Lula preso valia mais politicamente que Lula livre - Merval Pereira
O Globo
Chances renovadas
O novo ano começa como os últimos, com
esperanças de que o país recupere sua capacidade de crescimento
econômico. As perspectivas desta vez são melhores do que já foram,
especialmente porque o governo, eleito pelo voto popular, mantém seu
projeto reformista, avalizado pela aprovação da reforma da Previdência. O governo Temer, um intervalo entre o petismo e o bolsonarismo,
chegou a ter o controle político do Congresso, mas perdeu a chance de
aprovar a reforma da Previdência devido à crise desencadeada pelo
diálogo gravado com o empresário Joesley Batista. [e as denúncias, até hoje não provadas, apresentadas pelo ex-PGR Rodrigo enganot;
a propósito, as delações dos açougueiros de Anapólis, irmãos Batista, já foram homologadas?]
Temer teve que trocar o apoio que tinha no Congresso pela manutenção
de seu cargo, perdendo força para aprovar as reformas. Hoje, temos pela
primeira vez um Congresso renovado que comprou a ideia de que é preciso
reformar estruturalmente o país, e um governo que mantém o objetivo de
aprovar as reformas tributária, administrativa, do pacto federativo. O parlamentarismo branco faz com que o Congresso module as reformas
propostas pelo Executivo, às vezes avançando, principalmente na
economia, em outras as adequa a seu perfil, como no pacote
anticorrupção. Sempre, porém, tem havido progressos.
O Supremo Tribunal Federal (STF) assumiu para si garantir a
governabilidade do país, num estranho pacto entre os Três Poderes que
não reflete obrigatoriamente o pensamento da maioria de seus pares. Como quando seu presidente Dias Toffoli blindou a presidência da
República sustando a investigação sobre o suposto esquema de lavagem de
dinheiro envolvendo o hoje senador Flavio Bolsonaro quando era deputado
estadual no Rio e tinha o famigerado Queiroz como seu assessor de
confiança. O calcanhar de Aquiles do governo. [2019 mudou para 2020, mas, o nosso presidente Bolsonaro continua tendo um CPF e o senador Flávio, seu filho, um outro CPF;
Também, até o presente momento, existe indícios contra um ex-assessor do hoje senador e a suspeita de envolvimento do parlamentar com possível, e ainda não provada, irregularidades.]
Toffoli teve que voltar atrás e aderir à decisão da maioria que
avalizou a atuação do antigo Coaf e da Receita Federal. Apesar dos
êxitos na área econômica e da popularidade do ministro Sérgio Moro,
identificado pela opinião pública com o combate à corrupção e ao crime
organizado, a presidência de Bolsonaro consegue reduzir suas próprias
conquistas com a obsessão de aniquilar a esquerda e produzir embates
quase diários para manter a polarização com o PT. [ o PT está em avançado processo de implosão e os seus pseudos líderes - combinando com os objetivos do partido perda total, os seus líderes são todos envolvidos com a Justiça:
- a cabeça da serpente é um duplamente condenado, em liberdade temporária, e com vários outros processos em curso e que resultarão em novas condenações;
- a vice líder responde a processos penais e é questão de tempo ser condenada.
Assim, o perda total é praticamente uma carta fora do baralho.
Quanto a esquerda o BEM COMUM impõe sua eliminação, aliás, um processo que está ocorrendo nas mais importantes nações do mundo.]
Assim como Lula já definiu como seus alvos principais os ministros
Guedes e Moro, justamente as áreas mais bem sucedidas do ministério,
também Bolsonaro empenha-se em colocar-se mais uma vez como o antiPT, na
suposição de que esse é seu principal ativo político. As crises políticas que alimenta podem representar obstáculos
intransponíveis a qualquer momento. Bolsonaro pode também estar
equivocado, mantendo a chama acessa do lulismo, que até o momento não se
mostra capaz de mobilizações populares como antes da prisão do
ex-presidente.
Lula preso valia mais politicamente que Lula livre.
Uma certeza
É
impossível no momento saber exatamente como seu deu a fuga de Carlos
Ghosn, ex-presidente da Nissan, do Japão para Beirute, no Líbano.
Desconfia-se de que governos estrangeiros ajudaram de alguma maneira na
fuga. Mas uma coisa parece certa: dentre eles, não está o governo
brasileiro. Apesar dos esforços do ministro da Economia Paulo Guedes,
amigo de Ghosn, que apelou primeiro ao ministro das Relações Exteriores,
Ernesto Araujo. Não tendo sido atendido, Guedes foi a Bolsonaro.
Conseguiu que se comprometesse a visitar o empresário brasileiro quando
estivesse em Tóquio na reunião do G-20, em junho. O máximo que fez foi
falar ao telefone com Ghosn, que se encontrava em prisão domiciliar.
O executivo foi convidado duas vezes para dirigir a Ford. A primeira
em 2006, e ele exigiu acumular a direção executiva com a presidência do
conselho de administração, que era presidido por Bill Ford Jr. Não deu
certo.
Em 2008, na grande crise econômica, o então presidente Obama
procurou-o pessoalmente para oferecer-lhe o dobro de seu salário na
Nissan para presidir a Ford, que estava à beira da falência. Mais uma
vez Carlos Ghosn recusou.
Merval Pereira, colunista - O Globo
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