O
PT levou ao ar ontem à noite o seu aloprado e desastrado programa no
horário político. Nunca se viu nada igual. Quem estava em casa, nas
empresas e nos escritórios parou para bater panela, apitar, gritar,
fazer barulho. Quem estava nas ruas meteu a mão na buzina ou botou a
boca no trombone nas calçadas. Bastou a
José de Abreu, no papel mais canastrão de sua carreira, nos ameaçar a
todos com o abismo caso Dilma Rousseff tenha de deixar a Presidência, e o
Brasil lhe deu a resposta, com dois picos especiais de euforia de
contestação: quando Lula e a presidente apareceram. Houve assovios até
em estações de metrô e terminais de ônibus. Uma eletricidade especial
tomou conta dos quatro cantos do país.
Chega! Os brasileiros já não aguentam mais essa turma!
“Ah, mas
eles não foram, afinal, eleitos?” Foram, sim! Mas não para mentir, não
para trapacear, não para assaltar os cofres públicos, não para fazer
pouco da nossa cara, não para impedir a realização dos nossos sonhos,
não para atrapalhar os nossos anseios, não para comprometer o futuro dos
nossos filhos.
Mas, ainda
assim, nós poderíamos deixa-los lá, expressando o nosso desagrado, sem
pedir que desocupassem a cadeira, não houvesse razões legais para isso. E
elas existem! Esse governo, que bem cedo perdeu a legitimidade,
descobriu-se também, atropelou a legalidade. E tem de sair por isso. Em
cumprimento à Constituição e às leis. E é isso que o país dirá uma vez
mais, aí nas ruas, no dia 16 de agosto.
Se dúvida
houvesse sobre o estado das artes, não há mais. A pesquisa Datafolha se
encarregou de revelar, referendando outras que a antecederam: a
esmagadora maioria dos brasileiros quer a interrupção desse governo. Não
reconhece nele as qualidades necessárias para tirar o país da crise.
Dizem que a gestão Dilma é ruim ou péssima 71% dos entrevistados; nada
menos de 66% pedem o impeachment.
Não
obstante, o PT tem a cara de pau de levar ao ar um programa que ameaça
três vezes o brasileiro com o pior se este decidir, ora vejam, exercitar
uma prerrogativa constitucional, que é cobrar a saída de Dilma. Pior:
classifica líderes de oposição de egoístas e oportunistas, continua a
reivindicar o exclusivismo moral e ignora o mar de lama em que está
mergulhado.
Lula, no
papel de Lula — alheio à brutal corrosão de sua biografia e de sua
imagem —, estava lá para assegurar que o PT é muito melhor do que os
antecessores, que nunca antes na historia “destepaiz” etc. e tal. O
tempo passou. Lula não se deu conta. A mística passou. Lula não se deu
conta. A mistificação passou. Lula não se deu conta. Lula não se deu
conta, enfim, de que é hora de pendurar as chuteiras — na melhor das
hipóteses para ele. A pior ficará por conta da Polícia Federal, do
Ministério Público e da Justiça.
Alheia à
realidade que a cerca, Dilma surgiu no vídeo para, santo Deus!, fazer
promessas eleitorais que nem novas chegam a ser. Era aquela mesma
senhora da campanha, a acenar com os mesmos amanhãs sorridentes. E,
hoje, em agosto de 2015, a esmagadora maioria dos brasileiros já sabe
que a candidata de outubro estava mentindo.
Mas não
bastaram as ameaças. O PT decidiu também fazer pouco caso daqueles que
protestam, ironizando os panelaços, como se, hoje, fosse o partido a
falar em nome de uma maioria. O programa desta quinta certamente entrará
para a história das decisões mais estúpidas jamais tomadas pela
legenda.
E volto,
para começar a encerrar, às ameaças de caos, abismo, crise institucional
e golpe, que foram levadas ao ar. Cumpre fazer uma pergunta direta aos
petistas: seus militantes e milicianos, por acaso, estão se armando?
Quem encarna esse risco? Certamente não são aqueles que vão às ruas
protestar, exibindo as cores verde e amarela e portando a bandeira do
Brasil, onde se lê com clareza: “Ordem e Progresso”.
Eu entendi
errado, ou os petistas estão dizendo que, caso o Congresso — um Poder da
República — ou o TSE, expressão de outro Poder, casse o mandato da
presidente, os militantes da sigla e seus acólitos não aceitarão a
decisão? E, nesse caso, farão exatamente o quê? A esmagadora maioria da
população não tem armas. Os petistas estariam ameaçando as instituições?
Com quais forças? Com quais, então, armas? Com quais líderes?
Nós, sim, os homens comuns, é que não podemos tolerar as ameaças feitas pelo PT no seu horário político.
Não! Se
Dilma cair, não acontecerá nada de trágico para o país. Vai se respeitar
a Constituição. Os que defendem a sua saída não têm armas — e quero
crer que também não as tenham os que querem a sua permanência. A lei
será cumprida. E os que quiserem que não se cumpra hão de se submeter
aos rigores do estado democrático, que detém o monopólio do uso da
força, se necessário, no cumprimento da Constituição também democrática.
É simples.
O resto é papo furado! O PT já não seduz, não convence nem assusta mais ninguém.
Faremos nas ruas a luta armada, sim! Iremos armados com a força do argumento. E só! E que ninguém ouse deter os pacíficos!