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quinta-feira, 17 de agosto de 2017

Um em cada três PMs mortos no país é do Estado do Rio

Estado do Rio registra quase 40% de todas as mortes de PMs no Brasil

Com 97 óbitos este ano,  índice é quatro vezes maior que o de São Paulo e supera todos os estados do Nordeste somados

Enterro do PM Fabiano de Brito e Silva, no cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Agente foi um dos 97 policiais mortos no Rio em 2017 - Fernando Lemos / Agência O Globo
 
Passavam poucas horas do réveillon quando o corpo do policial militar André William Barbosa de Oliveira, de 32 anos, foi encontrado no porta-malas de seu carro, em Guadalupe. Um dia depois, três colegas de farda de André foram assassinados, e mais três seriam mortos antes do fim da primeira semana de 2017. Era o prenúncio de um ano que deixaria a corporação perplexa. Com 92 baixas de janeiro a julho, a Polícia Militar do Rio registrava mais de um terço dos policiais mortos em todo o Brasil. Mais precisamente, segundo um levantamento do GLOBO junto às secretarias estaduais de Segurança, eram 38,8% dos 240 PMs assassinados no país nesse período. Histórias de vida interrompidas que puseram o estado no topo de um ranking sombrio, cujo segundo colocado, São Paulo, teve quatro vezes menos perdas, com 22 mortes. Enquanto a lista fluminense não para de contabilizar nomes, com mais cinco vítimas só nesta primeira metade de agosto, totalizando 97 casos, sendo 21 deles em serviço.


Comandante defende mudança nas leis 
A crescente violência contra os agentes de segurança este ano produziu um cortejo de policiais em cemitérios, onde amigos e familiares de PMs choraram inconformados as sucessivas despedidas. Numa comparação com o restante país, outros números comprovam a gravidade da situação. Em São Paulo, a quantidade de mortes foi bem menor apesar de o efetivo paulista ser quase o dobro do fluminense: 85.247 PMs na ativa, na reserva ou reformados, contra os 45.463 do Rio. Ou mais. Aqui, foram mais policiais mortos do que em todos os 13 estados do Nordeste e Centro-Oeste juntos, que totalizaram 83 baixas.

Isso num universo no qual, dos 10 estados em que mais se matam agentes de segurança pública, cinco ficam no Nordeste: Ceará (16 mortes, em terceiro lugar), Bahia (15, em quarto), Rio Grande do Norte (14, em sexto), Pernambuco (10, em sétimo) e Piauí (seis, em décimo). Em relação à Região Sul, Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina tiveram o mesmo número de mortos de janeiro a julho (11) que o Rio registrou apenas nos 15 primeiros dias de 2017.

