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quinta-feira, 19 de outubro de 2023

Planalto vê desgaste para Lula com pauta de costumes no STF e age para tentar mudar agenda - O Globo

O Palácio do Planalto age para reverter a pauta do Supremo Tribunal Federal (STF) e evitar julgamentos de temas caros à esquerda, como descriminalização do aborto e do porte de maconha, mas que têm criado ruídos com o Congresso
O governo defende que a Corte se concentre em assuntos econômicos, de seu interesse. 
A avaliação entre auxiliares do presidente Luiz Inácio Lula da Silva é que sua gestão sofre desgaste com a análise de questões que geram controvérsia na sociedade, porque nem toda a população faz distinção entre as iniciativas do Executivo e do Judiciário. 
Em paralelo, governistas observam com preocupação o avanço no Senado de propostas que limitam poderes da Corte, mas evitam gestos ostensivos que possam causar ruídos na relação com o presidente da Casa, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). 
Ontem, a oposição anunciou o fim da obstrução da pauta da Câmara em função de um acordo para acelerar a agenda anti-STF no Senado. 
 
Ministros de Lula ouvidos pelo GLOBO identificaram queda de popularidade de Lula nos estados após o STF pautar temas relacionados a costumes. Esses auxiliares citam que uma parcela da população vê influência da gestão petista quando o Supremo trata desta agenda. 
Além disso, na avaliação do Planalto, a Corte tem tensionado a relação com o Congresso e gerado reações dos parlamentares.  
O Senado, por exemplo, aprovou projeto estabelecendo o marco temporal para a demarcação de terras indígenas após o STF considerar a tese inconstitucional. O assunto está na mesa de Lula, que tem até amanhã para decidir se sanciona ou veta o texto.[se optar pelo veto, o Congresso pode derrubar o veto.]

Contra a 'pacificação'
Ao entrar em temas que dividem a sociedade
, o governo entende que o STF não contribui para a pacificação do país, porque vê a base bolsonarista se mobilizar para se contrapor às decisões tomadas pela Corte. 
De acordo com auxiliares próximos, Lula tem manifestado em conversas reservadas preocupação com o posicionamento mais ativo do Supremo, até porque avalia ter sido vítima dessa postura durante a Lava-Jato. 
 
No Planalto, a iniciativa recente do Supremo vista como mais problemática foi a da então presidente da Corte, Rosa Weber, que levou à pauta a ação que pode descriminalizar o aborto até a décima segunda semana de gestação e votou favoravelmente. 
O novo presidente do STF, ministro Luís Roberto Barroso, apresentou um pedido para mover o processo do plenário virtual para o físico e já indicou a congressistas que não deve pautá-lo tão cedo. A entrada da Corte no assunto também provocou atritos com o Legislativo.

A entrada desse assunto na pauta desagrada o governo pela repercussão especialmente em setores da sociedade dos quais Lula tenta se aproximar, como os evangélicos. Historicamente, o tema é usado para atacar a esquerda e foi evitado pelo petista na campanha, quando ele mirava eleitores de centro e centro-direita para vencer Bolsonaro.

Outra questão vista com potencial de degaste é o julgamento da descriminalização do porte de maconha para consumo próprio. Cinco ministros votaram a favor e um contra, mas a análise foi interrompida após pedido de vista de André Mendonça.

Exemplos de temas que o governo gostaria de ver na Corte são a correção do FGTS e o pagamento dos precatórios — despesas decorrentes de sentenças judiciais. Sobre o FGTS, o Supremo já vem demonstrando disposição de discutir com o Planalto. A ação estava prevista para esta semana, mas foi retirada de pauta após uma reunião entre Barroso e os ministros Jorge Messias, Fernando Haddad (Fazenda), Jader Filho (Cidades) e Luiz Marinho (Trabalho). O processo preocupa o governo porque, segundo os cálculos da Fazenda, a União pode ter um custo extra de R$ 17 bilhões por ano caso o fundo passe a ter uma remuneração mais alta.

Em nota divulgada após o encontro, o presidente do STF disse que o adiamento serviria para que o governo apresente novos cálculos “em busca de uma solução que compatibilize os interesses em jogo”.

