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terça-feira, 3 de julho de 2018

Imagem falsa relaciona Lewandowski a guerrilha

O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski tem sido alvo da boataria que toma conta do WhatsApp. 


O Estadão Verifica recebeu várias vezes, por meio do número (11) 99263-7900, uma imagem que associa o magistrado a guerrilheiros do Movimento Revolucionário 8 de Outubro (MR-8), que fez parte da resistência à ditadura militar. Lewandowski, no entanto, não integrou o grupo e não está na foto espalhada por meio do aplicativo.

A fotografia mostra os militantes do MR-8 soltos em troca da libertação do embaixador americano Charles Elbrick, sequestrado pelo grupo em parceria com a Aliança Libertadora Nacional (ALN). Na imagem, estão o ex-ministro José Dirceu, o ex-deputado federal Vladimir Palmeira e o jornalista Flávio Tavares. A pessoa que o boato acusa de ser o ministro do Supremo é o músico Ricardo Villas Boas.

No boato, o nome do magistrado é escrito de forma errada, com um “i” depois do último “w”. E a imagem ainda cita uma data anterior à da libertação: 23 de maio de 1965. Os presos foram soltos em 6 de setembro de 1969, dois dias depois do sequestro. Esses tipos de erro – juntamente com a ausência de fontes confiáveis – costumam ser comuns nas mentiras espalhadas em redes sociais.

O sequestro
O embaixador Charles Elbrick foi sequestrado em 4 de setembro de 1969, como forma de pressionar o regime militar a libertar presos políticos. Entre os principais articuladores do sequestro estavam o ex-ministro da Secretaria de Comunicação Social Franklin Martins e o jornalista Cid Benjamin. O jornalista e político Fernando Gabeira também participou da ação.

O sequestro e a libertação de 15 presos políticos ocorreram no Rio. Na época, Lewandowski era estudante universitário em São Paulo, onde se formou, em 1971, em ciências sociais e políticas na Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp SP). O ministro também se graduou em 1973 em ciências jurídicas e sociais pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo, como mostra seu currículo no STF.

Os presos libertados em troca da soltura do embaixador Charles Elbrick foram Luís Travassos, José Dirceu, José Ibrahim, Onofre Pinto, Ricardo Villas Boas, Maria Augusta Carneiro, Ricardo Zarattini, Rolando Frati, João Leonardo Rocha, Agonalto Pacheco, Vladimir Palmeira, Ivens Marchetti, Flávio Tavares, Gregório Bezerra e Mário Roberto Zanconato. 

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

sábado, 31 de março de 2018

Terrorismo covarde - Luta Armada - 31 de Março

TERRORISMO COVARDE - LUTA ARMADA - 31 DE MARÇO (52 anos)

Ernesto Caruso

PrezadosVisitem  
www.museuvitimasdoscomunistas.com.br  
e vejam as ações desumanas concretizadas pelos comunistas ao longo do tempo.

Comprovem como mentem e se auto-promovem nas proximidades do dia 31 de março

quando os derrotados e arremedos de combatentes da esquerda revolucionária procuram difamar aqueles que salvaram o Brasil e livraram muitos dos brasileiros que estavam na lista para o fuzilamento no “paredón”.
 

O AI-5 foi o Estado de Defesa que neutralizou a guerrilha urbana e a rural e impediu que no Brasil vingasse uma zona liberada como imposta pelas Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia criada na década de 1960 e existente até hoje. O guerrilheiro José Genoíno foi preso e a guerrilha do Araguaia desbaratada. Entrou na política e foi condenado no mensalão do PT.

Os enlaces abaixo apresentam alguns dos atentados terroristas no Brasil e as vítimas da insanidade dos seus autores.Se julgados interessantes compartilhem com os jovens.

 Saudações
Ernesto Caruso
http://museuvitimasdoscomunistas.com.br/saloes/ver/terrorismo-no-aeroporto-dos-guararapes

http://museuvitimasdoscomunistas.com.br/saloes/ver/vitima-orlando-lovecchio

http://museuvitimasdoscomunistas.com.br/saloes/ver/assassinato-do-soldado-mario-kozel-filho-26061968-

Nós Queriamos Implantar uma DITADURA COMUNISTA no BRASIL confessa Fernando Gabeira 

Observação do site www.averdadesufocada.com por Maria Joseita Silva Brilhante Ustra

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui


sábado, 24 de fevereiro de 2018

Começar é preciso

Sob o eco da repressão militar, o poder civil se retrai na luta contra o crime

É fato testado, comprovado (e lamentado) que nenhum dos governos desde a reinstituição do poder civil no país enfrentou a questão da segurança pública. Por motivos variados: covardia, indiferença, cálculo político e, no caso das autoridades oriundas da esquerda, constrangimento para o exercício do uso da força do Estado contra o crime. Princípio equivocado de rejeição a qualquer tipo de repressão.  Uma visão herdada da ditadura. Obviamente torta, pois não leva em conta que a defesa da liberdade e dos direitos do cidadão implica a preservação da ordem como fator essencial da garantia de ir e vir sem o risco permanente e iminente de morrer. Tal inépcia nos levou ao descalabro atual.

O caos é nacional, mas o Rio de Janeiro viveu peculiaridades. Entre elas, a mais grave foi o acolhimento da bandidagem como parte do cenário de glamour e maravilha da cidade. Conto duas histórias que vi de perto: uma na década dos 90, a outra anos antes de consolidada a redemocratização no Brasil, em 1985. Nenhuma delas de violência pessoal, embora ambas conceitualmente violentas do ponto de vista geral.
Em 31 de dezembro de 1985, o traficante José Carlos dos Reis Encina (chamado “Escadinha”) foi resgatado do presídio da Ilha Grande por comparsas num helicóptero. Na hora, a fuga foi celebrada com aplausos e muito regozijo na redação do Jornal do Brasil, composta na quase totalidade do “pessoal Zona Sul”, os descolados, como um grande feito. A polícia, naquela concepção, era o inimigo a ser combatido e, como foi o caso, ludibriado.

