Começam a se desenhar no horizonte
do Governo as condições concretas para uma tempestade política devastadora. O clima no Planalto
já era dos piores frente à iminente divulgação do relatório do TCU avaliando as
notórias e ilegais pedaladas fiscais no orçamento federal que podem servir de base para a abertura de um
processo de impeachment de Dilma.
Ganhou contornos ainda mais graves após o
vazamento público do conteúdo da delação premiada do empreiteiro Ricardo
Pessoa,
presidente da UTC, na qual ele fala com todas as letras
em chantagem e contribuições de caixa dois na campanha que levou ao segundo
mandato da presidente. Para dar base as suas denúncias, o empreiteiro teria entregue à Polícia Federal planilhas com
os pagamentos feitos ao PT e aos
tesoureiros da então candidata e do partido. Em se configurando
nesse caso o ilícito, a eleição também
poderá ser anulada segundo as regras da legislação eleitoral.
Na
semana passada, o
ambiente pesou de vez com a reação, no mínimo, desastrosa da chefe da Nação que resolveu se insurgir contra o instrumento legal da delação premiada, comparando
tortura e ditadura com mecanismos do processo de investigação e democracia
plena. Recebeu a resposta contundente do ex-presidente do STF, Joaquim Barbosa, que classificou as
palavras de Dilma como um atentado à Constituição: “Há algo de profundamente errado na nossa vida pública. Nunca vi um
chefe de Estado tão mal assessorado como a nossa atual presidente”, disse
Barbosa, sacramentando a seguir: “Nossa
Constituição não autoriza o presidente a investir politicamente contra as leis
vigentes. Caberia à assessoria informar a presidente que atentar contra o bom
funcionamento do Poder Judiciário é crime de responsabilidade”. Ao que tudo
indica, em cada uma das frentes nas
quais se movimenta o governo – seja ela de ordem econômica, política ou legal – vão se delineando fortes sinais de crimes de responsabilidade em
cascata.
Amontoam-se
problemas de desvios de gestão, somados a queda acentuada de popularidade. E
nessa toada, nem mesmo a teórica maioria
parlamentar no Congresso parece ser garantia de nada. Ao contrário, reinam
rebeliões entre os aliados, um ambiente propício para
que o aparecimento de evidências de irregularidades deságue em um processo pelo
afastamento da presidente. A permanência de Dilma no poder virou discussão corriqueira até nas hostes
petistas aonde, nos últimos dias, mesmo o seu mentor Lula chegou a demonstrar, por atos e
palavras, que aos poucos vem desembarcando
desse projeto. Na contraofensiva, o
governo recorre a argumentos de defesa muitas vezes patéticos como o de
alegar que a oposição também recebeu doações de empresas com eventuais
malfeitos. Ora, o
que está em questão é o mandato de presidente que pode, caso comprovado, ter
sido maculado pela atual ocupante, passível assim de um impeachment.
Dilma disse
“não admitir” que se insinue nada contra ela, mas não
foram insinuações e sim uma delação premiada, prevista em lei, que lhe apontou as acusações e não cabe a ela a prerrogativa de admitir
ou barrar tal investigação. Da mesma maneira que resvala no autoritarismo a atitude da bancada petista, que dá base
a seu governo, de cobrar do ministro da Justiça, Eduardo Cardoso, um maior “controle” sobre a Policia Federal. Sempre é bom lembrar que a PF não atua como órgão governamental e sim como instituição autônoma do Estado, regida pelo primado da lei, e que nos últimos tempos
vem desvendando para o País o que foi classificado pelo procurador-geral da
República, Rodrigo Janot, como um “descomunal
caso de corrupção”, cujos culpados
devem ser exemplarmente punidos.
Fonte: Editorial – Revista IstoÉ
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