A respeito dos precatórios, o governo teme que o caso vire uma bomba fiscal em 2027, quando o eleitor não lembrará mais que esse movimento foi feito durante o governo Jair Bolsonaro e debite o prejuízo aos cofres públicos como um descuido do governo Lula.

Em setembro, a AGU enviou ao STF um parecer defendendo que a Corte considere inconstitucionais regras aprovadas no governo Bolsonaro para o novo regime de pagamentos de precatórios. Uma decisão favorável no STF faria com que a União quitasse o estoque de precatórios não pagos e retiraria cerca de R$ 95 bilhões em 2024 do limite estabelecido pelo arcabouço fiscal. Além de Messias, interlocutores apontam que têm bom trânsito no STF o ministro da Justiça, Flávio Dino, e o líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA).

Enquanto age para aparar arestas no Supremo, o Planalto adota cautela em relação à articulação do presidente do Senado para aprovar projetos que limitam poderes de ministros da Corte. 
A avaliação é que o movimento político de Pacheco já está consolidado e que uma tentativa de travá-lo seria inócua, além da possibilidade de deixar sequelas. 
Amanhã, está prevista uma sessão de debates no plenário, ainda sem votação, sobre o projeto que limita decisões individuais de ministros do STF. O texto já foi aprovado na Comissão de Constituição de Justiça (CCJ).

Relator à vista
Um outro projeto, fixando mandatos para os magistrados, também será analisado. O presidente da CCJ, senador Davi Alcolumbre (União-AP), ainda não definiu o relator, mas pediu sugestão de nome para o autor da proposta, o senador Plínio Valério (PSDB-AM), que ainda vai se reunir com Pacheco para decidir quem vai assumir a tarefa.

Ontem, deputados de oposição anunciaram que vão parar de obstruir a pauta da Câmara em função de um acordo firmado com Pacheco prevendo que as pautas anti-STF tenham andamento célere no Senado. A aproximação do presidente da Casa com opositores de Lula é vista também como um gesto para cacifar a candidatura de Alcolumbre para o comando da Casa, em 2025, desidratando potenciais nomes mais à direita. 

Na terça-feira, em plenário, Pacheco recebeu uma série de elogios de nomes como Flávio Bolsonaro (PL-RJ), Jorge Seif (PL-SC) e Marcos Pontes (PL-SP) — os dois últimos ocuparam cargos na gestão Bolsonaro. O grupo parabenizou o presidente da Casa por um discurso em que criticou a atuação do Supremo.

No sábado, Pacheco havia afirmado que “não há a mínima possibilidade de se permitir ao STF que formate as regras e as leis do país, porque isso cabe legitimamente ao Poder Legislativo”. (Colaborou Gabriel Sabóia)

Política - O Globo

 

domingo, 14 de fevereiro de 2021

Oposição se mobiliza para derrubar decretos que facilitam compra de armas

Os atos do chefe do Executivo fazem parte da chamada "pauta de costumes"

[oposição? existe isso no Brasil?. O que temos no Brasil são sobras, restolhos, que não aceitam a derrota de 2018 e tentam fazer oposição - quando conseguem algum êxito,  prejudicam o Brasil.]
 
Parlamentares de oposição ao governo prometem trabalhar para derrubar as mudanças promovidas pelo presidente Jair Bolsonaro para facilitar o acesso a armamentos. O Planalto publicou, em edição extra do Diário Oficial da União (DOU), na sexta-feira, quatro decretos que flexibilizam os limites para aquisição e estoque de armas e munições por pessoas autorizadas por lei. Uma das alterações amplia de quatro para seis o número de armas que podem ser adquiridas por membros das Forças Armadas, das polícias, da magistratura e do Ministério Público. Os atos do chefe do Executivo fazem parte da chamada “pauta de costumes”.

As novas regras autorizam que atiradores adquiram até 60 armas, e caçadores, 30, só sendo exigida permissão do Exército quando a quantidade desejada superar esses limites. Outra mudança trata do limite anual de insumo para recarga de cartuchos que um desportista pode utilizar — 2 mil nos casos de armas de uso restrito e 5 mil para as de uso permitido, quando o armamento for registrado no nome do atirador. “A justificativa para este aumento é que os calibres restritos ainda são muito utilizados pelos atiradores e caçadores nas competições com armas longas raiadas, assim como nas atividades de caça. Um competidor facilmente realiza 500 tiros por mês, somente em treinamentos, de modo que as 1.000 unidades de munição e insumos para recarga, atualmente previstos, não são suficientes nem para participar do Campeonato Brasileiro, que são 10 etapas ao longo do ano”, argumenta o governo, por meio de nota.