A comemoração assustava a quem não concordava e, por isso, era classificado como “de direita”. Aos de “esquerda” parecia normal, tanto que “Chileno”, pai do bandido Escadinha, era, em 1986, festejado cabo eleitoral do então candidato ao governo do Rio Fernando Gabeira, hoje uma das cabeças mais lúcidas sobre o Brasil e suas novas circunstâncias; tanto que saiu do PT ainda no primeiro governo, quando Luiz Inácio da Silva estava no auge.

Mais de uma década depois, já no governo Fernando Henrique, numa conversa com o general Alberto Cardoso, ele, então chefe do Gabinete de Segurança da Presidência, alertou sobre a existência de “territórios dominados” pelo tráfico no Rio. Isso há quase vinte anos.

Publiquei a conversa com o general, e o mundo caiu. Marcello Alencar reagiu indignado, exigiu do presidente uma atitude, e o general me ligou constrangido: “Mantenho o que disse, mas vou precisar desmentir por exigência do governador”.

Forçado pela circunstância do cargo, o general desmentiu, e a vida prosseguiu. Levou-nos, rendidos, ao lugar de reféns da bandidagem em que hoje nos encontramos. Ambiente do qual qualquer candidato(a) a presidente na próxima eleição está obrigado(a) desde já a dizer como pretende nos livrar. De modo rápido e de maneira nada rasteira, a fim de nos assegurar uma necessária e indispensável consistência no ato coletivo de resistência.

Publicado em VEJA de 28 de fevereiro de 2018, edição nº 2571
 

segunda-feira, 5 de junho de 2017

Do supositório de magnésia ao olho mágico para caixão

Gilmar Mendes se esqueceu de um dado essencial do momento

Quando o “Casseta & Planeta” lançou a ideia do conglomerado de empresas Organizações Tabajara, não tinha como objetivo lançar o desenho do futuro do Brasil. Muito menos, o patriarca da OT, Gilvan Saturnino Tabajara, ao aportar no Brasil trazendo na bagagem apenas um produto, o Supositório de Magnésia Bisurada, não tinha a mínima ideia de como seu império iria crescer, faturando bilhões e abarcando 27 empresas.

O “Casseta & Planeta” se desfez, e das Organizações Tabajara não resta mais nada de pé, nem o Salsichão Brasil, uma das joias do império de Gilvan. Sobrou apenas um nome próximo de Gilvan, Gilmar, Gilmar Mendes, para lembrar a epopeia do criador do Supositório de Magnésia Bisurada, ao afirmar que o Brasil se parece com as Organizações Tabajara.

A ideia dos criadores do “Casseta & Planeta” era apresentar sob o rótulo Tabajara empresas toscas, precárias, ridículas, uma crítica indireta ao que não funcionava bem no país. Surgiu até o Tabajara Futebol Clube, que, na sua trajetória de derrotas, jamais conseguiu superar a realidade do Íbis de Pernambuco, o pior time do mundo.  Ao comparar o Brasil com as Organizações Tabajara, Gilmar Mendes se esqueceu de um dado essencial do momento: o país está sendo passado a limpo e, pela primeira vez na sua história, vivemos algo parecido com uma sociedade na qual a lei vale para todos. Inegável que vivemos numa crise. Mas supor que essa crise está nos jogando para trás é obra de um personal enganator, para usar linguagem comum aos memorandos das Organizações Tabajara.

Gilmar recentemente foi grampeado combinando com Aécio Neves como iria cabalar votos de senadores para a lei contra o abuso de autoridade, destinada a inibir a Lava-Jato e proteger os políticos. Um ministro do STF que articula nos bastidores do Congresso votos para uma lei escapa completamente de suas funções. É um ministro Tabajara.  Em outro momento, numa situação anterior à Lava-Jato, Gilmar foi grampeado consolando o ex-governador de Mato Grosso, Sinval Barbosa, famoso por conceder milionárias isenções fiscais, inclusive à JBS. Gilmar, no áudio, considerava absurda a incursão da PF para apreender documentos na casa de Sinval.

Mais recentemente, depois do célebre grampo de Joesley Batista, Gilmar admitiu que se encontrou com o empresário da Friboi, mas apenas para discutir questões ligadas ao comércio de gado, pois sua família vendia carne para os irmãos Batista.  Não seria um pouco Tabajara um ministro do Supremo tratar de negócios de gado com um empresário investigado. Pode-se dizer que Joesley ainda não era investigado. Mas todas as pessoas bem informadas sabiam muito bem que se ele não era ainda investigado, fatalmente o seria, pois seus negócios cresciam milagrosamente.

Na conglomerado de Gilvan Saturnino Tabajara, se me lembro bem, não houve assaltos ao dinheiro público, embora, certamente, tenha havido uma série de atos politicamente incorretos, sem os quais o humor não prospera. Falar mal do Brasil é comum. É uma prática antiga que usamos sempre que algo nos incomoda. O momento é difícil, uma razão a mais para a multiplicação das críticas. Mas é preciso acentuar que, pela primeira vez na história, surgiu uma oportunidade consequente de desmontar o gigantesco esquema de corrupção formado por partidos políticos e empresas ambiciosas. É um momento de valor inestimável, que abre inúmeras possibilidades para que o Brasil entre no rol dos países avançados, nos quais a corrupção existe em escala menor; em outras palavras, ela não é banida totalmente mas é administrável.

