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quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Não temos pena de morte, mas morte sem pena.



Hoje, Mônica expressa seu medo de mãe e professora
Nossas crianças estão sendo assassinadas em ruas movimentadas, dentro de suas casas, nas praças. À queima roupa e à luz do dia.  A cada morte noticiada, minha vontade é de ir embora para bem longe desse país bandido que não protege a vida de suas crianças.
Tenho medo de sair às ruas. Tenho medo de parar nos sinais. Medo de andar de carro. Tenho medo de deixar meus filhos ir à esquina. Tenho medo o tempo todo. Medo das balas que acham pessoas quando deveriam ser só perdidas. Medo dos bandidos e medo da polícia que, mirando neles, nos atinge.

Culpa da polícia? Não é culpa dos policiais. Nossa polícia é vítima também. Nossos policiais são despreparados. Mal alimentados, mal orientados, mal pagos e desprotegidos. Seus coletes não os defendem das balas mais potentes. Os criminosos têm poder de fogo muito maior que o deles. É um crime expor assim a vida desses policiais.  É cruel. Porque são homens e mulheres que arriscam suas vidas por quase nada. Largam suas famílias e não sabem se voltam. E têm morrido assassinados, torturados friamente sem que nada seja feito.  Cento e cinco policiais foram assassinados em 2014, só no Rio de Janeiro, mesmo que a maioria tenha sido morta quando estava de folga.

Nossa polícia está bem aparelhada para lutar contra o povo insatisfeito. Para reprimir manifestações, agredir grevistas e suspeitos pobres. Espancam, jogam bombas, sprays. Para agredir civis são ótimos.  Agora precisam ser preparados adequadamente para nos defender. Nós todos, o povo honesto que, como eles, não aguenta mais tanta instabilidade e insegurança.  E não aguenta tantos maus tratos de seus governantes.

Nós que, como os policiais, também não sabemos se voltamos para casa depois de um dia de trabalho. Somos todos órfãos de uma justiça séria que faça leis que amparem as vítimas e não aos criminosos.  Governantes que acabem com leis frouxas que só favorecem a impunidade. E que de forma séria nos guardem verdadeiramente. Que fiscalizem as fronteiras porosas. Que nos protejam de verdade, não só para inglês ver. 

Até o momento nada de efetivo está sendo feito. Especialmente quando as vítimas são pobres ou remediadas, porque os verdadeiramente ricos andam de helicóptero e carro blindado. E quando são vítimas, têm absoluta prioridade na resolução dos crimes. Se você for rico, famoso, BBB, fique tranquilo. Seu caso será notícia. Será investigado com mais rigor.

E os Zés assassinados enquanto esperam o ônibus, no caminho para o trabalho, na volta de casa, dentro da própria casa? Nós que assistimos nossas crianças partindo e enlouquecemos de dor? Quem nos escuta?  Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência, divulgado pelo Governo Federal, Unicef e sociedade civil, quarenta e dois mil adolescentes brasileiros, entre 12 e 18 anos, vivem no risco de ser assassinados a qualquer momento até 2019.

Desnecessário esclarecer que o risco é maior para os meninos e os negros. Em oito anos esse índice nunca foi tão alto. Uma tragédia anunciada. Pulsamos na linha de tiro. É uma roleta russa.  Me recuso a aceitar que nossas crianças virem apenas um cemitério de lembranças. Que nossas famílias sejam desmontadas a bala, parte a parte como quebra-cabeças de peças perdidas, cheio de buracos.

Torço por um Brasil melhor. Rezo para que os pequenos consigam chegar a ser grandes. E que sejam melhores do que os grandes que temos agora. Porque, no Brasil atual, não temos a pena de morte. Temos a morte sem pena, o que é muito pior.

Por: Mônica El Bayeh - https://twitter.com/monicabayeh

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