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quinta-feira, 14 de março de 2019

Frieza e ira de advogado: os detalhes do depoimento do pai de Bernardo

Sem esboçar emoção, Leandro Boldrini nega participação na execução do filho


O terceiro dia do júri popular sobre a morte de Bernardo, de 11 anos, executado no dia 4 de abril de 2014 por uma superdosagem do sedativo Midazolam, contou com o depoimento de seu pai, o médico cirurgião Leandro Boldrini. Ele é acusado por ser o mentor do assassinato do filho. Sem esboçar emoção, a maior parte do tempo com olhar fixo, ele falou ao longo de três horas. Não se negou em responder nenhuma pergunta elaborada pelos promotores, mas seu advogado, Ezequiel Vetoretti, pediu ao cliente deixar de falar em determinado momento por considerar que a promotoria estava sendo sádica e objetivava tirá-lo do sério. Mesmo assim, os promotores seguiram com as perguntas – sabendo que não seriam respondidas. Uma delas: “O que é ser pai?”

Encerradas as perguntas, Vettoreti se levantou e leu um parecer do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, segundo o qual juízes não podem autorizar que promotores façam perguntas quando o réu anuncia o desejo em não responder sob o risco de causar nulidade do julgamento. A estratégia do advogado de defesa é bastante clara: se Boldrini for inocentado, acatará a sentença a ser proferida, espera-se, nesta sexta; se pegar cadeia, entrará com pedido para anular todo o júri.

Quando falou, e falou bastante, Boldrini não conseguiu ser claro em pontos fundamentais. Ele afirma ter ido dormir depois do almoço (tilápia, arroz e salada), portanto, não teria visto a mulher, Graciele Ugulini, deixar a residência com Bernardo. Boldrini se enrolou com a precisão do horário neste dia 4 de abril de 2014, sem conseguir precisar ao certo quando chegou à residência para almoçar e quanto tempo levou para fazer a refeição.

Uma imagem de câmera mostra madrasta e garoto dentro de uma caminhonete às 12h23, quando ela dirigia o menino rumo à morte na cidade de Frederico Westphalen. O pai diz ter sido informado pela mulher que, quando retornaram da cidade vizinha, Bernardo teria ido dormir na casa de um amigo chamado Lucas. O menino morreu e foi colocado em uma cova vertical às 15h.

Boldrini e a mulher, na noite de sábado, pouco mais de 24 horas após a execução, foram para uma boate na cidade Três de Maio. Boldrini só foi procurar o filho no fim da tarde de domingo, quando foi até o comércio do pai de Lucas saber se a criança estava lá. Depois de contatar amigos e pais de amigos do filho, e de fazer um Boletim de Ocorrência, o pai desligou o celular às 23h58 e o ligou de volta no dia seguinte, às 7h. Acordou e foi fazer uma cirurgia no hospital.
Alguns trechos do depoimento de Leandro Boldrini:

Rumo à morte
“Ela (Graciele) me disse que o Bernardo tinha ido pousar na casa do Lucas, quando voltei do hospital por volta das 20h30, e que teria o levado para Frederico (Westphalen) durante a tarde, onde foi comprar uma TV e um aquário para o Bernardo. Não vi meu filho saindo de casa com ela.”

O “sumiço do filho”
“No fim da tarde de domingo, eu fui ao hospital ver os pacientes recém-operados. Como o restaurante do pai do Lucas fica ao lado do hospital, passei para pegar o meu filho. Ele não estava lá. Fui até a casa dele (Lucas), onde me contaram que o Bernardo não tinha ido lá desde sexta. Comecei a maratona de ligações e procura. Liguei para outros colegas, pais… fui passando em toda a minha agenda. Fui então até a praça da cidade, onde havia uma festa. A Graciele só dizia: ‘vamos continuar ligando’, ela estava normal como a água é cristalina.”

