Os generais sabem que Bolsonaro não foi eleito para ficar atacando marxismo cultural, ideologia de gênero, doutrinação ideológica nas escolas e tantos outros espantalhos mais.
Eles, gostem ou não, é o que há de disciplina e competência no governo Bolsonaro
Engula os generais Lembro-me bem de frase que era repetida à exaustão
após o impeachment de Dilma Rousseff por aqueles que não estavam
exatamente satisfeitos com a posse do vice-presidente: “Temer é o que temos para o jantar”. Essa ladainha era repetida
constantemente nas redes sociais para contrapor qualquer argumento que
criticasse — de forma construtiva ou não — o governo que se instalava. O
pessoal que aceitou jantar Temer nos últimos dois anos não percebeu bem
que a ida do vice de Dilma para o governo, sobretudo enroscado como
estava com alegações diversas de envolvimento em esquemas de corrupção,
acabou por implodir o centro político no Brasil, abrindo espaço para
Bolsonaro. Quem jantou Temer e, querendo ou não, pôs na Presidência da
República representante do baixo clero carregado de ideologia torpe não
pode agora se dar ao luxo de não gostar da atuação dos generais,
sobretudo do vice-presidente Hamilton Mourão.
Do leito do hospital, Jair Bolsonaro tuíta bobagens sem parar. “A
doutrinação ideológica nas instituições de ensino forma militantes
políticos e não cidadãos de bom senso e preparados para o mercado de
trabalho. É preciso quebrar essa espinha para o futuro saudável do
Brasil. Tire suas conclusões:”. Em seguida, aparece um vídeo de um
minuto em que alunos-manifestantes cantam “Ele não” ao som de “Bella
ciao”, enquanto dois formandos abrem uma faixa com os dizeres:
“Fascistas, racistas, machistas e homofóbicos não passarão”.
Difícil entender por que condenar racistas, fascistas, machistas e
homofóbicos seria a tal da doutrinação ideológica das instituições de
ensino à qual se refere o capitão-presidente. [Condenar racistas, machistas,fascistas e homofóbicos não é doutrinação ideológica e sim Educação Moral e Cívica - com a volta dos valores ensinados na EMC muitos dos supostamente condenáveis se tornam desnecessários, já que o que eles combatem deixa de existir.].
Enquanto isso, o ministro
das Relações Exteriores do Brasil, ícone do ultraconservadorismo de
botequim cultivado por Bolsonaro e seus filhos, fala, em visita aos
Estados Unidos, que o “socialismo do século XXI representado por Maduro
na Venezuela está ruindo”.
Para quem sabe um pouquinho do que se passa na Venezuela, já está mais
do que claro que o regime que lá está não é socialista, comunista ou
qualquer outra coisa que tenha um mínimo de conotação ideológica.
Trata-se de uma ditadura criminosa, de um narco-Estado ocupado pelo
crime organizado, por organizações terroristas — o Hezbollah tem
presença na Venezuela —, por infiltrados da Coreia do Norte, da Turquia,
da Rússia. Maduro ainda não caiu porque seu regime está sustentado por
esse conjunto pérfido.
Os generais sabem que Ernesto Araújo não conhece a fundo a situação da
Venezuela, ao contrário do general Mourão, que lá morou nos anos 2000.
Sabem também que mudar a embaixada brasileira para Jerusalém e outras
bobagens provenientes do guru cujo nome não merece citação podem trazer
imensos prejuízos ao Brasil. Os generais, gostem ou não, é o que há de
disciplina e competência no governo Bolsonaro. São eles os únicos que
entenderam que os eleitores que levaram Bolsonaro ao poder não estão
unidos em torno da agenda abestalhada de Damares ou de Vélez Rodríguez.
Gostem ou não, a chance que o Brasil tem de pôr em prática uma agenda
razoável para a política externa e para a economia passa pelo crivo dos
generais, representantes da instituição que sobrou após a achincalhação
do Executivo, do Legislativo e também de partes do Poder Judiciário nos
últimos anos promovida pela aliança entre o PT e o PMDB. Aliança que
teve, também, a participação do PSDB minguante e de outros partidos
políticos. Gostem ou não, o Brasil só terá chances de sair do atoleiro
de curto prazo com os militares à frente das principais decisões do
país.
Não gostaram? Temem o que pode significar no futuro militares no poder
pela via democrática? Pois essa é a herança de ter jantado Temer e
apoiado Bolsonaro sem dar qualquer chance a um dos diversos candidatos
de centro durante o primeiro turno das eleições. Como diria Zagallo,
jantaram Temer, agora engulam os generais.
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