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domingo, 12 de junho de 2016

“Bom, barato, belo. E inútil” e outras sete notas de Carlos Brickmann

As obras públicas mostram que trabalhar direito por aqui sempre foi difícil. O problema? Acertar o troco, sem pixulecos, sem ladroeira


O estádio mais caro da Copa, o Mané Garrincha, de Brasília, foi declarado pela Justiça incapaz de receber jogos de futebol. [estádio para a Copa 2014, a Copa da Vergonha, a Copa dos Alemanha  7 x Brasil,  1, construido na gestão do governador petista Agnelo Queiroz.] Corinthians e Palmeiras jogam lá, agora, por falta de tempo de remarcar a partida. A lindíssima ciclovia à beira-mar, no Rio, seria perfeita se pudesse ficar à beira-mar. O aquário do Pantanal, iniciado em 2011, deveria ser inaugurado em 2013. Não foi: até agora só serviu para matar peixes. Na bela reforma do porto do Rio, para as Olimpíadas que começam daqui a dois meses, sumiram seis vigas de aço de 20 toneladas cada uma. Como? De que jeito?

Mas o melhor exemplo de desperdício do dinheiro público é o novo bonde fluminense. Ficou pronto tarde demais, entra em serviço sem testes. Testes de tecnologia do bonde? Sim: o bonde se chama “veículo leve sobre trilhos”, VLT, e portanto não é um bonde, embora seja um bonde, inspiradíssimo nos bondes que, do início do século 20 até mais ou menos 1970, prestaram excelentes serviços de transporte por bonde.

É difícil. Mas trabalhar direito por aqui sempre foi difícil: Luiz Gonzaga e Miguel Lima brincaram num divertido forró com nossa dificuldade em fazer contas: “Sou diplomata, frequentei academia, conheço geografia, sei até multiplicar (…)” Qual o problema? Acertar o troco, sem pixulecos, sem ladroeira. Como hoje. Divirta-se com Luiz Gonzaga.

Lucros e perdas
O governo federal calculou o custo dos Jogos Olímpicos em R$ 28 bilhões (só dinheiro público, sem contar iniciativa privada, se houver). Os gastos públicos já alcançaram R$ 39,2 bilhões. Na Copa, gastou-se menos: R$ 27,1 bilhões. Mas ainda sairá mais dinheiro: a estrutura da cobertura, 225 toneladas espalhadas por 1.809 m², ainda não chegou da Espanha. E vai custar caro transportá-la até Campo Grande e remontá-la todinha.

Briga da boa
Quando Marcelo Odebrecht nasceu, Delfim Netto já tinha sido secretário da Fazenda do Estado de São Paulo, comandante com plenos poderes da economia nacional, ministro do Planejamento, Agricultura e Fazenda, embaixador na França. Sabe mais sobre política e política econômica do que qualquer outra pessoa. Sabe muito sobre política nuclear brasileira. E sabe muito sobre muitos políticos, de todos os partidos. Ao intimá-lo para depor em Curitiba, a delegada da PF Renata da Silva Rodrigues pode estar abrindo novas e pesadas frentes de trabalho. Quer investigar R$ 240 mil recebidos por ele da Odebrecht? Então, tá.

A energia de Delfim
Curitiba? Para quem respondeu a comissões militares de inquérito e enfrentou o Relatório Saraiva, documento hostil em que um coronel da ativa o acusava de ter recebido US$ 6 milhões de propina de financiadores de usinas hidrelétricas, Curitiba não deve causar muitas preocupação.

Pequena, mas espaçosa
Diálogo do governador mineiro Fernando Pimentel, PT, pressionado por investigações, com sua filha:Ela disse: ‘Pai, você foi militante político desde a juventude. Foi pro mundo político. Depois se engajou na militância partidária. Foi prefeito, ministro, agora é governador. Tantas coisas agora neste momento, maldades, acusações. Será que vale a pena?’ Me lembrei daquele verso de Fernando Pessoa: ‘tudo vale a pena quando a alma não é pequena’ ”. Pois é. Mas nunca é pequena a energia para buscar recursos que, naturalmente, serão destinados com generosidade, alegria e boa-vontade a quem deles estiver mais necessitado.

Como diz o provérbio
Esposas de Eduardo Cunha e de João Santana, ambas enfrentando processos, têm características em comum: gastos pessoais altos, cartões de crédito bem fornecidos, facilidade de estabelecer novos contatos, disposição para enfrentar problemas delicados, até mesmo os que lhes são impostos pelo Judiciário e parecem intransponíveis. São mulheres especiais, que atraem políticos poderosos. A razão é simples, considerando-se as pessoas citadas: como diz o provérbio, duas cabeças pensam melhor do que uma.

Voa, Dilma!
Dilma está sem jatinho? Não faz mal: alguém lhe alugou um para que fosse conversar com aliados, em Campinas. E por que não viajou em avião comercial? Porque não pode, uai. Jatinho é o único veículo (fora aquele outro que todos os piadistas vão citar) que lhe permite voar sem ser vaiada.

Dia de folga
São João cai numa sexta, 24 de junho. Boa parte dos tribunais comemora o dia do santo com um descanso extra:  em Alagoas e Piauí, fecham por uma semana, de 24 em diante. Na Bahia e Paraíba, fecham no dia 23 e só reabrem em 4 de julho. A menos que alguém queira festejar também o Independence Day.

