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terça-feira, 8 de outubro de 2019

Continente isolado - Folha de S. Paulo

No Youtube brasileiro, canais de direita são muito maiores que os demais

 

[O Brasil é um continente, rumo a ser O Continente.]

Publicamos na semana passada um pequeno estudo mapeando os canais políticos no Youtube tiny.cc/youtubepolitico. Entre muitos resultados, uma coisa nos chamou a atenção: o tamanho dos canais de direita e seu isolamento em relação aos canais de esquerda e da grande imprensa. Essa característica contraria outros estudos sobre a estrutura do consumo de notícias por meio de mídias sociais no Brasil. Nos Estados Unidos, estudos têm mostrado que, nas mídias sociais, quem interage com sites partidários de esquerda também interage com sites da grande imprensa; no entanto, quem interage com sites de direita geralmente não interage com a grande imprensa.

Em um livro influente ("Network Propaganda", Oxford University Press, 2018), Robert Farris e Yochai Benkler argumentam que esse isolamento dos consumidores de notícias de direita nos Estados Unidos faz com que os exageros e as distorções hiperpartidários não sejam corrigidos por reportagens factuais dos grandes meios de comunicação, gerando desinformação sistêmica --o que não ocorreria na esquerda, que teria na grande imprensa uma espécie de contraponto. Nos estudos brasileiros, porém, esse fenômeno não aparecia. Eles indicavam, geralmente, uma estrutura tríptica, com esquerda e direita nos extremos e a grande imprensa no meio. Isso sugeria que, embora usuários com identidades políticas fortes transitassem mais intensamente em circuitos de informação partidários, eles também interagiam com a grande imprensa. Assim, em tese, os grandes meios de comunicação poderiam cumprir para os dois campos um papel de controle e averiguação factual.

Assim, foi preocupante descobrir, pela primeira vez no Brasil, um padrão semelhante ao americano no Youtube. Vimos que quem comenta em canais de esquerda, como o do Brasil 247, comenta também em canais da grande imprensa, como o da TV Folha ou o da BBC Brasil. No entanto, quem comenta em canais de direita, como o de Nando Moura, não costuma comentar em canais da grande imprensa, com exceção do jornalismo mais partidário (como o da Jovem Pan) e do jornalismo policial.

Benkler e Farris diziam, a respeito dos EUA, que a direita está se isolando do establishment. No Youtube brasileiro, porém, os canais de direita são muito maiores do que os demais --o que nos leva a perguntar quem é que está ficando isolado. Uma antiga anedota inglesa diz que, certa vez, após um temporal que cortou a comunicação do Reino Unido com a Europa, um jornal londrino estampou na capa a manchete "Nevoeiro no canal da Inglaterra. Continente isolado".
 

Pablo Ortellado, professor - Folha de S. Paulo
 
 

sexta-feira, 30 de agosto de 2019

No mesmo tom - Merval Pereira

O Globo

Polarização continua forte com postagens irresponsáveis

A polarização política continua em plena atividade, e as redes sociais trabalham no limite da irresponsabilidade de ambos os lados. Na mesma semana em que surgiu a reprodução de diálogos de alguns procuradores da Lava-Jato em Curitiba ironizando o luto do ex-presidente Lula na morte de dona Marisa, o próprio Lula deu uma entrevista à BBC Brasil colocando em dúvida que o presidente Bolsonaro tenha realmente sido esfaqueado na campanha eleitoral de 2018. Para os petistas, os comentários dos procuradores denotam ódio a Lula. Para os bolsonaristas, o comentário de Lula sobre a facada em Bolsonaro demonstra que, para o ex-presidente, nada é mais importante que a disputa política.
 
[o  PT é duplamente culpado, primeiramente quando em conluio com o intercePTação, procedeu a divulgação de conversas apócrifas  e produtos de ação criminosa, e, em segundo,  quando apoiou/promoveu em entrevistas e no YouTube a disseminação de versões mentirosas  - vejam no penúltimo e último parágrafos deste Post - tentando modificar fatos sobre o presidente da República.]
Os comentários de alguns dos procuradores são lamentáveis, e a presidente nacional do PT, Gleisi Hoffmann foi ao Twitter para condenar, afirmando dramaticamente: "Diálogos de procuradores mostram a pior face do ser humano". Pode ser exagerado, mas sem dúvida a ironia numa hora dessas é descabida, e revela frieza diante de tragédias pessoais que pode chocar almas mais sensíveis como a da presidente do PT.   Tanto que a procuradora Jerusa Viecili, a mais irônica nos diálogos, pediu desculpas ao ex-presidente Lula por ter feito chacota de seu luto: "Errei. E minha consciência me leva a fazer o correto: pedir desculpas à pessoa diretamente afetada, o ex-presidente Lula", disse, também através do Twitter.

