Filhos, fator de desestabilização do governo Bolsonaro
Mourão é considerado por um grupo de bolsonaristas como um potencial inimigo, um Cavalo de Tróia
A família Bolsonaro parece gostar de um enfrentamento. Ontem à noite, o
presidente avalizou pelo Twitter uma afirmação do filho Carlos, que
desmentia o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo
Bebianno, que dissera que mantivera contato com Bolsonaro no hospital.
Queria desfazer assim os boatos de que estaria desgastado com o
presidente devido a denúncias de uso indevido de verba propagandística
durante a eleição. Pelo jeito, talvez não seja mais ministro hoje.
O PSL está debaixo de fogo cruzado devido à suspeita de ter desviado
dinheiro da campanha eleitoral utilizando-se de candidatas “laranjas”.
Gustavo Bebianno, que foi presidente do PSL e teve papel de relevo na
campanha, está sendo acusado por um grupo de bolsonaristas, entre eles o
próprio Carlos, de ter participado dessa tramoia que está sendo
investigada pela Justiça. Já na transição do governo houve uma briga entre os dois. Carlos
atribuía a Bebianno o convite a Marcos Carvalho, dono da agência AM4,
responsável pela campanha digital do presidente eleito, para participar
da equipe.
Carlos considera-se o responsável pela comunicação de Bolsonaro nas
mídias sociais, tem até mesmo as senhas do pai, e não admite
concorrência. Acusou Marcos Carvalho de querer aparecer como
“marqueteiro digital” vencedor, sem ter tido tal importância. Certa vez, o vice-presidente Marco Maciel ouviu de Heitor Ferreira,
ex-secretário particular dos presidentes Geisel e Figueiredo, a
definição do posto que ocuparia no governo de Fernando Henrique Cardoso:
“Vice-presidente é nada à véspera de tudo”.
Maciel soube equilibrar-se nessa linha quase etérea entre o “nada” e o
“tudo”, e hoje é exemplo de comportamento para um vice-presidente,
discreto e eficiente. Ontem, o vice-presidente Hamilton Mourão recebeu
com um sorriso o presidente Bolsonaro, que voltava a Brasília depois de
16 dias internado no Hospital Albert Einstein em São Paulo. Sorriso que desfez qualquer desconforto que poderia ter causado uma
ironia do presidente, ao telefone: “Quer me matar?”, perguntou a Mourão,
que tratou de revelar a “brincadeira” para retirar dela qualquer
conotação outra. Embora estivesse se referindo ao churrasco de
confraternização de sua turma, de que Mourão participara enquanto ele
estava no hospital, o presidente Bolsonaro refletia um estado de
espírito inoculado pelo vereador do Rio Carlos Bolsonaro, o filho 02,
que mantém a desconfiança de que existem pessoas interessadas na morte
de seu pai. [que existem, existem; e são parte do grupo do 'quanto pior, melhor', o que não inclui o general Mourão.]
Antes da posse, ele usou o Twitter para dizer que a morte de seu pai
ajudaria “também aos que estão muito perto” (...) “Principalmente após
sua posse”. Na posse, ele fez questão de aboletar-se no Rolls-Royce que
conduzia seu pai. O 02 acordara com um mau pressentimento e, armado de
uma Glock, pediu para ser o guarda-costas do pai. Mourão é considerado por um grupo de bolsonaristas, que inclui até mesmo
o guru Olavo de Carvalho e o estrategista americano Steve Bannon, como
um potencial inimigo, um Cavalo de Troia que tenta se diferenciar de
Bolsonaro recebendo líderes do MST ou defendendo a memória do
ambientalista Chico Mendes. [Mourão é general e vice-presidente, humano, e comete erros - só Deus não erra;
receber os bandidos do MST foi um deles e defender a memória do Chico Mendes não é crime, apesar da memória defendida não significar grande coisa - o que o dono da memória defendida fez pelo Brasil que mereça destaque? NADA.]
“Filhos, melhor não tê-los”, já advertia ironicamente o poeta Vinicius
de Moraes, para completar: “Mas sem tê-los, como sabê-los?” A relação do
presidente com seus filhos é um dos fatores desestabilizadores deste
governo que mal se iniciou. [Bolsonaro quando assumiu dispensou porta-voz - julgou que eles e os filhos seriam os melhores porta-vozes e deu um desastre = com um pouco de exagero = uma zona;
contratou um e as coisas melhoraram.
Agora filhos, especialmente quando agem como os filhos de Bolsonaro (mais complicam que auxiliam e sempre querem apagar fogo com gasolina) são excelentes para serem curtidos como filhos; auxiliares, só eventualmente e mesmo assim em privado.
Ou Bolsonaro, dispensa a ajuda dos filhos, especialmente do Carlos, ou a credibilidade de seu governo vai para o espaço.
Tem a hora do 'pitbull' e certamente ainda não chegou.]
As confusões envolvendo os três filhos políticos de Bolsonaro provocam
intrigas dentro do próprio grupo de governo, especialmente os militares.
O senador Flávio Bolsonaro, o 01, tenta se desvencilhar do caso de seu
ex-assessor Fabrício Queiroz, apanhado pelo Conselho de Controle de
Atividades Financeiras (Coaf) em uma “movimentação atípica” de R$ 1,2
milhão. [o senador até que não complica tanto, inclusive seu 'envolvimento' nas 'movimentações atípicas' de seu ex-assessor é mais uma tentativa da imprensa anti Bolsonaro - aliás, sobre o assunto, até agora o único crime foi o vazamento das investigações do Coaf, crime que não está sendo investigado.]
O deputado federal reeleito Eduardo Bolsonaro, o 03, flagrado em uma
palestra afirmando que para fechar o Supremo Tribunal Federal bastaria
chamar “um soldado e um cabo”, considera-se um assessor presidencial
especialíssimo, e trabalha para ligar o PSL ao conjunto de partidos de
direita pelo mundo, que o estrategista americano Steve Bannon sonha
reunir. Já admitiu se candidatar à sucessão do pai caso Bolsonaro acabe
mesmo com a reeleição, como prometeu. [o que disse na palestra expressou apenas um entendimento, uma ironia.
Convenhamos que a nossa Suprema Corte, melhor dizendo os ministros do STF, em sua maioria, não se preocupam muito em lembrar que o que fazem reflete na imagem do Supremo que integram.]
O 01 nunca recebeu apoio do 02. O 03 ontem se recusou a falar sobre a crise em que o 02 está metido. [o 02 fala demais, considera que política é sempre o confronto e coloca o pai e auxiliares em situações limite.
Tem que ser estimulado pelo pai a ficar fora do Brasil por uns tempos.
O mais grave em seu comportamento é que quer ser o destaque, 'primus inter pares', e considera o confronto essencial para alcançar a posição que deseja.]
Merval Pereira - O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário