Estratégia do futuro ministro da Economia é adiar o aumento salarial em 2019 e se manter ‘linha-dura’ nas negociações seguintes
A equipe do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL), pretende ser linha-dura nas negociações de reajuste dos salários dos servidores públicos. A estratégia é conseguir não só o adiamento do reajuste dos servidores de 2019 para 2020, como também restringir aumentos nos anos seguintes do mandato, segundo apurou o Estadão/Broadcast. A intenção é conceder “nada além” do que a legislação obriga. A folha de pessoal é a segunda maior despesa do Orçamento, depois dos benefícios previdenciários, e o item dos gastos obrigatórios onde há margem de manobra para cortes.O governo de transição articula nos bastidores a aprovação da medida provisória (MP) que adia o reajuste, encaminhada em setembro pelo governo Michel Temer. A aprovação é um dos itens prioritários na agenda de interesse do novo governo com o Congresso. Um integrante da equipe de transição de Bolsonaro informou que os salários de categorias mais elevadas são altos e há espaço para a contenção de gastos nessa rubrica orçamentária.
Com o Congresso ou se negocia ou se perde.]
A prioridade zero da equipe do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, é “cortar, cortar, cortar” as despesas, disse a fonte. Para acelerar o ajuste, o time da transição avança na elaboração de uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) com instrumentos para desamarrar o Orçamento das diversas vinculações. O governo só pode dispor livremente de 7,1% das despesas previstas no Orçamento de 2019, o primeiro do próximo presidente.
Gatilhos
A equipe
de Bolsonaro também conta como aliados os gatilhos que podem ser
acionados em caso de descumprimento do teto de gastos. A emenda
constitucional que criou o limitador de despesas prevê uma série de
ações a serem adotadas, como a proibição de reajuste salarial, criação
de cargos e concessão de novas renúncias. O risco de estouro do teto não
é visto como algo tão grave num contexto em que as medidas forem sendo
adotadas. O importante, na visão da equipe, é o efeito “econômico” da
política que for adotada.É nesse cenário que se insere a necessidade de pagamento à Petrobrás do valor devido pela União na revisão do contrato de cessão onerosa de exploração do pré-sal para abrir caminho ao megaleilão que pode render R$ 100 bilhões. O grupo da transição recebeu informações de que o Tesouro pode ficar com pelo menos R$ 60 bilhões do resultado do leilão, após pagar a Petrobrás. O problema é que o teto de gasto não comporta o pagamento bilionário à estatal, de teria de ser registrado no Orçamento.
A equipe defende que não seja feita nenhuma manobra para escapar do teto, mesmo que para isso ele seja descumprido, o que acionaria os gatilhos, considerados importantes “armas” para o ajuste fiscal. O leilão na área de telecomunicações (5G de telefonia celular) também é considerado importante fonte de recursos.
Sem consenso
A
equipe de transição do presidente eleito, Jair Bolsonaro, tem visões
bastante diferentes para as propostas de reforma de Previdência e
tributária. Ao longo da campanha, o futuro ministro da Economia, Paulo
Guedes, estimulou o debate interno no grupo de conselheiros que agora
estão na transição. Essa forma de trabalhar é característica de Guedes,
que quer reformas mais profundas para “consertar o que está errado” na
sua avaliação. Mas a necessidade de “mostrar serviço” nos primeiros seis meses, sob o risco de pôr em perigo o sucesso do governo Bolsonaro já no primeiro ano, pode levar à adoção de saídas pragmáticas, segundo fontes da transição. Isso vale para a reforma da Previdência, com Bolsonaro tentando agora aprovar a proposta de Michel Temer com modificações, e também para a tributária. Não se descarta nem mesmo aproveitar, no início, a proposta da Receita Federal (com novos ajustes) de reforma do PIS/Cofins que está pronta e é necessária para evitar perdas de arrecadação com duas decisões da Justiça desfavoráveis à Fazenda Nacional. O grupo reconhece que é mais fácil avançar no Imposto de Valor Agregado (IVA) federal com reforma do PIS e do Cofins do que incluir os Estados no novo tributo.
Estados
A
equipe de Bolsonaro vê com grande preocupação a situação financeira dos
Estados, mas ainda mapeia as soluções que podem ser adotadas, porque
cada ente tem suas particularidades. O time já foi alertado pelos
problemas pelo secretário do Tesouro Nacional, Mansueto Almeida, cotado
para ficar no cargo e único da equipe econômica que participou ontem de
parte da primeira reunião de Guedes com o ministro da Fazenda, Eduardo
Guardia.O Estado de S. Paulo
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