As conversas revelam que diversos procuradores fizeram pouco caso das mortes não apenas de dona Marisa, mas do neto Arthur, e do irmão Vavá. "Querem que fique pro enterro?", perguntou, ironicamente, Jerusa, diante da notícia da morte de Marisa. "Preparem para a nova novela ida ao velório", escreveu no Telegram, sobre a morte do neto Arthur.  O Procurador Januário Paludo comenta, se referindo a dona Marisa: “Estão eliminando as testemunhas”. Já Laura Tessler adverte: “Quem for fazer a próxima audiência de Lula, é bom que vá com uma dose extra de paciência para a sessão de vitimização”, escreveu.

Mas há também comentários pertinentes, sobre o temor de que Lula no enterro do irmão causaria muita confusão política. Ou rebatendo a afirmação de Lula de que dona Marisa havia morrido devido ao que a Lava-Jato fez com ela e com os filhos.
Quando o ex-presidente comentou no enterro do neto que ele havia sofrido bullying na escola por ser um Lula da Silva, a procuradora Monique Cheker criticou: “Fez discurso político (travestido de despedida) em pleno enterro do neto, gastos públicos altíssimos para o translado, reclamação do policial que fez a escolta… vão vendo”. Eduardo Bolsonaro já havia se manifestado nas redes sociais sobre a ida de Lula ao enterro do neto no mesmo tom: :"Lula é preso comum e deveria estar num presídio comum.

Quando o parente de outro preso morrer ele também será escoltado pela PF para o enterro? Absurdo até se cogitar isso, só deixa o larápio em voga posando de coitado".

Os diálogos revelam também que vários procuradores chamaram a atenção dos que estavam ironizando a dor do ex-presidente Lula. Carlos Fernando dos Santos comenta: Vamos ficar em silêncio. Ninguém ganha falando mal de quem morre ou da família. O procurador Luis Carlos Welter adverte: Ninguém pode medir a dor de quem perde a pessoa amada. Fazendo esse discurso político, ele mesmo vai se prejudicar.  
Mas, o que dizer do ex-presidente Lula, cujos comentários não foram conseguidos clandestinamente, mas em entrevista à BBC Brasil? Ele insistiu na suspeita, alimentada desde então por petistas de diversos calibres, de que a facada em Bolsonaro, durante a campanha eleitoral, foi uma fraude.   “Não, eu não disse que não tinha tomado, eu disse que não acreditava (que Bolsonaro levou uma facada). Mas você garante a mim o direito da dúvida? Veja, eu tenho suspeitas (de que não ocorreu). Agora, se aconteceu, aconteceu.”.

Ele continuou: “Eu falei com muita tranquilidade desde o dia que aconteceu aquilo, porque não vi sangue. O Bolsonaro deu uma entrevista assim que chegou no hospital. Ele foi internado, já tinha um senador fazendo uma entrevista.”. Os petistas como Paulo Pimenta reproduziram em suas redes sociais um documentário apócrifo intitulado “A Facada no Mito”, postado no YouTube. Sem apresentar nenhuma evidência, o documentário destaca o que seriam “dúvidas” ridículas sobre o atentado.

Merval Pereira, jornalista - O Globo


sexta-feira, 26 de julho de 2019

Maconha: é hora de legalizar? - O Globo



Ruth de Aquino 

[a legalização do USO MEDICINAL de derivados do cannabis pode e deve ser estudado, não sendo inviável a liberação.

Mas, há de se ter prudência para que o USO fez para restabelecer os portadores de doenças cuja cura ou redução de eventual agravamento, seja favorecida pelo uso do derivado.

Jamais pode a legalização para USO MEDICINAL  servir como caminho para facilitar o tráfico da maconha e/ou outras drogas - que deve continuar sendo objeto de rigorosa repressão e punição, extensiva aos usuários.]

O título parece provocação a um governo tão retrógrado nos costumes. Um título subversivo. Se até o mero debate sobre o uso medicinal da cannabis sativa, planta usada para produzir maconha, é considerado ofensivo pelo ministro da Cidadania, Osmar Terra, como é que a colunista defende a legalização do plantio doméstico e do uso pessoal da maconha?

