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sábado, 3 de setembro de 2022

Reflexões pós-modernas – o mundo insuportável de quem precisa de uma causa - Bernardo Guimarães Ribeiro

Essa semana, enquanto esperava os meninos na escola, ouvi no rádio uma música que me chamou a atenção, tanto pela linda voz, como pela melodia. Como gosto muito de Soul, acionei um app que tenho no celular de pesquisa musical e vi que se tratava de um dueto, sendo uma das cantoras a revelação Agnes Nunes. Rapidamente, então, fui ver de quem se tratava, qual minha surpresa em ler que a jovem cantora se declarava representante dos nordestinos e dos negros. A outra cantora do dueto era nada menos que Ivete Sangalo, hoje uma notória militante do movimento LGBT, mas que não foi poupada pelos próprios fãs ao abster-se de posicionamento nas eleições presidenciais de 2018.

A recente morte de Marília Mendonça chocou o Brasil pela prematuridade e por ter ela deixado um filho pequeno, mas grande parte das informações noticiadas à época do acidente foram direcionadas para a explicação da sua importância para o empoderamento feminino e até contra a gordofobia!!! Não sei se de forma deliberada ou não, mas referida cantora foi identificada como representante feminista e de pessoas gordas. Como ela acabou encampando o ativismo, foi criticada ao perder peso e quase cancelada ao não se posicionar publicamente contra um participante do “erudito” BBB.

Num recente Miss Universo – o último que vi – as manifestações das modelos trilhavam sempre a lógica politicamente correta e o engajamento em alguma causa. A relevância atribuída à militância era nítida, tudo em detrimento do verdadeiro motivo do concurso, qual seja a beleza da mulher. Havia modelos feministas, ambientalistas, LGBTistas, antirracistas e tudo mais que pudesse gerar exibicionismo moral. Nada contra a que mulheres exibam todo o seu cardápio de militância política, mas talvez fosse mais razoável criar um Miss Politicamente Correta!

O saldo final desse caldeirão de excrescências é que a celebridade pós-moderna tanto capitaliza sobre as agendas de minorias, angariando novos admiradores, como delas também se torna refém. Ou seja, o exibicionismo moral agrega, mas cobra seu preço – o ídolo passa a ser pautado pelos seguidores, isto é, teleguiado por alguma minoria que representa. Assim, o artista não é mais um farol para a sociedade; ele é um mero vagão, cuja locomotiva implacável é guiada por seu público ativista. Um exemplo claro disso ocorre com a atriz Marina Ruy Barbosa, sempre obrigada a se explicar perante os fãs que a guiam como um timoneiro à embarcação. Mencionada atriz foi criticada por uma ONG ao aparecer numa fotografia com um cachorro da raça Beagle, o que fora enquadrado como uma espécie de racismo animal (???), tendo que se justificar pela falha  e, mais recentemente, precisou se explicar por ter feito uma festa de aniversário durante a pandemia (.

Em paralelo a isso, com o incremento das redes sociais, temos um novo fenômeno ao qual denomino de carteirada por prestígio. Celebridades – e subcelebridades com elevada autoestima – são instadas a manifestar-se sobre qualquer discussão do momento, mesmo que não tenham o menor conhecimento do objeto. O palpiteiro vê-se obrigado a opinar nos mais variados assuntos do momento, de atracamento de navio a acasalamento de muriçocas. Logicamente, o posicionamento segue sempre a manada, visando a fornecer àquela posição um ar de credibilidade com o repaginado “sabe com quem está falando?”. Recentemente, o deputado Alessandro Molón participou de uma live  com a funkeira e especialista em todas especialidades, Anitta, que, dentre as inúmeras pérolas, disse estar surpresa por existir no Brasil “mais cabeça de gado que cabeça de pessoa”. A ideia subjacente de quem explora o prestígio alheio é a de que pessoas ignorantes pensem: “olha, você viu o que a Anitta disse sobre o peido das vacas ser muito poluente”? Anitta declarou recentemente que daria um tempo nos comentários políticos; nós agradecemos!

Como não há nada tão ruim que não possa piorar, os palpiteiros profissionais encontraram uma fórmula pra lá de criativa de constranger outras celebridades a opinarem no sentido do que desejam. Através do chamado desafio, um provoca o outro na intenção de engrossar o coro em direção a alguma opinião. O constrangimento é inexorável, pois eventual silêncio é sempre interpretado como a assunção de uma opinião contrária à finalidade da provocação, o que não pega tão bem para a opinião pública. Esse fenômeno sucedeu com a própria Ivete Sangalo e também com Cláudia Leite, quando desafiadas por – de novo ela – Anitta.

A consequência da adoção obrigatória de uma causa como bengala moral é o paradoxo da desumanização a pretexto da exibição de virtudes humanitárias. Uma pessoa é sempre um ser humano único, com suas qualidades, mas também com inúmeras imperfeições. A obrigatoriedade de ter uma causa a tiracolo para chamar de sua desloca os holofotes do objeto para o sujeito. À condição de indivíduo foram adicionados anexos sem os quais ele não é mais nada. É sobretudo por isso que o status pessoal passou a ser condicionado à agenda dos fãs censores. O cantor não é mais reconhecido pela sua música ou letra, mas pelo trabalho social ou ativismo ideológico que porventura desenvolva. Ao atleta não basta ser bom no esporte; ele tem que ser engagé. O ator não presta se não for aquele enfronhado na militância de algum partido que se oponha ao mal, mesmo que sequer se saiba o que é isso. Até o programa televisivo mais culturalmente underground, como o BBB, hoje tem seus participantes como diletos representantes de algum grupo!

Na pós-modernidade, nem mesmo cidadãos comuns e anônimos escapam à força gravitacional da afetação de virtudes. Todos querem representar algo ou alguém e ninguém quer ser o patinho feio sem causa. Se você não tem algo genuíno que se identifique, não tem problema, pois há todo um mercado emergente de temas, principalmente de hiperestimulação de ressentimentos e de gênese de novas minorias “oprimidas”. Encerro, pois, parafraseando o comercial oitentista do Neston: “existem mil maneiras de ter uma causa, invente uma”.

Maravilhoso, este artigo publicado originalmente pelo Burke Instituto Conservador.

O autor é escritor, autor de várias obras, entre as quais “Nadando contra a corrente”, sócio fundador do Burke Instituto Conservador.

 

 

quarta-feira, 19 de maio de 2021

CPI vira nova paixão nacional depois do BBB [alguma diferença?]

Adriana Ferraz - O Estado de S. Paulo

CPI vira nova paixão nacional depois do BBB

Depoimentos colhidos pelos senadores para apurar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro durante a pandemia já alcança 3 milhões de acessos na internet [lembrando sempre que os senadores  equiparando o elevado nível intelectual dos fãs do BBB e da CPI , procuram confundir à  plateia: apresentam aos que comparecem na condição de testemunhas, perguntas que só podem ser respondidas mediante opinião  = bem ao estilo do relator Calheiros (que considera opinião como testemunho, idem, parecer com testemunho), uma manipulada na narrativa e uma mera opinião apresentada na CPI passa a ter o valor de TESTEMUNHO.]

O enredo é trágico, os personagens vestem o figurino indicado (com papéis bem definidos), há periodicidade na apresentação dos capítulos e o final pode ser surpreendente. Com o fim do Big Brother Brasil, a CPI da Covid virou o novo reality show dos brasileiros. E com recordes de audiência. O canal criado pelo Senado no Youtube para informar sobre o andamento da comissão soma mais de 3 milhões de acessos em menos de um mês. Juntos, os vídeos sobre a investigação só perdem em visualização para a sessão do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Com a "apresentação" de apenas sete depoimentos, a CPI criada para investigar ações e omissões do governo Jair Bolsonaro ao longo da pandemia caiu na boca do povo e cenas dos próximos capítulos são aguardadas com expectativa pelo público. Nesta terça, 18, a fala do ex-chanceler Ernesto Araújo foi vista mais de 372 mil vezes. Nos intervalos ainda foi possível acompanhar coberturas extraoficiais cheias de humor e ao gosto do freguês. 

Big Brother Brasília': Grupos no Telegram trocam o BBB por CPI

(...........)

Para o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGV-SP, são vários os motivos que explicam esse interesse popular pela CPI da Covid. "Primeiro, o assunto, que é impactante e tem a ver com a vida de muitas pessoas. Depois, os 'personagens' são bons e travam duelos retóricos dignos de um espetáculo. E, por fim, o assunto não é técnico. Diferentemente da CPI da Petrobrás, por exemplo, que era chamada de a CPI do engenheiro, os temas tratados agora são de domínio público, ou seja, não exigem conhecimento técnico", diz.

Teixeira ainda destaca que a comissão tem o potencial de explicar à população de fato quais políticas ou quais ausências de políticas colaboraram para a tragédia humana que a crise sanitária representa no Brasil, com mais de 430 mil mortos. "Há a necessidade, diante de tantos mortos, de se buscar respostas, apontar os erros e os responsáveis,  apesar de a maioria da população já conhecer o script"."Esse é o lado mais dramático da CPI, cujo material é o sofrimento."

Interatividade
No Telegram, que teve participação massiva na edição do BBB 21, a diversão atual dos grupos e canais não é observar uma casa com anônimos e famosos, mas sim seguir todos os bate-bocas que se desenrolam no Senado. Um dos maiores grupos dedicados a comentar o BBB 21 no Telegram, o Canal Espiadinha, entendeu a popularidade da comissão e já soma quase 150 mil inscritos 

 Os "melhores momentos dos depoimentos" também têm sido editados pelos parlamentares e postados como uma "novela" em seus perfis na internet. O relator Renan Calheiros (MDB-AL) é um dos senadores que lança mão dessa ferramenta. Pelas suas redes, é possível relembrar parte de suas interferências ao longo das falas dos depoentes e ainda enviar perguntas para serem feitas aos depoentes.

Já a senadora Kátia Abreu (PP-GO) teve outra estratégia nesta terça: publicou um vídeo antes mesmo de a sessão começar, desejando que "Deus tivesse piedade da alma de Araújo". A demissão do diplomata ocorreu após o ex-chanceler afirmar que Kátia Abreu fazia lobby para que o Brasil adotasse a tecnologia chinesa do 5G. Durante seu depoimento, ele confirmou a acusação e se negou a pedir desculpas em público. A senadora classificou Araújo como "uma bússola que levou o País ao caos e ao naufrágio". [A acusação do ex-chanceler à senadora não estava em julgamento na CPI, continua sem estar  (o que tem a ver uma acusação de que determinada senadora fez lobby a favor da tecnologia chinesa do 5G com a covid-19?)  
Por falar em bússola, a senadora do DEM faz muitos anos que perdeu a sua  - tudo indica que o extravio ocorreu logo após a senadora realizar, como política, um dos seus raros feitos, talvez o único e que não deixou herdeiros = comandou o desmonte da prorrogação da CPMF pretendida por Lula.]