Estorvo familiar
“O Bernardo estava começando a ficar mais autônomo, definia o que queria fazer, onde queria ir. Ele não era um estorvo, caso contrário eu poderia ter mandado ele (ir morar) para a Tia Juçara, para as avós, um internato…”

“Quero rezar no túmulo do meu filho”
“Eu não mandei matar o meu filho. Podem me decapitar, jurados, mas estarão cometendo um erro. Quem matou foi a Graciele com a Edelvânia. Se eu fui um pai ausente? Fui. Mas só mata quem tem patologia, eu não tenho. Quando sair e tirar as algemas, quero ir direto ao túmulo do meu filho em Santa Rosa, para rezar. Quero retomar a minha vida aqui em Três Passos. Hoje, com certeza, faria as coisas diferentes, trabalharia menos e passaria mais tempo com a família.”

Infância
“Meu pai teve três filhos, eu fui o único a fazer faculdade. Ele era rude, simples. Eu nunca recebi um beijo, ele nunca me pegou no colo.”


Revista Veja



domingo, 23 de dezembro de 2018

'Querem saber é se foi o Lula que pagou a defesa', diz advogado de Adélio


Primeira etapa da defesa do agressor de Bolsonaro, custou R$ 300 mil - já recebidos integralmente pelos advogados 

PF cumpre mandado em escritório de advogado do agressor de Bolsonaro

Operação quer saber quem paga a defesa de Adelio Bispo; advogados dizem que mandado afronta sigilo profissional da defesa

Para quem acabara de ser alvo de uma ruidosa operação da Polícia Federal, o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior estava descontraído no final da tarde desta sexta-feira, 21, quando falou ao telefone com a reportagem. "Estou surfando em águas havaianas", disse ele, entre gargalhadas, sobre a possibilidade de a PF descobrir alguma irregularidade no patrocínio da defesa de Adelio Bispo de Oliveira, o homem que tentou matar o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL). "O que eles querem saber é se foi o Lula que pagou a defesa, se foi o PSOL, o Jean Willys", completou Zanone. Adelio foi já filiado ao PSOL.

O criminalista classificou como "normal" a busca e apreensão feita no seu escritório, em Belo Horizonte, mas considerou a apreensão de seu telefone celular um precedente perigoso. "Ali tem a intimidade de mais de mil pessoas que escolheram o meu escritório, inclusive policiais, promotores. A partir de agora qualquer juiz vai tomar telefone de advogado no momento que quiser, até dentro do fórum. Isso é um risco para o direito de defesa de qualquer pessoa", afirmou.

Zanone negou com veemência a hipótese de ter assumido a causa de graça, em troca da enorme exposição que o caso pode lhe trazer, e reafirmou aquilo que já havia dito em depoimento: recebeu de R$ 25 mil no primeiro momento de um patrocinador anônimo que desapareceu ao receber o valor total da defesa (R$ 300 mil) e que veículos de comunicação bancaram viagens da defesa a Campo Grande (MS), onde Adelio está preso em regime de segurança máxima.
"Estou totalmente tranquilo. Podem procurar que não vão achar uma agulha aqui. Eu me cuido. Mas fico pesaroso porque está abrindo um precedente", disse o advogado. [a OAB protestou contra a ação da PF no cumprimento de mandados de busca e apreensão no escritório do advogado do criminoso Adelio - esquece a OAB que o excesso de proteção ao sigilo relacionamento advogado x cliente tem permitido que muitos defensores (há exceções, que são mais numerosas do que o uso do sigilo para fins criminosos) , usem aquela proteção para facilitar a prática de crimes por bandidos que são seus clientes, servindo inclusive como 'moleque de recados'.

Também,  aquela proteção não impede que os pagamentos efetuados àquele advogado, ou ao seu escritório, sejam rastreados pelo Coaf, inclusive com quebra de sigilo, se necessário.]

Leia também o enigma

Ele creditou a ação da PF e o aumento das cobranças por um esclarecimento do caso nas redes sociais à proximidade da posse de Bolsonaro. "Isso é por causa da posse. Inclusive se o Bolsomito quiser contratar o meu escritório é só me procurar. Não tenho absolutamente nada contra ele", afirmou.

Adelio diz que foi ele quem elegeu Bolsonaro, diz advogado
Zanone disse que não conversa com seu cliente já há algum tempo, mas que Adelio tem se mostrado tranquilo. "Estão alimentando e tratando bem dele", afirmou o advogado. Ele defende que o autor da facada sofre de problemas mentais. No meio da semana foi anexado ao processo que corre sob sigilo o laudo do exame psiquiátrico de Adelio. Em janeiro ele será submetido a exames psicológicos. "Adelio diz que só se arrepende de não ter logrado êxito (na tentativa de assassinato). É por isso que estou alegando insanidade. Adelio diz que foi ele quem elegeu Bolsonaro. Foi a primeira coisa que me perguntou quando estive lá. Ele acabou com a rejeição ao Bolsonaro. O povo brasileiro adora uma vítima", disse Zanone.
A Polícia Federal dirá quem está por trás do agressor?