Publicado na coluna de Carlos Brickmann

 

segunda-feira, 11 de abril de 2016

Delação fatal


O que Otávio Azevedo falou é motivo para a saída de um presidente em qualquer democracia

Algum petista precisa convencer a presidente Dilma Rousseff a apoiar os trabalhos da Câmara nos fins de semana, sábados, domingos e feriados, para acelerar a votação do processo de impeachment. Dilma, apresse tudo por seu próprio bem.

Porque, a cada semana, a cada depoimento que ganha a luz do dia, sua permanência no Palácio do Planalto fica mais insustentável. Não tem encanador no mundo que dê jeito nos vazamentos desse esgoto de propinas. No seriado “Executivos contra o Executivo”, o conteúdo das denúncias é assombroso.

Vamos esquecer que este é um mau governo – uma constatação de eleitores de todas as classes sociais e todos os matizes ideológicos. Dilma jogou o Brasil numa crise sem tamanho. Um Brasil que ficou tão menor sob sua incompetência e irresponsabilidade fiscal. Um Brasil que só aumenta os gastos públicos, mete a mão na arrecadação de impostos e condena a população à inadimplência.

Vamos esquecer sua falta de liderança, atestada por políticos de todos os partidos, entre eles o PT. Vamos esquecer a alta da inflação e do desemprego. Vamos esquecer que, ainda hoje, com o país no abismo, Dilma negocia, em troca de votos de qualquer picareta, as Pastas de Educação e Saúde, como se fossem legumes na xepa ou moedas de cara ou coroa – só para se manter no poder. E que se dane o povo nas filas de escolas e hospitais, refém de epidemias graves e indicadores educacionais vergonhosos.

Vamos esquecer as pedaladas fiscais, manobras que sempre existiram, mas que dispararam com Dilma e chegaram a R$ 72 bilhões – pedaladas para financiar projetos do governo, pintar de rosa a realidade e ganhar a reeleição com base em grossas mentiras. Esses bilhões foram ressarcidos aos bancos públicos no último dia útil de 2015, com o governo já acossado por denúncias de ilegalidade.

Vamos esquecer as delações anteriores, de seu ex-líder na Câmara Delcídio do Amaral ou de operadores e presidentes de empresas, todos admitindo participar de uma rede de obras superfaturadas e do movimento de fortunas para beneficiar seu governo. Vamos esquecer até as críticas de Lula a seu estilo autoritário, Dilma, com socos na mesa e palavrões. Um estilo agora substituído por um sorrisinho debochado com chiclete e por comícios seletivos no Palácio do Planalto, com claque garantida.

Vamos esquecer o caos e nos ate à última delação, de Otávio Azevedo, ex-presidente da segunda maior empreiteira do país, a Andrade Gutierrez. O executivo diz ter pago, com outras construtoras, R$ 150 milhões em propinas disfarçadas de doações eleitorais para o PT e o PMDB, repartidos igualmente, para ganhar o contrato da usina de Belo Monte.
Quem ganhou a “concorrência” acabou sendo o amigo de Lula, o pecuarista José Carlos Bumlai, com um consórcio de empresas formado às pressas. A amiga de Dilma, Erenice Guerra, calou as queixas de Otávio Azevedo, prometendo a ele que Bumlai contrataria a Andrade Gutierrez para executar a obra. E assim foi. Se não me engano, isso se chama “quadrilha”.

O executivo Otávio Azevedo também declarou ter sido intimado pelo tesoureiro da campanha de Dilma em 2014 e atual ministro da Secretaria da Comunicação Social, Edinho Silva, a doar dinheiro para a reeleição da presidente. Otávio argumentou que já tinha pago a João Vaccari Neto, ex-tesoureiro do PT, hoje preso na Lava Jato. E que não poderia fazer a mesma doação novamente. As partes teriam então chegado a um acordo de doação de R$ 20 milhões. Doação registrada legalmente, mas que, segundo Otávio Azevedo, seria originária de propina de obras superfaturadas da Petrobras e obras das usinas de Angra 3 e Belo Monte, além do Complexo Petroquímico do Rio, o Comperj.

A delação de Otávio Azevedo não livra a cara do PMDB nem do PSDB, cujo candidato à Presidência, Aécio Neves, também recebeu doações da empreiteira. Segundo o depoimento, em 2009, R$ 600 mil em dinheiro vivo foram entregues ao ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão, do PMDB. A delação também envolve o economista Delfim Netto, que teria recebido, segundo executivos da empreiteira, R$ 15 milhões de propina em 2010.

Caso essa delação seja verdadeira, o que Otávio Azevedo falou é, por si só, motivo para a saída de um presidente ou de um primeiro-ministro em qualquer democracia civilizada. Causa espanto que Dilma se indigne não contra o conteúdo da delação, mas contra “os vazamentos seletivos” que favorecem “o golpe”. Causa espanto que o Partido dos Trabalhadores refute a última delação não em tom de revolta contra invenções absurdas, mas contra o que o PT chamou de “ilações”. Fraco.

Todos os acusados negam malfeitos. Mas não acreditamos mais. Precisamos passar o Brasil a limpo. E isso significa punir todos os bandidos, a torto e a direito, sem apegos a siglas, mas aos fatos.

