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quarta-feira, 15 de abril de 2020

Com apoio da ala militar, Bolsonaro vai demitir Mandetta nesta semana - VEJA - Radar




Com o apoio da ala militar, que já reconhece a incompatibilidade de Jair Bolsonaro com Luiz Henrique Mandetta, o martelo foi batido no Palácio do Planalto. O ministro da Saúde será demitido nesta semana. A exoneração deve ser anunciada entre esta quarta e a próxima sexta-feira. Em sigilo, o próprio Mandetta e seu time já esperam pelo fim. Seguem trabalhando formalmente, mas já sentindo o cheiro de queimado.

Há pouco, ao falar da situação instalada no palácio, ele voltou a dizer que não pedirá para sair, será, portanto, saído. O Radar mostrou, nesta terça, que três nomes já estão na mesa de Bolsonaro para substituir Mandetta na Saúde.

Auxiliar pessoal do presidente nessa cruzada contra as medidas adotadas por Mandetta na guerra ao coronavírus, Osmar Terra ganhou adesões importantes nas últimas horas. Ele conquistou o apoio dos filhos de Bolsonaro, como o Zero Um, Flávio, mas ainda enfrenta resistências na ala militar do governo. Terra vem ganhando adesões por causa das críticas ao isolamento social implementado por governadores. O ex-ministro da Cidadania é o principal cotado para o cargo de Mandetta no momento.

Secretário-executivo do Ministério da Saúde, João Gabbardo, é outro que começou a ser lembrado por apoiadores do Planalto depois da entrevista de Mandetta no domingo, como uma saída menos traumática, caso Bolsonaro decida demitir o atual ministro. Seria uma solução “meio termo” na crise. Recentemente, um grupo influente de empresários bolsonaristas levou ao presidente o nome de Claudio Lottenberg para o cargo de ministro da Saúde na vaga que mais dia menos dia será aberta com a saída de Luiz Henrique Mandetta.

Presidente do Conselho do Hospital Albert Einstein e tido como um dos líderes da comunidade judaica em São Paulo, Lottenberg é visto com bons olhos pelo empresariado, mas seus laços com João Doria praticamente inviabilizam a indicação. [seria substituir um inimigo pelo amigo do inimigo - destaque-se que infelizmente  as medidas defendidas pelo governador paulista, tornando preferencial o isolamento obsessivo, não impediram que o índice de letalidade daquele estado seja superior ao nacional.]  A informação de que a exoneração de Mandetta já está no forno foi confirmada há pouco, ao Radar, por interlocutores diretos do presidente. Bolsonaro, no entanto, é sempre imprevisível. A conferir.

Radar - VEJA



terça-feira, 14 de abril de 2020

Uma crise instalada - Nas entrelinhas

”A queda na arrecadação é tratada por Bolsonaro como uma espécie de castigo aos governadores que estão defendendo o isolamento social

[o presidente Bolsonaro tem que ficar atento aos desmandos dos governadores - em sua maioria gastam muito e mal.
Assim, não pode concordar em dar um cheque em branco para os governadores e/ou prefeitos.
Aos governadores - procurando se encontra algumas exceções - interessa gastar e gastar, aos prefeitos idem.
Se for dado um cheque em branco, ideia original do deputado que preside a Câmara, seria criado e honrado o slogan: 'podemos gastar, o Bolsonaro paga'.
O mais adequado é um percentual - 30% é um bom percentual já que para cada R$ 100 gastos, suas excelência sabem que terão que repor 70 e a União 30 - isso conterá a gastança.] 
O choque entre o presidente Jair Bolsonaro e seu ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, é a face mais visível de uma crise de maiores proporções entre a União e os estados, numa recidiva da velha contradição centralização versus descentralização. A epidemia de coronavírus e a recessão mundial dela decorrente exacerbaram o conflito, que se manifesta na discussão sobre aprovação do chamado Plano Mansueto, ou seja, a ajuda a estados e municípios. Bolsonaro está em litígio aberto com os governadores e prefeitos que estão na linha de frente do combate à epidemia de coronavírus e não esconde o incômodo com o alinhamento entre eles e o ministro Mandetta.