Isso significa desde já, com os riscos maiores para os corruptos, que grande parte dos recursos nacionais podem ser canalizados para os serviços públicos. Em seguida, vai abrir também a possibilidade de um planejamento baseado nas necessidades do povo e nas limitações dos recursos naturais. Isso já é algo bastante diferente de obras construídas para atender a empreiteiras ou isenções fiscais que, simultaneamente, nos empobrecem e tornam inviáveis alguns aspectos vitais, como, por exemplo, a mobilidade urbana.

Se Bussunda estivesse vivo, creio que interpelaria o ministro: fala sério, Gilmar. Livrar o país da promiscuidade entre empresas e governo, colocar corruptos na cadeia, conquistar um alto nível de liberdade de imprensa, viver numa sociedade em que as pessoas são mais informadas e compartilham, incessantemente, suas ideias, tudo isso é indicação de um novo país surgindo.  O que parece Tabajara para alguns é, para outros, a desordem natural de um grande movimento renovador.

O Brasil que está acabando nesses anos tumultuados até que poderia vender, maciçamente, no mercado de Brasília, inclusive para o residente Temer, um produto de alta necessidade nesses tempos convulsionados: o olho mágico de caixão, o que daria uma boa ideia do que acontece do lado de fora.

 Fonte: Fernando Gabeira - Publicado no Globo

segunda-feira, 17 de abril de 2017

A face mais cruel

Pessoas que roubam na Saúde, superfaturam remédios e próteses, inventam desnecessárias cirurgias e ficam podres de ricas com isso, merecem cadeia

Apesar de ofuscada pela divulgação da lista da Odebrecht, a prisão do ex-secretário de Saúde de Cabral não me surpreendeu. Desde 2010, quando imaginei poder competir com essa gigantesca e sedutora máquina de corrupção, apontei, diretamente, para os desvios na Saúde. Minha ideia era simples. Havia corrupção em toda a parte, mas era preciso priorizar as denúncias. Na Saúde, a corrupção mata. É mais fácil passar a mensagem, embora em outros setores ela também produza grandes estragos.

A variedade de escândalos, desde aluguéis de carros que valiam mais do que os próprios carros ao superfaturamento da compra de material elementar, como gaze, até equipamentos complexos, não deixava dúvida: roubava-se em tudo. No fundo, todas as pessoas informadas estavam alertas como a vizinha de Sérgio Côrtes, na Lagoa. Ela pediu ao porteiro que a acordasse, a que hora fosse, quando a Polícia Federal viesse prender o assecla de Cabral. O interessante nas gravações reveladas pela Lava-Jato é constatar como a equipe de Cabral pensa, agora que foi descoberta. Sérgio Côrtes queria combinar uma delação premiada com o cúmplice, tomando o cuidado de omitir as cifras roubadas, senão teria que devolver o dinheiro. A condenação pública e a própria cadeia não são os fatores que preocupam Côrtes, mas, sim, uma fórmula de reter o dinheiro acumulado. Tudo de valor que poderia ter sido apreendido em sua casa foi vendido, inclusive obras de arte. Para que servem as obras de arte, senão para serem convertidas em dinheiro? Por isso são compradas pelos corruptos brasileiros. Na verdade, a prisão de Côrtes não surpreendeu a ninguém, nem mesmo a ele. A demora serviu apenas para que se preparasse e salvasse um pouco da grana, uma vez que sempre contam com cadeia curta.

A lista da Odebrecht saiu num momento difícil para mim. Meu avião partia às 6h para Roraima. A opção era dormir ou pesquisar todos os detalhes dos pedidos de inquérito. Matérias tão amplas e vazadas parcialmente acabam trazendo um pouco de confusão. É o ônus do mundo on-line. Lula e Dilma não estavam na lista. Não têm foro privilegiado. Mas alguns admiradores que, no passado, defendiam-nos com o argumento de que todos recebiam dinheiro foram um pouco mais longe: insinuaram, agora, que todos, menos o Lula e a Dilma, receberam. São um espanto.

O tempo vai mostrar que o sistema político brasileiro sofreu um grande baque, e só sua renovação interessa. A esquerda sonha com a vitória de Lula porque acha que vitória na eleição absolve. Nesse quadro mental, a aplicação das leis passa pela contagem de votos. É um caminho para a instabilidade, porque processos legais seguem seu ritmo. 

Urnas não lavam um passado de crimes. Da mesma maneira, o PSDB terá que reduzir seu leque de candidatos. Os que foram denunciados pela Odebrecht estariam sujeitos também à mesma instabilidade no poder. A diferença entre os dois partidos é o fato de a esquerda se apoiar apenas no nome de Lula. Como é um líder carismático, milhares acreditam nele, mesmo com tantas evidências contrárias. A estratégia é vencer as eleições para escapar da prisão. [e continuar roubando; só que o estrupício do filho do Brasil esquece que para ser eleito necessita de 50% dos votos e sua rejeição supera os 50%. Lula a cadeia te espera e analfabeto da tua laia vai puxar cana com outros bandidos e vai saber o que é bom.]
No caso do PSDB, sem líderes messiânicos, os eleitores tendem a se comportar de uma forma mais severa. Uma candidatura, apenas para se salvar da polícia, seria tão desastrosa que morreria ao nascer. Não foi apenas o quadro da eleição presidencial que se abalou com as delações da Odebrecht. Foi todo o sistema partidário, o modo de fazer eleições — esses temas que já estavam no ar antes da aparição da lista.

Os jornalistas pediram tempo de análise, diante de tantos nomes e fatos surgidos na delação da Odebrecht. Apesar da rapidez que a tecnologia impõe, faria bem a todos que discorrem sobre o tema ler com cuidado toda a massa de informações. Por isso, divido a prisão de Côrtes com a lista. Esta última ainda merece reflexão e debate, algo difícil para mim agora, trabalhando na fronteira com a Venezuela. O caso de Côrtes e da quadrilha de Cabral, no entanto, é um terreno mais seguro. Algumas pessoas costumam dizer que não se alegram com a prisão do outro. Compreendo que sejam assim, mas seria falso admitir esse sentimento em mim. Certas prisões me alegram. Pessoas que roubam na Saúde, superfaturam remédios e próteses, inventam desnecessárias cirurgias e ficam podres de ricas com isso merecem cadeia. Muitos anos de cadeia.