Estados com altas taxas de homicídios entre a população em geral, como o Sergipe, tiveram um único caso de PM assassinado em sete meses. E tanto o Amapá quanto o Acre, na Região Norte, responderam não ter ocorrência alguma esta ano. Apenas o Amazonas, também no Norte, não informou os dados sobre os assassinatos em sua tropa.
O Rio, há muito tempo, se esconde atrás de um discurso de que a violência é um problema do Brasil. Não é. É do estado, e o governo precisa enfrentar suas questões, em vez de reduzi-las e dizer que ele estão num contexto maior. As pessoas não estão ouvindo tiros todos os dias em São Paulo, em Belo Horizonte ou em Brasília — afirma a professora de segurança pública na Universidade Católica de Brasília (UCB), Marcelle Gomes Figueira. Não é de hoje que essa realidade assombra o Rio. No ano passado, o índice de letalidade também foi alto: 146 PMs mortos, uma média de 12 vítimas por mês. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, realizado pelo Fórum Brasileiro de Segurança, a PM fluminense já era a corporação que tinha, em números absolutos, mais mortes nos anos de 2013, 2014 e 2015. Mas a proporção em relação ao restante do país, agora em 2017, supera a dos anos anteriores. Dois anos atrás, por exemplo, houve 87 PMs mortos no Rio — 29,39% dos 296 de todo o país.
Na onda de violência atual, o caso mais recente aconteceu na madrugada de sábado, dia 12: a policial Elisângela Bessa Cordeiro, de 42 anos, foi assassinada com um tiro na cabeça durante um assalto, em Coelho Neto. O marido, que estava ao lado dela no carro, testemunhou o crime. Os dois voltavam de Nilópolis, onde trabalhavam em uma barraquinha de batatas fritas com a família, quando foram abordados por ladrões, na Avenida Pastor Martin Luther King. Os criminosos atiraram ao descobrirem que a vítima era uma policial.
Poucas horas antes, outro colega de profissão de Elisângela havia sido executado. O soldado Samir da Silva Oliveira, de 37, foi morto em serviço. Ele suspeitou de um veículo e fez a abordagem, na Avenida Vinte e Quatro de Maio, no Méier. Dentro do carro, havia quatro bandidos armados, um deles com fuzil. Ao ser parado, o grupo abriu fogo contra o militar, que chegou a ser levado para o hospital, mas não resistiu. Samir deixou a mulher e uma filha de sete anos. Os ladrões foram presos.
Diferente de Samir, no entanto, a maioria dos policiais mortos no Rio não estava em serviço. Dos 97 até agora, 56 estavam de folga e 20 eram reformados. Para a especialista da UCB, esse fato pode ser atribuído à precariedade dos trabalhos realizados fora da corporação, os "bicos":
Estatísticas de policiais militares mortos em 2017
Número do Rio equivale a quase 40% do total do país até julho
92
148
Policiais mortos no Rio de Janeiro. Este número representa...
Policiais mortos nos demais estados brasileiros. As mortes no RJ correspondem a...
total
240
38,3%
62,2%
do total no país
do total de mortes de policiais em todos os demais estados somadas
Todos os estados com mais de 10 milhões de habitantes somam 53 mortes de PMs em 2017. O Rio, sozinho, tem um índice de letalidade 73,6% maior
RR
AP
AM
PA
MA
SP+MG+BA+RS+PR
RJ
CE
RN
PI
PB
AC
PE
RO
TO
AL
MT
SE
BA
DF
GO
MG
MS
53
ES
SP
RJ
PR
O número do RJ é 95% da soma dos dez estados mais populosos do país
SC
RS
92
São Paulo, o estado mais populoso do país, teve 24% do total de PMs mortos do Rio
PMs mortos
PMs mortos
22
92
SP
RJ
44,8 milhões
de habitantes
16,9 milhões
de habitantes
— É mais uma das consequências da ausência de política pública no estado, onde a saúde ocupacional do PM não é objeto de atenção e de interesse. Esse policial trabalha sob forte estresse e dentro de uma lógica de confronto. E, muitas vezes, para complementar o baixo salário, fazem bicos. São serviços que não contam com a estrutura de proteção que ele tem na corporação, onde está sendo monitorado por uma central, pode solicitar reforço e age junto com um companheiro.
Professor do departamento de Segurança Pública da UFF, o antropólogo Lenin Pires faz coro à opinião de Marcelle, e acrescenta outras duas possíveis causas de as mortes ocorrerem, majoritariamente, em dias de folga:
— Há ameaça quando eles estão se deslocando para o chamado segundo emprego e são identificados como policiais por bandidos. Existe essa retórica de guerra, uma lógica de extermínio entre os agentes e os 'fora da lei' — opina Pires, que cita uma segunda hipótese. — O regulamento da corporação diz que o policial, mesmo não estando em serviço, tem a obrigação de agir diante de uma ocorrência, sob pena de sofrer sanção. E se ele tem que tomar uma atitude, consequentemente, do outro lado haverá uma contra-resposta. E como o agente está em desvantagem, sozinho e sem equipamentos adequados, isso acaba aumentando o seu risco.
Segundo Pires, nos Estados Unidos e na Inglaterra, por exemplo, os agentes podem optar por não agir, caso julguem a intervenção arriscada. Quando isso ocorre, ele precisa, apenas, justificar sua atitude na corporação, sem sofrer nenhuma pena por isso. Na Argentina, onde o sociólogo realiza trabalhos de campo, o policial de folga, assim como no Brasil, tem que dar uma resposta imediata. No entanto, existe "um apelo pelo bom senso". A polícia do país vizinho, afirma ele, anda de transporte público, como ônibus e trens, sem ser ameaçada.
Para o sociólogo, o alto índice de letalidade no Rio não é um problema recente:
— Isso é um processo que vem se desenvolvendo há algumas décadas, principalmente nas últimas três. Nos anos 80, essa não era a realidade. Esse crescimento tem a ver com os discursos de ódio e de intolerância, que diz que bandido bom é bandido morto e que a polícia tem que matar.
A estatística de PMs feridos segue a mesma curva ascendente. De acordo com o sociólogo Ignacio Cano, coordenador do Laboratório de Análises de Violência (LAV), da UERJ, nos primeiros cinco meses deste ano, a quantidade de policiais feridos em serviço cresceu 38%, em comparação com o mesmo período do ano passado, segundo um artigo do especialista publicado no GLOBO. A corporação informou que, até ontem, esse número era de 305, sendo 213 em serviço, 86 de folga e seis reformados.
A frota do Rio representa hoje uma taxa de 275 policiais militares para cada 100 mil habitantes — isso significa um policial para cuidar de 363 pessoas. Em 2014, de acordo com último levantamento da Diretoria de Análise de Políticas Públicas, da Fundação Getúlio Vargas (FGV), essa taxa era de 280 PMs. Na época, o estado ocupava o sexto lugar da lista de regiões com a maior proporção de agentes por habitantes. Distrito Federal encabeçava o ranking, com 957 policiais para cada 100 mil moradores.