Fonte: Época - Ruth de Aquino

quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

“O ano que começa mais cedo”

Cinco notas de Carlos Brickmann

Depois do Carnaval? Não, 2016 é diferente. Começa amanhã, dia 7, com a volta do juiz Sérgio Moro ao trabalho, depois dos feriados de fim de ano. Começa com a Polícia Federal se sentindo mordida com o corte de verbas. Começa com o empresário José Carlos Bumlai, amigo de Lula, com livre acesso às dependências do Palácio, e Delcídio do Amaral, líder do governo no Senado, presos e pressionados: ou fazem delação premiada ou estão sujeitos a longas penas. [pensam no Marcos Valério do MENSALÃO - PT; não fez acordo e se ferrou sozinho.
Delcidio está mais assustado, pois foi informado que nas cadeias presos coroas, cabelos brancos, boa aparência, são os preferidos para serem mocinhas.
O Bumlai é mais desajeitado mas terá sempre um preso para usá-lo]
 
Há mais. O grupo de trabalho do Ministério Público encarregado de investigar políticos recebeu reforço: cinco subprocuradores para atuar especificamente nos recursos dos envolvidos na Operação Lava Jato ao Superior Tribunal de Justiça; e outros quatro investigadores. Cada caso pode ter inúmeras ramificações. Nas palavras do ministro Teori Zavascki, “puxa-se uma pena e vem uma galinha”.

Fernando Henrique, entrevistado no Manhattan Connection de domingo, disse que um dos problemas para tentar resolver politicamente a crise é que nunca se sabe se, na hora da conversa, o interlocutor estará solto. Fernando Henrique vê a situação com clareza: enquanto o trabalho da Justiça se desenvolver, tudo fica parado. E o avanço das investigações é imprevisível: se Delcídio e Bumlai falam, é uma coisa; se silenciam, é outra. Quem diria, há não muito tempo, que o líder do governo no Senado seria preso? Quem diria que o maior empreiteiro do Brasil, Marcelo Odebrecht, passaria meses preso e não sairia nem no Natal?
STF e STJ soltarão muita gente. Mas quem ocupará seu lugar em Curitiba?

Ajuda à memória
Só para lembrar, há inquéritos no Superior Tribunal de Justiça sobre o governador do Rio, Luiz Fernando Pezão, do PMDB, e do Acre, Tião Viana, do PT. Outro envolve o ex-ministro (de Dilma) Mário Negromonte, do PP baiano. Os três fazem parte do grupo político que apoia a presidente.

Negromonte só não é ativo na luta contra o impeachment porque está hoje no Tribunal de Contas.

Movimento permanente
Os prazos em que ocorrerão os principais eventos judiciários dependem de uma série de fatores ─ inclusive feriados, dias de ponto facultativo, etc. Por exemplo, o ministro Teori Zavascki deu prazo de dez dias para que o deputado Eduardo Cunha se manifeste sobre o pedido do Ministério Público para afastá-lo da Presidência da Câmara. Dez dias não são dez dias: o prazo começa quando Cunha for notificado da decisão. Isso só pode ocorrer em fevereiro, quando o Supremo volta do recesso e manda notificá-lo. Se a notificação for entregue pelos oficiais de justiça na segunda, dia 1º, o pedido de afastamento pode começar a ser julgado na sessão de quarta, dia 17. Se a notificação não for logo entregue, talvez fique tudo para março.
São dez dias que podem valer por 50. Só que, enquanto não há decisão, a política fica fermentando e esquentando a crise.

Crise? Que crise? 
1 - Lembra daquelas terríveis cenas de pessoas barradas na porta de hospitais fluminenses por falta de vagas? Da moça que deu à luz na rua, porque nem no corredor do hospital quiseram aceitá-la? Das declarações do governador Pezão, de que o dinheiro tinha acabado, que os cofres estavam raspados, que não sobrava nem para a Saúde? Pois a situação deve ter melhorado muito: no dia 31, o governo do Rio determinou gastos de R$ 120 milhões com propaganda oficial em 2016 (a quantia pode chegar a R$ 150 milhões). É o mesmo que foi gasto no ano passado, sem um tostão sequer de economia. Pensando bem, é até pouco: para botar na cabeça da população que o governo é bom, que é que vão fazer?

2 - A Câmara dos Deputados gastou, em 2015, R$ 14 milhões com combustíveis e lubrificantes (o levantamento é da Operação Política Supervisionada, de Lúcio Batista). São cerca de 4 milhões de litros de gasolina que o caro leitor teve a honra de pagar para Suas Excelências, que o representam em Brasília.

3 - Lembre-se: há alguns anos, falou-se muito em trem-bala, e a presidente Dilma Rousseff criou uma estatal, a Empresa de Planejamento e Logística, exclusivamente para tomar conta do projeto. O trem-bala não saiu, não se fala mais no assunto, mas a EPL vai bem, obrigado. Tem 185 funcionários. E gastou R$ 46 milhões em 2015.

É a prova de que o trem-bala é um meio de transporte ultrarrápido: já passou, ninguém viu, e a gente continua a pagar por ele.

Mas houve economia
Nem só de gastança, entretanto, vive o governo. Há ocasiões em que, atento à crise, o Palácio do Planalto decide cortar despesas. Em 2015, por exemplo, o ano em que a presidente Dilma Rousseff declarou que o Brasil seria a Pátria Educadora, o Ministério da Educação teve corte de 10% do orçamento ─ aproximadamente R$ 10,5 bilhões de reais.
Dinheiro só para áreas prioritárias, como pagamento de diárias de hotéis cinco estrelas no exterior para delegações oficiais.

Ministros do Brasil
Todos os envolvidos desmentirão. Mas vários informantes confiáveis, em Brasília, garantiram que o ex-ministro Delfim Netto foi sondado por Dilma para a Fazenda. Desde o início dos governos petistas, Delfim esteve entre os conselheiros informais do presidente Lula.
Delfim recusou, Nelson Barbosa aceitou.

