Sabatina não está
esclarecendo o que tem de ser esclarecido e ainda serve de palco a bufões de
quinta categoria
Olhem aqui… Acompanhei até há
pouco a sessão da Comissão de Constituição e Justiça que sabatina o
procurador-geral da República, Rodrigo
Janot, que deve ser reconduzido ao cargo sem dificuldades. Certamente será
aprovado na comissão e no plenário do Senado. Renan
Calheiros (PMDB AL) já se encarregou do assunto.
Janot tem um grande
aliado Involuntário na sabatina: chama-se Fernando Collor de Mello,
senador pelo PTB de Alagoas. Irado com o fato de que é hoje um dos dois
denunciados pelo procurador-geral, ele se ocupa
exclusivamente do exercício de sua fúria privada, disparando palavrões fora do
microfone, o que, obviamente, provoca a repulsa dos demais senadores, criando
dificuldades para que se faça uma sabatina mais técnica.
Destaco alguns pontos da fala de Janot.
Ele
negou que tenha participado de um “acordão”
na semana retrasada. Então ficamos assim: ele não participou, mas a tentativa de acordão, que transformou
Renan no grande estadista da República e no fiador da estabilidade, aconteceu. Só para lembrar: no
desenho imaginado, o presidente do
Senado não seria denunciado — ou será alvo de uma denúncia inepta. Em troca, garantiria os votos de que precisa o
procurador-geral. O senador se
mobilizaria ainda em busca de votos em favor do governo no TCU.
Janot diz não ter
participado? Que bom! Mas aconteceu, sim! E Brasília inteira
sabe disso. E, tudo indica, não vai dar
certo. Não está fácil cooptar os votos no tribunal. Quanto à parte que diz
respeito às relações
Renan-Ministério Público, o tempo dirá. Uma coisa é certa: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), arqui-inimigo do
Planalto já é um denunciado, enquanto
Renan anda a posar de magistrado.
O detalhe nada irrelevante é que
o presidente do Senado começou a ser investigado antes mesmo do que o presidente da Câmara. O procurador-geral
afirmou que não teria como fazer o acordo porque seria necessário combinar isso
com os demais procuradores. Em parte, é
verdade. Ele sabe que houve uma
espécie, assim, de rebelião surda na força-tarefa. Insisto: será preciso
analisar a qualidade da eventual denúncia que se vai apresentar contra o
presidente do Senado.
O sabatinado negou ainda que exista
algo como uma “Lista de Janot”. Segundo disse, a
relação dos investigados surgiu a partir do que chamou “colaborações”. Pois é… Acho a resposta insuficiente. Fica
parecendo que a operação é conduzida unicamente pelos delatores, o que seria uma má
notícia, não é?, hipótese em que estaríamos, então, na dependência daquilo
que os bandidos querem ou não querem revelar. Chamo, no caso, de “bandidos” todos os que cometeram crimes
no petrolão, sejam colaboradores ou não. O fato de o sujeito se tornar um
delator premiado não faz dele um herói.
Até agora não entendi — e não se fez uma pergunta clara ao procurador,
com resposta idem — por que figuras do Executivo não são
investigadas na Lava-Jato. Até agora não entendi como um escândalo de tal
magnitude se construiu só com empreiteiros, três ou quatro vagabundos com cargo
na Petrobras e uma penca de parlamentares, a maioria de segunda linha. Isso apenas
não tem explicação. E a resposta, tudo indica, não surgirá na sabatina.
Também não entendi — e o procurador-geral jura não ter havido acordo — por que um inimigo jurado do Planalto, figura de
proa do PMDB, é
O primeiro denunciado de um escândalo que, por óbvio, tinha o PT no controle. Até agora não entendi
também por que figuras como Dilma
Rousseff e Edinho Silva não são investigados nem mesmo num simples
inquérito.
Se querem saber, Rodrigo Janot será
aprovado pelo Senado — e não estou aqui a defender que
seja reprovado — sem
que tenhamos respostas para essas perguntas.
Ah, sim, caminhando para o
encerramento, destaco: para não variar,
os petistas tentaram transformar a sabatina numa sessão de ataques ao PSDB,
à oposição etc e tal. Na narrativa
dos companheiros, o partido aparece como a grande vítima de uma conspiração. É asqueroso. É por isso
que essa gente mal consegue sair às ruas hoje.
Infelizmente, a sabatina não vai esclarecer o que esclarecido não está. E, adicionalmente,
está dando a chance a que bufões de
quinta categoria posem de heróis.
Fonte:
Blog do Reinaldo Azevedo
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