A sofrida população do Rio, por exemplo, os milhares de rostos anônimos, de corpos doloridos jogados em macas nos corredores dos hospitais, todos estão incluídos no conceito de ser humano. E às vezes escapam dos radares dos autointitulados progressistas que votaram em Cabral, com a bênção de Lula. Vivemos um momento pantanoso, o país precisa de tolerância e alguma unidade para enfrentar seus problemas. Mas existe uma linha divisória incontornável. Os brasileiros precisam responder qual é o seu lado: o de quem roubou ou de quem foi roubado.

Fonte: Fernando Gabeira - O Globo - Transcrito da Coluna do Augusto Nunes - VEJA

 

 

domingo, 8 de janeiro de 2017

No rastro da barbárie

Vim para Manaus mais uma vez para aprender alguma coisa, mesmo que me traga tristeza pelo que ouviria e pelo baque na imagem externa do Brasil

Foi uma semana macabra. Não tenho notícia de tanta violência num espaço fechado. O caminho dos policiais que entraram no presídio era marcado por pedaços de corpos, colocados como aviso. Na porta de um dos pavilhões, uma barricada de pernas, braços e cabeças. Vim para Manaus mais uma vez para aprender alguma coisa, mesmo que me traga tristeza pelo que ouviria e pelo baque na imagem externa do Brasil.

Recentemente, escrevi um artigo sobre o nosso sistema penitenciário, que me parece uma bomba-relógio. Lamentava um pouco o desinteresse com que o tema sempre era recebido, mas alertava que infelizmente os presídios falam por si próprios. No artigo, chamava a atenção para o fato de que, apesar da necessária discussão sobre as condições da cadeia, havia um fato mais recente que era o poder das organizações criminosas no interior dos presídios. O que vi agora foi uma demonstração disso. Em vez de serem neutralizadas, as organizações criminosas de uma certa forma são legitimadas dentro das cadeias.

Aqui no Amazonas, a legitimação passou por várias etapas. A Família do Norte, que hoje esquarteja e faz coreografia com pedaços humanos, na eleição de 2014 foi contatada por um membro do governo para discutir apoio. O áudio vazou, o alto funcionário da segurança caiu. Quando a Polícia Federal fez uma grande e bem-sucedida campanha contra a organização, surgiram nomes de uma desembargadora e de um juiz que seriam aliados dos criminosos.

Precisei ouvir a empresa terceirizada que administra o presídio. Não a encontrei além dos humildes funcionários uniformizados. Ela se chama Umanizzare, recebe cerca de R$ 4,6 mil por preso, quase três vezes o custo no Sudeste. A empresa figura também como doadora de campanha política.   Os fatores locais, no entanto, não obscurecem a crise que o sistema vive em todo o país. Aqui em Manaus, uma organização do Norte quer esmagar o que considera invasores do Sul. Em Pedrinhas, no Maranhão, o conflito é de grupos da capital contra os do interior. E os conflitos, às vezes, repercutem nas ruas, na forma de sabotagem e queima de ônibus.

Além dos necessários investimentos que resolvam problemas elementares como a superlotação e a decadência das instalações, é preciso pensar no novo problema. Como recuperar o controle dos presídios e estabelecer a lei lá dentro? Sempre vi nesta questão uma das chaves para desarmar a bomba-relógio. Tenho insistido que o instrumento básico em qualquer projeto de controle é desenvolver o trabalho de inteligência nos presídios. O esquecimento da sociedade brasileira em relação ao problema é compreensível porque muitos acham que, uma vez presos, os criminosos deixam de ser um problema. [correção: só após mortos é que os criminosos deixam de ser problema - exceto para o generoso governador do Amazonas que quer indenizar familiares dos bandidos abatidos nas FAXINAS ocorridas em Manaus.]

Na Inglaterra houve experiência de trabalho de inteligência que reduziu o crime dentro da cadeia. Aqui no Brasil, na década de 1990, cheguei a formular uma proposta para reduzir motins. Ela consistia apenas numa central de análise que receberia informes diários da situação do presídio. Muitos motins são previsíveis e evitáveis. Infelizmente não foi o caso do Complexo Penitenciário Anísio Jobim. Havia uma previsão de motim, ainda assim ela se mostrou inevitável. As medidas de segurança foram afrouxadas na passagem de ano: as mulheres dos presos poderiam pernoitar e bastava apenas uma carteira de identidade para entrar. O governo federal nem sequer foi informado da situação de risco no presídio. Num esquema conectado isso seria impossível.[visita a bandido deve ser a exceção e não a regra; o ideal seria o confinamento dos presos em campos de concentração - seriam os 'gulags' da floresta - o que já seria um obstáculo às visitas e também a fugas e rebeliões. 
Os 'gulag' foi um dos poucos legados úteis do tirano Stalin.
Abaixo uma definição resumida de 'Gulag":

Campos de trabalho forçado da ex-União Soviética (URSS), criados após a Revolução Comunista de 1917 para abrigar criminosos e “inimigos” do Estado.
Gulag era uma sigla, em russo, para “Administração Central dos Campos”, que se espalhavam por todo o país. 
Os maiores gulags ficavam em regiões geográficas quase inacessíveis e com condições climáticas extremas. 
A combinação de isolamento, frio intenso, trabalho pesado, alimentação mínima e condições sanitárias quase inexistentes elevavam as taxas de mortalidade entre os presos. [no Brasil a inexistência de frio intenso, notadamente na selva, seria compensada por outros inconvenientes climáticos e as grandes distâncias.] 
A quantidade de campos foi reduzida a partir de 1953, logo após a morte de Stálin – ditador que expandiu o sistema de gulags nos anos 30. Porém, os campos de trabalho forçado para presos políticos duraram até os anos 90.

