Mais importante, a longo prazo, que as denúncias
pontuais feitas ontem ao ex-presidente Lula pela Operação Lava Jato, é a
caracterização dele como "o comandante máximo do esquema de corrupção
da Petrobras" ou “o verdadeiro maestro dessa orquestra criminosa",
palavras duras usadas pelo Procurador Daltan Dallagnol, coordenador da
Força-Tarefa de Curitiba.
As denúncias podem levar, a curto prazo, à
condenação de Lula por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, mas é a
acusação explícita de que ele é o chefe do esquema de corrupção que foi
montado em seu governo desde o mensalão até o petrolão que o atinge
politicamente de maneira quase letal, ao mesmo tempo que gerará a maior
pena, caso seja aceita quando apresentada.
O Procurador-Geral da
República, Rodrigo Janot, que está a cargo do processo-chave sobre o
esquema de corrupção, já disse em alguns despachos que Lula é o chefe do
grupo criminoso. Como já escrevi aqui, a justiça brasileira levou quase
10 anos para ter condições políticas de denunciar o ex-presidente Lula
como chefe da quadrilha, que todo mundo sabia que era desde o início, no
mensalão.
Agora ficou demonstrado que mensalão e petrolão são a
mesma coisa – um segmento do mesmo esquema de corrupção montado pelo PT
no Palácio do Planalto, que não poderia funcionar sem que Lula fosse o
chefe, como sublinhou Dallagnol ontem. A denúncia dos Procuradores de
Curitiba foi contextualizada dentro de um esquema de corrupção que
teria três objetivos: montar uma base política de apoio no Congresso, a
perpetuação no poder, e o enriquecimento ilícito de lideranças
políticas. O apartamento tríplex no Guarujá e o armazenamento de
pertences pessoais de Lula por 5 anos, a cargo da empreiteira OAS, são
apenas parte desse último ramo do esquema, e não apenas eles.
Lula
ainda está sendo investigado pelo pagamento de palestras que os
investigadores desconfiam que foram superfaturadas, e em alguns casos
nem existiram, o lobby a favor de empreiteiras em países amigos, e pelo
sítio em Atibaia que também teve outra empreiteira, a Odebrecht, a fazer
reformas e melhorias. Essas e outras denúncias serão reforçadas
pelas delações premiadas de Leo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht.
Pinheiro já disse na delação premiada que foi anulada por Janot, que o
triplex foi abatido da propina devida ao PT.
A obstrução da
Justiça, para evitar a delação de Nestor Cerveró, é outra investigação
que está em progresso. Juntando-se as vantagens pessoais com o esquema
de corrupção montado a partir da sua chegada ao Palácio do Planalto para
comprar apoio político e manter o PT no poder o maior tempo possível,
temos um retrato de um grupo político criminoso que tomou de assalto as
instituições do país.
E que pode ter cometido crimes antes mesmo de
chegar ao poder central. A Operação Lava Jato está também exumando
outro fato escabroso, os aspectos políticos do assassinato do
ex-prefeito Celso Daniel, de Santo André. O publicitário Marcos Valério
confirmou ao Juiz Sérgio Moro que foi procurado para resolver uma
questão financeira envolvendo uma chantagem do empresário Ronan Maria
Pinto contra líderes do PT José Dirceu e Gilberto Carvalho.
Ele
confirmou que o empréstimo do Banco Sachin foi para pagar essa
chantagem, e em troca o Banco ganhou uma encomenda bilionária da
Petrobras para compra de sondas. Valério, no entanto, se recusou a
revelar a razão da chantagem, assumidamente por receio de ser alvo de
represálias.” O senhor não pode garantir a minha vida”, disse a Moro. Bruno,
irmão de Celso Daniel, e outros parentes do ex-prefeito de Santo André
consideram que foi crime político, ele teria sido assassinado para
evitar que denunciasse esquemas de corrupção em financiamento de
campanhas petistas e de aliados. O conjunto da obra não é nada favorável
àquele que já foi o maior líder político deste país.
Fonte: O Globo - Merval Pereira
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