A farda da dor eterna

O fim. Fotos da PM Elisângela Bessa fardada ainda estão no quarto que ocupava na casa da mãe - Domingos Peixoto / Agência O Globo
Reinaldo Bessa, taxista de 52 anos, gira as oito imagens de um porta-retratos em forma de cubo até achar uma delas, que mostra oito pessoas sorrindo. Explica que é a última foto com a família inteira: a mãe, o pai, os quatro irmãos e duas irmãs. “Dois oito, sobraram quatro”, suspira, para cair no choro em seguida. Não estão mais vivos o pai e a mãe, o irmão mais velho, que há dez anos não resistiu a um acidente de moto em Acari, e a irmã Elisângela, que na na foto é uma jovem magrela de cabelos cheios. As lágrimas que escorrem pelo seu rosto são por ela.
— A gente vai morrendo aos poucos — lamenta Reinaldo.
Ele viu Nana (apelido da cabo da Polícia Militar Elisângela Bessa, de 41 anos) pela última vez no dia 11. Passou à tarde pela barraquinha de batatas fritas que a irmã mantinha há alguns meses com o marido, em Nilópolis. Horas depois, Elisângela e o marido Rodrigo encerraram as vendas e foram para casa onde moram, em Colégio. No caminho, foram abordados por criminosos. Elisângela passou os últimos segundos da sua vida tentando segurar a arma de seu assassino. Não conseguiu e foi atingida na cabeça.
Reinaldo, que tem a foto do suspeito de ter baleado sua irmã na memória do celular, a todo momento repete inconformado, olhando para a imagem, “quem mata policial tem que ficar mais tempo na prisão”.
Luto e sonho de formar sobrinha
Elisângela não tinha medo de nada, só de viver sem a mãe. A dor da morte dela, em novembro de 2016, ainda era enorme. Elisângela revezava suas fotos do perfil do Facebook com as da mãe. Irritado, Reinaldo pediu a irmã recentemente que deixasse a mãe “descansar em paz” e parasse de postar as imagens. Ele nem podia imaginar que o mesmo aconteceria com a própria Elisângela, homenageada da mesma forma por amigos e colegas de farda.
Ele e Nana são filhos do potiguar José e da carioca Deise. José passou 35 dias a caminho do Rio em busca de oportunidades. Em solo carioca, trabalhou no que podia, de engraxate a motorista de lotação. Foi nessa função que conheceu Deise e se casou.
José insistia com a mulher que queria ter uma filha. Depois de quatro meninos, veio Nana. O pai exibiu a garotinha para o restante da prole, curiosa, da janela de uma maternidade em Caxias. Daí em diante, Deise criou a menina cheia de cuidados, mas, depois dos 30 anos, Elisângela deixou de lado o trabalho como esteticista para ser policial. Fez o concurso depois de ver que duas cunhadas já tinham passado na prova.
Nos últimos meses, encarava uma segunda jornada na barraca de batatas fritas, o que lhe ajudava também a esquecer a perda da mãe. O sonho da policial, que não tinha filhos, era viajar para Natal, onde o pai nasceu, para formar a sobrinha e afilhada Rayane, de 22 anos, que estuda medicina. O padrinho com quem Elisângela batizou Rayane, policial como ela, também foi assassinado há cerca de seis anos.
Reinaldo, que já foi assaltado 14 vezes, diz que a irmã em pensava em deixar a polícia. Aluna empolgada da academia, guardava o manual dos calouros no quarto que fora dela na casa da mãe, repleto de suas fotos com farda. A bagunça estava à espera de Nana.
— Esperava que ela própria viesse arrumar tudo — diz Reinaldo.

Comandante defende mudança nas leis

O comandante-geral da PM, coronel Wolney Dias, pede maior rigor no Código Penal Brasileiro - Márcio Alves / Agência O Globo


O comandante -geral da Polícia Militar, coronel Wolney Dias, afirmou que desde 1995 a corporação convive com números elevados de policiais mortos. A diferença, segundo ele, é que mais armamento pesado vêm circulando pelo Rio. Só de janeiro a julho deste ano, foram 246 fuzis e 225 granadas apreendidas pela PM. - Trata-se de um número (de mortos) inaceitável para qualquer sociedade que vive num regime democrático de direito.  

São números compatíveis a países que vivem em guerra. E este é o cenário vivido no Rio de Janeiro, especialmente na Região Metropolitana. Mas isso não é de hoje. A linha histórica revela que essa tragédia persiste há mais de duas décadas. No ano passado, por exemplo, perdemos 141 companheiros. Em 1995 foram 189 policiais militares mortos. Também é inadmissível a quantidade de armas circulando nas mãos de criminosos. Neste ano, mais de 300 fuzis foram apreendidos no estado. Somente a Polícia Militar apreendeu 246 dessas armas de guerra.

Segundo Wolney, a sociedade precisa fazer uma "ampla reflexão" e se mobilizar por mudanças para reverter o quadro atual. Como o secretário de Segurança, Roberto Sá, o militar também defende mudanças nas leis: — O nosso código de processo penal está anacrônico. Há uma sensação muito grande de impunidade por parte dos criminosos. Além disso, precisamos combater com inteligência e ações articuladas o tráfico de armas. 

Praticamente todos esses fuzis apreendidos foram fabricados no exterior.
Perguntado sobre as medidas que a corporação está tomando para evitar que mais policiais morram, numa estatística que chega a quase 100 casos (97), Wolney Dias respondeu que o amparo às famílias das vítimas é fundamental. Segundo ele, o policial tem feito cursos de reciclagem e aperfeiçoamento profissional. Parentes de vítimas chegaram a se queixar que os militares de Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) não estavam preparados para os confrontos em favelas. — A Polícia Militar tem uma preocupação muito grande em dar todo o apoio às famílias dos companheiros mortos, tanto na assistência psicológicas como no suporte financeiro com pagamento de indenizações. A corporação também colocou em prática o Programa de Qualificação e Aperfeiçoamento Profissional (QAP), desenvolvido pela Coordenadoria de Assuntos Estratégicos (CAEs). O policial passa por um processo de reciclagem profissional, melhorando sua capacidade operacional e reavaliando suas condições físicas e psicológicas.

Mas, além dessa reciclagem técnica e psicológicas, só iremos reverter esse quadro, com a revisão do código penal, uma repressão efetiva ao tráfico de armas e, sobretudo, mais investimento em segurança pública e em políticas sociais. A maior parte dos policiais morre em dias de folga, muitos deles prestando serviço à segurança privada para reforçar seu orçamento. Esse trabalho extra pode ser oferecido oficialmente, como já foi feito recentemente com o RAS (Regime Adicional de Serviço) e outros programas semelhantes, que permitem que o policial trabalhe fardado com a proteção do estado — afirmou o comandante.