Esse mesmo título foi manchete de capa da revista Época em 2009. Dez anos atrás. No Rio de Janeiro, participei de uma mesa de 17 personalidades e especialistas, encabeçada por três ex-presidentes latino-americanos – o sociólogo Fernando Henrique Cardoso e os economistas César Gaviria, da Colômbia, e Ernesto Zedillo, do México. Eles argumentavam que o uso pessoal da maconha não deveria ser crime. [esse FHC defende a liberalização da maconha desde sempre.]
Para esses ex-professores universitários de cabelos brancos, fumar maconha em casa e na rua deveria ser lícito e aceito socialmente, como álcool e tabaco. Sugeriam rever a política mundial de drogas, já que a bandeira da ONU em 1998 “um mundo livre de drogas” – passou a ser considerada ingenuidade ou equívoco. A erva é antiga. Seus registros na China datam de 2732 a.C., mas apenas em 1960 a ONU recomendou sua proibição no mundo. Em algumas décadas, a “guerra às drogas” tinha triplicado o consumo de maconha e cocaína na América Latina, tinha decuplicado os presos por drogas nos EUA: de 50 mil para meio milhão. Um fracasso estrondoso. [a solução é continuar prendendo, aumentando as penas e mais importante: punindo SEVERAMENTE o usuário - sem eles o tráfico se reduz a quase nada.
não há necessidade de se preocupar com a superlotação das cadeias; o criminoso, qualquer crime, vai para a cadeia por ter escolhido o crime e por isso não merece nossa preocupação;
temos que nos preocupar com os doentes, que não escolhem a doença. Esses sim, merecem toda nossa atenção, esforço para curá-los, tratamento digno e quando necessário hospitais que os tratem como seres humanos.]


O mercado global de drogas ilegais está nas mãos de cartéis ou quadrilhas de bandidos – que molham a mão de forças policiais. No Brasil, não molham, inundam, encharcam! Drogas lícitas como o tabaco e o álcool matam bem mais que a maconha e seus fabricantes pagam impostos altíssimos. [maconha e outras drogas do tipo, podem não matar mais,  diretamente - apesar de a cada dia aumentar o número dos que morrem por overdose. Mas, tanto a maconha como as outras drogas aumentam o número de mortos por outros crimes, causados pelo uso de drogas - começando pelos assaltos para obter dinheiro para comprar drogas.] O comércio é regulado e controla-se a qualidade. Não há mortes entre gangues porque não há tráfico de álcool e tabaco. 

Acho curioso quando alguém diz que a maconha deve continuar proibida porque “faz mal para os pulmões, acarreta problemas de memória e em alguns casos leva à dependência”. Isso é válido para álcool, que mata e fere mais que todas as outras drogas juntas, além de comprometer o desenvolvimento cerebral dos jovens, que bebem e se embriagam cada vez mais cedo. É válido também parcialmente para tabaco, e hoje, graças às campanhas de saúde pública e ao cerco à publicidade, o fumante é visto como um viciado que polui e contamina o ar alheio. É válido também parcialmente para Rivotril e assemelhados. Por que não taxar, esclarecer, fornecer assistência à saúde do usuário de maconha?  [por que não intensificar o combate aos usuários de drogas, a começar pela maconha? ela é quase sempre a porta de entrada para outras drogas mais pesadas.]

Não é papo de maconheiro, nem de fumante ou alcoólatra. É papo que urge: de segurança pública, saúde, economia. Contra a hipocrisia. Não tem nada aí de esquerda. Quando vemos o “ministro da Cidadania” de Bolsonaro ameaçar fechar a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) caso uma comissão da Câmara dos Deputados aprove em agosto o plantio de cannabis para tratamento de doenças, confirmamos a histeria de costumes no Planalto. E histerias de qualquer lado podem levar a nação a uma viagem obscurantista sem volta.  Um decreto (mais um!) de Bolsonaro determinou que o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad), ligado ao Ministério da Justiça, não tenha mais ninguém da sociedade civil. [importante: o decreto é um instrumento legitimo de uso do presidente da República para regulamentar leis e normatizar outros assuntos.

Só não é aceitável, válido o seu usado, se tiver a pretensão de modificar leis - estas só podem ser modificadas por outra lei ou por alteração na Constituição que as torne inconstitucionais.

O presidente Bolsonaro tem feito um uso que pode ser considerado elevado da edição de decretos, devido o boicote sistemático que sofre do Congresso Nacional, principalmente da Câmara dos Deputados, as vezes do próprio Senado -  que ou não aprovam seus projetos de lei ou os travam, deixando ao presidente da República (eleito por quase 60.000.000 de votos) o recurso ao decreto para normatizar o que for possível.] 

