O ex-deputado Roberto Jefferson, presidente do PTB e figura de maior destaque na direita brasileira de hoje, diz coisas horríveis do Supremo Tribunal Federal, dos seus ministros, do presidente do Senado, da “CPI da Covid”,
dos governadores de Estado e de muita outra coisa grande que forma as
“instituições brasileiras”. Quantas pessoas, no Brasil de hoje, pensam
exatamente como ele a respeito de tudo o que tem dito?
Ninguém fez a
conta ainda, mas está na cara que é gente que não acaba mais – o que faz
de Jefferson o homem mais incômodo do País para o STF e o sistema
político que existe em torno de suas decisões.
Roberto Jefferson,
sem dúvida, é um barril de pólvora à espera de um fósforo – mas ser
incômodo, ou falar o diabo do Supremo, da CPI, etc. não é crime. Ou
passou a ser? Para o ministro Alexandre de Moraes, do STF, e para o seu inquérito destinado a investigar “atos antidemocráticos”, é crime, sim – motivo pelo qual mandou prender o ex-deputado, que a partir de agora está na cadeia sem data para sair,
[a prisão preventiva é uma pena perpétua "à brasileira", se sabe quando entra e não se sabe a data da saída. Nem o 'refresco' que favoreceu o Lula - condenações anuladas - pode ser aplicado, não há condenação = não se anula o que não existe.] e sem direito de defesa pleno, como aconteceu com outros indiciados
pelo ministro. Por que não?
Se até deputado em exercício do mandato foi
preso nesse inquérito (o homem está com tornozeleira até hoje) e a
Câmara aceitou sem dar um pio, um cidadão como Jefferson, que não tem
imunidade nenhuma, não é o menor problema para o STF.
O
inquérito do ministro Moraes, naturalmente, não considera que Roberto
Jefferson, durante este tempo todo, está só falando – o que poderia
levar a acusação para os delitos de calúnia, injúria ou difamação, os
únicos que se pode cometer da boca para fora, e não permitem a prisão de
ninguém. Embora a peça de acusação contenha páginas e páginas com uma
maçaroca de declarações que Jefferson fez à imprensa nos últimos tempos,
o que os acusadores querem é outra coisa.
Eles querem demonstrar, isto
sim, que o ex-deputado não apenas fala, mas faz. Faz o quê? Atos contra o
STF, o Congresso e o estado de direito em geral – incluindo, por
exemplo, discursos de incentivo para a população invadir o Supremo e
tocar os ministros para fora de lá a tapa, mesma receita que tem para a
“CPI da Covid” e outros componentes das “instituições”. Ao fazer isso,
estaria agindo para acabar com a democracia no Brasil – e, aí, é
proibido por lei.
Como aconteceu com outras prisões decretadas
por este inquérito, não há sinal, quanto a Roberto Jefferson, de que ele
esteja organizando, secretamente, um grupo armado para tomar o governo –
como os bandos de “luta armada” que existiam antigamente.
Não se provou
a ocorrência de reuniões clandestinas, nem a distribuição de tarefas
“revolucionárias”.
Não se descobriu gente usando codinome.
Não foram
encontrados, até agora, depósitos de armas e munições.
Não há indícios
de operações financeiras ou movimentação de dinheiro para pagar as
despesas que a derrubada da democracia exige.
Há dinheiro, incentivo e
ações para organizar movimentos de protesto contra STF, Congresso, etc. –
mas nada disso está fora do direito de fazer manifestações de protesto
em público.
Em suma: fala-se muito, e Jefferson é realmente um
homem que fala com teores de TNT que ninguém mais tem, nem de longe, na
política brasileira de hoje.
Mas de atos efetivos contra a democracia,
como esses descritos acima,
nada. Onde está a conspiração?
Onde estão,
além dos discursos, entrevistas e postagens nas redes sociais, os atos
efetivamente antidemocráticos?
É o contrário. Ato contra a democracia,
por ser contra a lei, é prender Roberto Jefferson – e manter vivo o
inquérito ilegal do ministro Moraes e do STF. É defender a democracia
destruindo a democracia.
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