Fonte:  Coluna de Carlos Brickmann - http://www.brickmann.com.br/

 

sábado, 2 de janeiro de 2016

Dilma resolve me tirar do abismo metafísico. Então lá vou eu…

Artigo da presidente publicado na Folha deste dia 1º já disputa o troféu do “Ridículo do Ano”

texto repete mentiras grotescas e promessas eleitorais já descumpridas, que continuarão a não se cumprir

A presidente Dilma Rousseff não gosta quando tiro férias — ou, vá lá, ao menos um período de descanso. 

Assídua leitora do blog, quando percebe que eu diminuo o ritmo para conciliar nas areias da praia “o ser contra o não ser universal”, ela chama seus estafetas: “Vamos lá, cutuquem aquele preguiçoso!”. E aí ocorre de ela fazer coisas como a deste 1º de janeiro.

Dilma assina na Folha o texto que vai disputar, neste 2016, o troféu “O Ridículo do Ano”. A íntegra está aqui. Eu doido para me dedicar aos uivos da “felicidade diabólica”, como escreveu Clarice, e lá vem a governanta a nos lembrar que 2015 só vai acabar quando ela deixar o Palácio do Planalto. Ela me arranca dos abismos da metafísica. E talvez eu não a perdoe principalmente por isso.

De saída, cumpre notar: a presidente manda dizer que, mesmo injustiçada, leitor, não está brava nem com você nem comigo. No fim das contas, sabem como é, Dilmãe nos abraça, apesar das nossas malcriações. Escreve ela: “Mesmo injustamente questionada pela tentativa de impeachment, não alimento mágoas nem rancores. O governo fará de 2016 um ano de diálogo com todos os que desejam construir uma realidade melhor”.


A primeira parte da declaração nada mais é do que a linguagem balofa e pouco severa que marca fins e começos de ano. A segunda já embute uma ameaça: haverá diálogo com quem quiser construir uma realidade melhor; se diálogo não houver, então é porque a outra parte é do tipo que quer construir uma… realidade pior! O raciocínio é um brocado do pensamento autoritário que, não obstante, quer-se muito tolerante. Na Coreia do Norte, em Cuba ou na China, governantes dialogam com os que desejam “uma realidade melhor”. Só mandam matar os que lutam em favor do contrário.

O artigo se resume a uma cascata que passaria, fosse ela ainda candidata, por mera bobagem eleitoreira. Ocorre que esta senhora tomou posse há exatamente um ano. E está a descumprir cada uma das palavras empenhadas justamente porque o diagnóstico que fez da crise em 2014 era mentiroso. E, para espanto de um mínimo de bom senso, a petista o repete agora. E isso nos dá, então, a certeza de que, enquanto continuar a ocupar a cadeira presidencial, só o abismo nos espreita.

É evidente que não esperava que Dilma admitisse os crimes fiscais que cometeu e os erros grosseiros de operação de política econômica, contra advertências as mais sensatas feitas até por quem está no campo governista, como é o caso de Delfim Netto, para citar um nome. Mas chega a ser acintoso que a governante que vai nos garantir dois anos seguidos de recessão (2015 e 2016), depois de um outro com crescimento de 0,1% (2014), afirme o seguinte: “Foi um ano no qual a necessária revisão da estratégia econômica do país coincidiu com fatores internacionais que reduziram nossa atividade produtiva: queda vertiginosa do valor de nossos principais produtos de exportação, desaceleração de economias estratégicas para o Brasil e a adaptação a um novo patamar cambial, com suas evidentes pressões inflacionárias.”

Não há uma só verdade na passagem. A “queda vertiginosa” das commodities se deu em 2012. Ainda que tivesse acontecido posteriormente, seria só um elemento a agravar o abismo fiscal em que ela própria e Guido Mantega nos meteram ao implementar uma política em que despesa crescia continuamente acima da receita. Isso para não falar nas oportunidades perdidas de operar reformas essenciais, enquanto o outro abismo, o da crise política, ainda não nos espreitava. Ao contrário: Dilma, seguindo os passos de Lula, demonizava as políticas de austeridade, acusando-as de conspirar contra os interesses populares.

Já lembrei aqui e o faço de novo: em dezembro de 2012, o Instituto Lula e uma entidade francesa ligada às esquerdas promoveram um seminário na França. A nossa mestra deu um pito em Angela Merkel e ofereceu o modelo brasileiro como alternativa. Em janeiro de 2013, há meros três anos, esse portento da raça disse o seguinte em rede nacional de rádio e TV: “Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda.
Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.”

Talvez nem fosse necessário observar, mas o fato é que não há uma só corrente do pensamento econômico que assegure ser impossível crescer e distribuir renda. Esses são os inimigos imaginários que o PT combateu, enquanto destruía a economia do país. E, como se nota, as “conquistas” das quais se jactava a presidente, que havia acabado de selar o desastre no setor elétrico, foram para o ralo.

O tom do artigo desde 1º de janeiro de 2016 repete a ladainha mentirosa, arrogante e autorreferente dos tempos em que o desastre estava contratado, sim, mas ainda não havia se manifestado. É estupefaciente que um país que está na iminência de ganhar o selo de “grau especulativo” da terceira grande agência de classificação de risco seja exibido pela presidente como exemplo do destino de investimentos estrangeiros.

O artigo, levado em conta apenas o texto, é menos do que nada e não tem a menor importância. Considerado o contexto, estamos diante de um indício de que viveremos, infelizmente, dias turbulentos. A presidente decidiu fazer de conta que a realidade é apenas uma narrativa distorcida pela má vontade de seus adversários. E esse costuma ser um dos caminhos de diabólicas infelicidades.

 Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo

 

sábado, 24 de outubro de 2015

A insensata criação de mais uma estatal. Golpe da Dilma: extingue algumas secretarias inúteis, com status de ministérios e cria estatais inúteis

Apesar da longa experiência negativa com a estatização, pensa-se em criar empresa pública para ajudar nos projetos de infraestrutura. Um erro

Um governo petista propor a fundação de mais uma estatal não é novidade. Faz parte de uma visão ideológica de mundo. Segundo ela, será pelas mãos do Estado que o povo chegará ao paraíso — algo jamais realizado em qualquer parte do planeta. A excentricidade está em a ideia surgir em meio a uma das mais severas crises fiscais da história da economia brasileira, situação em que se deve fazer o oposto: vender estatais. E outro aspecto curioso é a sugestão partir de uma comissão criada pelo ministro da Fazenda, Joaquim Levy, economista sabedor dos malefícios da estatização.

Conclui-se, então, que devem ser convincentes as justificativas para a fundação da Estruturadora Pública Nacional, a ser chamada de EPN. A área de atuação da possível nova estatal é mesmo estratégica: elaboração de projetos de infraestrutura (portos, aeroportos, ferrovias, rodovias), à margem da Lei de Licitações, para serem entregues à iniciativa privada. Portanto, é uma forma de se ganhar tempo e supostamente eficiência num elo de fato complexo em qualquer investimento do tipo com alguma ingerência do Estado.
Infelizmente, mesmo que a ideia conte com o aval de Levy, o histórico centenário do Estado brasileiro garante de antemão o fracasso para o empreendimento.

A História é sábia professora. Por isso cabe relembrar a criação da Infraero relatada pelo seu próprio avalista, o ex-ministro Delfim Netto. Então poderoso dono da pasta da Fazenda, no governo militar do presidente Médici, Delfim foi convencido pelos próprios militares que os aeroportos precisavam de uma estatal para administrá-los. Seria uma empresa “enxuta”, ágil, eficiente. Décadas depois, diante de uma paquidérmica Infraero, ineficiente, loteada por partidos políticos, aparelhada, Delfim registraria o arrependimento público.

O enredo se repete com esta tal EPN. Também é anunciada como uma estatal “enxuta” — na verdade, uma contradição em termos. Outro aspecto negativo da proposta é que já existe a Empresa de Projetos e Logística (EPL), também estatal e com atribuições semelhantes. Não se tem notícia de grandes avanços na infraestrutura depois de sua criação. Nem assim e mesmo que venha a ser fundada a nova empresa, a EPL seria extinta, um outro erro.


Existem 143 estatais controladas pela União, das quais 18 são dependentes do Tesouro. Não se afasta a possibilidade de a EPN ser mais uma. Se em geral a experiência de empresas estatais é negativa, na infraestrutura não se tem notícia de êxito. A Valec, por exemplo, criada como subsidiária de engenharia da Vale, passou a tratar de ferrovias. Nada produziu de importante, a não ser pelo menos um escândalo de corrupção, em que foi preso seu presidente, José Francisco das Neves, o Juquinha, apadrinhado pelo PR.

Se o governo quer dar velocidade aos projetos de infraestrutura, proponha mudanças na legislação e melhore a qualidade da gestão nas áreas devidas. Fundar estatal é mais do mesmo.

Fonte: Editorial - O Globo

 

quarta-feira, 14 de outubro de 2015

Personagens do impeachment: o que pensam, o que fazem, do que se alimentam



Dilma, Lula, Cunha, Temer, oposição, militantes, movimentos de rua

Dilma Rousseff
Cometeu pedaladas fiscais em 2014
Editou decretos ilegais em 2015
, com créditos suplementares no valor de 2,5 bilhões de reais, sem a “necessária observância à lei, que requer responsabilidade na gestão fiscal”, como representou o procurador Júlio Marcelo de Oliveira. 

Deixou de repassar 38 bilhões de reais a BNDES e Banco do Brasil neste ano.
Perdeu de vez o suposto argumento de que não poderia sofrer impeachment porque teria cometido crimes apenas no primeiro mandato. 

Escalou então Ricardo Berzoini para repassar aos líderes da base a orientação do governo para impedir que Eduardo Cunha aprove a abertura do processo: acusá-lo de agir por vingança pessoal após os vazamentos de detalhes da investigação de que é alvo. 

Eduardo Cunha
Comprometeu-se a arquivar na semana que vem o pedido de impeachment de Dilma assinado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior. O recurso contra o arquivamento, em manobra inicialmente acertada com a oposição, seria votado em 21 de outubro, dependendo de maioria simples na Câmara para aprovação. Cunha usará o pedido de impeachment como cortina de fumaça, como seus aliados admitiram ao Globo, para tentar evitar o aumento das pressões para que ele renuncie por causa das contas na Suíça. 

Documentos do Ministério Público suíço enviados a Procuradoria-Geral da República mostram que recursos supostamente desviados da Petrobras, em uma operação na África, abasteceram suas contas secretas e de familiares, incluindo sua mulher, que pagou até aula de tênis com o montante.   Cunha já é alvo de denúncia no STF por crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro por suposta participação em desvios da estatal, em contratos de navio-sonda, acusado de receber US$ 5 milhões em propina. 

