Reforma proposta é covarde, porque tenta impor aos trabalhadores sacrifício ainda maior
Nenhuma
reforma na Previdência será justa sem que, antes, se estabeleça drástica
política de cobrança dos sonegadores dos impostos previdenciários. E será
anódina qualquer tentativa de tratar a Previdência de forma isolada do Sistema
de Seguridade Social do qual ela, constitucionalmente, faz parte. A CPI da
Previdência recebeu documentos que revelam sonegação superior a R$ 100 bilhões.
O que o governo Temer pretende fazer em relação a isso? E o que tem a dizer
sobre o fato de o sistema, em 2016, ter sido superavitário (arrecadou R$ 707,1
bilhões e gastou [com pagamentos de aposentadorias e despesas do MS] R$ 631,1
bilhões)? Sem essas respostas, o próprio governo extingue a legitimidade da
reforma. E ao tentar ignorar números oficiais, torna fraudulenta a tese
governamental.
A verdade
é que o governo não trata disso com a devida transparência porque seria
impossível convencer o trabalhador de que ele, que já tem descontado,
compulsoriamente, de 8 a 11% do seu salário para sustentar o sistema, teria de
pagar uma segunda vez, e essa, para tapar o buraco aberto pelo crime da
sonegação e pela incompetência governamental.
Assim, a
reforma proposta por Temer é covarde e cínica. Covarde, porque tenta impor aos
assalariados, que já pagam a sua parte, um sacrifício ainda maior,
comprometendo sua renda. E cínica, porque os obriga a buscar uma forma privada
de Previdência que, sabidamente, não têm condições de sustentar. Resistir a
essa reforma é, então, impedir que o trabalhador seja obrigado a pagar uma
conta que não é sua e evitar que os mesmos que criaram o problema acabem por
lucrar com ele. Sim, bancos, por exemplo: devem milhões à Previdência, mas
podem ganhar muito com a venda de planos privados nessa área.
A
proposta desconsidera até mesmo a expectativa de vida de localidades
brasileiras, ao impor uma idade mínima para a aposentadoria, fingindo
desconhecer que, se aprovada, faria muita gente trabalhar até morrer. Pior: ao
ampliar o tempo exigido de trabalho para as mulheres, o governo retrocede seu
entendimento a um período em que se desconsiderava a dupla (às vezes, tripla)
jornada feminina. No campo, onde o trabalho é normalmente mais árduo e as
jornadas mais exaustivas, então, as regras pretendidas pelo governo Temer são
indiscutivelmente injustas, e porque não dizer, até criminosas.
De tão
amplo o alcance e a importância dos temas que se interligam nessa reforma, não
se pode debatê-la — e muito menos aprová-la — sem que todos sejam abordados com
a devida transparência. Mas, talvez, para refutá-la de todo, baste lembrar a
Constituição: “o sistema de seguridade social é um conjunto integrado de ações
de iniciativa dos poderes públicos e da sociedade, destinadas a assegurar os
direitos relativos à saúde, à previdência e à assistência social”. Qualquer
tentativa que retire ou reduza esses direitos será, portanto, afronta à lei. E,
por seu efeito, ao povo brasileiro.
[artigo interessante, apesar de ser de autoria de um parlamentar petista, e que contém algumas verdades sobre 'defeitos' na Previdência Social e que devem ser 'consertados' no inicio de qualquer reforma séria - destaque para a sonegação imensa e que não é combatida com o rigor necessário.
Mas, o ilustre escriba não consegue esquecer que é petista e cede à tentação de apelar para o populismo - cuidado com os trechos destacados em vermelho.
Esquece, para fazer média com as mulheres, que se elas querem direitos iguais aos dos homens tem que ter obrigações iguais.
No geral o artigo merece ser lido, tem algumas verdades, tanto que é um dos raros artigos de autoria de um petista que é transcrito na íntegra no Blog PRONTIDÃO TOTAL.]
Elvino
Bohn Gass é deputado federal (PT-RS)
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