Não adianta trabalho de inteligência quando não se extraem os dados. Mais cabeças trabalhando com eles aumentam a chance de êxito. Ao encerrar meu programa de TV aqui em Manaus, escolhi como fundo a Cadeia Pública, um prédio de 1805 que estava destinado a ser um museu. Para ela foram trazidos os prisioneiros que precisavam ser retirados do presídio Anísio Jobim. Foi uma solução improvisada que dramatiza a decadência do sistema no Brasil. Voltar a 1805 é um alívio. Nas circunstâncias, significa um progresso. Em que época estavam aqueles corpos esquartejados e amontoados numa caçamba? Um esforço nacional para reconstruir o sistema penitenciário, por mais que existam divergências pontuais, é uma das mais importantes frentes contra a barbárie. 

Há quem ache que os bandidos devam morrer mesmo e que esse caos provoca uma espécie de limpeza, através dos massacres. Falei com uma estudante universitária diante do Instituto Médico Legal. Ela procurava o irmão. Desejei que não estivesse lá, entre os mortos. Ela respondeu: eu preferia que estivesse. Os que falam apenas por opinião deveriam examinar o quadro no conjunto: alegram-se com 56 mortos e se esquecem dos 180 que fugiam no mesmo momento. [os que fugiram representam um problema de fácil resolução. É comum que fugitivos reajam à prisão, ação que autoriza a Polícia a usar a força necessária e proporcional e o preso ser abatido é algo muitas vezes inevitável.]   Essas bombas quando estouram atingem a todos, não importa o que você pense. Por isso é uma tarefa nacional renovar o sistema penitenciário.

Fonte: Fernando Gabeira - O Globo
 
 

domingo, 18 de dezembro de 2016

O ano da encruzilhada

E se nunca pudermos sair de 2016?

E se nunca pudermos sair de 2016? Esta pergunta me impressionou, embora fosse apenas uma piada. O ano foi tão intenso que parece um longo pesadelo. Talvez tenha sido intenso para todos, mas aqui no Brasil, com a profunda crise econômica e um toque de realismo fantástico, 2016 foi mais assustador. Às vezes penso que toda essa intensidade não se deve apenas ao ano que termina. Num mundo conectado, muitos de nós consultam a internet de 15 em 15 minutos e ficam desapontados quando não acontece nada.

Nossa demanda por fatos novos parece ter aumentado. O Brasil tem sido generoso, embora os fatos sejam quase sempre negativos e não nos levem, necessariamente, a lugar nenhum. Ferreira Gullar dizia que a vida não basta, daí a importância da arte. Goethe, por sua vez, dizia que a arte é um esforço dos vivos para criar um sistema de ilusões que nos protege da realidade cruel. Dentro de um universo mais amplo, a política também deveria ser um sistema de ilusões que nos ampara da brutalidade do real. Carmem Lúcia, de uma certa maneira, expressou isto quando disse ou democracia ou guerra, referindo-se a uma possível falência do estado, o que nos jogaria numa batalha de todos contra todos.

Navegamos em águas tempestuosas. O processo político que era destinado a melhorar nossa convivência tornou-se, ele mesmo, uma expressão da realidade mais tosca e brutal. Renan Calheiros foi para a cama com sua amante e até hoje estamos tentando tirá-lo do cargo, não por suas aventuras amorosas, mas por um enlace mais perigoso entre empreiteiros e políticos. 


Ele não cai por uma paixão proibida, mas sim porque defende o vínculo com os financiadores das campanhas, riqueza pessoal e até dos seus momentos românticos. Renan é um general da luta contra a Lava-Jato, embora Lula reclame esse posto e ninguém lhe dê muita atenção no momento. O papel histórico de Renan foi coordenar uma reação às investigações, usando como pretexto a lei de abuso de autoridade. Mesmo se um general cair, e nada mais sustenta Renan exceto gente correndo da polícia, a batalha final entre um sistema de corrupção estabelecido e as forças que querem destruí-lo ainda não chegará ao final.

E é essa batalha, com a nitidez às vezes perturbada pelas peripécias individuais, que está em jogo. Na verdade, ela está, nesse momento, apontando para uma vitória popular. Quando digo vitória, digo apenas tomada de consciência. O sistema de corrupção que a Lava-Jato enfrenta, com apoio da sociedade, é muito antigo e poderoso. E essa batalha vai lançar luz na antiguidade e no poder da corrupção no Brasil. O próprio STF é um órgão do velho Brasil, organizado burocraticamente para proteger os políticos envolvidos. Jornalistas que combateram o governo petista agora hesitam diante da manifestação popular. “Vocês estão fortalecendo o PT”, dizem eles.


Como se a ascensão de um presidente do PT, um partido arrasado nas urnas, conseguisse deter um projeto de recuperação econômica, já votado pela maioria. Se 60 senadores que votaram no primeiro turno não se impõem sobre Jorge Viana é porque são uns bundões ineficazes e não mereciam estar onde estão. Infelizmente, a coisa é mais complicada. Usaram de tudo para combater a Lava-Jato. Agora dissociam a luta contra a corrupção da luta para soerguer a economia. E dizem que uma prejudica a outra. Coisas do Planalto. Não importa muito se Renan fica alguns dias, se Jorge Viana vai enfrentar os senadores e a realidade nacional. O que importa mesmo é o fato de que a sociedade está atenta, acompanha cada movimento, e não se deixa mais enganar com facilidade.