Em vez de arquivar o pedido de impeachment, no entanto, ele também poderá aceitar uma denúncia formal contra Dilma, encaminhando a questão diretamente para o plenário. [liminares concedidas por ministros do  STF faz  que várias das condutas que poderiam ser praticadas por Cunha e outros personagens da matéria, se tornem inviáveis ou mesmo sem sentido.
O PODER do deputado Eduardo Cunha acatar pedidos de ‘impeachment’ da ainda presidente Dilma não foi atacado pelas liminares, assim, permanece possível, e ao nosso entendimento altamente provável, que Cunha encaminhe para exame da Comissão Especial da Câmara o pedido de impeachment que tem entre seus autores o jurista Hélio Bicudo.
O encaminhamento ocorrerá na próxima semana, tendo em conta aditamento a ser apresentado pelos autores da petição em tela, adendo este que denuncia a persistência da presidente  em 2015, portando no seu segundo mandato, no cometimento das criminosas ‘pedaladas fiscais’.]
Nesse caso, segundo a Folha, o voto ocorreria imediatamente após 15 de novembro. [Está sendo articulado para aquela data  a realização de grandes manifestações por todo o Brasil,  comemorando a Proclamação da República e exigindo o ‘impeachment’ de Dilma.]

Oposição
O plano dos opositores “seria usar o dia da Proclamação da República para uma grande manifestação, lembrando a data em que Joaquim Barbosa mandou prender os condenados no mensalão”.
Segundo a Folha, eles se concentram “em irregularidades fiscais supostamente cometidas pelo governo neste ano para tentar acelerar o processo de deposição de Dilma”.
“O objetivo é fazer com que Eduardo Cunha aceite já nos próximos dias a denúncia formal contra a petista, sem necessidade de recursos. Cunha tem dito que só irá deferir uma denúncia se os fatos relatados tiverem relação com o atual mandato”.
O PSDB “juntou ao pedido de impeachment de Helio Bicudo ata de audiência no Senado na qual Júlio Marcelo de Oliveira, procurador do TCU, diz que as chamadas pedaladas junto ao BNDES foram ‘agravadas’ no segundo mandato de Dilma” 

Lula
Para salvar sua criatura Dilma, o Brahma trama nos bastidores a arregimentação de Eduardo Cunha na luta contra o impeachment.  Foi dele a ideia que resultou na aparente oferta de Dilma, repassada por Pezão ao presidente da Câmara e revelada por VEJA: “Eu tenho cinco ministros do Supremo”. (Sim: para liberar Cunha da Lava Jato em troca de evitar a queda da mulher sapiens.) 

Já para salvar seus patrões da Odebrecht, Lula chegou a se reunir com Márcio Thomaz Bastos no hospital, segundo a Época, e ambos encarregaram um ex-delegado também presente de aliciar mais dois delegados da PF que “se uniram com um único propósito: fornecer informações para um dossiê com supostas ilegalidades, de modo a invalidar a operação. Ou seja, melar a Lava Jato”. Clique e saiba mais como Lula tentou melar a Lava Jato


PT & Planalto
A Folha informa que deputados do PT e do PCdoB recorreram ao STF para tentar barrar a manobra acertada por Cunha com a oposição que pode levar ao plenário da Casa o pedido de impeachment.
“Os deputados WD (PT-RJ), aliado do ex-presidente Lula, Paulo Teixeira (PT-SP) e Rubens Pereira Júnior (PCdoB-MA) ingressaram com pedidos para que o STF invalide o procedimento estabelecido por Cunha em caso de rejeição dos pedidos de impedimento.
O Planalto teme que Cunha acelere o pedido após a revelação dos documentos do Ministério Público da Suíça”. 

Delfim Netto, André Singer, Dalmo Dallari e tutti quanti  Militam contra o impeachment na imprensa amiga, sem qualquer argumento que mereça menção. 

Michel Temer
Sua relação com Dilma “nunca esteve tão fria” e ele tem feito questão de se mostrar inerte, “um mero observador dos fatos”, como disseram seus aliados à Folha. Integrantes do governo e da cúpula do PMDB acreditam que “Temer não se moverá para ajudar a conter o movimento que prega a derrubada de Dilma”.
O vice “chega a demonstrar ‘certo alívio’ por ter sido alijado das últimas decisões encampadas pela petista, por julgar terem sido todas desastrosas”, entre elas a ação contra o ministro Augusto Nardes, do TCU, e a reforma ministerial. 

A opção de Dilma por empoderar Leonardo Picciani (PMBD-RJ) desagradou caciques do partido, Temer entre eles, que viram uma tentativa de dividir a sigla.  “Ela tentou entrar no PMDB pelas costas dele, sem conhecer as entranhas do partido”, resumiu um senador peemedebista. 

A ação no TSE que pode levar à cassação da chapa Dilma-Temer também contribuiu para empurrar o vice e aliados para o caminho do impeachment, como mostrei aqui.  “Se sentirmos que isso vai andar, faremos a escolha de Sofia”, disse um peemedebista ao jornal. Temer já conversa com líderes do PSDB, como o senador Aécio Neves.  “Ele não lavou as mãos. Lavaram as mãos dele. Tanto fizeram, que ele está completamente desobrigado de qualquer gesto”, defende um amigo. 

Movimentos de rua
Serão chamados para lotar os gramados em frente ao Congresso no dia 21 de outubro.  Têm organizado diversas ações pelo país com os bonecos inflados Pixuleco e Bandilma, apesar das agressões por parte de militantes petistas que, no Rio de Janeiro, resultaram no cancelamento de um ato no Leblon. 

Este blog- Felipe Moura
Acha ótimo que Cunha acelere o impeachment de Dilma e não vai ficar nem um pouco triste se ele cair em seguida, muito menos se uma eventual cassação vier a derrubar Temer também.  Se a Lava Jato transformar Lula em um Pixuleco de fato, considera que será uma das cenas mais lindas da história nacional. 