MATÉRIA COMPLETA, no jornal  O Estado de S. Paulo


quarta-feira, 10 de março de 2021

Paredão falso no STF - O Globo

Vera Magalhães

Na segunda-feira, a expectativa era de que a coalizão de governadores e a intervenção branca do Congresso no Plano Nacional de Imunização poderiam suprimir poderes para a dupla Bolsonaro-Pazuello sabotar o país e dar algum rumo para o Titanic desgovernado no qual estamos enfiados rumando céleres para 3.000 mortes diárias por covid-19. Mas o Supremo Tribunal Federal decidiu que havia coisas mais urgentes para tratar.[coalizão de governadores? isso existe legalmente ou é mais uma associação de nadas a procura de nada?]

Do nada, o ministro Edson Fachin acordou de um sono de quatro anos em que é o relator da Lava-Jato na Corte e, alarmado, constatou: a 13ª Vara da Justiça Federal em Curitiba não era, vejam só, o foro adequado para julgar o ex-presidente Lula. Foi tudo um lamentável engano, pelo qual ele infelizmente ficou preso, aliás em Curitiba, por 580 dias. Com o voto do próprio Fachin, esse distraído. Metade das 46 páginas da decisão extemporânea do ministro é gasta para ele explicar o inexplicável: por que agora? 
 
E qual a extensão de sua decisão? Ele não diz. Talvez ainda não saiba.
Diante do inesperado, o ministro Gilmar Mendes resolveu abrir sua gaveta, espanar o pó e tirar de lá o HC da defesa de Lula que arguia a suspeição de Moro. O mesmo que Fachin esperava que fosse parar no triturador de papel diante da sua decisão. 
Não só não foi como ele ameaça ficar isolado na Segunda Turma, uma vez que até a ministra Cármen Lúcia dá sinais de que votará com Gilmar, contra Moro. Por que Fachin se expõe a tanto desgaste? Qual o cálculo de que anéis poderiam ser dados e dedos poupados com essa lambança?

E Gilmar Mendes, que nesta terça-feira repetiu a performance indignada de sempre contra a Lava-Jato, por que então aguardou mais de um ano com esse HC em seu gabinete? Se de um dia para outro já tinha um voto tão sólido e volumoso? Nada para de pé na conduta do STF, em ziguezague há cinco anos na Lava-Jato, ao sabor não do Direito, mas das circunstâncias políticas.  Ou não foi o mesmo Gilmar que concedeu liminar para sustar a nomeação do mesmo Lula para a Casa Civil como forma de — vejam só! — escapar da jurisdição do mesmo Moro, lá em 2016? Sim, sua mudança foi sendo gradativa ao longo dos anos, e veio antes da Vaza Jato. Mas a demora em trazer o caso da suspeição de Moro à Turma evidencia um cálculo político e colabora para que agora, no momento dramático da pandemia, em que o país deveria estar focado, com o STF, com tudo, em exigir vacinas do governo federal, [sugerimos que eventual exigência de vacinas ao Governo Federal, seja  acompanhada de documento indicando onde comprar as exigidas] estejamos acompanhando esse BBB de palavrório inalcançável e personagens pouco carismáticos.

Aproveitando que estávamos todos brincando de juristas e traçando cenários para o ainda distante 2022 a partir do advento do Lula livre, Bolsonaro emplacou duas de suas cheerleaders mais negacionistas, Bia Kicis e Carla Zambelli, em comissões importantes da Câmara.[lembramos sempre: vão se acostumando, aceitem, e tenham em conta que o presidente Bolsonaro ainda não começou a governar - a pandemia indo embora, a economia voltando a crescer, revitalizada - ele conseguirá remover os obstáculos a que faça um Governo  favorável aos Brasil e aos brasileiros.]

A mesma Câmara que ainda discutia na noite de terça um auxílio emergencial que já deveria ter voltado a ser pago, pois no mundo real, esse cuja existência o Supremo preferiu começar a semana sublimando, tem gente morrendo de fome ou de falta de leito em hospital. Uma situação sinistra à qual chegamos por inépcia absurda e criminosa dos Poderes. À mais alta Corte do país numa democracia cabe assegurar a segurança jurídica e ter a última palavra para garantir que os demais Poderes não exorbitem suas atribuições e respeitem a Constituição.[pergunta inocente e feita por milhões de brasileiros: e quando a Supremo Corte exorbita suas atribuições, impõe o autoritarismo, o eu posso, eu faço, não devo explicações a ninguém.... como ficamos?]

Ao exibir ao país suas entranhas e suas vaidades, seu casuísmo com casos sérios que dizem respeito ao nosso passado e ao nosso futuro, suas Excelências jogam água no moinho dos golpistas que clamam contra o Judiciário e se fragilizam para cobrar do Executivo suas obrigações no enfrentamento da pandemia. ["cobrar do Executivo"? Cabe ressaltar que no inicio da pandemia,  decisão do STF  atribuiu aos governadores e prefeitos o protagonismo das ações de combate à covid-19, decisão que foi mantida com a prorrogação, dia 5 deste mês,   da norma que dá prioridade aos governadores e prefeitos no combate à pandemia. A norma emanada do STF deixa claro que o presidente Bolsonaro não pode interferir em decisões estaduais sobre isolamento, quarentena, restrição à locomoção, uso de máscaras, exames, testes, coletas, vacinação, investigação epidemiológica, tratamentos, requisição de bens e serviços e todo processo de sepultamento.
Cobrar de quem não podia interferir  e continua impedido? 
afinal se é uma prorrogação, continua valendo o que já valia... 
Também foi proibido ao Governo Federal requisitar agulhas, seringas e material correlato ao estado paulista, por ter tais materiais sido pagos com recursos daquele estado.] Que deveria ser a única preocupação de todas as autoridades, mas não é.
 
