Coitado do Lula! Não fosse ele
absolutamente indigno da minha pena porque muito poderoso, eu estaria aqui a lamentar a sua sorte. Afinal de contas, o homem armou a
reação à esquerda contra a presidente Dilma Rousseff, e o tiro saiu pela
culatra. Depois de incentivar os senadores Paulo Paim (PT-RS) e Lindbergh Farias
(PT-RJ) a liderar um movimento
anti-Dilma, o Babalorixá de Banânia resolveu recuar e, agora, decidiu pedir
que os esquerdistas, seus amigos, tenham mais tolerância com ela.
Que coisa, hein? Primeiro ele colabora
para demonizar a presidente da República e depois procura assoprar, afirmando
não ser bem assim… Eu fico muito impressionado ao constatar como Lula perdeu a biruta.
Comete, hoje em dia, erros incompreensíveis, que não cometeria há alguns anos.
É fadiga de material. Lula perdeu a utilidade. E por que é assim? Porque o PT
jamais foi governo em tempos de escassez. O partido existe e se formou para
denunciar injustiças reais ou imaginárias, pouco importando se as respostas que
oferecia à sociedade eram ou não viáveis.
Tomem como exemplo o
fator previdenciário. O chefão petista foi presidente da República por longos
oito anos. Não mexeu na questão. Dilma governou por mais quatro. Também ignorou o
tema. Um deputado da base aliada decidiu propor a extinção do mecanismo. Como
essa tal base aliada está notavelmente desarticulada, a proposta passou na
Câmara.
Muito bem! A única coisa razoável, segundo a matemática, que a presidente tem a
fazer é vetar a medida. Ocorre que Lula e os petistas decidiram transformar
o que é uma questão contábil num tema de natureza moral. Até porque, com o
baixo pragmatismo que sempre os orientou, argumentam que o fim do fator
previdenciário vai começar a onerar o governo do sucessor de Dilma. Sendo
assim, que mal tem?
Sobra, no entanto, um pouco de bom senso à presidente e, caso não mude de ideia, ela está mesmo disposta
a vetar a mudança se for aprovada também no Senado. Agora Lula se diz
preocupado com os desdobramentos. É mesmo? Justamente
ele, que está na raiz da reação ao possível veto? Justamente ele, que,
segundo o senador Paulo Paim, estimulou os companheiros do partido a votar
contra a orientação do governo? Lula foi, nos tempos da abastança, o Midas
da política. Parecia transformar em ouro tudo aquilo em que tocava. Como as
circunstâncias da economia internacional eram favoráveis ao país — e até as da
crise mundial o foram —, ele podia
pontificar à vontade. Aquela realidade não existe mais. O cenário é
adverso. E os erros que se acumularam em 12 anos de gestão cobram agora a sua
fatura.
Momentos assim pedem realismo do
governante ou do homem de estado, ainda que o preço seja a impopularidade,
momentânea ou nem tanto. Não, senhores! Lula
não está preparado para isso. Ele só sobe prometer e anunciar generosidades.
E julgou que conseguiria, a um só tempo, apoiar Dilma e lhe fazer oposição.
Viu, no entanto, que isso não é possível. Ou por outra: pouco importa se a
oposição que ele lidera está à esquerda; o fato é que ele colabora para gerar a
sensação de que, “com esse governo, não dá”.
Ocorre que isso, obviamente, não é bom
também para o seu partido. Para a infelicidade de Lula, aos olhos do
eleitorado, Dilma é o PT, e o PT é Dilma, o que, convenham, é um fato. O
ex-Poderoso Chefão tentou a quadratura do círculo, que consistiu em se opor às
medidas de ajuste propostas pela presidente, porém preservando-a da hostilidade
popular. A operação, obviamente, era impossível. Ademais, ninguém precisa de
petistas para enxovalhar o governo nas ruas. A população faz isso por conta
própria.
Lula, em suma, resolveu brincar de
oposição, acreditando que isso lhe acarretaria, e ao partido, algum bem. O tiro
saiu pela culatra. Os que se opõem ao petismo há mais tempo rejeitam a sua
companhia no terreno da oposição. Os que se opõem ao petismo há mais tempo
cobram de Lula que tenha vergonha na cara e saia em defesa de Dilma. Os que se
opõem ao petismo há mais tempo repudiam seu oportunismo. Afinal, um criador não
abandona assim a sua criatura. O senhor Luiz Inácio Lula da Silva não venha
agora posar de doutor Victor Frankenstein, arrependido de ter dado à luz a sua
criação.
Tenha a decência, Lula, de apoiar o
governo que você ajudou a eleger e a reeleger. Você não é bem-vindo, Lula, na
oposição.
Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo
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