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quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Depois da onda

Não há muito tempo para Bolsonaro e equipe aprenderem a governar


Não havia muita dúvida que uma campanha improvisada, intuitiva, com propostas genéricas em vários campos e muito voluntariosa – a campanha eleitoral de Jair Bolsonaro produziria um começo de governo idem. E o que parecia tão fácil de ser dito (a promessa de delegar vastas áreas a ministros competentes e do ramo) seria tão difícil de ser feito. 

[só cabe endossar o que diz William Waack no primeiro parágrado do seu artigo (felizmente, o Governo Bolsonaro ainda não se iniciou formalmente, tudo que é dito tem caráter oficioso (visto ser dito por pessoas que ainda não ocupam oficialmente os cargos que esperam ocupar) visto que não surpreende, por ser o esperado (muitas pessoas, falando muito sobre muitos assuntos) costuma causar um certo desajuste e desmentidos, etc.

Paulo Guedes com a aprovação pelo Senado do aumento salarial dos MEMBROS dos 3 Poderes mais os do MP, aprendeu que seu poder de 'prensa' inexiste e deve ser sabedor que tentativa de adiar aumento de servidor público tem além de alcance limitado - esfera do Poder Executivo - pode ser bloqueada no Judiciário.

Sobre o reajuste só nos resta torcer que Temer em final de Governo e da carreira política, confie na isenção do Poder Judiciário e,  mesmo tendo processos a responder na primeira instância, vete o reajuste o que dará algum tempo ao Governo Bolsonaro - visto que dificilmente haverá tempo para o atual Congresso derrubar o veto.

Surpreende o futuro ministro Sérgio Moro, que não consegue deixar de responder a uma pergunta de jornalista.

Mas, confiamos que Bolsonaro saberá dar um 'freio de arrumação' e conter o impulso a falar muito dos futuros ministros.]


Não havia muita dúvida ainda que personalidades, digamos, exuberantes na expansão de seus campos de atuação e imbuídas de muito zelo no exercício de suas ampliadas atribuições (Paulo Guedes, Hamilton Mourão, Sérgio Moro, Eduardo Bolsonaro) provocariam um constante vai e vem do que pode não pode, vale não vale, disse não foi dito. Especialmente (não é o caso de Moro) quando planos de governo ainda parecem em estágio inicial de elaboração.  Não havia muita dúvida também que outro elemento muito vantajoso na hora de conquistar corações e mentes de eleitores – a promessa de refutar o toma lá dá cá, escapando do varejo da politicagem – retardaria a montagem do governo e as articulações com parlamentares. É inegável que o conhecimento interno da máquina pública, dominado por partidos estruturados, nunca é inútil.

Não havia, em momento algum, dúvida que, na falta de profissionais designados para falar do assunto, o falatório sobre política externa oriundo da campanha provocaria ruídos em meio a poucas certezas difusas e novamente – obrigaria o próprio Bolsonaro a esboçar correções verbais. Reiterar que o Brasil quer uma política externa “sem viés ideológico” é ainda pouco.  É perfeitamente normal a diferença entre o que se diz em campanha e o que se vislumbra, exequível ou não, quando começa a transição para a fase de governar – ainda mais para uma equipe, como a do atual governo em formação, que vai ter de aprender “on the job”. Mas o ponto é outro: estamos vendo apenas o início de um fenômeno típico de grandes mudanças políticas trazidas por ondas como esse tsunami que elegeu Bolsonaro.

Peço perdão ao leitor para utilizar aqui uma comparação que não deve ser levada ao pé da letra, mas creio ajudar a ilustrar meu argumento. Cobri como repórter duas ondas de enormes mudanças políticas: a que depôs a monarquia no Irã e a que arrebentou o Muro de Berlim. Claro que o ocorrido no Brasil não guarda proporções com esses fatos históricos, e o ponto em comum me parece ser um em especial: a onda que derruba o sistema é formada por vários e diversos componentes, encontra um símbolo e um catalisador, arrasa o que pretendia derrubar, e o depois fica para depois.

Significa que os vários vetores da onda que mudou a política brasileira agora vão convergir ou divergir e é difícil neste momento prever resultados concretos. Na economia, por exemplo, a proposta de “abertura comercial” e o ataque da “questão fiscal (Previdência)” são coisas diferentes mesmo para os integrantes do chamado “núcleo duro” de Bolsonaro, incluindo o que cada um enxerga como “necessário” e considera “possível” dado o imenso desafio político.

Acabei me convencendo na cobertura de situações críticas de mudança, e considero o que acontece no Brasil como uma delas, que a evolução dos acontecimentos raramente é linear e seus principais atores (no caso, Bolsonaro) navegam muito mais ao sabor dos fatos e das circunstâncias que, em caso de ondas, são muito voláteis. Significa que o País está diante de uma oportunidade considerável de se alterar para melhor as condições gerais que até agora o mantêm preso na famosa armadilha do rendimento médio (nosso PIB per capita aumentou, mas a distância para as economias avançadas não está diminuindo).
Mas não é inevitável que isso aconteça. É preciso trabalhar rápido.

William Waack - O Estado de S. Paulo


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