Vera Magalhães, colunista - O Globo

domingo, 27 de dezembro de 2020

Na guerra da vacina, Doria injetou veneno de descrédito na testa - Folha de S. Paulo

Vinicius Torres Freire 

Governador exagerou no show e ameaça programa de imunização

Ao fim da guerra da vacina, João Doria poderia parecer um líder mais nacional e um contraponto da razão a Jair Bolsonaro. O governador paulista decerto fez o bom serviço de cutucar a inoperância federal. Mas, depois dos vexames recentes, Doria pode parecer apenas um destrambelhado provinciano. Pior, lançou desconfiança sobre a própria vacina que comprou, grave em termos sanitários e econômicos.

Por duas vezes, o governo de São Paulo adiou a publicação da eficácia da Coronavac. Na quarta-feira (23), o país foi induzido a esperar boas notícias. Em vez disso, ouviu uma conversa palerma de que os dados precisariam ser antes mastigados pela Sinovac, por uma obrigação contratual, e de que a eficácia da vacina era diferente daquela verificada em outros países, no limite de apenas 50%.

Descobriu-se que Doria estava em Miami, o que pareceu fuga do fiasco. Para piorar, soube-se na sexta (25) que a Turquia não teria “obrigação contratual”, pois divulgou, de modo mambembe, que a Coronavac seria eficaz em 91,25% dos casos. O governo Doria suscitou desconfiança sobre os números que virão sobre a vacina, já objeto de propaganda negativa criminosa de Bolsonaro.

Quanto menos confiança, menos gente tende a aderir ao programa de vacinação. Quanto menos vacinados, menor a possibilidade de a vacina evitar mortes, aliviar hospitais e atenuar as restrições obrigatórias ou autoimpostas de contato social, o que tem óbvio impacto econômico também. Mesmo com uma vacina eficaz em 85% dos casos, a campanha contra a Covid teria de atingir adesão do nível de vacinações contra a gripe (uns 95%) para propiciar um alívio notável apenas a partir lá de maio. A vida, porém, ainda teria restrições sérias, em especial para negócios e empregos que dependem de aglomerações e circulação livre pelas cidades.

Na reunião dos governadores com o capacho do ministério da Saúde, dia 8, Doria já trocara as mãos pelos pés. Em vez de vencedor generoso e agregador, pareceu um “mauricinho metido e exibido”, como disse a este jornalista um governador ainda simpático ao colega paulista. Depois, houve duas negaças dos resultados da vacina. Doria blefava, com confiança temerária?

No mundo político, ficou a impressão de que Doria não sabia bem o que estava fazendo, o que sublinhou sua imagem de pouco confiável, um tipo obstinado que faz qualquer negócio, de atropelar aliados a apoiar Bolsonaro em um dia para sair de fininho pouco depois.[Doria foi eleito graças ao apoio do presidente Bolsonaro - pela dependência ao Bolsonaro passou a ser chamado de 'bolsodoria' - apoio que agradeceu traindo o capitão = algo parecido com a  conduta daquele ex-juiz, que pensou ter luz própria, passou a fazer oposição ao presidente e se acabou politicamente.
Doria caminha para o mesmo fim].

O governo paulista poderia simplesmente apresentar a situação tal como ela é, dando publicidade e explicações racionais para a atos e processos, o que seria um contraponto confiável ao desvario bolsonarista. Tem gente para fazê-lo. Doria nomeia muitos bons quadros para seus governos. Não se trata de ser “transparente”. Apenas na fantasia juvenil ou anarquista um governo pode ser um BBB ao vivo. É política, administrativa e tecnicamente inviável. Mas, claro, em qualquer tempo e lugar, gente com poder sonega informação do público, o que é autoritário.

A fim de recuperar terreno, Doria terá de abafar seu caráter espetaculoso, parar com segredinhos, com vazamentos de notinhas publicitárias e mostrar que pode ser alternativa de racionalidade mínima à pura monstruosidade bolsonarista. Já tem um passivo grande, até pelo Bolsodoria de 2018, relembrado nestes dias de vexame. Terá de contar com sorte também, que a vacina seja eficaz em nível relevante, uns 75% ao menos, e fazer a mais bem-sucedida campanha de vacinação da história. [antes ele vai precisar de sorte, e muita, para que os resultados da FASE 3 de testes da Coronavac apareçam e sejam entregues à Anvisa,para que possa se cogitar de autorização = a da Turquia não vale e a da China não inspira confiança.]

Vinicius Torres Freire, jornalista - Folha de S. Paulo


terça-feira, 18 de junho de 2019

A trama suja para libertar Lula e recolocar a esquerda agonizante no poder

Em janeiro de 2019, j.w., ativista gay e deputado eleito pelo PSOL desiste misteriosamente do cargo e declara que vai viver fora do país, por medo de agressões. O deputado, conhecido por ter participado e ganho o deprimente BBB quinta edição, se baseia principalmente no caso de Marielle -vereadora do PSOL assassinada em 14 de março de 2018 - para justificar sua decisão.

