam ao Gatestone Institute.

Algumas das integrantes da marcha das mulheres em Washington afirmam que Trump irá tolher seus direitos - Acusação esta que muitas mulheres que sofrem debaixo de governos ou organizações islamistas achariam ridícula. Elas estão preocupadas em poder fazer um aborto e a preocupação é justificada. Mas não são os aiatolás que chegaram ao poder nos EUA. Além disso Trump parece determinado a combater o terrorismo islâmico radical, a maior ameaça à dignidade e liberdade das mulheres em todo o mundo. Isso por si só já mostra seu compromisso com a liberdade - especialmente a liberdade das mulheres.

A ideologia islâmica radical é uma ameaça universal. Onde quer que ela possa ser enfraquecida ou derrotada, também ajudará a libertar as vítimas em outras regiões do mundo.
Para os povos perseguidos do Oriente Médio, que são muitos, a presidência de Trump representa a esperança de uma mudança positiva.  Em 7 de Novembro, a Organização Internacional de Direitos Humanos Yazidi emitiu um comunicado público intitulado "Yazidis não veem a hora da presidência de Trump ajudá-los a acabar com o ISIS". Uma yazidi no Iraque, há pouco, deu o nome "Trump" ao seu bebê recém-nascido.

A marcha das mulheres, com todas as boas intenções por parte de muitas, violou o princípio fundamental dos direitos humanos: "O pior em primeiro lugar".  Lamentavelmente muitos dos organizadores e integrantes da marcha optaram por ficar em modo de espera ignorando as mulheres que estão sendo torturadas e exterminadas por terroristas islâmicos, optaram também por ignorar o que acontece em outras partes do mundo onde elas não podem frequentar uma escola nem sair de casa sem a permissão de um homem.

Se pelo menos essas mulheres se sentissem tão motivadas a protestar contra a escravidão, o estupro e a tortura de mulheres e crianças yazidis quanto estão em relação ao custo de absorventes femininos.  Agindo como fanáticas delirantes a serviço próprio, cujo ódio gratuito a um presidente eleito cega seus olhos aos verdadeiros problemas do mundo, não ajuda nada a ninguém. Já houve esse mesmo número de pessoas que odiaram outros presidentes.

Vamos por meio de nossas ações lembrar às mulheres do Oriente Médio que nós levamos seu sofrimento a sério.

Fonte: Uzay Bulut, jornalista nascida e criada como muçulmana na Turquia, está atualmente radicada em Washington D.C.


Publicado no site do
Gatestone Institute.

Tradução: Joseph Skilnik


quinta-feira, 28 de abril de 2016

Uma carta sobre Marcela, bela, etc, etc



Tudo isso serve a um mesmo objetivo - fragilizar os valores cristãos, apagar a sã filosofia, criar um novo Direito para um projeto social e político revolucionário que, sem exceção, fracassou em todas as suas experiências históricas.
(Transcrevo resposta a uma mensagem que recebi de leitora (1) com críticas ao meu anterior artigo sobre reações feministas à matéria em que a revista Veja ocupou-se da esposa do vice-presidente da República.)

Prezada senhora. Agradeço sua mensagem. Devo dizer que o artigo que escrevi sobre o assunto foi curtido por quase 500 pessoas. Quarenta e oito por cento, mulheres. Portanto, a leitura que a senhora faz dos fatos não é mais do que uma opinião em torno da qual há divergências substanciais. Detalho um pouco mais, aqui, meu entendimento. A matéria da Veja é irrelevante, de interesse apenas para quem tem curiosidade sobre a vida das celebridades. Não me parece que, ao finalizar dizendo que Temer é um homem de sorte, a revista ou a jornalista Juliana Linhares estejam sinalizando o estilo de vida que dona Marcela escolheu como algo a ser afirmado como padrão. Até porque, sendo a autora jornalista da Veja, estaria, ela mesma, se excluindo do suposto padrão que a senhora e outros quiseram encontrar nas entrelinhas de seu texto.

Quanto ao mais, o estilo de vida que dona Marcela escolheu para si é algo que diz respeito a ela e à família dela. Fazê-la objeto de uma saraivada de críticas como percebi, consultando posts aqui e ali (e foram ignoradas no seu comentário), é uma coisa sem sentido que me parece não encontrar de parte dela conduta correspondente. Muitas feministas querem o direito de viver como bem entendem e se escandalizam com a vida que Marcela escolheu... Paradoxo! E esse paradoxo foi um dos pontos que sublinhei em meu artigo.