Segundo ele, a PF não vai descobrir quem pagou a primeira fase da defesa "a não ser que a pessoa queira" e aproveitou para passar uma orientação. "Escreva aí que se a pessoa quiser manter a cláusula de confidencialidade que não me procure e nem a nenhum dos advogados do meu escritório pois estamos todos grampeados", alertou. "Essa conversa nossa, agora, está sendo espelhada".

Zanone notificou a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) a tomar providências sobre possíveis abusos cometidos na operação da PF, mas acredita que a única forma de evitar que casos como este voltem a ocorrer é o Congresso criminalizar a quebra de prerrogativas da advocacia. [o que se espera é que o mais breve possível ocorra significativa redução no atual, abusivo mesmo, excesso de prerrogativas da advocacia;

essencial é que se torne regra geral a impossibilidade de qualquer contato físico entre advogado e cliente (óbvio que cliente encarcerado) e qualquer conversa só por telefone do parlatório e com gravação da conversa  - é DEVER do advogado não utilizar nenhum recurso ilegal na defesa do seu cliente. Assim sendo, para que sigilo nas conversas advogado x cliente.
Estratégia de defesa não autoriza a prática de qualquer ação criminosa.]

Nesta sexta-feira, o conselho federal da OAB emitiu uma nota condenando a ação da PF no escritório de Zanone. "Se confirmadas as informações divulgadas pela imprensa como justificativa do cumprimento da ordem judicial, estaremos diante de um atentado à lei e ao Estado Democrático de Direito. Não se pode pretender combater o crime cometendo outro crime", diz a nota que considera a ação da PF nula do ponto de vista jurídico. [não se pode, tem que ser repudiado é que para defender um criminoso se cometa outro crime;
que a ação da polícia seja dificultada por direitos dos criminosos.]

O Povo 

quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Lewandowski quer aumento de 16% no salário de ministros do STF

Ministro do STF defende inclusão de reajuste salarial na proposta orçamentária que o tribunal deve encaminhar ao Congresso até o fim do mês. Com isso, parlamentares poderiam aprovar projeto de lei sobre o tema

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski defendeu ontem a inclusão do reajuste do teto salarial do Judiciário no projeto de orçamento que a Corte enviará, até o fim do mês, ao Congresso Nacional. Sem essa previsão, os parlamentares ficam impedidos de votar o aumento de 16,38%, previsto em um projeto de lei pendente no Senado, ou qualquer outra revisão nos salários da categoria. O tema, que ainda divide os ministros, deve ser retomado em reunião administrativa hoje, às 18h, assim que acabar a sessão ordinária de julgamentos.


O objetivo dos favoráveis ao reajuste, como Lewandowski, é convencer a presidente do STF, Cármen Lúcia, e os demais ministros a colocar a previsão no projeto de orçamento, o que teria impacto de aproximadamente R$ 3 bilhões nos cofres públicos. Eles temem que aconteça o mesmo que no ano passado, quando a Corte decidiu, por oito votos a três, não introduzir o dispositivo no texto. Essa decisão impossibilitou a aprovação do projeto de lei que revisaria o salário dos ministros dos atuais R$ 33,7 mil para R$ 39,3 mil, já que o Congresso não pode deliberar sobre esse tipo de matéria sem previsão no orçamento. “A boa técnica orçamentária manda que você inclua a previsão orçamentária daqueles projetos que estão em tramitação no Congresso Nacional”, disse Lewandowski. 


O ministro argumentou que não se trata de um aumento, mas de um reajuste. “Estamos defasados mais de 40% (em relação às perdas com a inflação)”, disse. Na mesma linha, o presidente da Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR), José Robalinho, afirmou que a medida exigirá um “remanejamento” nas despesas de cada órgão afetado, mas não resultará em gastos a mais. “Eu me atrevo a dizer que o Supremo não compreendeu bem o nosso pedido no ano passado. O aumento de gastos é zero. Somos a única carreira que não tem reajuste desde 2015”, lembrou.

