No Rio de Janeiro, desde setembro, forças federais atuam em conjunto com as polícias em ações específicas, mas os resultados ainda estão aquém do necessário
Não há
dúvida de que este ano foi marcado pela explosão dos índices de violência em
todo o Brasil. Já no primeiro dia de 2017, um motim no Complexo Penitenciário
Anísio Jobim, em Manaus, tendo como pano de fundo a guerra entre facções do
Sudeste e do Norte, deixou 56 mortos e expôs de forma contundente as mazelas de
um sistema carcerário depauperado. Viriam outros dois grandes massacres em
janeiro, repetindo as mesmas cenas de horror: um na Penitenciária Agrícola de
Monte Cristo, em Roraima, com 31 mortos, e outro na Penitenciária de Alcaçuz,
no Rio Grande do Norte, onde 26 presos morreram. O ano estava apenas começando.
A
escalada da violência não é um fenômeno novo, principalmente nos grandes
centros e nas regiões mais industrializadas. Mas, nos últimos anos, ela se
espalhou como uma epidemia pelo país inteiro. Para se ter uma ideia desse
avanço, basta observar os índices de criminalidade de estados das Regiões Norte
e Nordeste, que, há pouco mais de uma década, pareciam imunes a essa chaga.
Como mostrou uma série de reportagens do GLOBO, no Rio Grande do Norte, o
número de homicídios aumentou 388% entre 2001 e 2015; no Maranhão, 353%; e, no
Pará, 286%. No Pará, aliás, encontra-se a cidade mais
violenta do país: Altamira. O município, que tem pouco mais de cem mil
moradores, registra taxa de 124,6 homicídios por cem mil habitantes, bem
superior às do Rio (23,4) e de São Paulo (13,5).
Não à
toa, 23 governadores, dois vice-governadores e quatro ministros se reuniram, em
outubro, em Rio Branco, no Acre, para discutir ações contra a violência. Entre
as reivindicações, estão a criação de um Plano Nacional de Segurança, a
realização de ações integradas entre as diversas forças de segurança; a criação
de uma força-tarefa para reprimir o tráfico de drogas e armas, e a ampliação da
presença das Forças Armadas, da Polícia Federal e da Polícia Rodoviária Federal
nas fronteiras.
O inédito
encontro do Acre traduz a urgência de se combater o problema da violência em
nível nacional e de forma integrada. Está mais do que claro que a questão não
será resolvida no âmbito dos estados, por diversos motivos. Um deles é que facções
criminosas do Rio e de São Paulo passaram a agir em praticamente todas as
regiões do país.
No
entanto, as ações para enfrentar esse aumento da criminalidade têm sido
tímidas, tanto por parte do governo federal quanto pelos estados. No Rio de
Janeiro, desde setembro, forças federais atuam em conjunto com as polícias em
ações específicas, mas os resultados ainda estão muito aquém do necessário. O
número de homicídios, que vinha caindo, voltou a subir. E o de roubos tem
disparado nos últimos meses.
Enfrentar
a violência é um dos desafios para os governos em 2018. Mas, para combatê-la, é
preciso mais que boas intenções. É necessário um Plano Nacional de Segurança
amplo e permanente, o uso da inteligência e de ações integradas. Todos sabem
disso. A virada do ano pode ser um bom momento para começar a agir.
O Globo
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