O desabafo de uma mãe

Foi em patrulhamentos noturnos de rotina, em favelas com Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que o sargento Hudson Silva de Araújo, de 46 anos, e o soldado Michel de Lima Galvão, de 32, caíram em emboscadas do tráfico. O primeiro foi morto no dia 23 de julho, no Vidigal, onde, até então, não havia notícias de ataques contra PMs. Já Galvão foi atingido em 21 de fevereiro no Jacarezinho, um território sempre muito hostil para os policiais. O soldado já havia denunciado a falta de equipamentos de proteção adequados e a desvantagem numérica em relação aos “inimigos”. Os dois fazem parte do grupo de 21 policiais militares mortos em serviço este ano.

Cada família dessas vítimas recebeu das mãos de um representante da Polícia Militar uma Bandeira do Brasil, usada para cobrir o caixão. Maria da Glória Silva de Araújo, de 74 anos, mãe do sargento Hudson, sofre tanto que sequer consegue ouvir o nome do filho sem cair em prantos:  — Não tem um dia que eu não chore. Não durmo mais direito. Estou cheia de dores. Dor na alma. No último domingo, Dia dos Pais, fui visitar o túmulo dele. Chegando lá, havia outro policial sendo enterrado. Quantos ainda vão morrer? — questionou Maria da Glória.

Já a dor da cabeleireira Jéssica Pacheco, de 24 anos, mulher do soldado Galvão, é de quem dividia sonhos com o companheiro. O casal pensava em ter um filho e já tinha comprado um terreno para construir uma casa.  — A gente fazia tudo junto. Só nos desgrudávamos quando cada um estava no trabalho. Quando me entregaram a Bandeira do Brasil, que cobriu o caixão, eu a guardei no armário junto com a farda. Não quero olhar para aquilo lá. Só traz a lembrança de como ele lutou para mudar a polícia que está aí hoje, mas acabou morrendo por ela — disse Jéssica. 

Fonte: O Globo
 

quinta-feira, 4 de maio de 2017

União precisa assumir seu papel na segurança

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio de Janeiro 

Quem observasse do alto as colunas de fumaça preta que se erguiam de pontos da Avenida Brasil e da Rodovia Washington Luís, na manhã de anteontem, poderia pensar que testemunhava um bombardeio na Síria. Mas era só mais uma batalha da guerra cotidiana do Rio. Traficantes haviam ateado fogo a nove ônibus e dois caminhões em represália a uma ação da polícia na Cidade Alta, em Cordovil, onde facções rivais se enfrentavam. Em consequência, algumas das vias mais importantes da Região Metropolitana tiveram de ser bloqueadas, enquanto motoristas e passageiros ficavam reféns da situação, alguns em meio a tiroteios. Para completar o caos, ainda houve saques às cargas dos caminhões incendiados.

São vários os motivos que contribuem para esse descontrole da segurança no Rio. A começar pela grave situação fiscal do estado, que praticamente paralisou a administração, impactando setores essenciais — o governo chegou a admitir que a polícia corria o risco de parar este mês por falta de combustível. Soma-se a isso a fragilidade do governo Pezão, que tem se mostrado incapaz de reagir à crise, ficando à espera do socorro da União na medida em que a situação só se agrava. 

Acrescente-se ainda o enfraquecimento das UPPs. Reportagem do GLOBO com base em pesquisa da FGV mostrou que, embora o número de homicídios não tenha voltado a patamares pré-UPP, houve um aumento de 23% entre 2012 e 2016. E já há crimes que se situam nos mesmos níveis de 2006. É mais um sinal de alerta para as autoridades. O projeto das UPPs, de retomada de territórios dominados pelo tráfico, representou m ganho importantíssimo para a sociedade. Por isso, é fundamental que o programa seja recuperado, dentro dos princípios que o nortearam, como o policiamento de proximidade que desestimularia ações desastradas da PM em comunidades.

Mas, acima de tudo, o controle da segurança depende do governo federal. E não apenas para enviar a Força Nacional ou contingentes das Forças Armadas em situações de emergência, como agora. A União precisa assumir o protagonismo na segurança. Não só no Rio, porque hoje a atuação das quadrilhas ultrapassa os limites dos estados e mesmo do país. Isso ficou comprovado nas sangrentas rebeliões em presídios do Norte-Nordeste com participação de facções do Sudeste. Ou no roubo a uma transportadora de valores em Ciudad del Este, Paraguai, por bandidos brasileiros.

Fronteiras vulneráveis permitem a entrada no país de drogas e armas, que estão na raiz dos problemas de violência em vários estados, incluindo o Rio. Durante a operação na Cidade Alta, anteontem, a polícia apreendeu 32 fuzis, quantidade maior do que a que foi recolhida em todo o mês de março. Nenhum deles foi fabricado no estado. O problema demanda ações coordenadas de inteligência. Sem que União e estados resolvem essas questões, cidadãos continuarão reféns dos bandidos, vivenciando cenas que estão mais para Aleppo do que para o Rio.


Fonte: Editorial - O Globo 

quarta-feira, 1 de março de 2017

UPP = Unidade de Perigo ao Policial - Morte de PM faz jus ao apelido da UPP de Beltrame

Revejam, por favor, o trecho entre 8min44seg e 10min18seg (que já está no ponto ao clicar no ‘play’) do meu comentário no nosso programa Sem Edição de 15 de fevereiro, na TVeja, sobre o legado do ex-secretário que vinha sendo cotado por Michel Temer para ocupar um cargo no governo federal, José Mariano Beltrame, na Segurança Pública do Rio de Janeiro.