Inacreditável. Isso porque “há décadas a esquerda se infiltrou em nossas instituições”. Bolsonaro quer aparelhar conselhos a seu jeito e acabar com “o viés ideológico” nas discussões. A verdade é que Bolsonaro quer acabar com as discussões.  A deputada Carla Zambelli, do PSL paulista, é a favor do uso terapêutico da planta, já autorizado em muitos países. “Se somarmos pacientes com doenças raras, autismo e câncer que poderiam ser tratados com a cannabis, calculo que cheguem a 20 milhões”. Será que Carla será excomungada do partido do presidente? "O Osmar (Terra) já falou para mim que é bem contra", disse a deputada à jornalista Monica Bergamo, da Folha de SP. "Mas a gente tem que discutir. O mundo inteiro fez isso". 

A maquiadora Débora Gabriella de Lima, 27 anos, disse à BBC Brasil: “Meu filho Cauã tinha dois anos e as convulsões dele, 50 por dia, eram tão fortes que a cama do hospital balançava”. Com um óleo feito a partir da Cannabis, vendido por um rapaz que tratava assim, com gotas do óleo, os tremores de Parkinson da mãe, as convulsões de Cauã acabaram em uma semana. “Só encontro uma palavra: milagre”. 
Para um governo tão religioso, quem sabe a palavra "milagre" ajude o ministro e o presidente a escutar depoimentos de parentes e médicos. Legalizem pelo menos o uso terapêutico da planta, legalizem a maconha medicinal! Os senhores não são cristãos?


SAIBA MAIS: 
'Estou perdendo meu filho': os pais que cultivam ou recorrem ao tráfico por maconha medicinal (reportagem na BBC Brasil)
https://www.bbc.com/portuguese/brasil-49078143
Maconha: hora de legalizar? (reportagem em 2009 na revista Epoca)
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,ERT26723-15228-26723-3934,00.html

Ruth de Aquino - O Globo

segunda-feira, 19 de novembro de 2018

E o Adélio, quando vamos saber quem mandou matar Bolsonaro?




O Arquivo Queimado Adélio Bispo de Oliveira foi Encontrado M....
[Não deixe de assistir este vídeo - cita algumas mortes bastante estranhas e que sempre giram em torno de Lula e do PT. - destaque para as mortes de Eduardo Campos, Teori Zavascki, a  operação de câmbio em Juiz de Fora - logo após o atentado contra Bolsonaro - e outros.

Dirigentes do PT preparam malas para temporada nas trevas a longo prazo 

Entre atos de resistência e frentes democráticas, parte dos dirigentes do PT reconhece que a derrota do partido na eleição abre uma era inédita de adversidades. Com a vitória de Jair Bolsonaro, a prisão prolongada de Lula e o desgaste da imagem da sigla, os petistas se armam para uma batalha duradoura. O diagnóstico já foi feito por quadros considerados mais combativos, como José Dirceu, Gilberto Carvalho e Gleisi Hoffmann.

A maioria prevê um trabalho duro de reconstrução política, enquanto os mais pessimistas temem uma tentativa de asfixia da legenda nos próximos anos. “É uma luta de longo prazo. Não nos iludamos”, alertou Dirceu, que presidiu o PT nos anos que antecederam a eleição de Lula. Em lançamento de suas memórias, na última segunda-feira, dia 12, o ex-ministro disse que Bolsonaro tem uma base social forte que deve mantê-lo no poder por anos.

INCERTEZAS – Alguns petistas enxergam na eleição de Bolsonaro a cristalização de um ambiente desfavorável à sigla também nas instituições do país. Os esforços pela libertação de Lula, por exemplo, tenderiam a perder força. “Nós morremos de medo. Quando [Bolsonaro] tomar posse com Lula preso, não sabemos o que vai acontecer. Tudo que ele fala é no sentido de que o Lula morra de podre na cadeia”, disse Gilberto Carvalho, que foi braço direito do ex-presidente, em entrevista à BBC Brasil.

A escolha de Sergio Moro para o Ministério da Justiça e a manutenção do discurso anticorrupção com as cores do partido ampliam esse receio. Dirigentes temem ainda que a Justiça Eleitoral obrigue o PT a pagar R$ 20 milhões para devolver o dinheiro gasto com a candidatura de Lula ou reabra processos que pedem a cassação do registro da sigla. Para Gilberto Carvalho, a legenda também precisará enfrentar seus erros e apagar as manchas de corrupção que devastaram o partido. “Isso, sim, a gente tem que encarar, que eu chamo de a gente visitar os nossos demônios”, declarou. Alguns petistas já arrumam as malas para uma temporada nas trevas.