Para a vaga de Willys assume então David Miranda, suplente.Miranda era até então vereador pelo PSOL, eleito especialmente por defender a causa LGBT, assim como Willys.
Observ do site www.averdadesufocada.com : Sugerem até que Willys teria vendido a sua vaga ao deputado David Miranda por cerca de R$ 15 milhões.
 
Casado com o jornalista Glenn Greenwald há 14 anos, teve uma participação ativa em atos contra o governo norte americano, como a divulgação, em 2013, de documentos secretos dos EUA envolvendo o programa de segurança nacional, o famoso caso Snowden.  Em 2013, transportando documentação secreta e ilegal para o parceiro, foi detido pelo governo britânico.
Greenwald, por sua vez, é um jornalista americano que declarou ter vindo para o Brasil justamente porque o país aceitava união entre homossexuais, ao contrário dos EUA.  É conhecido nos EUA por seus ataques ao país, e pela divulgação de milhares de documentos secretos obtidos ilegalmente da NSA ( National Security Agency) em parceria com Edward Snowden.

Os documentos (que comprometiam a segurança norte americana) acabaram caindo nas mãos da inteligência russa, quando Snowden acabou se refugiando em Moscou, desfecho muito conveniente.
Greenwald utilizava na época Miranda e Poitras (outra jornalista e ativista gay) para transportar ilegalmente milhares de documentos de um país para outro.  Foi com Miranda, Poitras e Jeremy Scahill que Greenwald fundou o site IntercePT, que trouxe também para o Brasil.

O site é conhecido - e acusado - de ser colaborador russo numa estratégia para minar a democracia e instituir o socialismo em alguns países do mundo.  No dia 9 de junho, Greenwald divulga no Brasil áudios adulterados de conversas de Sergio Moro.
O objetivo é claro: desestabilizar o governo através de Moro.

No dia 10, um dia depois, Gilmar Mendes, juiz conhecido por sua parcialidade e arrogância, libera para julgamento um pedido de liberdade para o criminoso preso lula da silva.  Baseado justamente na suspeição do juiz Sergio Moro no caso.  O pedido inclui a nulidade também de todos os casos relativos ao criminoso que haviam sido de responsabilidade de Moro.


O processo do sítio de Atibaia, por exemplo, que será a pedra final sobre o túmulo de lula e da esquerda, [segunda pedra, tem mais seis processos contra Lula = mais SEIS PEDRAS.] que sonha com sua liberdade para trazer de volta o atraso, a corrupção e o fisiologismo descarado.
Gilmar Mendes, que admite o uso dos áudios no julgamento (um conceito imoral e inédito) tem em sua lamentável biografia o fato de ter sido colocado na cadeira pelo socialista de araque Fernando Henrique Cardoso em 2002. O que basta.
Como num quebra cabeça infantil e gasto, tudo se encaixa.

Marco Angeli Full

Transcrito do site A Verdade Sufocada

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sexta-feira, 25 de janeiro de 2019

A cartucheira de Flávio está cheia

Senador eleito tem muitas linhas de defesa a explorar

O exército que guarda o senador eleito Flávio Bolsonaro ainda tem muitas linhas de defesa a serem rompidas, antes da sobrevivência política do primogênito do presidente ser dada como ameaçada. É verdade que o coração do grupo político que empalmou o poder está exposto com o escândalo e talvez toda a sequência de disparates que aconteciam no gabinete de Flávio na Assembleia não tenha vindo à tona. Há várias maneiras, contudo, do caso não dar em nada.
A primeira linha, decerto a principal, estará nas mãos do ministro Marco Aurélio Mello, dentro de dez dias. O pedido da defesa do senador eleito, acolhido por Fux, não trata apenas da questão do foro ao qual Flávio deve responder. Sobre este ponto, Marco Aurélio já sinalizou que não deve aceitar a reclamação. Também menciona que o Ministério Público do Rio de Janeiro, de certo modo, provocou o Coaf a detalhar as operações suspeitas, o que configuraria quebra de sigilo e demandaria autorização judicial. É uma questão sobre a qual não é possível prever a decisão do relator. [as informações que o JN divulga  todas as noites que,  segundo o próprio jornal,  são relatórios do Coaf ( o Coaf pode trocar, sendo tal procedimento benéfico às investigações, informações com outros órgãos, mas divulgar para um determinado veículo da Imprensa é quebra de sigilo, crime que tem que ser investigado e punido) - até o presente momento NÃO APRESENTARAM UMA PROVA SEQUER da prática de crime (há suspeitas que manipuladas podem parecer, aos desatentos, provas,  mas não resistem a um exame técnico isento.]
Flávio pode se tornar beneficiário de uma briga que a princípio não é a sua: a luta do Judiciário para demarcar limites à atuação do Ministério Público. A reclamação pode ser a ocasião para ficar estabelecido se o Coaf pode ou não atender a pedidos do Ministério Público, uma decisão que pode ter um alcance muito maior do que a polêmica sobre o sigilo do filho do presidente. Pode marcar uma inflexão na tendência de fortalecimento do Ministério Público que se tornou patente nos últimos anos. [desvio que se ocorrer será benéfico, dado alguns exageros por parte do MP - que desde a 'constituição cidadã' 'passou a se julgar o 'quarto poder',  que não existe.
 