Uma decisão de Bolsonaro é emblemática quanto às dificuldades que cria para os governadores na implementação da estratégia de distanciamento social adotada pelo Ministério da Saúde para conter a velocidade da epidemia. No fim de março, as operadoras de telecomunicações ofereceram ao Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) um mapa de calor para mostrar a geolocalização da população. [São Paulo já usa e  fosse o geo referenciamento eficiente o estado não seria líder absoluto no índice de letalidade.] O intuito era identificar aglomerações e situações de risco de contaminação do novo coronavírus. Bolsonaro vetou o uso das informações, que seria mais uma arma no combate à Covid-19, pois o georreferenciamento permite a pronta atuação das autoridades locais para reduzir essas aglomerações.

O ministro Marcos Pontes chegou a gravar um vídeo anunciando a implantação do sistema nesta semana. No sábado, porém, Bolsonaro ligou para Pontes e suspendeu tudo. Alegou que há riscos para a privacidade do cidadão e que a Presidência precisa estudar melhor o tema, apesar de um parecer da Advocacia-Geral da União (AGU) aprovar o uso da ferramenta proposta pelas teles, uma solução semelhante à que foi adotada pela Coreia do Sul, um dos países com menores taxas de mortalidade pela Covid-19. A decisão de Bolsonaro tem endereço certo: o governador tucano João Doria, que está controlando o nível de isolamento social no estado de São Paulo pelo monitoramento dos celulares. Para se ter uma ideia de como isso é útil, a diferença de 50% para 70% da população em regime de distanciamento social, para efeito da propagação da epidemia por pessoa, salta de uma média de dois para quatro novos contaminados, ou seja, um crescimento exponencial.

Nada disso importa. A tese que empolga Bolsonaro é a do ex-ministro da Cidadania Osmar Terra, para quem a epidemia já atingiu o seu pico e entrará em declínio, acabando em maio, o que não bate com os modelos matemáticos da equipe do Ministério da Saúde. Segundo Terra, que é médico, o isolamento social não tem eficácia e apenas aprofunda a recessão, além de retardar a autoimunização da maioria da população. A tese também está sendo endossada pelo líder do governo na Câmara, deputado Victor Hugo (PSL-GO), que vem defendendo abertamente a saída de Mandetta do governo. Ontem, Mandetta não falou com a imprensa. Sua permanência no governo é incerta.

Ajudas
A estrela da entrevista de ontem no Palácio do Planalto foi a ministra dos Direitos Humanos, Damares Alves, que anunciou medidas destinadas a proteger grupos de risco, como indígenas, quilombolas, ciganos, moradores de rua e idosos em asilos. Damares também contrariou a orientação do Ministério da Saúde e defendeu o chamado isolamento vertical, ou seletivo, focado nesses grupos. Na ocasião, anunciou a distribuição de cestas básicas e o confinamento de tribos indígenas, quilombolas e acampamentos ciganos, além de uma rede de proteção aos moradores de rua e outras populações de risco, formada por instituições filantrópicas e religiosas.


Mas o maior conflito é mesmo a negociação do Plano Mansueto. O ministro da Economia, Paulo Guedes, convenceu Bolsonaro a não ceder a governadores e prefeitos, que pedem socorro financeiro em razão da queda da arrecadação. Eles são responsabilizados pela recessão e o desemprego. A queda na arrecadação é tratada por Bolsonaro como uma espécie de castigo aos governadores que estão defendendo o isolamento social.

As negociações entre o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e os líderes partidários com o governo, nos últimos dias, foram muito tensas. Guedes foi duro: “O desenho deste projeto é muito perigoso, é um cheque em branco para governadores e prefeitos fazerem uma gestão descuidada, levando todo ônus para o contribuinte, justamente no momento em que mais precisamos da boa gestão para proteger os mais vulneráveis”, declarou.

Rodrigo Maia, entretanto, articulou mudanças no projeto para garantir a aprovação da nova versão do chamado Plano Mansueto, que foi limitada à instituição de um seguro-garantia de arrecadação para estados e municípios, com impacto estimado de R$ 80 bilhões. “A posição que ouvi majoritária entre os líderes é que nós façamos como se fosse um seguro. Se arrecadação era 100 e caiu pra 70, o governo recompõe 30. Se daqui a quatro meses a arrecadação era 100 e foi 100 (novamente), o governo não precisa dar um real”, afirmou Maia.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo, jornalista - Correio Braziliense


quarta-feira, 8 de abril de 2020

‘Você vai matar o pessoal de fome’, disse Bolsonaro para Mandetta - Veja - Brasil

Na manhã desta quarta-feira, 8, Bolsonaro terá uma reunião com Mandetta no Palácio do Planalto. O cargo do ministro da Saúde está por um fio. Nos últimos dias, o presidente deu o aval para o deputado federal Osmar Terra (MDB-RS), ex-ministro da Cidadania e candidato a assumir o posto de Mandetta, para conduzir a interlocução do Palácio do Planalto com uma equipe de médicos renomados e companhias do setor. O parlamentar chegou a dizer para alguns empresários e governadores que o ministro da Saúde poderia ser demitido a qualquer momento. Bolsonaro também tem tido contato permanente com o diretor-geral da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres, que tem reportado os avanços dos estudos do uso da hidroxicloroquina para o tratamento do coronavírus.

