Como o jeca não precisa
de ninguém que não seja mais útil ao projeto pessoal travestido de causa
nacional,
o ex-capitão de Lula sumiu até mesmo da nota do PT.
O futuro não é mais como era antigamente para José Dirceu, aquele cujo telefonema era o
telefonema e que, dobrando a meta,
consegue ser preso pela segunda vez por corrupção. Depois das delícias da
roubalheira, lida com as dores dela: não consigo ter compaixão pelo drama
pessoal de quem foi útil ao PT para imolar o país no altar das imposturas de
dois presidentes ao custo de um pedaço do nosso futuro.
Com o desassombro em
cometer o petrolão enquanto era julgado pelo mensalão – já um escárnio com o país –,
JD aprofundou-se nos crimes por opção e, agora, milhares
de brasileiros vivem dramas pessoais consequentes a ela. Convicto da própria inocência, o condenado pelo
STF avisou: “minha sede de justiça
será minha razão de viver”. Se ao paranoico, toda sutileza é um pleonasmo;
aos sonsos, todo pleonasmo sempre será sutil; aos cínicos, a verdade só se
impõe quando lhes interessa; aos lúcidos e honestos em seus propósitos, a
verdade se revigora na repetição.
Por isso
também, há seis anos esta coluna repete, numa luxuosa
lavoura arcaica incansável, a verdade sobre José Dirceu. O risco
inerente à repetição é tornar a coisa familiar, promovendo a conciliação com o
irreconciliável. A coluna não sucumbe a ele porque segue a lição de José de
Alencar: só a ignorância aceita e só a
indiferença tolera o reinado da mediocridade. Assim,
flagra JD encurralado pela escolha entre o até ontem útil ele mesmo e o
personagem de si, já descartado.
O
guerrilheiro que não guerrilhou; o lojista que só descobriu balcão na Casa Civil; o stalinista que não realizou o sonho
totalitário; o deputado que não concluiu o mandato; o ministro interrompido; o sucessor abortado de Lula; o líder que não mobilizou
as massas; aos 60 e poucos anos, esse farsante de si mesmo tem a chance de
finalizar uma identidade e mitigar a tal sede de justiça contando o que só um
capitão sabe. Ser perfeito, então, a escolha realizaria a tal razão de viver.
Mas tem essa história de o diabo
morar nos detalhes e tal, conforme John Adams ensinou: a fala é de Samuel Wainer. Bater a carteira de uma expressão é moleza para quem esbulhou
um país, mas tudo o que JD
carregará, insistindo no silêncio culpado, é uma carga vazia de significado.
Ora, Wainer assumiu pecados, assenhorou-se
dos próprios erros, admitiu deslizes nada honrosos atribuindo um caráter ao
pecador que foi; JD quer dar uma razão de viver a um criminoso sem caráter.
Todos procuramos uma razão de
viver, muitos morrem tentando; a de JD pela inocência não é nem possível nem impossível: é
fictícia. Combina com o personagem, mas, olha o diabo aí, a esse não é
cobrado provar nada e ao outro, o real, é inútil tentar. A realidade não
precisa fazer sentido, só a ficção; JD
empreste o sentido que quiser a essa ficção debochada; a realidade não se
importa. Nem Lula.
Fonte: Coluna do Augusto Nunes
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