[esse amontoado de derrotados, que se autodenomina oposição,  tenta impedir que o Presidente da República Federativa do Brasil, JAIR MESSIAS BOLSONARO, eleito com quase 60.000.000 de votos,  GOVERNE. 
Tudo que o presidente tenta realizar em prol do Brasil e dos brasileiros do BEM, é alvo de críticas e tentativas de boicote -  algumas exitosas, infelizmente
É bom ter presente que no inicio do seu Governo o presidente Bolsonaro sofreu algumas derrotas - que não foram consequência da ação dos opositores, entre eles aquele parlamentar que presidia a Câmara dos Deputados. Tais derrotas ocorreram mais em função da incompetência de assessores jurídicos da PR, que induziram Bolsonaro a assinar decretos que modificavam leis. Agora, felizmente, temos decretos que modificam decretos e/ou regulamentam pontos do tal Estatuto. Tudo rigorosamente dentro das leis.
Não causa surpresa que esses partidecos sem noção, sem programa de governo, sem votos, tenham livre acesso ao STF para contestar atos do presidente da República - a Constituição Federal permite que assim procedam. 
Fora da curva é esses institutos, associações disso e daquilo que só existem no papel ou em entrevistas na mídia (quando os contadores de cadáveres ficam sem afazeres e surge espaço para tais institutos aparecerem) possam ocupar o tempo de um Poder Judiciário sobrecarregado, para questionamentos incabíveis dentro do ordenamento legal vigente.]

A medida também tira de alguns armamentos a classificação de Produtos Controlados pelo Exército (PCEs), dispensando a exigência de registro na Força para comerciantes de armas de pressão (como as de chumbinho); a regulamentação da atividade dos praticantes de tiro recreativo; e a necessidade de solicitação de autorização para importação de armas de fogo e munição pela Receita Federal e pelos CACs — sigla usada para denominar caçadores, atiradores e colecionadores registrados.

O comunicado do governo informa que “o pacote de alterações dos decretos de armas compreende um conjunto de medidas que, em última análise, visam materializar o direito que as pessoas autorizadas por lei têm à aquisição e ao porte de armas de fogo e ao exercício da atividade de colecionador, atirador e caçador, nos espaços e limites permitidos por lei”. Também afirma que “a medida desburocratiza procedimentos, aumenta clareza sobre regulamentação, reduz discricionariedade de autoridades e dá garantia de contraditório e ampla defesa”.

As mudanças, no entanto, encontrarão resistências no Congresso. A deputada Talíria Petrone (PSol-RJ) anunciou que apresentará um projeto para sustá-las. “Bolsonaro editou mais quatro decretos facilitando acesso a armas e munições. Ao menos 500 mil pessoas foram mortas por armas de fogo na última década. Isso significa 70% dos homicídios. O PSol vai apresentar projeto para sustar os decretos”, disse a parlamentar, pelas redes sociais. Do mesmo partido da parlamentar, o deputado Marcelo Freixo (RJ) afirmou que vai recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF). “O presidente não pode legislar sobre armas via decreto”, afirmou.

Já a deputada Perpétua Almeida (PCdoB-AC) destacou que “as milícias comemoram” os decretos do presidente. “As milícias comemoram! Bolsonaro assina + decretos p/ facilitar o acesso a armas e munições: retira o poder de fiscalização do Exército; 1 atirador pode adquirir até 60 armas”, escreveu a parlamentar.

Promessa
A flexibilização do Estatuto do Armamento [Estatuto do Desarmamento] foi uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro em 2018. Em 11 de janeiro deste ano, ele anunciou que ia publicar novos decretos para facilitar o acesso a armas de fogo para os CACs. Foi durante uma conversa com apoiadores, em frente ao Palácio da Alvorada, quando o presidente disse que houve um aumento recorde na venda de armamentos no país, mas frisou que o crescimento precisaria ser mais robusto.“Nós batemos recorde no ano passado em relação a 2019. Mais de 90% na venda de armas. Está pouco ainda, tem de aumentar mais. O cidadão de bem, há muito tempo, foi desarmado”, declarou o chefe do governo. De acordo com a Polícia Federal, 179.771 novas armas foram registradas no Brasil no ano passado, o que equivale a um aumento de 91% na comparação com 2019.

