Arthur Lira diz não haver acordo para criar a comissão necessária ao
andamento da PEC que pretende restabelecer a idade de 70 anos para
aposentadoria compulsória de ministros do STF. Com isso, ele quer dizer
que ouviu os líderes e não percebeu suficiente apoio à medida. Ouviu?
Não ouviu? Ouviu os que queria ouvir? Difícil saber.
Episódios
assim, se sucedem nas duas casas do Congresso, com os presidentes ora
impondo monocraticamente seu querer, ora “ouvindo os líderes” que, por
sua vez não agem diferentemente em relação às bancadas. Você lembra,
leitor, da visitinha do ministro Roberto Barroso à Câmara dos Deputados?
Instantes depois, alguns líderes substituíram os parlamentares
convictos da importância e necessidade da urna eletrônica com impressora
por outros incumbidos de votar contra. É por essa combinação de meios
que vamos morrer sem saber, por exemplo, quais os congressistas que são
contra o fim do foro privilegiado, quais os que são contra a prisão após
condenação em segunda instância e quais os que consideram todos os
ministros do STF como zelosos e perfeitos cumpridores de suas
obrigações.
De quanto se vê e se sabe, sobram às nossas reflexões duas questões.
A primeira é uma pergunta.
Para que servem 513 deputados se não mais de onze pessoas (por acaso o mesmo número de ministros do STF) tomam todas as decisões realmente importantes?
De fato, por princípio, o plenário só vota o que o presidente quer, e os deputados, ao votar, salvo exceções, seguem os líderes. Estes, por seu turno, não deixam digitais nessas decisões de colegiado.
A segunda é o segredo.
De onde vem o poder dos líderes de bancada? Como obtêm essa submissão de seus comandados que, afinal, são titulares de mandato popular até recentemente merecedor de respeito (por respeito ao eleitor, mas este é outro assunto)? O poder dos líderes provém do pacote de atribuições políticas e burocráticas que lhes corresponde. Entre outras: indicações para integrar e presidir comissões, designação para representações internas e externas, liberação de meios, nomeação de indicados para cargos de confiança, e, principalmente, emendas parlamentares, verbas partidárias e de campanha eleitoral.
Estes
assuntos são de grande importância para uma sociedade que não se sente
representada e a cujo querer e a cujas manifestações Congresso e STF
voltam as costas. Contudo, tais temas passam longe do interesse dos
grandes grupos de comunicação do país.
A nação precisa dos poderes de Estado, mas estes fazem o possível para descartá-la de suas preocupações.
Percival Puggina (76), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto,
empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de
dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o
totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A Tomada do
Brasil. Integrante do grupo Pensar+.