Por outro lado, quando feministas criam movimentos e promovem ações públicas, sujeitam-se ao crivo da opinião alheia. Ações externas, manifestações de rua, conteúdos publicados nas redes sociais, perdem o caráter privado e íntimo que impediria outras pessoas de expressar suas próprias compreensões sobre tais pautas. Foi no uso desse direito que escrevi o artigo que a desagradou. E seu desagrado é tão legítimo quanto a discordância que expressei. Sem pretender uma erudição que não tenho, cito a conhecida frase de Terêncio: "Nada humano me é estranho". Um dos equívocos do feminismo é esse que a senhora comete quando pretende que apenas as mulheres possam opinar sobre questões femininas.

O mal-estar causado pela matéria da Veja só pode ter três motivos: 1) má interpretação do sentido geral texto, algo que uma releitura talvez retifique; 2) rejeição política à revista e ao marido da senhora em questão; e 3) teimosa recusa à obviedade expressa na frase final da matéria: "Temer é um homem de sorte". Ora, negar isso é negar uma evidência. Temer é um homem de sorte, sim senhora. Quem dirá que não, sem avançar em devaneios despidos de comprovação sobre a vida íntima do casal?

Quem escreve se vale do que aprendeu e eu aprendi, vendo e lendo, que há um projeto em curso no Ocidente, atacando, por todos os flancos, os valores da civilização. O projeto revolucionário ganhou multiplicidade de formas e se concentrou em atacar a resistência cultural que o Cristianismo lhe opunha. Entre incontáveis manifestações desse fenômeno sociológico e político contemporâneo, sublinho: os ataques frontais ao cristianismo e à instituição familiar, a vulgarização da sexualidade, o tipo de ensino ideologizado que é levado aos jovens, a manipulação da história, as políticas de gênero e excessos da agenda gay, a supressão dos símbolos religiosos em espaços públicos, aberrações como a promovida para afrontar a Jornada Mundial da Juventude e a levada a efeito por alunas do ICH da UFPel em outubro passado, a vulgarização do uso de drogas, o desrespeito à propriedade privada, as rupturas da ordem e o emprego da violência em atos públicos, a tolerância para com a criminalidade, e, claro, os excessos do feminismo que, de um salto, vai da justa defesa da igualdade para o total desvario das condutas.

Tudo isso serve a um mesmo objetivo - fragilizar os valores cristãos, apagar a sã filosofia, criar um novo Direito para um projeto social e político revolucionário que, sem exceção, fracassou em todas as suas experiências históricas. Não estou vendo fantasmas. Simplesmente estou vendo.

Assim, se a senhora encontra nos seus círculos de relações dissensos em relação às posições que defendo, nada há de surpreendente: essas pautas são, mesmo, controversas. No entanto, como afirmei acima, eu sei que há, entre todas, um traço comum. Há o ataque e há a defesa de valores que muito prezo, para o bem de meus filhos, sobrinhos e netos. Como a senhora bem diz, é perfeitamente possível ser isso e não ser aquilo. A provocação que fiz na parte final do meu artigo, mencionando o impeachment, teve um objetivo para mim importante: eu quis lembrar o conjunto da obra a ser protegida. Muitas vezes, as pessoas não se dão conta de que ao perderem de vista o conjunto servem muito bem a quem tem péssimas intenções sobre o todo, vale dizer, a quem tem intenções totalitárias. E o mal que apontei nesta carta infiltra-se e se serve de todas essas pautas.

Cordialmente

Percival Puggina -
http://www.puggina.org

(1) Bom dia! lamento muito que sua visão de mundo seja ou isso ou aquilo. Informo que tem muitos aquilos e muitos issos. Escrevo sobre sua coluna a respeito da bela, recatada e do lar.... São tantas as mulheres, tantas as trabalhadoras, tantas as provedoras. Qual o interesse da Veja em retratar essa senhora com esses adjetivos? Provavelmente essa senhora tem inúmeras outras qualidades também.... Por que reforçar esses? Você fala na condição de homem. Deixe falar quem sabe do que está falando. Deixe as mulheres falarem. Se feminista ou não, é a nossa opção. Politicamente, temos direito de nos posicionar. Se sim ou não ao impeachment, se sim ou não a considerá-lo golpe. Não empacote as pessoas, nem as mulheres. As pessoas não pensam por blocos. Há muitas nuances. A moça tem o direito de ser como quiser... assim como todas as mulheres.... o problema está em empacotar, rotular, enaltecer algumas qualidades..... qual o interesse.... Se você se ofende com a reação da mulheres, é porque é homem. Só uma mulher sabe o que vive, o que sofre e o que precisa enfrentar diariamente.