Um freio, sem excessos, nos poderes do MP é benéfico - foi o excesso de poderes do MP que permitiu a Janot acabar, até agora sem provas, com o governo Temer e prejudicar o Brasil com a queda da recuperação da economia.
 
A propósito, por onde anda aquele procurador, nos parece que Miller, que ao tempo que exercia suas funções de procurador orientava os açougueiros Batista a melhor exercerem suas atividades desonestas? impune?]
A segunda linha é a sombra de alguma ação governamental no caso Flávio. Esta hipótese estava em baixa, já que o Planalto tem sinalizado que trata -se de uma situação particular do parlamentar, que deve se defender sozinho. A tese é de que Bolsonaro iria erguer um cordão sanitário em torno do próprio filho, soltando sua mão e o entregando à correnteza. A consulta pública aberta pelo Banco Central dá margem para que se coloque em dúvida se o cordão sanitário vai mesmo existir. Se o Banco Central acabar com a compulsoriedade de uma transação potencialmente suspeita ser comunicada ao Coaf, o cheque de R$ 24 mil de Fabrício Queiroz para a madrasta do senador, a primeira-dama Michelle Bolsonaro, poderia ter passado despercebido.
Em Davos, Sergio Moro procurou estancar a manobra com dois movimentos: em um "quebra-queixo" com jornalistas disse que a sugestão do BC "não era decisão tomada". "O governo ainda vai se posicionar", garantiu. Mais adiante, em entrevista para a Reuters, o ministro procurou ser claro: "O governo nunca vai interferir no trabalho dos investigadores ou no trabalho com promotores". O tempo dirá se Moro prevaleceu ou foi vencido.
O BC publicou uma nota para dizer que a sugestão na realidade vai apertar, e não afrouxar o controle sobre transações, já que os bancos terão de monitorar todas as transações e reportar o que considerarem suspeito. Seria uma maneira de os bancos aprimorarem seus controles, de acordo com a autoridade financeira. É uma maneira também de cortar os poderes do Coaf, que deixaria de receber informações compulsórias e passaria a ter informações espontâneas. Parece claro haver uma disputa entre Sergio Moro e Banco Central sobre o tema. O Coaf dependerá de uma autorregulação bancária para poder atuar?
É outra queda de braço que pode beneficiar Flávio.

Escalada
Vive-se no Brasil agora uma incerteza sobre o funcionamento de mecanismos de controle sobre o poder central. Com uma canetada, o vice-presidente Hamilton Mourão ampliou ontem a capacidade do governo de atribuir o selo de "ultrassecreto" a documentos e dados passíveis de serem alcançados pela Lei de Acesso à Informação. O carimbo poderá ser usado por funcionários que exercem cargo de comissão. É muito mais gente para colocar a venda. [a Lei de Acesso a à Informação foi violada por Dilma, quando editou o decreto que a regulamentou, e na violação Dilma contou com a conivência do ex-ministro Ayres Brito - se alguém tiver dúvidas leia o texto da Lei e o do Decreto, verá que o decreto regula o que não existe na lei = o decreto inseriu norma na lei.
O ideal seria a revogação dessa Lei, por desnecessária, e cuidar de assuntos mais sérios e atuais.]
Já no primeiro dia do governo, com a Medida Provisória 870, o governo estabeleceu supervisão e monitoramento sobre organismos internacionais e organizações não governamentais indistintamente, [o Brasil é uma NAÇÃO SOBERANA e não pode aceitar interferências excessivas, indevidas, de organismos internacionais - até ONGs de fancaria ousam dar ultimato ao Governo brasileiro, e estas deveriam, ser expulsas do Brasil por desrespeito a nossa SOBERANIA.
Qual a utilidade de 90% das chamadas ONGs que vivem atrapalhando ações legítimas do governo brasileiro?
Para que serve a presença da 'anistia internacional'? A unica função dela é que o assunto envolveu bandido e malhar polícia pode contar com a tal anistia.
O Brasil precisa que a MP 870 seja aprovada.]  recebam elas ou não recursos públicos. O mesmo instrumento legal levou a órgãos como o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) a temerem, no limite, pela criação de restrições orçamentárias que ameacem a sua própria existência, temas que já foram tratados nesta coluna e na de Malu Delgado, publicada na quarta-feira.
A onda de violência que atinge o Ceará levou o presidente a usar as redes sociais para colocar na ordem do dia a proposta do senador Lasier Martins que reforça a lei antiterrorismo. Pelo projeto de Lasier, elogiado por Bolsonaro, é tipificado como terrorismo "incendiar, depredar, saquear, destruir ou explodir qualquer bem público ou privado", se o objetivo for pressionar os governantes. É uma amplitude tão grande que permite abarcar neste critério a derrubada de uma torre de transmissão e a pichação de um muro. [alguém em sã consciência, isenta, honesta e imparcial, é capaz de dizer que o que ocorre no Ceará NÃO É TERRORISMO?
É TERRORISMO SIM e TEM QUE SER COMBATIDO COMO TERRORISMO.
Terrorista é a espécie mais imunda, mais repugnante, mais abjeta e mais prejudicial a um país, por atacar inocentes e o caso do Ceará interessa aos adeptos do quanto pior, melhor, já que lá está sendo um pequeno ensaio, quando a reforma da Previdência começar a tramitar no Congresso Nacional, ocorrerão focos em vários estados, simultâneos, obrigando o Governo Federal a adotar medidas enérgicas, mas que impedirão que o CN aprecie propostas de emenda constitucional,  e com isso a reforma irá para o espaço, exatamente o que a turma do quanto pior, melhor, deseja.
 