A insatisfação de Bolsonaro com Mandetta é anterior ao coronavírus. O presidente estava decidido a trocar o seu subordinado, porque vinha recebendo diversas acusações. Uma delas dizia que o ministro estava utilizando a estrutura da pasta para impulsionar a sua campanha à prefeitura de Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Além disso, circulavam entre os assessores de Bolsonaro um vídeo com denúncias que sugeriam, sem qualquer prova, um negócio escuso no ministério da Saúde relacionado ao desenvolvimento de um software para a implantação do programa de telemedicina. Essas acusações voltaram a ser compartilhadas entre bolsonaristas nos últimos dias.
No domingo passado, o presidente ameaçou demitir Mandetta. “(De) algumas pessoas do meu governo, algo subiu à cabeça deles. Estão se achando demais. Eram pessoas normais, mas, de repente, viraram estrelas, falam pelos cotovelos, tem provocações. A hora D não chegou ainda, não. Vai chegar a hora deles, porque a minha caneta funciona”, disse Bolsonaro a um grupo de religiosos em frente ao Palácio da Alvorada. “Não tenho medo de usar a caneta nem pavor. E ela ver usada para o bem do Brasil”, afirmou.

Um dia depois desse recado, a queda de Mandetta começou a ser especulada em Brasília – e ganhou força com as movimentações de Osmar Terra para assumir a pasta. Pressionado pelas redes sociais, por empresários e lideranças políticas, a tinta da caneta de Bolsonaro falhou. O presidente decidiu recuar para evitar uma defecção maior de seus apoiadores.

Brasil - VEJA, Matéria Completa




quarta-feira, 25 de março de 2020

Mandetta: ou engole, ou sai - Merval Pereira

Bolsonaro vai ficar isolado

 O presidente Jair Bolsonaro corre o risco de ficar isolado  
completamente. Mesmo após o seu desastrado pronunciamento, todos estão afirmando que continuarão a seguir as orientações da OMS em relação ao confinamento. Hoje pela manhã, o presidente deixou claro que não conversou com o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta antes do pronunciamento e que já decidiu sobre o confinamento vertical. 

[Fato:
Bolsonaro fez um pronunciamento cujos resultados coincidem exatamente com objetivos do Presidente da Repúblico.
É pacífico, que o Presidente Bolsonaro gosta de se manifestar de forma clara e objetivo, tendo plena ciência de que seus inimigos vão criticá-lo -criticar o Bolsonaro é o esporte predileto da Nação, especialmente de muitos políticos e outras figuras que desejam alguns minutos de fama.
Hoje, fiquei algum tempo curtindo noticiário na TV e fiquei sabendo que existe um conselho cuja sigla é CONASS - não identifiquei o que significa, nunca ouvi falar dele nem o tinha visto, antes  de hoje - a nota malhava o presidente;
teve um outro cidadão que vociferou por quase um minuto contra o presidente - teve seu minuto de fama, pena que a reportagem não destacou em que o distinto era especialista.]

Desta maneira, fica muito difícil a permanência do ministro, porque terá que se desmoralizar, mudando a maneira de orientar a população. Ou ele engole, ou sai. E ainda temos o deputado Osmar Terra se oferecendo diariamente para assumir a pasta. Trocar, neste momento, toda a orientação do ministério da Saúde, para fazer o contrário do que vinha sendo feito até agora, será uma tragédia.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


domingo, 17 de novembro de 2019

Michelle Bolsonaro deve ter sala no Planalto e Se a lei permitisse Bolsonaro seria candidato avulso - O Globo

Lauro Jardim

Alan Santos
Depois de perder o antigo Ministério da Cultura, que foi parar no Turismo, o ministro Osmar Terra deve ter outra baixa: Michelle Bolsonaro, que despachava no Ministério da Cidadania, com sala e tudo, deve ganhar em breve um gabinete no Palácio do Planalto.