Considera também equivalentes aos militantes petistas – ou petistas disfarçados – todos os covardes que neste momento do país repetem expressões como “não vai dar em nada”, “vai acabar tudo em pizza”, “esquece isso” etc., em vez de contribuir para a pressão popular como indivíduos que assumem sua parcela de responsabilidade pelo futuro do Brasil.
Eles diziam o mesmo, aliás, sobre o julgamento das contas de Dilma no TCU.
Este blog sugere aos cidadãos ainda recuperáveis que comecem a dizer a si próprios: pode até não dar em nada, mas lutaremos até o fim. 

E será divertido. 

Felipe Moura Brasil http://veja.abril.com.br/blog/felipe-moura-brasil
10/10/2015


sábado, 26 de setembro de 2015

Rui Falcão convoca a ‘militância’ para manifestação pró-Dilma e contra Levy - Fundação do PT, Perseu Abramo, lança um documento de contestação à política de Joaquim Levy

Fundação do PT lança um documento de contestação à política de Joaquim Levy

Rui Falcão convoca a ‘militância’ para manifestação pró-Dilma e contra Levy 


O presidente do PT, Rui Falcão, convocou os militantes do partido para uma manifestação inusitada. Será um ato a favor e contra. A favor da preservação do mandato de Dilma Rousseff. E contra a política econômica do governo Dilma Rousseff, personificada no ministro Joaquim Levy (Fazenda).

O evento foi marcado para este sábado, no centro de São Paulo. Em vídeo veiculado no Facebook, Falcão expôs as contradições do petismo:
“Quero convidar a militância do PT, os nossos amigos, simpatizantes, e principalmente todos que defendem a democracia no país, a estarmos juntos nesse sábado (26), a partir das 12h, na Praça da Sé, para um grande ato, em defesa do mandato da presidenta Dilma, em defesa da democracia, e por mudanças na política econômica, por realização de reformas populares…”

O presidente do PT criticando a política econômica do governo do PT soa mais ou menos como um comandante de navio se queixando do mar.

Num instante em que a oscilação do dólar denuncia as incertezas quanto aos rumos da política econômica do governo, a Fundação Perseu Abramo, braço acadêmico do PT, patrocina o lançamento de um documento que borrifa gasolina no incêndio. O texto incorpora contribuições de “mais de uma centena de especialistas”. Chama-se “Por um Brasil Justo e Democrático”. A pretexto de sugerir um “projeto de desenvolvimento” para o país, faz críticas ácidas à condução da economia e ao ministro Joaquim Levy (Fazenda).

O documento será divulgado com pompa nesta segunda-feira, num hotel do centro de São Paulo, com transmissão ao vivo pela internet. Nele, lê-se a acusação de que Levy, recrutado por Dilma na diretoria do Bradesco, defende no governo os interesses dos bancos e impõe sacrifícios desnecessários ao brasileiro. O texto anota que a política econômica comandada por Levy joga o país numa recessão, promove a deterioração das contas públicas e reduz a capacidade do Estado de promover o desenvolvimento.

Na opinião dos economistas que redigiram o documento, a lógica do ajuste fiscal pretendido por Levy é caolha, privilegiando “a defesa dos interesses dos grandes bancos e fundos de investimento.” Ouvido pelo blog sobre o teor do texto, um auxiliar de Dilma disse na noite desta sexta-feira (25) que ele não reflete a opinião da presidente. Reconheceu, porém, que a divulgação deve produzir consequências ruinosas. Indagou: como podemos exigir dos nossos aliados que ajudem a aprovar o ajuste fiscal no Congresso se o PT não se mostra convencido do acerto.

Levy costuma dizer que a deterioração dos indicadores da economia não é causada pelo ajuste, mas pela política desenvolvida antes da sua chegada. O documento dos economistas companheiros discorda desse ponto de vista. Anota: entre 2013 e 2014, o Brasil não apresentava, sob nenhum aspecto considerado, um cenário de crise que exigisse tamanho sacrifício da população.

O documento sustenta que é a política econômica atual que contribui para deteriorar o ambiente econômico e social, potencializando a crise política e “as ações antidemocráticas e golpistas.” Além da Fundação Perseu Abramo, subscrevem as críticas à condução da economia as seguintes organizações: Brasil Debate, Centro Internacional Celso Furtado de Políticas para o Desenvolvimento, Fórum 21, Plataforma Política Social, Le Monde Diplomatique Brasil e Rede Desenvolvimentista.

As críticas dos economistas companheiros ecoam em público algo que os petistas —Lula à frente— vêm dizendo a portas fechadas. A turma esquece que, sob Dilma, quem manda na economia é ela. Ex-conselheiro informal de Lula e da própria Dilma, o economista Delfim Netto atribuiu a Dilma a ruína econômica: “…Ela é simplesmente uma trapalhona”, disse Delfim.