Bruno Boghossian - Folha de S. Paulo

Transcrito do A Verdade Sufocada

 


quinta-feira, 22 de março de 2018

Após impasse, STF decide sobre prisão de Lula; quatro perguntas para entender o que está em jogo

Depois da condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em segunda instância, em janeiro, a defesa do petista adotou estratégias em diferentes frentes do Judiciário para tentar impedir uma eventual prisão do presidenciável. No Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, os advogados de Lula questionaram pontos da decisão unânime dos desembargadores, que concordaram com a condenação imposta pelo juiz Sérgio Moro no caso tríplex do Guarujá. 

Em Brasília, a defesa entrou com pedidos de habeas corpus - para garantir a liberdade do ex-presidente - no Supremo Tribunal Federal. Depois de semanas de aumento da tensão nos cenários político e jurídico, Lula obteve duas respostas a seus pleitos nesta quarta-feira. No fim da manhã, o TRF-4 anunciou que julgará os recursos do petista na próxima segunda-feira, dia 26. No início da tarde, a ministra Cármen Lúcia surpreendeu os colegas ao anunciar que levará ao plenário da Corte o pedido de Lula para obter uma salvaguarda contra a prisão.

A BBC Brasil revisitou os recursos e explica o que motivou a mudança de panorama e o que está em jogo nos próximos dias. 

1. Por que Cármen Lúcia pautou o caso de Lula? O julgamento estava previsto?
Em seu pedido de salvaguarda, a defesa de Lula alega que a prisão do petista poderia acontecer imediatamente após o julgamento dos recursos de Lula no TRF-4, sem que o petista tivesse esgotado as possibilidades de recursos de defesa na Justiça. Isso, ainda de acordo com o advogado Cristiano Zanin Martins, fere o princípio constitucional da garantia da ampla defesa.

A prisão nessas condições, no entanto, foi autorizada pelo próprio STF. Em 2016, o tribunal decidiu por 6 votos a 5 que condenados em segunda instância podem começar a cumprir a pena. No caso de Lula, os desembargadores do TRF-4 determinaram a prisão do petista tão logo acabassem os recursos disponíveis no tribunal. Dada a proximidade da decisão em Porto Alegre, o julgamento no STF em relação à liberdade de Lula se tornava cada vez mais urgente. Paralelamente, alguns ministros da Suprema Corte passaram a criticar a decisão do Tribunal sobre a segunda instância e começaram a demandar que o STF revisitasse o assunto. 

Apesar disso, o julgamento do pedido de habeas corpus da defesa de Lula no STF não estava previsto para este mês, tampouco para abril, o que gerou intensa pressão sobre a presidente da corte, responsável por definir a pauta do STF. Além dos apoiadores de Lula, advogados de réus da Operação Lava Jato e parte da classe política queriam que Cármen Lúcia pautasse o tema o quanto antes. Defensores dos direitos humanos tinham a mesma visão: o "cumprimento provisório da pena" não atinge só políticos; existem casos de pessoas que foram condenadas em segunda instância por crimes comuns e já estão presas, mas podem ter a condenação revista pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou pelo próprio Supremo. 

Do outro lado, os partidários da revisão passaram a ser acusados de casuísmo: estariam dispostos a alterar as mudanças das regras atuais apenas para prejudicar ou beneficiar Lula. Mais do que isso, procuradores da Lava Jato e o próprio juiz Sergio Moro argumentaram publicamente que uma mudança de entendimento do STF significaria um "liberou geral" para políticos acusados de corrupção e investigados na Lava Jato: a ida para a cadeia só após o fim de todos os recursos criaria impunidade e levaria ao fim das apurações contra a corrupção. É essa também a posição dos movimentos sociais que pediram o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff (PT). Militantes do Vem Pra Rua reuniram-se com Cármen Lúcia no começo da tarde de hoje para tratar do assunto. 

Com a decisão de hoje, Cármen Lúcia tenta "driblar" as críticas que têm recebido de colegas do STF por não pautar o assunto, ao mesmo tempo em que não desagrada o grupo "pró-Lava Jato". A decisão será exclusiva para o ex-presidente Lula, e não terá impactos sobre as situações de outros políticos investigados.

2. Como os ministros Marco Aurélio, Celso de Mello e Gilmar Mendes pressionaram Cármen Lúcia?
Os três ministros têm liderado no STF o pedido da revisão da decisão de 2016. Marco Aurélio Mello é o relator das duas ações que questionam o "cumprimento provisório" da pena. No jargão do tribunal, as ações são chamadas de ADCs - Ações Declaratórias de Constitucionalidade. 