O fato de o STF incluir a possibilidade no texto não significa que os valores serão revisados. A decisão fica nas mãos dos parlamentares. “Se o Congresso vai conceder ou não, se o presidente veta ou não, isso é outro problema. Nós estamos só no plano da técnica orçamentária”, afirmou Lewandowski. Na visão de Robalinho, os senadores aguardam apenas “uma sinalização do STF”, que seria a inclusão no projeto de orçamento, para avançar no tema.

Efeito cascata

O reajuste será recebido por diversas carreiras que têm as remunerações vinculadas ao teto do funcionalismo, que corresponde ao salário dos ministros do STF, como juízes federais, estaduais, parlamentares, procuradores, promotores, entre outros.

O chamado “efeito cascata” é a base de uma das principais críticas de quem é contrário ao reajuste. “É um pedido totalmente inoportuno. Para reajustar, o governo teria que cortar em outras áreas, o que é complicado, porque os investimentos já estão no nível mínimo, assim como as despesas discricionárias (não obrigatórias)”, observou o especialista em contas públicas Gil Castello Branco, secretário-geral da ONG Contas Abertas.

Correio Braziliense 

quarta-feira, 25 de abril de 2018

O inimigo à solta

Os donos do Brasil estatal desafiam a democracia

Daqui a cinco meses o Brasil vai ter eleições para escolher o novo presidente da República. O número de candidatos é quase tão grande quanto o de eleitores – fora um ou outro especialista muito atento, ninguém sabe dizer os nomes de todos, e menos ainda qual poderia ser a utilidade que qualquer deles [com no máximo duas exceções]  teria para o país. O que se sabe, com certeza, é que nenhum está minimamente disposto a fazer o que seria a sua obrigação mais elementar – combater com clareza e sinceridade o mais infame inimigo que o povo brasileiro tem hoje em dia. Esse inimigo, um fato provado e sabido há muito tempo, é o estatismo. Não é a corrupção. 

Não é a extrema direita nem a extrema esquerda, nem qualquer outra força que está no meio do caminho entre as duas. Não é a incompetência terminal da administração pública, nem a burocracia que exige o CPF de Brahms para dar andamento a um processo envolvendo questões obscuras de direitos autorais na área da música clássica. Não é nem mesmo o crime sem controle ou os criminosos sem punição – ou a figura individual de Lula e de seus parceiros no Complexo PT-PSOL-etc. O inimigo mais nefasto do Brasil e dos brasileiros, cada vez mais, é o poder do “Estado”. É isso que oprime a população, explora o seu trabalho, talento e energia, mantém o país no subdesenvolvimento e torna a nossa democracia um número de circo de terceira categoria.

O estatismo, para simplificar a discussão, é a soma das regras que submetem o povo brasileiro ao alto funcionalismo público, às empresas do Estado e ao oceano de interesses materiais de tudo aquilo que se chama “corporações”. É essa multidão de procuradores, promotores, ouvidores, desembargadores, auditores, coletores, juízes, ministros – com todos os seus privilégios, os seus “auxílios-moradia”, os seus custos, o seu direito de viver fora do alcance das leis penais. [a propósito, conseguiram implodir o combate, e também as critícas, ao auxílio-moradia;

foi encaminhado para uma tal de 'câmara', que pode ser adaptada para punir criminosos de tão eficiente que é em sepultar o que não agrada às corporações.] São os sindicatos. São as federações e as confederações. São as “ordens” de advogados e demais ofícios que criam direitos para seus “inscritos”. São as centenas de repartições públicas que não produzem um único parafuso, mas têm o poder de proibir que os cidadãos produzam. São esses círculos do inferno que dão ou negam licenças, certidões, alvarás, atestados, registros, “habite-ses” e autorizações para praticamente todas as atividades conhecidas do ser humano. O Brasil só existe para servir essa gente – os cidadãos pagam em impostos entre 40% e metade do que ganhem, e o grosso do dinheiro arrecadado vai para o bolso destes senhores de engenho do século XXI, na forma de salários, benefícios, aposentadorias e o mais que conseguem arrancar do Erário.