O válido é se ENDURECER ao máximo o combate aos terroristas (incluindo, sem limitar, os 'stédiles' e os 'boulos') e durante as investigações ver quem 'pichou muros ' quem tentou 'derrubar pontes'.]
w = o ex-bbb agora fracassou de vez = acovardou geral
A desistência de  j.w  de exercer o mandato é um ato político, mais além da possível ameaça que pesa à sua vida. w. cria um constrangimento de porte ao governos federal e estadual em um momento de baixa em sua carreira. [o válido é ignorar o individuo;   que apresente logo sua renúncia , privilegie o Brasil e os brasileiros de bem com sua ausência e silêncio e todos se conscientizem que a importância dele é menor do que o corpo de letra que usamos para grafar sua inicial = w.]
surgiu como figura pública na condição de celebridade instantânea, após vencer um programa BBB, e elegeu-se como militante da causa LGBT. Mas se notabilizou por antagonizar e ser antagonizado por Jair Bolsonaro e seu filho Eduardo. "Eles fizeram um jogo de ganha-ganha. Um serviu de escada para o outro", comentou uma vez, cinicamente, um dos mais poderosos congressistas do país. Não foi bem assim.
Foi reeleito com apenas 24.295 votos, o menos votado dos 46 deputados do Rio de Janeiro. Entrou na sobra de quociente aberta pela votação de Marcelo Freixo. Em 2014 havia conseguido 144.740 sufrágios. [o ex-bbb em um gesto covarde está fugindo (o que é ótimo para o Brasil) por ter a certeza que nas próximas eleições não seria eleito sequer vereador.]
 
César Felicio - Valor Econômico
 
 
 

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Os Estupradores da Política Brasileira e os boatos sobre Teori jogar Lula no colo do Sérgio Moro

Em tempos de guerra de todos contra todos, rolam grampos e boatos por ar e por terra em Brasília (que tem um amplo mar de lama). No feriado de Corpus Christi, o mais intenso burburinho dava conta de que o ministro Teori Zavascki já teria mandado para o juiz Sérgio Moro o inquérito sobre Lula na Lava Jato. Especulava-se sobre uma "prisão" do $talinácio...
Quem poderia imaginar que a divulgação pública de gravações de indiscretas conversas, nada republicanas, entre políticos seriam capazes de expor como funciona o que os alemães classificam de "Governo de Gangsters" no Brasil?  A "grampolândia" (interceptações telefônicas legais ou meras gravações ocultas, que devem ser questionadas nos tribunais) revelou o modus operandi e desnudou como e o que pensa a cúpula do desgoverno do crime organizado. Eles são os "estupradores" da Política, da Economia e da Pátria.

  Sarney Inocente

Podemos tirar várias impressões e conclusões das várias conversas do mantidas pelo "Gravador-Geral da República da Lava Jato", Sérgio Machado, com seus principais aliados (por enquanto apenas do PMDB, mas outros dirigentes de partidos mais ou menos votados já devem ter entrado na dança).  O inaugurador da "Nova República" que já nasceu caduca e esclerosada, o imortal, senador aposentado e ex-Presidente da República José Sarney, nos proporcionou as mais duras constatações acerca da gravíssima crise institucional brasileira, em claro ritmo de ruptura, apesar do cínico discurso oficial em contrário.

Vale como registro histórico a transcrição de dois trechos do papo nada reto entre Sarney e o "amigo" Sérgio Machado. Os dois começam batendo em Sérgio Moro:

MACHADO – Não teve um jurista que se manifestasse. E a mídia tá parcial assim. Eu nunca vi uma coisa tão parcial. Gente, eu vivi a revolução [...]. Não tinha esse terror que tem hoje, não. A ditatura da toga tá f***.

SARNEY – A ditadura da Justiça tá implantada, é a pior de todas!

MACHADO – E eles vão querer tomar o poder. Pra poder acabar o trabalho.

Ainda na ofensiva contra o juiz da Lava Jato, Machado e Sarney aproveitam para falar mal das nomeações que a Presidenta Dilma Rousseff fez para o Supremo Tribunal Federal:

SARNEY – E com esse Moro perseguindo por besteira.

MACHADO – Presidente, esse homem tomou conta do Brasil. Inclusive, o Supremo fez porque é pedido dele. Como é que o Toffolil e o Gilmar fazerm uma p*** dessa? Se os dois tivessem votado contra, não dava. Nomeou uns ministro de m*** com aquele modelo.

SARNEY – Todos.

Ao reclamar da "ditadura da Justiça", que classificou como "a pior de todas", José Sarney forçou a cúpula do judiciário a partir para uma pragmática ofensiva contra o crime organizado. Falas como a de Sarney tiraram a cúpula de magistrados da zona de conforto. As togas foram rasgadas e arrancadas simbolicamente.
O dilema desfeito pelas hediondas conversas entre a turma da Lava Jato, na tentativa de obstruir a ação da "Justiça", foi: ou os magistrados combatem o crime, ou serão destruídos por ele. Parece que o judiciário começa a funcionar a fórceps, por pressão legítima daquela tal de "opinião pública".

O Supremo Tribunal Federal parece que demorou um pouco, mas entendeu que se tornou maior que eles a força simbólica popular do juiz Sérgio Fernando Moro. Mesmo não sendo uma unanimidade entre alguns colegas togados - que fazem muxoxos e questionam a atuação do titular da vara 13 de Curitiba -, a maioria no judiciário acabou forçada a se convencer que o Brasil da impunidade não aceita mais que tenhamos "apenas um Moro" cumprindo seu dever de servidor público da magistratura.   