Continue lendo, na BBC Brasil
 

sábado, 25 de novembro de 2017

'Temos juízes com férias de 60 dias e outros que não trabalham às segundas e às sextas', diz presidente da OAB-SP

No ano em que a OAB (Ordem dos Advogados do Brasil) de São Paulo completa 85 anos, o presidente da entidade, Marcos da Costa, afirma que o direito de defesa do cidadão nunca esteve tão ameaçado no Brasil desde o fim da ditadura. Além disso, diz que entre os principais motivos para a morosidade da Justiça estão problemas de gestão e mazelas do próprio Judiciário, como excesso de folgas dos magistrados.

Costa concedeu entrevista à BBC Brasil em seu escritório uma semana antes de abrir a 23ª Conferência Nacional da Advocacia Brasileira, que ocorrerá entre 27 e 30 de novembro, cujo tema será a defesa de direitos fundamentais como um dos pilares da democracia. Na conversa, ele fala sobre delação premiada, candidatura política de membros do Judiciário e se opõe ao foro privilegiado de políticos - tema que será analisado pelo STF (Supremo Tribunal Federal) nesta semana. Também critica os altos pagamentos a juízes e servidores e a decisão do Supremo que permitiu a prisão após condenação em segunda instância.

Diz ainda que a maioria dos que apoiam o pacote de propostas legislativas do Ministério Público conhecido como Dez Medidas Contra a Corrupção não leram os pontos - como a aceitação de provas ilícitas se quem as produziu estiver de boa-fé e o fim da prescrição enquanto se aguarda julgamento. Também comenta a atuação da OAB em relação ao impeachment da presidente Dilma Rousseff - a Ordem apoiou a abertura do processo, posição defendida pelas bancadas de 26 Estados no conselho, incluindo a de São Paulo.
Em nota após a publicação desta entrevista, a Associação Paulista de Magistrados (Apamagis) afirmou "repudiar de forma veemente as afirmações" de Costa (veja nota ao final da reportagem).

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.
BBC Brasil - Como a operação Lava Jato tem afetado o trabalho da advocacia?
Marcos da Costa - Não sei se a Lava Jato... Tivemos momentos anteriores, por exemplo, no Mensalão, em que o Estado cumpriu seu papel de investigar e identificar o cometimento de crime.
A advocacia cumpriu seu papel de defender quem é inocente e garantir que os culpados tenham a condenação adequada de acordo com a lei - com o direito de defesa assegurado, com o contraditório, porque só assim se faz justiça.

BBC Brasil - Você vê casos de advogados grampeados, busca e apreensão em escritórios...
Costa - Nesse caso, são autoridades que, procurando exercer seu papel, ferem garantias constitucionais. Quando isso acontece, num primeiro momento você pode até ter uma satisfação dada à população no que diz respeito ao clamor por Justiça. Mas uma análise melhor por parte do próprio Judiciário muitas vezes leva à anulação, o que gera um clamor ainda maior das pessoas, uma frustração.
O processo existe para que se encontre culpados e se absolva inocentes, sempre dentro da legalidade. 

BBC Brasil - A delação premiada tem sido mais usada.
Costa - É um instrumento importante que tem servido inegavelmente para combater o crime de corrupção, que é difícil de identificar. Mas ela precisa ser ponderada.
Se a delação apresenta informações, elas precisam ser comprovadas. O que não pode é a delação por si própria ser considerada uma prova ou transmitida pela sociedade como condenação.

BBC Brasil - Há abusos?
Costa - Toda vez que a delação ou outro instrumento é utilizado sem as cautelas necessárias para que todos os envolvidos tenham assegurado o direito de defesa, vai haver um desvio de finalidade.

(...)


Em nota publicada após esta entrevista, a Associação Paulista de Magistrados (Apamagis) afirmou que Costa "aborda questões relevantes com um viés absolutamente desconexo da realidade. Pior, lança graves acusações sem nenhum suporte fático, maculando a imagem de milhares de juízes e desembargadores sempre voltados à distribuição da Justiça".

"O entrevistado opta pela desinformação, repetindo preconceitos propalados por pessoas que desconhecem a realidade do Judiciário de São Paulo. (...) O Tribunal de Justiça de São Paulo tem batido recordes de produtividade ano após ano, sendo que em 2016 superou todas as expectativas, tornando-se o ano de maior desempenho de sua história. De maneira superficial, o presidente aborda questões de recesso, férias e expediente dado por magistrados, ignorando, por exemplo, o sistema eletrônico que permite aos juízes proferir decisões inclusive quando não estão em seus ambientes públicos de trabalho."