Esse conjunto de inimigos do Brasil não vacila em desrespeitar as regras mais básicas da democracia para proteger os seus interesses
. Não poderiam provar isso de forma mais clara do que as dezenas de juízes que têm tomado decisões a favor dos sindicatos e contra os trabalhadores na questão do imposto sindical. Esse imposto, considerado pela esquerda e pelas corporações como um “direito” – um caso único no mundo de tratar uma obrigação como benefício – foi, como se sabe, suprimido pelo Congresso Nacional na recente reforma trabalhista. Os sindicatos, depois disso, têm entrado na justiça pedindo que a lei, aprovada na Câmara e Senado, não seja cumprida – e que todos os trabalhadores brasileiros, sindicalizados ou não, continuem a pagar um dia de salário por ano para o cofre dos sindicatos. Juízes de vários lugares do Brasil acham que os sindicatos estão certos, e mandam as empresas desobedecerem a lei – e continuarem a descontar em folha o imposto sindical dos seus empregados. É um ato de promoção direta da desordem. Tira dinheiro de milhões para doá-lo aos donos dos sindicatos, espalha a incerteza sobre o que é ou não é legal, e desrespeita uma lei aprovada de forma absolutamente legítima pelo Congresso. Quem representa os cidadãos, bem ou mal, é o Congresso – esse aí mesmo, que é o único disponível. Não são os juízes. O fato de terem sido aprovados em concurso público não lhes dá o direito de aplicarem as leis que aprovam e anularem as que desaprovam. Mas é exatamente esse disparate que estão tentando colocar em pé.

Os juízes que agem dessa maneira atendem unicamente ao interesse das corporações. No caso, agem como parceiros dos sindicatos — e, tanto quanto isso, em defesa da “justiça do trabalho”, a máquina de empregos e privilégios que consideram ameaçada pela reforma trabalhista. Desde que a reforma entrou em vigor, no final do ano passado, o número de ações trabalhistas caiu em 50% um imenso avanço para o progresso do Brasil, mas um horror para os “juízes”, “procuradores”, “vogais”, advogados e toda a imensa árvore de interesses diretamente enraizada nessa situação de absurdo que começa a tornar-se mais racional. Se as causas caíram pela metade, fica demonstrado que a outra metade era desnecessária e a ideia de que um mandarim do serviço público possa, em consequência disso, tornar-se ainda mais inútil do que já é, parece simplesmente inaceitável para o mundo estatal. E quem defende a população nesta briga, em pleno ano de eleição presidencial? Até agora, ninguém.


J R Guzzo - Veja
 

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Traficantes passam a atuar na linha de frente de milícias



Promotores pedem força-tarefa para combater grupos atuantes na Zona Oeste

“Se algo não for feito, o Estado do Rio terá, dentro de dez anos, a mais perigosa organização criminosa do país”. O alerta é do promotor Luiz Antônio Ayres, da 2ª Vara Criminal de Santa Cruz, que se refere a um problema que cada vez mais preocupa autoridades do Judiciário e da segurança pública: a crescente associação entre traficantes e milicianos em comunidades e conjuntos habitacionais da Zona Oeste da cidade. Essa mistura explosiva já começa a chegar a outros municípios, e está impondo aos moradores o pior dos dois lados. — Os moradores são obrigados a conviver com um esquema que protege a venda de drogas e precisam pagar mais caro por serviços e produtos. Há uma falsa paz, porque os tiroteios entre milicianos e traficantes cessaram. Em alguns lugares, ficou difícil diferenciar o poder paralelo do estado democrático de direito. Afinal, o agente da lei faz parte do que vem acontecendo — afirma Ayres, que, desde 1996, acompanha investigações e processos sobre quadrilhas de paramilitares.

