O rastro da propina da campanha de Dilma
Levantamento nas contas da presidente mostra relação entre pagamentos de propina e remessas de dinheiro do PT para empresas de fachada. Notas subfaturadas também serviram para fraudar o custo oficial da eleição
Na semana passada, ISTOÉ revelou que por determinação do ministro Gilmar Mendes, vice-presidente do Tribunal Superior Eleitoral, a Polícia Federal deverá fazer uma apuração sobre alguns gastos realizados pela campanha de Dilma Rousseff em 2014. Há a suspeita de diversos pagamentos feitos a empresas que seriam apenas de fechada. Ou seja, haveria no esquema oficial de doação de recursos para a campanha uma espécie de lavanderia de dinheiro proveniente de propinas do petrolão. A reportagem também mostrou que as propinas da UTC entregues à campanha de forma oficial, como delatado pelo empresário Ricardo Pessoa, abasteceram boa parte dessas empresas de fachada.Agora, um novo levantamento feito pela revista indica que essas mesmas empresas podem ter sido aquinhoadas com propinas depositadas na campanha de Dilma pela Camargo Corrêa e pela Engevix, cujos executivos já admitiram a participação no petrolão em acordos de delação premiada.
Com base nos depoimentos dos executivos que
colaboraram com a Justiça Federal em Curitiba, a reportagem levantou
dezenas de recibos de doações dessas companhias, cruzando-os com as
ordens de pagamento aos fornecedores que o TSE trata como “suspeitos”.
Todas as empresas arroladas pelo ministro Gilmar Mendes serviram de
destino para parte do dinheiro proveniente do petrolão. A análise nos
documentos de receitas e despesas apresentados pelo PT evidencia, ainda,
fortes indícios da emissão de notas fiscais subfaturadas para evitar a
violação do limite de gastos da campanha. São elementos que reforçam a
tese da Operação Lava-Jato de que o PT usou o caixa 1 para lavagem de
dinheiro.
Gerson Almada, ex vice-presidente da
Engevix, confirmou ao juiz Sérgio Moro que pagou propina ao PT por meio
de doações de campanha, solicitadas pelo ex-tesoureiro da legenda João
Vaccari Neto e pelo lobista Milton Pascowitch, operador do ex-ministro
José Dirceu – todos são réus na Justiça Federal de Curitiba. Pressionada
pelos protagonistas do escândalo, a Engevix doou R$ 1,5 milhão para a
campanha de Dilma em 2014. O recibo do depósito data de 2 de outubro e
foi assinado pelo então tesoureiro da campanha, Edinho Silva, hoje
ministro de Comunicação Social.
No mesmo dia 2, a campanha repassou R$
156 mil para a UMTI, empresa de suporte de informática investigada pelo
TSE por suspeita de não ter prestado qualquer serviço à campanha. Outros
R$ 64,7 mil foram depositados na conta da Dialógica Comunicação,
empresa de Keffin Gracher, recém-nomeado assessor especial pelo ministro
de Comunicação Social. Há ainda vários pagamentos a empresas sem
atividade aparente, segundo as suspeitas do TSE. Chama atenção o
pagamento de R$ 1,66 milhão à Ageis Gráfica e Editora, que funciona no
mesmo endereço de uma empresa de comércio de equipamentos, no município
catarinense de São José. Mais R$ 280 mil foram para a Promo Gráfica,
sediada num imóvel comercial de muros altos no bairro do Lixeira, em
Cuiabá (MT). Os telefones de ambas empresas estão desativados. A
Dialógica foi fechada há alguns meses. A UMTI diz que prestou os
serviços
LAVANDERIA:
As suspeitas da Operação Lava Jato e do TSE é que o material gráfico tenha
sido usado para legalizar recursos irregulares usados na campanha
As suspeitas da Operação Lava Jato e do TSE é que o material gráfico tenha
sido usado para legalizar recursos irregulares usados na campanha
(...)
A suspeita de que a campanha de Dilma possa ter sido usada para lavar
dinheiro sujo do petrolão foi motivo de questionamentos da CPI da
Petrobras. Para os integrantes da força-tarefa da Lava Jato, não há
dúvidas de que Vaccari, preso desde abril, tinha conhecimento total do
esquema. Os procuradores e delegados que investigam o petrolão tentam
agora saber até que ponto Dilma e Lula sabiam sobre a origem dos
recursos da campanha petista.
Fotos: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo, Eraldo Peres/AP; Pedro Ladeira/Folhapress; Divulgação/STF
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