Agora veja na manchete do Extra de 22 de fevereiro, uma semana depois, a síntese exata da realidade que denunciei no programa, como já vinha fazendo há anos neste blog:

  

Eis um trecho da matéria, com grifos meus:
“Menos de um ano depois de entrar para a Polícia Militar, o soldado Michel de Lima Galvão denunciou a falta de condições de trabalho nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). 

Uma gravação do policial de 2015 mostra o claro descontentamento do agente com a falta de munição e a desvantagem numérica e operacional no confronto com traficantes. Para ele, o projeto das UPPs estava falido. O soldado foi morto na noite de terça-feira, durante um ataque do tráfico no Jacarezinho, na Zona Norte da Cidade.

‘Essa guerra não é nossa. Governo falido, projeto falido. Estão colocando a gente dentro do morro para morrer. A favela não é nossa casa. Ser policial não é ser guerrilheiro, não é confrontar em desvantagem numérica, em desvantagem logística, em desvantagem operacional’, apela o soldado Galvão aos companheiros de tropa.”

Como queríamos demonstrar, é triste.
A “Unidade de Perigo ao Policial” continua fazendo jus ao apelido revelado neste blog em 2014.
Só falta Temer deixar Beltrame espalhá-la pelo país.

Felipe Moura Brasil ⎯ http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
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quarta-feira, 5 de agosto de 2015

O livro que não escrevi

Acho que vou publicar um livro que não escrevi. É o chamado método do “cut and splice”, que vários dadaístas adotaram e foi utilizado também pelo grande William Burroughs, na montagem de vários textos. Só que meu cut and splice (corte e colagem) é feito de trechos na internet que eu não escrevi. São um relicário de trivialidades, com frases atribuídas a mim que rolam na internet há anos. Já reclamei aqui várias vezes mas sempre surgem novos apócrifos que, aliás, fazem o maior sucesso. Vivemos a grande invasão das asnices na velocidade da luz, embora os pensamentos vão a passos de tartaruga (olha eu aí já no lugar comum).

A boa e velha burrice continua intocada, agora disfarçada pelo charme da rapidez. Antigamente, os burros eram humildes; esgueiravam-se pelos cantos, ouvindo, amargurados, os inteligentes deitando falação. Agora não; é a revolução dos idiotas on-line. Escrevem e não entendo por que não assinam seus belos nomes. Por que eu?

Vejamos trechos escolhidos do meu futuro livro apócrifo de mim mesmo: O ser humano não é absoluto. Gente chata essa que quer ser séria, profunda e visceral sempre. Putz! A vida já é um caos, pq fazermos dela, ainda por cima, um tratado? Deixe a seriedade para as horas em que ela é inevitável: mortes, separações, dores e afins. No dia a dia, pelo amor de Deus, seja idiota!”

Ou então:

“Bom mesmo é ter problema na cabeça, sorriso na boca e paz no coração! Alias, entregue os problemas nas mãos de Deus e que tal um cafezinho gostoso agora?”

Mais um:

“Alô gente! Felicidade, amor, todas essas emoções nos fazem parecer ridículos, abobalhados, e daí? Seja ridículo, não seja frustrado, ‘pague mico’, saia gritando e falando bobagens, você vai descobrir mais cedo ou mais tarde que o tempo pra ser feliz é curto, e cada instante que vai embora não volta. Esqueça o que te falaram sobre ser adulto, tudo aquilo de não brincar com comida, não falar besteiras, não ser imaturo, não chorar, não andar descalço, não tomar chuva. Pule corda! Adultos podem (e devem) contar piadas, passear no parque, rir alto e lamber a tampa do iogurte.”

Ou: “A vida é uma peça de teatro que não permite ensaios. Por isso cante, chore, dance e viva intensamente antes que a cortina se feche!”
Mas a maioria dos textos não é “metafisica” é sobre amor e mulheres.

Vejamos:

“Você ama aquele cafajeste. Ele diz que vai e não liga, não toma banho, ele veste o primeiro trapo que encontra no armário. Ele não emplaca uma semana nos empregos, está sempre duro, e é meio galinha. Ele não tem a menor vocação para príncipe encantado e ainda assim você não consegue despachá-lo. Quando a mão dele toca na sua nuca, você derrete feito manteiga. Aliás, o seu fettuccine ao pesto é imbatível.”

Há um texto rolando (e sendo elogiado) em relação as mulheres e o casamento:

“Por que comprar a vaca, se você pode beber o leite de graça? Aqui está a novidade para vocês: Hoje em dia 80% das mulheres são contra o casamento e sabem por quê? Porque as mulheres perceberam que não vale a pena comprar um porco inteiro só para ter uma linguiça!” Nada mais justo!

Outra pérola: “A pele é um bicho traiçoeiro. Quando você tem pele com alguém, pode ser o papai com mamãe mais básico que é uma delícia. E às vezes você tem aquele sexo acrobata, mas que não te impressiona...”

E mais: “Antes idiota que infeliz! Milhares de casamentos acabaram-se não pela falta de amor, dinheiro, sexo, sincronia, mas pela ausência de idiotice”.

“As mulheres são tão cheirosinhas; elas fazem biquinho e deitam no teu ombro...’ ‘Tenho horror à mulher perfeitinha. Acho ótimo celulite...”
“As mulheres de hoje lutam para ser magrinhas. Elas têm horror de qualquer carninha saindo da calça de cintura tão baixa que o cós acaba!...” (Luto dia e noite contra cacófatos e jamais escreveria “cós acaba!”)

