Percebe-se que o terreno está sendo adubado para o
trânsito, na campanha do ano que vem, de salvacionistas, populistas por
definição e antidemocratas
A
democracia não passa por bom momento no planeta. O primeiro-ministro britânico
Winston Churchill tinha, entre suas melhores frases, a de que “a democracia é a
pior forma de governo, excetuando as demais”. Era e é verdade, como ficou
provado principalmente no pós-guerra. A dobradinha de regime político e sistema
econômico liberal venceu o duelo da guerra fria, ganha pelo Ocidente devido à
incapacidade de o modelo comunista soviético e aparentados gerarem renda e
emprego, ainda obtendo ganhos de produtividade que dessem sustentação ao
crescimento equilibrado das economias. E sem liberdades.
A debacle
soviética simbolizada pela derrubada do Muro de Berlim, em 1989, levou
analistas apressados a decretar o “fim da História”, a partir do qual o modelo
democrático e de economias de livre mercado reinaria para todo o sempre. Não
foi assim. A
democracia e modelos econômicos abertos são mantidos em risco. É preciso
defendê-los, nos embates que continuam. A experiência recente brasileira é
prova de como sonhos dirigistas e autoritários — são sinônimos — persistem: com
Dilma Rousseff sucessora de Lula, o lulopetismo pôde aplicar a velha cartilha
do PT e enterrou a economia brasileira na maior recessão da história (mais de
7% de queda do PIB em dois anos, 2015/6, com a expulsão de 14 milhões do
mercado de trabalho).
Tudo
ainda foi condimentado pelo mais amplo esquema de corrupção de que se tem
notícia no país, montado a partir do PT, mas pluripartidário, a ponto de também
atrair oposicionistas do PSDB. Crise econômica e corrupção são, por si sós,
tóxicos para o sentimento democrático das populações. Quando misturados, têm
elevado poder de corrosão. Os
exemplos no exterior são múltiplos, encontrados na esteira do crescimento da
onda nacional-populista que passa pelo trumpismo americano, pelo projeto de
fechamento das fronteiras do Reino Unido e separação da União Europeia
(Brexit), bem como pelo fortalecimento de forças de extrema-direita, para citar
os casos de maior repercussão, na França e Alemanha. Mau momento para a
democracia.
Na
América Latina — reserva histórica de caça de populistas de direita e esquerda
—, estudo do Latinobarómetro, ONG chilena, detecta um declínio constante do
apoio à democracia desde 1995. No Brasil, atesta, o apoio à democracia caiu, em
2015, de 54% para 32%, e ainda 55% dos brasileiros se declararam propensos a
aceitar um governo não democrático, se ele resolver os problemas da população.
Tudo ilusão, demonstra a História.
Somando-se
a isso o ingrediente da desmoralização dos políticos, percebe-se que o terreno
está sendo adubado para o trânsito, na campanha do ano que vem, de
salvacionistas, populistas por definição e antidemocratas. O Brasil não está
livre da onda nacional-populista. Há,
porém, em curso um difícil mas decisivo processo de depuração ética das
instituicões, a ser defendido pela sociedade como forma de garantir espaço para
uma importante renovação dos quadros políticos em 2018. É possível e devem-se
erguer barreiras contra a sedução das vias rápidas, autoritárias, de solução
dos problemas. Não deu certo em 37, 64 e 68, e não funcionaria novamente.
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