LEIA MAIS:
Outros voos de Michelle
Lauro Jardim - Blog em O Globo

Bolsonaro não queria fundar outro partido, mas lei não permite o que ele deseja

por Gabriel Mascarenhas

A fundação de uma nova sigla é o caminho possível, não o preferido de Jair Bolsonaro.
Se a lei permitisse, seria candidato avulso.
Bolsonaro gosta de repetir que considera um absurdo ficar na mão de dez donos de partidos, número de legendas que, segundo calcula, vão sobreviver no Brasil.

Gabriel Mascarenhas - Coluna do Lauro Jardim em O Globo

 

sábado, 12 de outubro de 2019

Governo perde recurso, e Justiça mantém edital para produções LGBT - Estadão

Transcrito da Revista Exame

[os que pensam que o Governo 'perdeu', precisam  lembrar que os vencedores tiveram uma Vitória de Pirro.

Decisão judicial não se discute, se cumpre;

Foi determinado pelo Poder Judiciário a publicação do Edital questionado e a revogação da Portaria do ministro da Cidadania.


Assim cumpre-se o determinado pela Justiça, com a revogação da portaria ministerial e publicação do edital combatido e se e se manda o assunto para as calendas - não foi estabelecido prazos para a contratação da veiculação em TVs públicas dos projetos não aprovados pelo ministro da Cidadania.

Eventuais ações judiciais que surjam serão contestadas nas instâncias adequadas e sempre as coisas podem mudar.] 

 Edital voltado para projetos audiovisuais a serem veiculados em TVs Públicas havia sido suspenso por portaria do ministro da Cidadania, Osmar Terra

O Tribunal Regional Federal da 2ª Região (TRF-2) negou nesta sexta-feira, 11, pedido da Advocacia Geral da União (AGU) e manteve o edital público que prevê linhas de financiamento para séries LGBT para a TV. A AGU havia entrado com agravo de instrumento requerendo a cassação de uma liminar expedida pela primeira instância no início desta semana.

Na segunda-feira, a juíza Laura Bastos de Carvalho, da 11ª Vara Federal do Rio, determinou a suspensão de portaria do ministro da Cidadania, Osmar Terra, e mandou restabelecer um edital voltado para projetos audiovisuais a serem veiculados em TVs Públicas.

Leia a decisão na íntegra
A decisão acolheu pedido liminar do Ministério Público Federal (MPF), que acusa o chefe da pasta de barrar a efetivação do edital por “inequívoca discriminação por orientação sexual e identidade de gênero”. A AGU recorreu, e, além de questionar a decisão, alegou ausência de competência da Vara Federal para julgar o caso.
Nesta sexta, o juiz Alfredo Jara Moura, do TRF-2, indeferiu o agravo. Em seu despacho, o magistrado considerou que a 11ª Vara Federal tem “competência absoluta” para “processar e julgar os feitos que envolvam matéria de improbidade administrativa, e os respectivos processos conexos”. Moura também considerou que não foram apresentados nenhum elemento novo que pudesse derrubar a decisão liminar da primeira instância.

Transcrito da Revista EXAME/Abril

 

terça-feira, 10 de setembro de 2019

O fim do Bolsa Família - Nas entrelinhas

“Pautado por medidas disruptivas dos programas sociais e decisões ultraconservadoras, o governo Bolsonaro não tem uma marca, exceto o dedo no gatilho no quesito segurança pública”

O ovo de Colombo do primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi a fusão dos programas de transferência de renda herdados do governo de Fernando Henrique Cardoso, alguns originários do governo Sarney, num único programa: o Bolsa Família. A lógica do programa era a mesma, a focalização do gasto social nos mais pobres, em detrimento das políticas sociais universalistas, estratégia imposta pelo grupo social-liberal da equipe do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan à sua ala desenvolvimentista, porém, a escala foi ampliada.

Do ponto de vista do combate às desigualdades e da redistribuição da renda, o salário mínimo, a indexação das aposentadorias e as aposentadorias rurais tiveram e ainda têm um peso muito maior no combate à pobreza, mas, do ponto de vista da marca de um governo que se pretendia mais popular, o Bolsa Família foi um indiscutível sucesso de marketing político. Em todo o Brasil, mais de 14,1 milhões de famílias são atendidas pelo programa, ou seja, cerca de 56 milhões de pessoas. Vem daí a resiliência dos eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e boa parte da sua capacidade de transferência de votos.