Fonte: Blog do Josias
 

domingo, 20 de setembro de 2015

‘A Dilma é simplesmente uma trapalhona’ , diz Delfim Netto

Em entrevista à repórter Eliane Cantanhêde, veiculada no Estadão, o ex-ministro e ex-deputado federal Delfim Netto, 87, emitiu opiniões corrosivas sobre Dilma Rousseff. Admitiu ter votado nela. Mas disse que não repetiria o gesto. Considera a presidente “absolutamente honesta''. Mas fulmina o mito da gerentona: “…Ela é simplesmente uma trapalhona.”
Delfim referiu-se à decisão do governo de enviar ao Congresso um orçamento deficitário para 2016 como “a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil”. Vão abaixo algumas das declarações do economista:
— Dilma X Ex-Dilma: […] As pessoas sabem que a presidente é uma mulher com espírito muito forte, com vontades muito duras, e ela nunca explicou porque ela deu aquela conversão na estrada de Damasco. Ela deveria ter ido à televisão, já no primeiro momento, e dizer: “Errei. Achei que o modelo que nós tínhamos ia dar certo e não deu”. Mas, não. Ela mudou sem avisar e sem explicar nada para ninguém. Como confiar?
Direção do vento: Ela mudou um programa econômico extremamente defeituoso, que foi usado para se reeleger. Em 2011, a Dilma fez um ajuste importante, aprovou a previdência do funcionalismo público, o PIB cresceu praticamente no nível do Lula. Mas o vento que era de cauda e que ajudou muito o Lula tinha mudado e virado um vento de frente. […] Então, ela foi confrontada em 2012 com essa mudança e com a expectativa de que a inflação ia aumentar e o crescimento ia diminuir e ela alterou tudo. Passou para uma política voluntarista, intervencionista, foi pondo a mão numa coisa, noutra, noutra, noutra… Aquilo tudo foi minando a confiança do mundo empresarial e, de 2012 a 2014, o crescimento vai diminuindo, murchando.
— Efeito urna: A tragédia, na verdade, foi 2014, porque ela [Dilma] usou um axioma da política, que diz que ‘o primeiro dever do poder é continuar poder’. No momento em que ela assumiu isso, ela passou a insistir nos seus equívocos. Aliás, contra o seu ministro da Fazenda, o Guido Mantega, que tinha preparado a mudança, tanto que as primeiras medidas anunciadas pelo Joaquim Levy já estavam prontas, tinham sido feitas pelo Guido. […] O Guido não tem culpa nenhuma. E, para falar a verdade, nenhum ministro da Fazenda da Dilma tem culpa nenhuma, porque o ministro da Fazenda é a Dilma, é ela. E o custo da eleição é o grande desequilíbrio de 2014.
— Déficit de credibilidade: Como a credibilidade do governo é muito baixa, o ajuste que ele [Joaquim Levy] fez encontrou muitas dificuldades, não teve sucesso porque não foi possível dizer que o ajuste era simplesmente uma ponte.
— Barbeiragem histórica: O primeiro equívoco mortal foi encaminhar para o Congresso uma proposta de Orçamento com déficit. Foi a maior barbeiragem política e econômica da história recente do Brasil. A interpretação do mercado foi a seguinte: o governo jogou a toalha, abriu mão de sua responsabilidade, é impotente, então, seja o que Deus quiser, o Congresso que se vire aí.
— Governo Frankenstein: A briga interna ocorre em qualquer governo, mas o presidente tem de ter uma coisa muito clara: ele opta por um e manda o outro embora. Um governo não pode ter dentro de si essas contradições, senão vira um Frankenstein. […] Quem tem de sair [Levy, Nelson Barbosa ou Aloizio Mercadante?] é problema da Dilma, mas quem assessorou isso do Orçamento com déficit levou o governo a uma decisão extremamente perigosa e desmoralizadora. E isso produziu um efeito devastador.
— Corte na carne dos outros: O aumento da Cide seria infinitamente melhor. CPMF é um imposto cumulativo, regressivo, inflacionário, tem efeito negativo sobre o crescimento e quem paga é o pobre mesmo. Ele está sendo usado porque o programa do governo é uma fraude, um truque, uma decepção – não tem corte nenhum, só substituição de uma despesa por outra e o que parece corte é verba cortada do outro. Dizem que vão usar a verba do sistema S. Ora, meu Deus do céu! R$ 1 do sistema S produz infinitamente mais do que R$ 1 na mão do governo. Alguém duvida de que o governo é ineficiente?
Cobra mordendo o rabo: Eles vão ter de negociar [o pacote fiscal] com a CUT e com o PT, que é o verdadeiro sindicato do funcionalismo público. Então, é quase inconcebível e vai ter uma greve geral que vai reduzir ainda mais a receita. É uma cobra que mordeu o rabo. O aumento de imposto é 55% do programa; o corte, se você acreditar que há corte, é de 19%; e a substituição interna representa 26%. Ou seja, para cada real que o governo finge que vai economizar com salários, ele quer receber R$ 3 com as transferências e o aumento de imposto. No fundo, o esforço é nulo.
— Em quem votou? Na Dilma. Mas acho que o Aécio era perfeitamente ‘servível’. Teria as mesmas dificuldades que a Dilma enfrenta, porque consertar esse negócio que está aí não é uma coisa simples para ninguém, mas ele entraria com uma outra concepção de mundo, faria um ajuste com muito menos custo e a recuperação do crescimento teria sido muito mais rápida.
— Votaria de novo? Não, primeiro porque ela não pode ser candidata. É preciso dizer que eu acho a Dilma absolutamente honesta, com absoluta honestidade de propósito, e que ela é simplesmente uma trapalhona.
— Michel Temer seguraria o rojão? Acho que sim. Nós somos muito amigos. O Temer tem qualidades, é uma pessoa extraordinária, um gentleman e um sujeito ponderado, tem tudo, mas eu refugo essa hipótese enquanto não houver provas [contra Dilma], e vou te dizer: ele também.
Fonte: Blog do Josias -                                                              http://josiasdesouza.blogosfera.uol.com.br/2015/09/20/delfim-a-dilma-e-simplesmente-uma-trapalhona/