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sábado, 13 de maio de 2023

Tudo anulado - Carlos Alberto Sardenberg

O ex-presidente Collor Jorge William

Agora que o Judiciário está numa onda de anular sentenças da Lava-Jato, em especial, e de processos de corrupção, em geral, o ex-senador Fernando Collor enfrenta no STF um julgamento na direção contrária. Na próxima semana, o Supremo retoma a análise de um caso que vem lá da Lava-Jato, um subpetrolão, em que Collor é acusado de receber propinas em contratos da BR Distribuidora de 2010 a 2014.

A defesa alega inocência. O relator, ministro Edson Fachin, ainda não votou, mas deu sinais de que condenará o ex-senador, por receber e lavar cerca de R$ 26 milhões. E lavar em carros de luxo Ferrari, Lamborghini, Bentley, Land Rover e Porsche —, casa e obras de arte. Os carros chegaram a ser apreendidos — o processo vem de 2017 —, mas já foram devolvidos.

Continuam, entretanto, sendo um problema para Collor. O atual movimento de anulação de condenações só esbarra num tipo de obstáculo. Ocorre quando há algo muito evidente, um rastro impossível de apagar.

Lembram-se das fotos mostrando malas e caixas de papelão abarrotadas de dinheiro no bunker de Geddel Vieira Lima, em Salvador? Somavam nada menos que R$ 51 milhões. Geddel foi condenado a 14 anos, cumpriu quatro, ganhou liberdade condicional, a condenação foi anulada, ele voltou à política, mas continua um réu condenado. Questão: o que fazer com aquela montanha de dinheiro?

Sérgio Cabral já está solto, a Lava-Jato do Rio foi desmontada, sentenças vêm sendo anuladas, mas tem problema: o ex-governador confessou e, pior, devolveu dinheiro. Uma casa foi leiloada, e o estado embolsou quase R$ 7 milhões. Se for tudo anulado, o que se faz? Devolve-se tudo para Cabral?

Há outro caso importante e pendente no STF: a ação penal contra o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, por suspeita de corrupção passiva. Aceita em 2019, a ação está parada desde novembro de 2020, quando o ministro Dias Toffoli pediu vista. Pelas novas regras da Corte, o processo deverá voltar à pauta até junho.

O caso, visto hoje, é fraco. Começa quando um ex-assessor parlamentar foi pego transportando pouco mais de R$ 106 mil em dinheiro vivo. O montante deveria ter sido entregue a Lira, diz a acusação. O dinheiro existe, mas seu destino fica na condicional, deveria... teria... Tanto nos meios políticos quanto jurídicos, se dá como praticamente certo que o processo será anulado. A defesa pede exatamente isso, anulação pela circunstância de o caso ter sido levantado em delação premiada.

Sem qualquer juízo de valor sobre este processo problema do STF —, as delações, prática desenvolvida com a Lava -Jato, estão hoje em desuso. Os métodos da Lava-Jato foram desmoralizados com o fracasso da operação. O “ativismo jurídico” de promotores e juízes da Lava-Jato deu lugar à ênfase no “devido processo legal”.  

É evidente que, numa democracia de verdade, todo mundo deve ser julgado conforme as regras sagradas do Direito.

Mas resta um problema: como essas regras e normas são praticadas? Como é possível que se passe de uma onda de processos contra corrupção, com tantos casos evidentes, para uma onda de anulações, com base no devido processo legal? Dá uma impressão estranha. Parece que, se não nas normas, na prática o Direito Penal brasileiro tem favorecido uma situação bastante frequente. São os processos que acabam assim: o réu não é nem culpado nem inocente, simplesmente seu caso é anulado.

Acrescente-se outra circunstância: juízes de diversas instâncias mudando radicalmente de opinião, da punição à anulação. Sim, quando os fatos mudam, as interpretações também mudam. Tanto assim?

Dizem: havia muitos inocentes processados indevidamente. Certo. Mas também deve haver muitos culpados que se safaram nesse ambiente, não é mesmo?

Quando grandes empresários começaram a ser apanhados, um deles, do setor financeiro, advertiu numa reunião de diretoria:

Cuidado, porque agora todos podem ser presos.