A primeira tentativa do governo Bolsonaro no sentido de capturar esse eleitorado foi manter o Bolsa Família, cujo valor médio hoje é de R$ 186,23, e agradar a seus beneficiados com uma parcela a mais do benefício, a 13ª Bolsa. A mudança, porém, não alterou o DNA do programa, daí a desejo de substituí-lo, a pretexto de incluir no sistema de proteção social oficial milhões de crianças brasileiras em situação de vulnerabilidade que não recebem benefício do governo federal.

A proposta está sendo analisada pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, com base num estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) intitulado “Uma proposta para a unificação dos benefícios sociais de crianças, jovens e adultos pobres e vulneráveis”, divulgado ontem. A ideia é fundir o Bolsa Família, o Salário-Família, o Abono Salarial e a Dedução por Dependente no Imposto de Renda da Pessoa Física, políticas públicas voltadas à proteção da infância e dos vulneráveis à pobreza no país. Os pesquisadores Sergei Soares, Leticia Bartholo e Rafael Guerreiro Osório, autores do estudo, consideram o sistema de proteção social existente uma colcha de retalhos, construída ao longo dos anos, mas com buracos e sobreposições.

Nova marca
Segundo os dados oficiais, 1,6 milhão de crianças recebem Salário-Família e Bolsa Família, outras 400 mil crianças recebem Salário-Família e dedução no Imposto de Renda. Em contrapartida, de um total de 52 milhões de crianças no Brasil, 17 milhões não têm benefício social. O novo ovo de Colombo, porém, é a manutenção do Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. Isso significa mais recursos para os mais pobres? Negativo, a ideia é redistribuir o montante atual, ou seja R$ 52,8 bilhões, mirando principalmente crianças e jovens.

O sistema teria três benefícios: um de R$ 45 reais por criança e jovem com menos de 18 anos de idade, universal e independente da renda
outro, de R$ 90 por criança de até quatro anos, pagos integralmente até a linha de elegibilidade e regressivo à medida que a renda aumentasse; 
e, finalmente, o terceiro, de R$ 44, pagos a todos na condição de extrema pobreza, com ou sem filhos.

Pautado por medidas disruptivas dos programas sociais, decisões ultraconservadoras em relação aos costumes, regressivas quanto ao meio ambiente e até mesmo obscurantistas em matéria de ciência, de educação e de cultura, o governo Bolsonaro não tem uma marca, exceto o dedo no gatilho no quesito segurança pública. Até mesmo a bandeira da ética, que embalou sua campanha e foi incorporada ao governo com a nomeação do ex-juiz Sérgio Moro para o Ministério da Justiça, por causa do caso Queiroz, está sendo esgarçada. Do ponto de vista da política econômica, a reforma da Previdência e a anunciada política de privatizações não são uma bandeira popular. No curto prazo, é difícil reverter o cenário de 11,8 milhões de desempregados, segundo os últimos dados oficiais.

Nada garante que as reformas da Previdência e tributária resolvam esse problema no curto prazo, até porque a inflexão feita na política econômica, depois do fracasso da política nacional-desenvolvimentista do governo Dilma, foi a troca de uma breve política social-liberal no governo Temer pela estratégia ultraliberal. O ministro da Fazenda, Paulo Guedes, fez doutorado na famosa Escola de Chicago e acompanhou de perto a reforma econômica do governo Pinochet, como professor da Faculdade de Economia e Negócios da Universidade do Chile, então sob intervenção, a convite de seu diretor, Jorge Seleme, secretário do Tesouro de Pinochet. Para ele, o mercado resolve.

Nas Entrelinhas - Luiz Carlos Azedo - CB

 

segunda-feira, 19 de agosto de 2019

Governo Bolsonaro edita portaria que suspende verbas a filmes LGBT - Veja

O edital, lançado em 13 de março de 2018, foi atacado por Jair Bolsonaro na semana passada

Osmar Terra publica amanhã portaria que suspende o edital de chamamento para TVs públicas, com recursos do Fundo Setorial do Audiovisual. O edital, lançado em 13 de março de 2018, foi atacado por Jair Bolsonaro por liberar recursos para filmes voltados ao público LGBT.