MATÉRIA COMPLETA em BBC Brasil

 

 

terça-feira, 21 de novembro de 2017

Fux lê como norma seu voto derrotado e se volta contra o STF e Carta: marcha da insensatez 1

Ah, agora entendi. Fux está dizendo que decisão com a qual ele não concorda não vale. Reitere-se: já antes de o STF votar o caso Aécio, parlamentares só podiam ser presos em flagrante de crime inafiançável, valendo o mesmo para os deputados estaduais

Luiz Roberto Barroso é, sem dúvida, o mais ideológico dos ministros do Supremo. Chegarei a ele. Mas Luiz Fux é, de longe, a figura mais, como posso chamar?, esfuziante do tribunal, com traços de espalhafato. É um homem, já revelei aqui, que não teme o inusitado. Quando foi indicado para o STF por Dilma Rousseff, foi comemorar em companhia de Sérgio Cabral, então governador do Rio, e seu séquito. Não sem antes anunciar que faria algo inédito, ajoelhou-se e beijou os pés de Adriana Ancelmo, primeira-dama do Estado. O homem sabia a quem estava sendo grato. Reuniu-se ainda com José Dirceu e João Paulo Cunha, dois réus do mensalão. Ao à época ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declarou-se o tipo de juiz que “mata a bola no peito”. Nomeado, aprovado, com as bênçãos e o patrocínio do PT, que o havia escalado, votou contra a companheirada. E, como se verá, posa agora de Torquemada do país descoberto por Cabral, o Sérgio. Explico.

O doutor decidiu conceder nesta segunda uma entrevista à BBC Brasil. Classificou de “Lamentável, vulgar e promíscua” a decisão da Alerj (Assembleia Legislativa do Rio) de revogar as respectivas prisões preventivas dos deputados estaduais Jorge Picciani (presidente da Casa), Paulo Melo e Edson Albertassi, todos do PMDB do marido daquela a cujos pés ele se rendeu em lisonja. Vai ver Fux é um apreciador de Augusto dos Anjos: “O beijo, amigo, é a véspera do escarro”.  Estivessem mais atentos,  seus amigos de antes e alvos de agora talvez tivessem seguido os conselhos do poeta: “Apedreja essa mão vil que te afaga,/ Escarra nessa boca que te beija!”. O ministro está na Inglaterra. Participa de um seminário na Universidade de Oxford. A entrevista à BBC Brasil foi concedida na sede da BBC, em Londres.

Quem não sabe do que Fux está falando ficará, sim, com a impressão de que a Alerj fez algo ilegal, o que é mentira. E quero que Picciani, Melo e Albertassi se danem. Nunca os vi pessoalmente nem mais gordos nem mais magros. Quem conhece essa gente poderosa do Rio é Fux, não eu, que não beijo os pés de ninguém nem me ajoelho diante de potentados dos reinos animal, vegetal ou mineral. Trata-se de uma das entrevistas mais malandras que já li, que enrola também os jornalistas — malandragem, entenda-se, em sentido intelectual.
Indagado sobre a decisão, a primeira resposta de Fux é esta: “Eu entendo que essa é uma decisão lamentável decorrente de uma interpretação incorreta feita em razão da decisão do Supremo Tribunal Federal (de dar ao Senado o poder de rever medidas cautelares contra Aécio Neves), por 6 a 5, apertada maioria. Portanto, entendo que a tese dessa decisão vai voltar ao plenário. Mas eles se basearam nessa decisão para entender que os deputados estaduais têm as mesmas imunidades dos congressistas federais. Entretanto, houve, no caso federal, uma provocação do Judiciário. E as Assembleias estaduais estão utilizando de maneira vulgar e promíscua essa decisão do Supremo sem provocação em relação ao Judiciário. É uma decisão lamentável, que desprestigia o Poder Judiciário, gera uma sensação de impunidade e que certamente será revista pelo Supremo Tribunal Federal.”

É um espanto! Fux afirma que a decisão do STF, que submete ao escrutínio das Casas Legislativas, a aplicação de medidas cautelares contra parlamentares foi tomada 6 a 5 e tem de voltar ao plenário. O doutor não reconhece que 6 seja mais do que 5 quando ele está do lado perdedor. De todo modo, a decisão mais gravosa tomada pelo TRF2 foi a prisão preventiva dos parlamentares, não o afastamento cautelar do mandato.