“Não dá, infelizmente, para ficar somente com a cereja do bolo — beijar de língua, namorar e não ser de ninguém. Para comer a cereja é preciso comer o bolo todo. Desconhece a delícia de assistir a um filme debaixo das cobertas num dia chuvoso comendo pipoca com chocolate quente, o prazer de dormir junto abraçado, roçando os pés sob as cobertas.”

Ainda sobre as mulheres:

“São escravas aparentemente alforriadas numa grande senzala sem grades”.

(E, finalmente a grande síntese: “Quem se sente amado não ofega, mas suspira…” E conclui (em meu nome) com a frase de múltiplos significados:

”Ah, o amor, essa raposa….“

Mas o pior são artigos escritos por inimigos covardes para me sujar. Há um texto de extrema direita, boçal, xingando os brasileiros, onde há coisas como: “Brasileiro é babaca. Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira. Brasileiro é vagabundo por excelência. Um povo que se conforma em receber uma esmola do governo de R$ 90 mensais para não fazer nada não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo. Noventa por cento de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Muito pai de família sonha que o filho seja aceito como ‘aviãozinho’ do tráfico para ganhar uma grana legal. Se a maioria da favela fosse honesta, já teriam existido condições de se tocar os bandidos de lá para fora...”

Há um texto com minha assinatura xingando a presidente da República com tal violência que eu mereceria uma prisão. E não adianta desmentir, pois os boatos continuam. Dizem por exemplo que o Lula mandou o Lewandowski me tirar do ar na CBN…há mais de um ano. E continuo falando. Será que pensam que eu não sou eu?

Ou seja: ou mentem para me incriminar ou admiram-me pelo que eu teria de pior; sou amado pelo que não escrevi.


Arnaldo Jabor é Cineasta e Jornalista - O Globo 


terça-feira, 21 de abril de 2015

PETROLÃO - PT patrocina rodovia do tráfico

Comperj: estrada de US$ 181 milhões virou rodovia do tráfico

Construída para levar equipamentos pesados ao complexo, via facilita fluxo de armas e drogas

- Gastaram US$ 7 bilhões em encomendas “emergenciais” de equipamentos, montagem e construção das instalações para abrigá-los. Fizeram acordos diretos, sem concorrência, com 21 empresas privadas — todas, atualmente, investigadas em processos por corrupção.
 
Levaram quatro anos para resolver a abertura da estrada de 18 quilômetros vital para transportar milhares de toneladas de peças (vasos pressurizados, torres e reatores, entre outros) entre o píer na Praia da Beira, em Itaóca, São Gonçalo, e o Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj), em Itaboraí. 

Só contrataram a obra na véspera do Natal de 2011, seis meses depois da decisão, sem concorrência e também sem a completa desapropriação das terras. Pagaram US$ 63,5 milhões custo médio de US$ 3,5 milhões por quilômetro —, e estabeleceram prazo de 16 meses.  Quase dois anos depois, apenas 20% da estrada estavam prontos. Deram à empreiteira Egesa mais oito meses e um adicional de US$ 1 milhão.  O prazo ampliado se esgotou, e a estrada não ficou pronta. Dispensaram a Egesa e contrataram a Carioca Christiani-Nielsen Engenharia, sem licitação.

UMA VIA EXPRESSA DO TRÁFICO
Pagaram mais US$ 118 milhões pelo serviço complementar contrariando recomendações do departamento jurídico da estatal: era 85% acima do valor do contrato original.  No final, custou US$ 181,5 milhões, o equivalente a US$ 10 milhões por cada um dos 18 quilômetros — mais que a autoestrada vizinha, o Arco Metropolitano.  

Ficou pronta em outubro, oito anos e quatro meses depois das contratações “emergenciais” de equipamentos, montagem e construção das suas instalações em Itaboraí. A essa altura, no entanto, o complexo petroquímico já estava reduzido a uma única refinaria, parte dos equipamentos comprados se tornara inútil, o canteiro de obras paralisado e as empresas fornecedoras submetidas a múltiplos inquéritos por corrupção.

A estrada criada pela Petrobras exclusivamente para transportar equipamentos ultra pesados até o Comperj não ficou abandonada: foi tranformada em via expressa do tráfico de armas e drogas. Acabou facilitando a logística das gangues cujos negócios começam nas margens da Baía de Guanabara.  Ela integrou todas as favelas do chamado complexo do Salgueiro, no Rio, com o Jardim Catarina, em São Gonçalo. É uma área extensa, com cerca de 300 mil habitantes sem serviços básicos de Saúde, Educação e saneamento. Pela complexidade da geografia local, pontilhada por manguezais, a circulação entre uma favela e outra sempre foi difícil. Deixou de ser.  Barcos com armas e drogas continuam atracando nas praias de Itaóca, bairro-ilha de São Gonçalo, onde foi construído o píer da Praia da Beira, ponto de traslado dos equipamentos para o Comperj.
Antes, as gangues atuavam com elevada margem de risco na logística de distribuição. Percorriam o trajeto entre Itaóca e Salgueiro, mas precisavam enfrentar mato e terrenos pantanosos para chegar à planície do Jardim Catarina, onde se concentram mais de 20% da população de São Gonçalo.

EFEITO EM CASCATA NOS CONTRATOS
Com a estrada, as limitações acabaram. O caminho ficou livre entre Itaóca e o distrito de Itambé, em Itaboraí, com inúmeras possibilidades de saída para a BR-493 — “é uma rota de fuga financiada pelo poder público”, na definição de um graduado policial militar do 7º Batalhão, responsável pelo policiamento da área.