Bolsonaro voltou a manifestar a intenção de publicar esses decretos após a vitória do deputado Arthur Lira (PP-AL), seu aliado, na eleição para a presidência da Câmara. Quando Rodrigo Maia (DEM-RJ) comandava a Casa, as “pautas de costumes” pouco avançaram, já que a prioridade era para temas econômicos. Na manhã de ontem, o chefe do Planalto usou as redes sociais para falar sobre os decretos que publicou, voltando a defender o direito das pessoas de terem armamento. “Em 2005, via referendo, o povo decidiu pelo direito às armas e pela legítima defesa”, justificou.

Entidades repudiam decretos
O Instituto Sou da Paz divulgou nota criticando as medidas que ampliam o acesso a armas de fogo e munições, definidas pelo presidente Jair Bolsonaro. “Com esses decretos, já são mais de 30 atos normativos, publicados nos dois últimos anos, que levaram ao aumento recorde de armas em circulação no ano passado — contrariando todos os cientistas que dizem que mais armas em circulação no Brasil nos levarão a uma tragédia em perda de vidas e deterioração democrática”, diz um trecho.  

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Por sua vez, o Instituto Igarapé destacou, também por nota, que “novos decretos de armas colocam população em grave risco, podem favorecer criminosos e ameaçar a democracia do Brasil”. 

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A organização frisou, ainda, “que não há qualquer justificativa ou conhecimento técnico que embase as perigosas mudanças” e anunciou que vai questionar os atos presidenciais no Supremo Tribunal Federal.

Correio Braziliense - leia MATÉRIA COMPLETA


quinta-feira, 25 de julho de 2019

Aparelhamento ao estilo de Bolsonaro - Editorial - O Globo

Editorial - O Globo

Reduz-se o peso da sociedade em conselhos, para haver um controle mais direto por parte do Planalto

Treze anos de PT em Brasília foram mais do que suficientes para demonstrar como se aparelha a máquina pública com fins políticos e ideológicos. Agora, com o outro extremo ocupando o Planalto, o presidente Jair Bolsonaro expõe seu estilo de aparelhar, com a mesma finalidade — usar o Estado para executar seus projetos —, mas por meio de métodos diferentes.  Um ponto a ser lembrado é que o presidente eleito nas urnas tem legitimidade para ocupar cargos com pessoas que o ajudarão a executar o programa sancionado pelos eleitores. Mas há limites. Para começar, os da Constituição, os mais importantes.

Também outros parâmetros precisam ser levados em conta. Por exemplo, a própria composição dos 57 milhões de votos que deram a vitória a Bolsonaro na disputa no segundo turno com o petista Fernando Haddad, grande cabo eleitoral do ex-capitão. Pois foi pela rejeição ao PT que muitos votaram em Bolsonaro, mesmo sem concordar com a parte radical e preconceituosa de suas propostas. Como a que ele segue ao intervir em conselhos, anunciar o desejo de mudar a Ancine e assim por diante. Há também — ou deveria haver — o limite da sensatez. [mudar a Ancine jamais e sim EXTINGUIR a Ancine, que é  um mero cabide de empregos e produz filmes que não valem nada - são verdadeiros lixos.

Exemplo: a obra prima de Ancine é uma droga = 'lula, o filho do Brasil'.]. Da mesma forma a maioria dos conselhos são meros distribuidores de jetons

Aconselha-se o presidente a não considerar que todos os seus eleitores aprovam sua pauta de costumes e áreas afins. Ele já deveria saber disso, com base na vertiginosa perda de popularidade nas primeiras semanas de Planalto. [quando votamos em um candidato,  esperamos que ele sendo eleito - caso de Bolsonaro - cumpra sua pauta, seu plano de governo. Votar em um governo esperando que ele não cumpra o que prometeu, é mais que burrice é estupidez.] 
O caso da intervenção de Bolsonaro no Conselho de Políticas sobre Drogas (Conad) é exemplar. E mostra uma característica do bolsonarismo no aparelhamento. Enquanto o PT distribuía militantes e apoiadores na máquina pública, o atual governo procura intervir em organismos públicos de forma direta, escalando ministros para cargos-chave.  Deduz-se que o próprio Bolsonaro deseja interferir em certos segmentos da máquina do Estado. [direito que lhe foi  conferido por quase 60.000.000 de votos. Bolsonaro quer apenas cumprir suas promessas de campanha.] Esta intenção transpareceu quando, antes da posse, ao criticar uma prova do Enem, disse que ele mesmo leria as questões do teste.

