Análise Política
Isso aparece de modo mais agudo em situações bélicas, a exemplo da que
se passa na Europa. Todo dia, e mais de uma vez por dia, recebemos
informações sobre o caráter maligno de um ou outro lado da guerra. Na
impossibilidade de verificar o tempo todo quem diz a verdade e quem está
mentindo, prevalece a lei do mais forte. A versão difundida por quem
tem mais poder nos variados canais de comunicação.
Melhor ainda se se tem a força necessária para silenciar os
“indesejáveis”, em especial quando se invoca um tão sacrossanto quanto
obscuro “código de conduta da rede social”. É um mecanismo quase ideal
para empresas encobrirem a subserviência a governos, calando a oposição a
eles ou silenciando veículos e indivíduos que poderiam trazer ao grande
público informações e olhares capazes de lançar dúvidas sobre “a
verdade oficial”.
A esta altura, o leitor e a leitora atentos já perceberam que a
quantidade de expressões entre aspas neste texto indica quão subjetivo é
o objeto em discussão.
Se a leitora ou o leitor acham que estou exagerando, guardem essa minha
afirmação e cobrem-me depois. Ficarei muito feliz se estiver errado.
O ambiente político no Brasil e no mundo anda polarizado. Mas um aspecto
parece caminhar para tornar-se amplamente majoritário: de um lado e do
outro, ficou para trás a defesa da liberdade de expressão; agora, a
batalha é para defender a própria liberdade de dizer o que bem entende,
enquanto se busca e aplaude-se toda e qualquer medida contra o mesmo
direito dos adversários.
Não foi à toa que os entusiastas do bloqueio do Telegram protestassem
dias depois contra a censura à manifestação política de artistas. Tudo
muito previsível.
E a violência é praticada frequentemente sob o manto higiênico do
“combate ao discurso de ódio”. Ninguém pode, obviamente, ser a favor da
difusão do ódio. Mas sempre é saudável verificar, em cada circunstância,
se o "combate ao discurso de ódio" não é apenas um disfarce para a
censura ao pensamento divergente.
Especialmente nestes tempos dominados pela “cultura do cancelamento”.
Alon Feuerwerker, jornalista e analista político
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