Pelo texto assinado por Terra, o repasse dos recursos está suspenso por 180 dias prorrogáveis por mais 180 dias. O objetivo é dar tempo ao governo para reformular a composição do Comitê Gestor do fundo, de modo a garantir que o governo tenha controle dos projetos que serão aprovados para receber recursos públicos.  A portaria também determina a “revisão de critérios e diretrizes para a aplicação dos recursos do fundo, bem como sejam avaliados os critérios de apresentação de propostas de projetos, os parâmetros de julgamento e os limites de valor de apoio para cada linha de ação”, diz o texto da portaria.

Veja - Radar

quinta-feira, 25 de julho de 2019

Aparelhamento ao estilo de Bolsonaro - Editorial - O Globo

Editorial - O Globo

Reduz-se o peso da sociedade em conselhos, para haver um controle mais direto por parte do Planalto

Treze anos de PT em Brasília foram mais do que suficientes para demonstrar como se aparelha a máquina pública com fins políticos e ideológicos. Agora, com o outro extremo ocupando o Planalto, o presidente Jair Bolsonaro expõe seu estilo de aparelhar, com a mesma finalidade — usar o Estado para executar seus projetos —, mas por meio de métodos diferentes.  Um ponto a ser lembrado é que o presidente eleito nas urnas tem legitimidade para ocupar cargos com pessoas que o ajudarão a executar o programa sancionado pelos eleitores. Mas há limites. Para começar, os da Constituição, os mais importantes.

Também outros parâmetros precisam ser levados em conta. Por exemplo, a própria composição dos 57 milhões de votos que deram a vitória a Bolsonaro na disputa no segundo turno com o petista Fernando Haddad, grande cabo eleitoral do ex-capitão. Pois foi pela rejeição ao PT que muitos votaram em Bolsonaro, mesmo sem concordar com a parte radical e preconceituosa de suas propostas. Como a que ele segue ao intervir em conselhos, anunciar o desejo de mudar a Ancine e assim por diante. Há também — ou deveria haver — o limite da sensatez. [mudar a Ancine jamais e sim EXTINGUIR a Ancine, que é  um mero cabide de empregos e produz filmes que não valem nada - são verdadeiros lixos.

Exemplo: a obra prima de Ancine é uma droga = 'lula, o filho do Brasil'.]. Da mesma forma a maioria dos conselhos são meros distribuidores de jetons

Aconselha-se o presidente a não considerar que todos os seus eleitores aprovam sua pauta de costumes e áreas afins. Ele já deveria saber disso, com base na vertiginosa perda de popularidade nas primeiras semanas de Planalto. [quando votamos em um candidato,  esperamos que ele sendo eleito - caso de Bolsonaro - cumpra sua pauta, seu plano de governo. Votar em um governo esperando que ele não cumpra o que prometeu, é mais que burrice é estupidez.] 
O caso da intervenção de Bolsonaro no Conselho de Políticas sobre Drogas (Conad) é exemplar. E mostra uma característica do bolsonarismo no aparelhamento. Enquanto o PT distribuía militantes e apoiadores na máquina pública, o atual governo procura intervir em organismos públicos de forma direta, escalando ministros para cargos-chave.  Deduz-se que o próprio Bolsonaro deseja interferir em certos segmentos da máquina do Estado. [direito que lhe foi  conferido por quase 60.000.000 de votos. Bolsonaro quer apenas cumprir suas promessas de campanha.] Esta intenção transpareceu quando, antes da posse, ao criticar uma prova do Enem, disse que ele mesmo leria as questões do teste.

O Conad, por tratar do sensível tema da droga, merece atenção especial do Planalto. Por decreto, o presidente reduziu o tamanho do conselho e excluiu dele os representantes da chamada sociedade civil.  Nomeou dois ministros, Sergio Moro, da Justiça e Segurança Pública, e Osmar Terra, da Cidadania, que dividirão a presidência do colegiado, composta por representantes de outros ministérios e secretarias do governo. Bolsonaro no comando. E Terra é conhecido defensor de métodos ultrapassados no tratamento de usuários de drogas. [o tráfico de drogas só existe por haver demanda e esta é consequência do consumo dos usuários.

Resumindo: sem usuários não há demanda e sem esta não existe tráfico.]  Outro caso de intervenção vertical é na Agência Nacional de Cinema (Ancine), que perderia a gestão do Fundo Setorial do Audiovisual. O governo quer estabelecer “filtros” na aprovação de projetos. O PT tinha o mesmo plano, mas recuou. O governo Bolsonaro não parece ter esta flexibilidade.

Editorial - O Globo