Um personagem do realismo fantástico, Roberto Requião, disse que os manifestantes deveriam comer alfafa. Os que não gostam de ver povo na rua argumentam sempre com mais cuidado. Requião foi ao ponto, pisando sem a elegância de um manga larga ou um quarto de milha. As manifestações incomodam. Revelam uma sociedade atenta, registrando cada detalhe das covardes traições dos seus representantes. Ela teve força para derrubar uma presidente. Claro que precisará de uma força maior para derrubar todo o sistema de corrupção que move a política brasileira. Um sistema muito forte. 


Um STF encardido, incapaz de se sintonizar com o Brasil moderno; um tipo de imprensa que atribui o desemprego e a crise econômica à Lava-Jato e não aos equívocos e roubalheira do governo deposto; e, finalmente, os guardiões de direitos humanos dos empreiteiros e senadores, incapazes de se comover com a vida mesmo e as pessoas que são esmagadas pelas autoridades.

Está tudo ficando cristalino e esta é uma das grandes qualidades de crises profundas. Se o Congresso quiser marchar contra a vontade popular, que marche. Se o Supremo continuar essa enganação para proteger políticos, que continue. Importante é a sociedade compreender isto com clareza. E convenhamos: se quiser tolerar tudo, que tolere. A chance de dar uma virada e construir instituições democráticas está ao alcance das mãos. Com um décimo da audácia dos bandidos, as pessoas bem-intencionadas resolvem essa parada.


Fonte: Fernando Gabeira - O Globo
 

domingo, 30 de outubro de 2016

Se entrega, Corisco

Renan está nervoso, o que era raro no passado.

Renan Calheiros, no passado, perdia cabelos mas não perdia a cabeça. Agora, ele ganhou cabelos mas perde a cabeça, com frequência. 

Recentemente, disse que o Senado parecia um hospício e afirmou que ajudou a senadora Gleisi Hoffman no seu embate com a Lava-Jato. Hoje, sabemos que ordenou varreduras em vários pontos estratégicos ligados aos senadores investigados pela roubalheira na Petrobras. E Renan perdeu a cabeça de novo, chamando um juiz federal de juizeco e o ministro da Justiça de chefete de polícia. Sua polícia legislativa funciona como uma espécie de jagunços de terno escuro e gravata, a serviço de alguns coronéis instalados no Senado. 

Quando combatemos Renan e o obrigamos a deixar o cargo de presidente, os jagunços já estavam lá. Como o Brasil vivia num estado meio letárgico, tivemos de enfrentar a braço os jagunços de Renan para garantir a transparência de uma reunião sobre seu destino. O sono brasileiro não é mais tão profundo como na época. Ainda assim, Renan sequer foi julgado pelos crimes de que era acusado na época. São as doçuras do foro privilegiado. Agora, ele quer que o foro privilegiado, que já era uma excrescência para deputados e senadores, estenda-se também aos seus jagunços. E que o espaço do Senado seja um santuário para qualquer quadrilha que tenha, pelo menos, um parlamentar como membro.

Talvez Renan esteja desesperado. Mas essa hipótese ainda precisa ser confirmada. Há sempre alguém que se acha o verdadeiro guardião das leis e se dispõe a defender Renan e o Senado, independentemente desse contexto bárbaro que presenciamos há anos. O próprio Gilmar Mendes, cujas posições são respeitáveis, saiu em defesa de Renan, sugerindo que a polícia não deveria entrar ali. [vale registrar que também o ministro Teori Zavascki tem demonstrado com decisões concretas o repúdio à ação da Polícia Federal na Operação Métis.] Mas o que fazer quando a própria polícia do Senado comete uma delinquência? A resposta das pessoas que não foram atingidas pela Lava-Jato, mas se incomodam com o sucesso da operação, é sempre esta: falem com o Supremo. No caso do Renan, sob investigação em 12 processos diferentes, e sempre na presidência do Senado, o que significa falar com o Supremo?

Estamos falando com o Supremo há anos. Ele manda grampear senadores adversários, como fez com Marconi Perillo, orienta a agressividade e a truculência de seus jagunços contra deputados. Até hoje, para ele, o Supremo é apenas o cemitério de seus processos.  Renan, Gilmar Mendes e todos os defensores desse absurdo não conseguem me convencer que é preciso pedir licença ao Supremo para punir jagunços que usam equipamentos do Estado, diárias pagas pelo governo, para fazer varreduras na campanha de Lobão Filho, no Maranhão. Varreduras inclusive sob supervisão do genro de Lobão Filho, um homem chamado Marcos Regadas Filho, acusado de sequestro e mencionado no assassinato do blogueiro Décio Sá.

A diversão desse personagem para qual os jagunços trabalharam é usar o helicóptero para dar voos rasantes no Rio Preguiça em Barreirinhas, aterrorizando banhistas e pescadores.  — Foge, meu preto, que isso é vendaval — ouvia se o grito dos pescadores

O halo protetor do Supremo não se limita aos bandidos do Congresso, mas aos seus jagunços e cúmplices regionais. A Lava-Jato não é infalível. Está sujeita a críticas como todas as atividades de governo. Não se deve usar o êxito da Lava-Jato com intenções corporativas, inclusive num momento de crise econômica como a nossa. Até aí, tudo bem. Mas negar à PF o direito de entrar no Senado quando o crime está sendo cometido pela própria polícia parlamentar, isso me parece um absurdo.[Renan não se manifestou pelo direito de negar à Polícia Federal o direito de entrar no Senado da República; o que ele reclamou foi a competência do magistrado que autorizou o ingresso da PF na sede de um dos Poderes da República.

Renan defende que a PF entre no Senado Federal ou na sede de qualquer uma das Casas do Poder Legislativo tantas vezes for autorizada pelo STF.
Mas tem que ser dito que a Sociedade já está cansada de esperar que o Supremo aja nos processos contra Renan com a mesma celeridade que agiu contra Eduardo Cunha - basta notar que o próprio Teori Zavascki criou uma lei especifica - que pode ser chamada lei virtual - para punir Eduardo Cunha com a suspensão do mandato. Qual a razão de tanta leniência com o Renan? ]   O foro privilegiado tem sido uma espécie de escudo para os bandidos eleitos. Se o espaço onde atuam torna-se também um santuário para todos os que trabalham lá, teremos não só a impunidade de indivíduos mas a liberação de espaços especiais para o crime.