Apesar do avanço, é preciso intensificar a vigilância cívica. Embora divulgado apenas agora, a conta-gotas, o teor das gravações do Machado é conhecido, há muito tempo, pela cúpula do judiciário. Agora, quando as duras palavras vêm a público, ocorre o teatro da indignação que, por motivos óbvios, se transforma em reação.

A maioria dos brasileiros mobilizados nas redes sociais ficou chocada com o hediondo estupro de uma adolescente de 16 anos por 33 marginais no Rio de Janeiro. Será que a maioria compreendeu que tal crime é consequência da impunidade em uma sociedade ainda conivente com o crime e leniente com um judiciário que não funciona Direito (sem trocadilho infame)?

Como bem prega o amigo Carlos Maurício Mantiqueira aqui neste Alerta Total, precisamos de Judiciário - e não de um "Judasciário", onde imperam traições, intrigas e vaidades que contribuem para a manutenção da desgovernança do crime institucionalizado.  No BBB da República dos Gangsters, está tudo dominado, porém está tudo também grampeado... Os políticos que promoveram o fácil impeachment da Dilma sabem que também podem ser impedidos, no final das contas.

A certeza de punição, que antes inexistia, é a grande novidade no Brasil que começa a mudar - mesmo que ainda aquém da velocidade necessária.

Releia a edição do feriado: Quando o Judiciário punirá o Governo de Gangsters?

Fonte: Blog Alerta Total - Por: Jorge Serrão

 

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

Não temos pena de morte, mas morte sem pena.



Hoje, Mônica expressa seu medo de mãe e professora
Nossas crianças estão sendo assassinadas em ruas movimentadas, dentro de suas casas, nas praças. À queima roupa e à luz do dia.  A cada morte noticiada, minha vontade é de ir embora para bem longe desse país bandido que não protege a vida de suas crianças.
Tenho medo de sair às ruas. Tenho medo de parar nos sinais. Medo de andar de carro. Tenho medo de deixar meus filhos ir à esquina. Tenho medo o tempo todo. Medo das balas que acham pessoas quando deveriam ser só perdidas. Medo dos bandidos e medo da polícia que, mirando neles, nos atinge.

Culpa da polícia? Não é culpa dos policiais. Nossa polícia é vítima também. Nossos policiais são despreparados. Mal alimentados, mal orientados, mal pagos e desprotegidos. Seus coletes não os defendem das balas mais potentes. Os criminosos têm poder de fogo muito maior que o deles. É um crime expor assim a vida desses policiais.  É cruel. Porque são homens e mulheres que arriscam suas vidas por quase nada. Largam suas famílias e não sabem se voltam. E têm morrido assassinados, torturados friamente sem que nada seja feito.  Cento e cinco policiais foram assassinados em 2014, só no Rio de Janeiro, mesmo que a maioria tenha sido morta quando estava de folga.

Nossa polícia está bem aparelhada para lutar contra o povo insatisfeito. Para reprimir manifestações, agredir grevistas e suspeitos pobres. Espancam, jogam bombas, sprays. Para agredir civis são ótimos.  Agora precisam ser preparados adequadamente para nos defender. Nós todos, o povo honesto que, como eles, não aguenta mais tanta instabilidade e insegurança.  E não aguenta tantos maus tratos de seus governantes.

Nós que, como os policiais, também não sabemos se voltamos para casa depois de um dia de trabalho. Somos todos órfãos de uma justiça séria que faça leis que amparem as vítimas e não aos criminosos.  Governantes que acabem com leis frouxas que só favorecem a impunidade. E que de forma séria nos guardem verdadeiramente. Que fiscalizem as fronteiras porosas. Que nos protejam de verdade, não só para inglês ver. 

Até o momento nada de efetivo está sendo feito. Especialmente quando as vítimas são pobres ou remediadas, porque os verdadeiramente ricos andam de helicóptero e carro blindado. E quando são vítimas, têm absoluta prioridade na resolução dos crimes. Se você for rico, famoso, BBB, fique tranquilo. Seu caso será notícia. Será investigado com mais rigor.

E os Zés assassinados enquanto esperam o ônibus, no caminho para o trabalho, na volta de casa, dentro da própria casa? Nós que assistimos nossas crianças partindo e enlouquecemos de dor? Quem nos escuta?  Segundo o Índice de Homicídios na Adolescência, divulgado pelo Governo Federal, Unicef e sociedade civil, quarenta e dois mil adolescentes brasileiros, entre 12 e 18 anos, vivem no risco de ser assassinados a qualquer momento até 2019.

Desnecessário esclarecer que o risco é maior para os meninos e os negros. Em oito anos esse índice nunca foi tão alto. Uma tragédia anunciada. Pulsamos na linha de tiro. É uma roleta russa.  Me recuso a aceitar que nossas crianças virem apenas um cemitério de lembranças. Que nossas famílias sejam desmontadas a bala, parte a parte como quebra-cabeças de peças perdidas, cheio de buracos.

Torço por um Brasil melhor. Rezo para que os pequenos consigam chegar a ser grandes. E que sejam melhores do que os grandes que temos agora. Porque, no Brasil atual, não temos a pena de morte. Temos a morte sem pena, o que é muito pior.

Por: Mônica El Bayeh - https://twitter.com/monicabayeh