O ministro finge ignorar dois Artigos da Constituição: o 53 estabelece que parlamentares só podem ser presos por flagrante de crime inafiançável. E o 27 concede aos deputados estaduais as mesmas prerrogativas e imunidades dos parlamentares federais. Assim, mesmo em relação às medidas cautelares — QUE NÃO ESTÃO PREVISTAS NA CONSTITUIÇÃO PARA PARLAMENTARES, NOTE-SE —, a interpretação dada pelo Supremo no que concerne aos parlamentares federais vale também para os estaduais. Mas Fux discorda. Segundo o preclaro, o que o STF decidiu só valia para deputados e senadores porque houve “uma provocação” — vale dizer: porque houve Ação Direita de Inconstitucionalidade.

Mas onde é que está escrito isso?
Respondo: em lugar nenhum!
E onde está escrito que os parlamentares estaduais têm as mesmas prerrogativas e imunidades dos federais?  No Parágrafo 1º do Artigo 27 da Constituição.
Muito bem, quem lesse a resposta anterior, ficaria com a impressão de que, com efeito, a Alerj teria cometido alguma impropriedade. Mas eis que o ministro afirma em outra resposta: A Constituição estabelece que, até a denúncia, a competência é do Poder Judiciário. Então, o Poder Judiciário não precisaria de autorização nenhuma do Congresso e das Assembleias para determinar medidas cautelares. No meu modo de ver, a decisão do Supremo é incorreta. Ela restou proferida por uma maioria, mas na essência é uma decisão incorreta.”

Ah, agora entendi. Fux está dizendo que decisão com a qual ele não concorda não vale. Reitere-se: já antes de o STF votar o caso Aécio, parlamentares só podiam ser presos em flagrante de crime inafiançável, valendo o mesmo para os deputados estaduais. Os crimes de que o trio é acusado não são inafiançáveis nem houve flagrante. O Congresso Brasileiro já foi mandado para a lama. O Executivo vive permanentemente debaixo de vara. Fux, parece, pretende agora desmoralizar um pouco mais o STF

“Lamentável, vulgar e promíscuo”, além de indecoroso, é atacar em solo estrangeiro uma decisão tomada pelo tribunal a que ele pertence., transformando sua mera opinião em fonte da verdade. Opinião que, de resto, ignora a Constituição.  Se o STF tornar sem efeito a decisão da Alerj, estará passando a borracha no Artigo 27 da Constituição. O 53 já foi rasurado quando se admitiu a aplicação de medidas cautelares a parlamentares, o que simplesmente não está na Constituição.

Blog do Reinaldo Azevedo


 Entre outras sandices, o futuro presidente do TSE resolveu “abençoar” a candidatura de Joaquim Barbosa à Presidência e disse ver equipes sólidas por trás dos “outsiders”
 
 

 

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Menino símbolo da microcefalia ainda espera para começar reabilitação



Família pernambucana se mudou para cidade mais perto de Recife e vive só com R$ 259
O bebê com microcefalia que virou símbolo do avanço da doença associada ao vírus zika, ao ter sua imagem registrada em dezembro pelo fotógrafo Felipe Dana, da agência Associated Press, ainda espera o início das sessões de reabilitação, segundo reportagem da BBC Brasil. O caso da pernambucana Solange Ferreira, de 39 anos, mãe de José Wesley, hoje com 4 meses, foi um dos primeiros a aparecer na mídia quando começaram a surgir bebês com a doença no Nordeste.


 José Wesley na imagem que o tornou conhecido - Felipe Dana/AP/23-12-2015

Solange vivia em Santa Cruz do Capiberibe, no sertão de Pernambuco, quando foi fotografada pela agência. Ela se mudou com Wesley e outros três filhos mais velhos há pouco mais de um mês para Bonito, cidade mais perto de Recife, para fazer o tratamento. O marido continuou na outra cidade.

Solange e os filhos vivem hoje com apenas R$ 259 mensais, que recebem pelo Bolsa Família. Ela teve que deixar o emprego de doméstica para se dedicar a Wesley. “Quando minha família tem condições, ajuda. Quando não tem, a gente vai passando. Para tudo Deus dá um jeito”, disse ela à BBC.

Sem orientação de profissionais de saúde, Solange adota velhos hábitos. Quando o filho chora muito e fica muito agitado, dá banho nele de balde e bota música gospel para tocar. A neuropediatra Vanessa van der Linden, da Associação de Assistência à Criança Deficiente, disse que já procurou Solange para agendar as sessões, mas houve um problema de encaminhamento.

Fonte: O Globo