Para a Petrobras, sobraram custos adicionais decorrentes dos atrasos da construção do acesso ao Comperj. “Desencadearam reações em cadeia em outras obras”, diz o Tribunal de Contas da União em análise sobre o projeto em Itaboraí.  Os equipamentos comprados chegaram no tempo previsto, em 2011. Parte se tornou inútil porque a Petrobras decidiu redesenhar o Comperj. Substituiu a nafta pelo gás natural como insumo na produção de petroquímicos.

Fabricados sob encomenda para a operação com nafta, perderam lugar em Itaboraí e continuam armazenados, sem destino. Outra parte do material adormece há quatro anos, à espera de estradas para transporte — são grandes e ultra pesados para as rodovias convencionais. A falta de equipamentos no canteiro do Comperj no tempo previsto provocou a suspensão de contagem de prazos em outros contratos, com adiamentos por responsabilidade da Petrobras. No conjunto, segundo o tribunal, as despesas da companhia estatal aumentaram em US$ 500 milhões apenas com tais “ineficiências, replanejamento, retrabalho e prorrogação de prazos”.

As marcas da má gerência, pontuada por episódios de corrupção, espalham-se pelo empreendimento em Itaboraí. Empresas sem capacidade técnica foram contratadas, sem concorrência, para projetos mal elaborados, e depois abandonaram as obras — contaram Marcelino Simão Tuma e Jansem Ferreira da Silva, ex-gerentes do Comperj, em depoimentos à comissão de inquérito da Petrobras no ano passado. Citaram como exemplo a falida construtora Delta, que está sob investigação.

A Delta estava cadastrada como fornecedora de estruturas metálicas. Sem experiência, sequer fora cogitada para a lista de convidados na concorrência para erguer o conjunto de melhoria da nafta petroquímica (Unidade de Hidrotratamento-Nafta). Porém, os então diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento) e Renato Duque (Serviços) exigiriam sua inclusão. As regras da licitação exigiam nota mínima de 6,5 na licitação. A Delta alcançou 2,1 e, mesmo assim, foi declarada vencedora. O contrato acabou rescindido “por baixo desempenho”, segundo a comissão de inquérito da estatal.

UMA HISTÓRIA DE PERDAS SEM FIM
Ano passado, a Petrobras decidiu encolher o complexo petroquímico, transformando-o numa única refinaria para produção de combustíveis. Em dezembro, quando a operação da refinaria contava dois anos e meio de atraso, em relação ao último cronograma feito pela companhia, decidiu-se suspender a maioria dos contratos de serviços no Comperj. As perdas de receita acumuladas até o final de 2014 com os atrasos na refinaria, de acordo com o TCU, já podem ter superado US$ 2,3 bilhões. 

No conjunto, os prejuízos da Petrobras no Comperj derivam de um padrão gerencial aplicado na construção da Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco. Esses dois empreendimentos consumiram US$ 41,7 bilhões durante o governo Lula, que partilhou a gestão da empresa entre aliados políticos. Destacam-se entre os mais caros na indústria mundial de petróleo: foram US$ 21,6 bilhões em Itaboraí e outros US$ 20,1 bilhões em Pernambuco.

A refinaria pernambucana entrou em operação em novembro e, no limite, vai produzir 230 mil barris de óleo refinado a um custo (US$ 87 mil por barril) acima do dobro da média internacional. O Comperj está com 82% das obras concluídas e não tem prazo para começar a refinar o petróleo do pré-sal. Foi desenhado para processar 165 mil barris de petróleo/dia. Seu custo operacional (US$ 130 mil por barril) tende a superar o de Abreu e Lima.

A história dos prejuízos em Itaboraí está longe do fim. [é público e notório que as FARC - modelo das milicias bolivarianas e do exército do Stédile - usam o tráfico de drogas como fonte de receita.
O Foro de São Paulo também defende o uso de atividades criminosas como fonte de receita.
E o PT na busca do poder institucional pratica qualquer ato criminoso.]

Colaborou:  Débora Diniz - O Globo

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Fãs em comum - Em raro momento de lucidez, talvez único, a ex-ministra Maria do Rosário dá uma dentro e reconhece que Marco Archer mereceu ser executado

 Fãs em comum

Aconteceu o improvável. Fãs de Jair Bolsonaro na internet estão elogiando Maria do Rosário por sua postagem no Twitter na tarde de ontem, em que ela questionou o interesse no destino das cinzas do corpo de Marco Archer.

Disse a ex-ministra dos Direitos Humanos: - O sujeito não era herói, era traficante.
 
Por: Lauro Jardim

Um brasileiro morre na Indonésia, e uma máscara cai no Brasil. OU a mais recente estupidez da Maria do Rosário

E o brasileiro Marco Archer Cardoso Moreira, de 53 anos, foi mesmo executado na Indonésia, com um tiro o peito. Ele morria lá, e a máscara da deputada Maria do Rosário (PT-RS), que foi ministra dos Direitos Humanos do primeiro governo Dilma, caía uma vez mais por aqui. Aliás, é o que mais acontece com esta senhora: ser desmascarada. Mas eu a deixo para daqui a pouco.