O Conad, por tratar do sensível tema da droga, merece atenção especial do Planalto. Por decreto, o presidente reduziu o tamanho do conselho e excluiu dele os representantes da chamada sociedade civil.  Nomeou dois ministros, Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e Osmar Terra, da Cidadania, que dividirão a presidência do colegiado, composta por representantes de outros ministérios e secretarias do governo. Bolsonaro no comando. E Terra é conhecido defensor de métodos ultrapassados no tratamento de usuários de drogas. [o tráfico de drogas só existe por haver demanda e esta é consequência do consumo dos usuários.

Resumindo: sem usuários não há demanda e sem esta não existe tráfico.]  Outro caso de intervenção vertical é na Agência Nacional de Cinema (Ancine), que perderia a gestão do Fundo Setorial do Audiovisual. O governo quer estabelecer “filtros” na aprovação de projetos. O PT tinha o mesmo plano, mas recuou. O governo Bolsonaro não parece ter esta flexibilidade.

Editorial - O Globo

 

sábado, 1 de junho de 2019

Bolsonaro defende agenda conservadora e critica o STF

Em Goiás, presidente sugere que pode indicar magistrado evangélico ao Supremo e almoça com caminhoneiros

Em discurso na Convenção Nacional das Assembleias de Deus no Brasil, em Goiânia, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) criticou a atuação do STF ao enquadrar a homofobia como racismo, sem aguardar decisão do Congresso sobre o tema. O presidente sinalizou que pode indicar para a Corte um magistrado evangélico. “Será que não está na hora de termos um ministro do Supremo Tribunal Federal evangélico?”, perguntou, sob aplausos da plateia. 

A crítica à atuação do STF ocorreu três dias depois de articular um “pacto pelo Brasil” com o Judiciário e o Legislativo. Ainda em Goiás, e em mais um encontro com sua base eleitoral, Bolsonaro desceu de helicóptero em posto de gasolina de beira de estrada em Anápolis e almoçou com cerca de 30 caminhoneiros. Ele disse que seu governo não vai lotear cargos e só mudará sua postura “se alguém cassar” o seu mandato.

Três dias depois de articular um “pacto pelo Brasil” em parceria com o Judiciário, [o pacto foi sugerido pelo presidente do STF, ministro Dias Toffoli.]  o presidente Jair Bolsonaro criticou ontem a atuação legislativa do Supremo Tribunal Federal (STF) por enquadrar a homofobia como racismo, antes mesmo de o Congresso decidir sobre o tema. O presidente indicou que pretende escolher para o tribunal um magistrado evangélico, alinhado com sua ideologia e parte expressiva de sua base eleitoral. “Não me venha a imprensa dizer que eu quero misturar a Justiça com a religião. Todos nós temos uma religião ou não temos. Respeitamos e tem que respeitar. Será que não está na hora de termos um ministro do Supremo Tribunal Federal evangélico?”, perguntou o presidente, aplaudido de pé por fiéis que participaram da Convenção Nacional das Assembleias de Deus, em Goiânia.

A sinalização de Bolsonaro de que pode indicar um ministro de perfil conservador para o Supremo ocorre em um momento em que a Corte é cobrada para decidir sobre a chamada “pauta de costumes”, que contraria o seu “eleitorado raiz”. Além do julgamento da homofobia, que deve ser concluído em 13 de junho, tramitam no Supremo processos sobre a descriminalização da maconha e do aborto, o uso de banheiro [o tal banheiro público unissex.] por transexuais e as restrições para a doação de sangue por homens homossexuais. Todos esses assuntos são tema de projetos emperrados no Congresso. [se liberar todos esses absurdos realmente a FAMÍLIA, a MORAL e os BONS COSTUMES estão sendo sepultados; 
será que só os integrantes das minorias possuem direitos no Brasil?]