E acabou detido.

Está solto, também.

Carlos Alberto Sardenberg, jornalista - Coluna em O Globo
 

sábado, 5 de maio de 2018

A volta dos Collor

Na tentativa de manter o clã dos Collor de Mello no poder, o ex-presidente se apresenta como candidato ao Planalto numa iniciativa tão estapafúrdia quanto infrutífera e lança um filho fora do casamento como seu sucessor 

Os 33 anos contínuos de regime democrático não foram suficientes para que o Brasil pusesse fim a uma de suas mais nefastas práticas políticas: o coronelismo. Ainda é comum no interior do País uma espécie de “familiocracia”, na qual mandatos eleitorais são “transferidos” de pais para filhos como se fossem heranças. Esse ano, porém, a disputa eleitoral mostra que esse roteiro começa a ser mudado. Um dos mais tradicionais clãs caminha para virar pó. Trata-se dos Collor de Mello, que durante décadas dominaram a política alagoana e que chegou a levar Fernando Collor à Presidência da República. 


DE VOLTA AO PASSADO Fernando Collor (ao centro), ladeado por Thereza e Fernandinho, quer voltar a dar as cartas no País (Crédito: Divulgação)

O ocaso dos Collor de Mello começou com o impeachment do seu rebento mais famoso, em 1992. Dez anos depois, o mesmo Fernando perdeu o governo do Estado, embora mantivesse aliados em diversas prefeituras. Em 2006 veio um pequeno suspiro. O ex-presidente se elegeu senador e em 2014 foi reeleito. Mas, a partir do Congresso, ele não conseguiu manter a força dos Collor sequer em Alagoas. Envolveu-se novamente em casos de corrupção e é um dos investigados pela Lava Jato. Agora, lança uma patética candidatura à Presidência da República e procura eleger um filho deputado federal, numa última tentativa de manter um herdeiro político com algum poder.

A nova candidatura de Fernando Collor é um arremedo eleitoral porque já nasce derrotada, apenas como um modesto projeto paroquial de poder que caduca até mesmo em seu berço. Para se ter ideia da fragilidade do projeto, basta constatar que o comitê central da campanha de Collor não será em Brasília e sequer em Maceió. A falta de recursos e o raquitismo político levaram o comitê para Arapiraca. Não é o único sintoma. Collor queria fazer renascer o PRN que o elegeu em 1989, mas não conseguiu. Foi dissuadido pelo presidente da legenda que o abrigou, o PTC, a manter a atual sigla, que significa Partido Trabalhista Cristão, tendo Daniel Tourinho no comando. Na nova aventura collorida, no entanto, nem mesmo Tourinho, amigo de longa data do presidenciável, se empolga. Durante as horas em que esteve com a reportagem de ISTOÉ no escritório do partido, em Brasília, o político demonstrou mais entusiasmo com as candidaturas à Câmara, espalhadas pelos 24 estados, do que com a vontade de eleger Fernando Collor. 

Ele deixa claro que enxerga a candidatura como uma alavanca para formar bancadas no Congresso, e ultrapassar a linha de corte da cláusula de barreira que, de acordo com a legislação eleitoral, após a eleição de 2018, definirá quais partidos terão ou não direito a recursos do Fundo Especial de Campanha e do Fundo Partidário. “Eu pedi a ele (Collor) há mais de um ano para se candidatar. Seu nome ainda é conhecido. Ele pode nos ajudar muito a vencer a cláusula de barreira”, afirmou. O PTC, como demonstra Tourinho, não tem quem puxe votos na campanha. O partido não conta com governadores. Atualmente, não possui também nenhum deputado federal. E precisa desesperadamente construir uma bancada mínima para continuar a existir.