Nas campanhas que fiz contra Renan, desenhamos um cartaz dizendo: “se entrega, Corisco”. Isso foi há muito tempo. Seus crimes não foram punidos na época. Ainda me lembro das imagens das boiadas se deslocando no sertão para fingir Renan que era um grande criador. Os crimes não apenas deixaram de ser punidos. Aumentaram exponencialmente ao longo dos anos, ancorando-se inclusive na pilhagem da Petrobras.

Eduardo Cunha foi preso. Não tinha mais mandato. Se Renan continuar solto, é apenas porque tem um. É justo cometer crimes em série, sob o escudo de um mandato parlamentar? Renan está nervoso porque percebe o crepúsculo de um sistema de impunidade tecido pela audácia dos coronéis e a inoperância do Supremo. A evolução do país o levou a perder a cabeça, algo raro no passado. Espero que não chegue a arrancar os cabelos e ouça o meu conselho de anos atrás: se entrega, Corisco.


 Fonte: O Globo - Fernando Gabeira

sábado, 3 de setembro de 2016

Transparência e encenação

As imagens mostram quase tudo, mas em falsa transparência. Ocultam, por exemplo, as manobras de bastidores

Há alguns anos, Fernando Gabeira revelou que, sendo candidato petista, amadureceu a decisão de sair do partido quando, ao gravar um programa eleitoral, foi surpreendido por uma encenação coletiva em que políticos de ar sério e pastas na mão fingiam se consultar ou exibir papéis e projetos em gestos teatrais, como se estivessem trabalhando. Chocado com a farsa preparada para enganar os eleitores, pura casca sem substância, concluiu que não queria continuar participando daquilo.

Há menos de um mês, dia 19 de agosto, em entrevista à BBC, Lula afirmou que em seu governo o Brasil era um país mais rico do que a Inglaterra. A fanfarronice pode ter sido recebida com sorrisos zombeteiros de alguns ou gargalhadas francamente debochadas de outros, racionalmente incapazes de aceitar que agora sumiu de repente, como carruagem de Cinderela nas 12 badaladas, esse país tão rico que não chegou a ser visto, com a pobreza resolvida em nível britânico — em saneamento básico, saúde gratuita para todos, habitação popular, escola de qualidade, transporte de massa adequado e segurança pública que permita a qualquer cidadão andar tranquilamente em sua cidade a qualquer hora. Mas muita gente não estranhou e engoliu a balela numa boa. Outros nem ligam, relevam a bazófia, gabolice que não prejudica ninguém e se repete há tanto tempo que já anestesiou os ouvintes. Tudo bem, a crença é livre. Acredite quem quiser. Com fé religiosa não se discute — é um fervor poderoso que opera em outra esfera, capaz de aceitar todos os milagres e promessas, inocências e santidades.

A dificuldade começa quando o fiel religioso é chamado a ser eleitor. A distinguir transparência de jogo de cena. Ainda mais em dias dramáticos como estes, em que uma presidente eleita por 54 milhões de votos é impedida por um congresso eleito por 140 milhões. Essa legitimidade de parte a parte só aumenta a exacerbação dos ânimos, já esgotados por processo tão longo. Sucedem-se momentos exaltados — de xingamentos de canalha e golpista a uma estarrecedora confissão do presidente de um Poder cobrando de senadora por favores oriundos de gestões indevidas junto a outro Poder. Câmeras guardam as imagens que para elas exibem os participantes, cada um buscando seu melhor ângulo e maior protagonismo na construção do personagem que deseja impingir à história ou à campanha eleitoral futura — não apenas diante de jornalistas, mas também de ficcionistas, mais uma vez desprezando fronteiras entre documento e circo, transparência e encenação. Mais que o fato, importa é “a disputa pela versão dos fatos”, como explicitou o líder petista no Senado. Sair bem na foto, no filme, no livro. As imagens mostram quase tudo, mas em falsa transparência. Ocultam, por exemplo, as manobras de bastidores pelo fatiamento da decisão, de modo a garantir que congressistas (como Cunha ou Renan, para só citar as estrelas) sejam também beneficiados no futuro. Ou que daqui a pouco a presidente defenestrada possa driblar a Justiça e pular para dentro de casa outra vez, pela janela do foro privilegiado.

Não é a primeira vez que os holofotes midiáticos atuam nesse jogo. Um dos momentos mais emblemáticos a que a nação assistiu, no impeachment do Collor, foi propiciado pelo então presidente do STF, Sidney Sanchez: tendo recebido um envelope lacrado do presidente da República, em pleno exercício de suas funções, deixou para abri-lo ao vivo durante o “Jornal Nacional” e leu , para microfones e câmeras, o texto em que Collor destituía seu advogado. Não se sabe se sob comando de um diretor de cena quanto ao ângulo ideal ou à melhor luz.

A diluição desses limites entre realidade e espetáculo também está presente nas sucessivas discussões sobre vazamentos e não apenas aqui e agora. Lá fora, basta lembrar os questionamentos envolvendo Julian Assange ou Edward Snowden (logo transformados em heróis de filmes ) e suas explosivas revelações, do tipo “doa a quem doer”. No Brasil, temos um exemplo didático: o do agora sumido procurador Luiz Francisco de Souza, que no governo FH consagrou o obsessivo processo chamado de “escandalização do nada” e falsos vazamentos, ao fazer denúncias semanais que logo ecoavam na mídia, provocando investigações que eram arquivadas em seguida por falta de base, mas enlameavam nomes e davam origem a acusações de “engavetamento geral”.