Quartel-general das milícias
Apenas Antares não pertence aos milicianos.Traficantes vendem drogas nas favelas do Rola e do Aço, mas os territórios são da milícia, que recebe parte do lucro do tráfico. Ao longo da Avenida Cesário de Melo há conjuntos do programa Minha Casa, Minha Vida. Praticamente todos estão nas mãos da milícia. Na Santa Margarida, traficantes e milicianos são sócios

A prática é recrutar mão de obra de traficantes e assaltantes para explorar os serviços sob as ordens de milicianos. É assim nas favelas Bateau Mouche e Chacrinha, na Praça Seca
Em 2005, o GLOBO mostrou como agiam as milícias do Rio, grupos formados por policiais, bombeiros e agentes penitenciários que cobravam por segurança, sinais clandestinos de TV a cabo e fornecimento de gás em regiões pobres e carentes desses serviços. De lá para cá, essas práticas ilícitas continuam, mas algo está mudando entre seus autores. Atualmente, durante operações em que quadrilhas de milicianos são desbaratadas, investigadores têm prendido pessoas com anotações criminais por tráfico e roubo entre seus integrantes.

Traficante que se une à milícia é o “pulá’’
Um levantamento feito pela Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança aponta que, dos 143 milicianos presos em 2010, 42 eram policiais militares da ativa. No ano passado, 155 foram para a cadeia, mas apenas dez eram PMs. O delegado Alexandre Herdy, titular da Delegacia de Repressão às Ações do Crime Organizado (Draco), argumenta que isso está acontecendo porque, agora, são traficantes que estão na linha de frente da exploração de alguns serviços, como a venda de botijões de gás, sob o comando dos milicianos. Em contrapartida, as milícias passaram a atuar em áreas que eram controladas apenas pelo tráfico.

— O traficante que se uniu a um miliciano passou a ser conhecido como “pulá”, por “pular” para o outro lado. Hoje, há muitos “pulás”, a ponto de alguns deles comandarem parte das quadrilhas também integradas por agentes de segurança da ativa e ex-policiais. Consequentemente, as milícias se tornaram mais violentas, estão partindo para o enfrentamento. Em 2010, muitos policiais que integravam milícias foram presos, e eles perceberam que, enfrentando dois inimigos, o estado e o tráfico, perdiam mais do que ganhavam. Daí surgiram alianças com traficantes e assaltantes de duas facções — afirmou o delegado.

A associação entre traficantes e milicianos ganhou forma em Santa Cruz, e, de acordo com investigadores, ultrapassou os limites do município do Rio, chegando à Baixada e a municípios da Costa Verde que, nos últimos anos, registraram altos índices de criminalidade
 — Angra dos Reis, por exemplo, teve 87 homicídios dolosos no ano passado, de acordo com o Instituto de Segurança Pública. A escalada da violência na região estaria relacionada justamente à chegada de novas quadrilhas, dispostas a ganhar territórios que, por décadas, foram dominados por barões das drogas.  — O centro de comando das milícias é Santa Cruz, onde só a Favela de Antares continua sob controle exclusivo do tráfico. Os milicianos mudaram a forma de agir. Antes, os policiais que estavam à frente desses grupos organizados cuidavam de tudo. Agora, têm uma relação de confiança com traficantes — afirma o promotor Luiz Antônio Ayres.

O promotor diz que o estado deveria formar urgentemente uma força-tarefa para combater a crescente associação entre traficantes e milicianos: — Não imaginávamos essa união em 2005, quando as milícias surgiram. Agora, até me arrisco a dizer que, num futuro próximo, não será impossível vermos uma aliança entre elas e o Comando Vermelho, a única facção que ainda resiste à ideia. Isso seria terrível para o Rio. As forças de segurança têm que agir já, uma única delegacia (a Draco) não resolverá a situação.

EXPLORAÇÃO TERRITORIAL E LUCRO FÁCIL
Carmen Eliza Bastos, promotora do 3º Tribunal do Júri, também defende a formação de um grupo especial, com delegados da Polícia Civil, promotores e juízes, para atacar a nova forma de milícia. — As quadrilhas mudaram de perfil, mas o cenário continua o mesmo, é formado por exploração territorial e lucro fácil. Uma força-tarefa, sem nomes expostos, é necessária — diz a promotora, acrescentando que assassinatos estão sendo cometidos pelos grupos com requintes de crueldade.

Na opinião do cientista social Marcelo Burgos, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), “o quadro é grave e alarmante”:  — A união entre as duas forças criminosas fez as milícias passarem a controlar serviços em áreas do tráfico. Moradores de várias localidades estão vivendo uma situação de total submissão ao crime. E, para piorar, temos de lembrar que o pulo do gato dos paramilitares foi passar a integrar o sistema político.

O Globo