Começo com o governo indonésio. Muhammad Prasetyo, procurador-geral, pediu neste domingo respeito às leis em resposta às críticas recebidas pela execução de seis réus, o brasileiro entre eles. “Podemos entender a reação do mundo e dos países que têm cidadãos que foram executados. No entanto, devem-se respeitar as leis que se aplicam em nosso país.” Ah, tá…

O que é “respeitar”? Se isso compreender a gente não poder fazer nada a respeito além de protestar, ok. Se é compreensão que ele busca, aí tem de falar com a petista Maria do Rosário. Eu não respeito um governo que solta 800 terroristas nativos em dez anos e que executa forasteiros, ignorando pedidos de clemência. Então essas tais leis permitem pôr nas ruas celerados que mataram 202 pessoas num único atentado em Bali, em 2002 — a maioria não era da Indonésia —, mas condenam à morte, de maneira inapelável, traficantes estrangeiros? É uma mistura de irresponsabilidade, com autoritarismo e populismo homicida.

Mas, pelo visto, essa composição não causa repúdio à senhora Maria do Rosário. Aquela que já foi ministra dos Direitos Humanos resolveu se manifestar a respeito. Disse ser contra, claro!, a pena de morte, mas considerou, com aquela inteligência muito peculiar: “Mas que interesse há para onde as cinzas serão levadas no Brasil? O sujeito não era herói, era traficante”. Imaginem se é o deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), seu desafeto, a dizer uma boçalidade dessa qualidade.

Sim, ele era traficante — ou foi condenado por tráfico. Isso, então, retira de sua família até o direito de saber para onde vão as cinzas? O governo brasileiro não deveria se ocupar do assunto? Até onde vai o “humanismo” de Maria do Rosário? Os torturadores que se livraram de alguns corpos no Brasil pensavam assim: “Mas que interesse há em saber onde foram jogados os corpos? Não eram heróis. Eram terroristas”.

A delinquência intelectual de Maria do Rosário me assombra, embora eu sempre espere o pior de seu presumível cérebro. Em 2012, Dilma chegou a Cuba pouco depois de mais um prisioneiro ter morrido em decorrência de uma greve de fome. Foram perguntar o que Maria do Rosário pensava a respeito. E ela disparou: “A marca de Cuba não é a violação dos direitos humanos, e sim ter sofrido uma violação histórica”. Nem todo mundo que morre toca o, digamos, lado humano da ex-ministra.

Entenderam por que petistas e regimes autoritários estão sempre de braços dados? Eles têm uma espécie de proteína que logo os liga a tudo o que não presta. Trata-se de uma vocação moral.
PS – Sou contra a pena de morte em qualquer caso e em qualquer país. Para mim, é questão de princípio, de fundamento organizador da civilização que vislumbro. Maria do Rosário diz pensar a mesma coisa. Ela só não se importa com as cinzas do morto. Afinal, já está morto mesmo, né? E o cara nem era herói, segundo ela. Maria do Rosário para ministra dos Direitos Humanos do Taleban!

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

 

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Brasil tentou extradição de brasileiro condenado a morte na Indonésia e ainda aguarda resposta



Execução de Marco Archer, condenado por tráfico de drogas, está marcada para o próximo domingo
O Itamaraty informou que foi realizado recentemente um pedido de extradição de Marco Archer, brasileiro condenado a morte na Indonésia que tem a execução marcada para este próximo domingo. O pedido ainda não foi julgado pelo poder Judiciário da Indonésia, mas é de conhecimento das autoridades brasileiras que a lei daquele país proíbe a extradição de pessoas condenadas por tráfico de drogas, caso de Archer. Nesta sexta-feira a presidente Dilma Rousseff conversou por telefone com Joko Widodo, presidente indonésia. Ela fez um novo pedido de clemência, que mais uma vez foi negado.

Causou desconforto ao Itamaraty o fato de a presidente Dilma ter de esperar por quase uma semana para ser atendida por telefone pelo presidente indonésio. O governo brasileiro está em contato com outros países que tem condenados a morte na Indonésia, mas o Itamaraty afirma que não há uma estratégia conjunta para eventual retaliação. O assessor especial da Presidência Marco Aurélio TOP TOP Garcia afirmou mais cedo que a execução poderá ter consequência nas relações entre Brasil e Indonésia .[O Brasil não tem nenhuma capacidade de retaliação em relação à Indonésia. Vamos ser brasileiros, patriotas, mas também realistas: um país cuja presidente espera uma semana para ser atendida, por telefone,  pelo presidente de outro país não goza de nenhum prestígio internacional.
Sem contar que a causa defendida por Dilma não é nobre – ela pretende salvar do justo castigo um traficante.
Cabe lembrar, sem segundas intenções, que Dilma foi terrorista, o que a coloca em um potencial criminoso no mínimo igual ao de um traficante.]

Em 2014 o comércio entre os dois países foi de US$ 4 bilhões. O Brasil teve saldo positivo de R$ 451 milhões. Segundo o Itamaraty estão em vigor memorandos de entendimentos nas áreas de educação, agricultura, energia, promoção de comércio e investimentos, entre outros. A companhia Vale atua desde 2006 naquele país na exploração e beneficiamento do níquel, sendo este um dos maiores investimentos estrangeiros na Indonésia.

Dados de 2013 do Itamaraty mostravam que havia 3.209 brasileiros presos no exterior, sendo que 1.415 já estão em cumprimento de pena. O maior percentual de presos é na Europa, onde há 1.108 brasileiros detidos. Na sequência aparecem América do Sul (864), América do Norte (729), Ásia (417), África (40), Oriente Médio (20), América Central (18) e Oceania (13). Cerca de 30% dos brasileiros presos no exterior (963) estão detidos por tráfico ou porte de drogas. O valor gasto pelo Itamaraty em 2013 para assistência a esses presos foi de US$ 120 mil.

Fonte: IstoÉ