Para evitar manipulações ocultas, a cada vazamento cabe desconfiar e perguntar a quem serve a divulgação daquele rumor ainda sem provas. Analisar quem se beneficia com aquela “informação” assim plantada e coberta pela impunidade garantida pelo sigilo da fonte. Lembrar que a cada plantação anônima corresponde uma futura colheita. E a safra anunciada pode apenas ser a mentira de uma erva daninha trazendo riscos para a tenra planta da democracia, regime ideal ainda que imperfeito. Sempre ameaçado por aqueles que, dos bastidores, confundem iluminação ou transparência com sombras e jogo de cena. Olho neles.

Fonte: Ana Maria Machado, escritora

terça-feira, 28 de junho de 2016

Paisagem depois da batalha



O Rio terá de se reinventar. E não será nada fácil. As cinzas revelam longos períodos de populismo. Haverá choques, frustrações. Certas medidas, no entanto, podem ser bem recebidas

Pela minha agenda, deveria estar na Serra da Mantiqueira, visitando agricultores orgânicos cuja lavoura está sendo atacada por javalis. Mas a notícia de que o Rio decretou calamidade pública, os problemas de segurança que se agravam, tudo isso contribui para que fique por aqui e, por enquanto, deixe os javalis em paz. Documentar a paisagem depois da batalha é remexer as cinzas de um sonho em que a roubalheira e a megalomania dominaram o cenário.

Esta semana ficamos sabendo que a Odebrecht, além de seu departamento de propina, tinha um servidor na Suíça e um banco em Antígua, um sofisticado e talvez inédito esquema para uma só empresa. Os rankings internacionais de corrupção terão de abrir uma nova modalidade para abarcar essa capacidade de construção de um sistema fechado, um mundo virtual onde empreiteiros movem fortunas de verdade.

A Olimpíada que se aproxima é uma espécie de herança daquele período delirante. Um só país decidiu sediar Copa do Mundo e Olimpíada. A ideia que animava a atração dos eventos era revelar o poder de organização do Brasil, maravilhar o mundo com nosso crescimento. O primeiro choque se deu em 2013 com as grandes manifestações de rua.
A Olimpíada chega agora com o Brasil em crise profunda e o Estado do Rio quebrado. 

O decreto de calamidade pública tem um aspecto mítico porque nos remete a catástrofes naturais, tempestades, terremotos. Remexendo nas cinzas do delírio vamos encontrar a insistência em ampliar a máquina do estado, em conceder isenções fiscais generosas, sem um estudo de custo-benefício dessas medidas. Mas era um tempo alucinado em que os homens do governo dançavam com um lenço na cabeça num caro restaurante de Paris. E as mulheres exibiam seus sapatos Christian Louboutin.

Começam a surgir agora, em novas delações, indícios do processo de corrupção que envolveu o Comperj e o Maracanã. A visão daqueles tempos fica mais completa ainda. Calamidade nos remete à ideia de algo inesperado e repentino. Quase sem intervenção humana. O que acontece agora é resultado de um longo processo de erros e desvios, de ambições milionárias que arruinaram o Estado.

O esquema de segurança da Olimpíada para o qual foram destinados R$ 2,9 bilhões deve representar um alívio para a própria polícia, num momento em que traficantes invadem hospitais ou desfilam armados nas proximidades do aeroporto. Mas a Olimpíada vai passar, e o Rio estará de novo confrontado com sua crise. É um corpo ferido por muitas flechas: crise econômica, petróleo, corrupção, violência. E o governo não é nada estimulante. Pressionado por repórteres a falar sobre algo além de verbas para a segurança, Francisco Dornelles limitou-se a dizer para o motorista: “Vamos embora, Ademário”. O Sr Ademário Gonçalves dos Santos deve ser um excelente motorista profissional. Mas não pode saber sozinho qual o nosso destino. Embora para onde, Ademário? Que buracos, solavancos, sinistras curvas você prepara para nós?

O Rio terá de se reinventar. E não será nada fácil. As cinzas revelam longos períodos de populismo. Haverá choques, frustrações. Certas medidas, no entanto, podem ser bem recebidas, a julgar por alguns cartazes que li: rever as isenções fiscais. Está mais do que na hora de discutir tudo abertamente. Não existem fórmulas acabadas para encarar o problema do Rio. Era preciso que as pessoas tivessem uma visão bem clara do que aconteceu e o estrago que o grupo dominante provocou.

Esse conhecimento pode ajudar na reconstrução. Muitos delírios explodiram por aqui. O último foi o PT: uma supertele nacional, a Oi, que pediu recuperação judicial. Se toda essa derrocada que nos custou dinheiro e trabalho representar uma vacina contra o populismo, pelo menos alguma coisa será ganha.  Eleições com pouco dinheiro e um novo comportamento do eleitor podem também ser um avanço. Mas são possibilidades futuras. Aqui e agora, teremos de esperar o Sr. Ademário num posto de gasolina, numa loja de conveniência, e perguntar de novo o que o governo vai fazer.

O rombo nas contas do estado é de R$ 20 bilhões. Não basta declarar calamidade. É preciso um mapa para transitar rumo a uma situação mais calma. Dificilmente o governo fará a coisa certa sem transparência e algum tipo de adesão racional da sociedade. Mesmo viajando muito pelo país, tive a oportunidade de documentar a decadência das cidades ligados ao petróleo, como Campos e Macaé, a crise financeira e sua consequência nos serviços essenciais e, esta semana, mais detidamente, os problemas de segurança.

Não me lembro de uma crise tão profunda e tão inquietante pelas suas possíveis consequências sociais. Uma consciência mais ampla desse desastre pode evitar que as cinzas do delírio populista tragam consigo os ovos da serpente.

Fonte: Fernando Gabeira – O Globo