Relator de uma das ações sobre homofobia, o decano do STF, ministro Celso de Mello, rebateu o presidente ao afirmar que é “absolutamente irrelevante a fé religiosa que um juiz da Suprema Corte possa ter”. “Nesse domínio, há de prevalecer, sempre, um comportamento de absoluta neutralidade dos magistrados em assuntos de ordem confessional”, disse. Um outro ministro, no entanto, afirmou em caráter reservado que a escolha de um evangélico para a Corte pode ser uma boa opção. O magistrado disse, ainda, que muita gente concorda com o pensamento de Bolsonaro sobre a criminalização da homofobia.

Na prática, o comentário do presidente reanimou a bolsa de apostas sobre as indicações que ele fará ao STF. O juiz federal Marcelo Bretas, que atua no braço da Operação Lava Jato no Rio, por exemplo, é evangélico. O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, é católico. Na semana passada, o Supremo formou maioria para que a discriminação contra homossexuais e transexuais seja enquadrada como crime de racismo até o Congresso aprovar uma lei sobre o tema. [é sempre bom lembrar que os ministros do STF podem mudar o voto até o momento da proclamação da decisão - o que ainda não ocorreu.]

Em sua tese de mestrado da USP, a professora de Direito Constitucional Luciana Ramos argumentou que o Supremo já entendeu ter havido omissão legislativa em 122 casos julgados pelo tribunal, de 1988 até 2009. Levantamento do Estado mostra que o tribunal tem aumentado o rigor ao apontar a inércia do Parlamento em temas sensíveis, como greve de trabalhadores e discriminação contra a população LGBT.Em vez de apenas notificar o Congresso para a “adoção das providências necessárias”, o tribunal tem buscado saídas jurídicas para resolver o que os ministros entendem como questões “negligenciadas” pelos parlamentares. “Muitas vezes, o legislador não agia diante de uma ação e o Supremo começou a entender que simplesmente notificar o Legislativo não era suficiente”, disse Thiago Amparo, especialista em Direitos Humanos da FGV-SP. [o STF abusa ao persistir no julgamento da ação em comento; a Suprema Corte foi tempestivamente notificada pelo Senado de que dois projetos tramitam naquela Casa sobre o assunto;
além do que, salvo melhor juízo, o Supremo costuma ser lento no julgamento de determinados assuntos.
Exemplo, um pedido de vista do ministro Fux segurou por três anos uma ação contra o auxílio-moradia.
Ao segurar o andamento de um processo por período tão longo o ministro Fux foi omisso? o STF aceitaria uma ação contra o ministro por aquela 'omissão'?]

Até 2006, o STF se limitava a declarar a omissão legislativa e comunicar o órgão responsável. De lá para cá, no entanto, passou não apenas a notificar, mas também a decidir sobre o tema em questão. Foi o que ocorreu em 2007, quando determinou a aplicação da lei de greve de trabalhadores privados para os servidores públicos. Em 2016, a Corte deu prazo de 12 meses para que os parlamentares editassem normas sobre compensações para Estados, em decorrência da redução de impostos para exportações, a chamada Lei Kandir; e, agora, com a homofobia.

Fé. 
Bolsonaro é católico,[???] mas não costuma ir à missa e frequenta igrejas evangélicas há vários anos. A primeira-dama Michelle e o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidente, são da Igreja Batista. “O presidente tem imagem de militar durão, mas nos cultos é chorão”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), integrante da bancada evangélica.  Em maio de 2016, Bolsonaro foi batizado no Rio Jordão, em Israel, pelo Pastor Everaldo, presidente do PSC. Ao menos quatro dos 22 ministros da equipe de Bolsonaro são evangélicos: Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), André Mendonça (Advocacia-Geral da União) e Marcelo Álvaro Antônio (Turismo).

Em maio, o Estado revelou estudo mostrando que, de cada cem tuítes com a palavra Bolsonaro, quatro traziam citações a Deus, Jesus e Satanás. Para os evangélicos, Bolsonaro é o presidente que vai derrotar o diabo na luta do bem contra o mal.