No último levantamento Datafolha, Collor aparece na rabeira das intenções de voto com 1%, mas sua rejeição continua alta, em torno de 44%
A falta de empolgação específica com as chances de vitória de Collor refletem-se nas pesquisas. No último levantamento do Instituto Datafolha, Collor aparece na rabeira das intenções de voto com 1%. Sua rejeição ainda é alta. Em janeiro, o mesmo instituto revelou que 44% dos eleitores dizem que não votariam nele “de jeito nenhum”. Para robustecer palanques em alguns Estados, porém, especialmente em Alagoas, e alavancar outras candidaturas, Tourinho acredita na serventia de Collor. Como ele ainda tem quatro anos como senador, não corre risco de ficar sem mandato.  Para amigos próximos do senador, a candidatura dele, embora não tenha a pretensão de vitória, é vista como um movimento capaz de conferir a ele a chance de se defender das denúncias que rondam sua carreira. Para lustrar sua imagem, Collor quer aparecer para o eleitorado como um conservador pai de família. Ele está no seu terceiro casamento, com a arquiteta alagoana Caroline Medeiros, com quem tem duas filhas gêmeas, Cecile e Celine. Antes, foi casado com Celi Elizabeth Monteiro de Carvalho, conhecida como Lilibeth, herdeira do grupo empresarial Monteiro Aranha. Com ela teve dois filhos, Arnon e Joaquim Pedro. E com Rosane Malta, a primeira dama na época em que foi presidente.

O herdeiro                                                                                                    Além da campanha presidencial, um outro sintoma do ocaso do clã é uma outra candidatura, a deputado federal, como tentativa de eleger um novato Collor em Alagoas. O representante natural que poderia representar a nova geração seria Arnon de Mello Neto, filho de Fernando, que carrega o nome do avô, deputado federal, governador de Alagoas e senador. O problema é que Arnon já tentou seguir os trilhos da família, mas em 2002 perdeu a eleição para deputado, sentiu nas urnas que o sobrenome não tem mais a mesma musculatura de anos atrás e desistiu da política. Restou a Fernando Collor apostar em seu filho Fernando James, fruto de um relacionamento fora do casamento e que só foi reconhecido pelo pai quando já contava com mais de 18 anos. “Esse garoto nada tem a ver com a família. É uma candidatura estabanada”, disse à ISTOÉ um deputado estadual de Alagoas, aliado dos Collor. Fernandinho, como Fernando James é tratado pelos Collor, já se elegeu vereador em Rio Largo (AL), mesmo assim não era a primeira opção de Fernando Collor. No ano passado, Collor reuniu os três filhos para discutir o futuro político do clã. Pensava em lançar novamente Arnon, que declinou alegando que estava desencantado com o processo eleitoral desde a frustrante campanha de deputado federal em 2002. Depois da experiência, Arnon voltou-se para a tarefa de virar cartola do basquete. Ele é vice-presidente da NBA – a liga que controla o basquete americano – para a América Latina. “Ele está entusiasmado”, diz o jornalista alagoano Bernardino Souto Maior, que é amigo da família do senador. O outro filho homem de Collor, Joaquim Pedro, nunca se interessou por política. Ao contrário, diz ter aversão ao tema. “O James é quem mais gosta dessa história de política”, disse Arnon na reunião. “Acho que o candidato devia ser ele”, completou. Mesmo contrariado, Fernando Collor aquiesceu.

O sucessor de Collor é Fernando James, filho que o ex-presidente teve fora do casamento e que só reconheceu quando ele tinha 18 anos

Durante muito tempo, a relação entre os dois não foi boa. Depois que reconheceu o filho, porém, ambos se aproximaram. Curiosamente, Fernandinho é extremamente parecido com Fernando Collor. Não apenas fisicamente, mas também na postura e no temperamento. “Ele tem o timbre de voz e até o estilo de Fernando de fazer política”, considera o presidente do PTC. O eloquente Fernando James trabalha no jornal da família do senador, a Gazeta de Alagoas. Formado em jornalismo e administração de empresas, é o responsável pela versão on-line do jornal e até possui sala reservada com secretária. Nos últimos dias, ele pouco tem aparecido por lá. Sua rotina já está focada nas ruas, no corpo-a-corpo com o eleitor. Segundo Tourinho, a campanha de James será justamente em cima das questões sociais, como segurança, saúde e educação.
A outra representante da “família” no processo eleitoral é alguém com quem Fernando Collor não cultiva mais relação alguma. Thereza, que ainda usa o sobrenome Collor, é viúva de Pedro Collor, o irmão que detonou o processo que levou Collor ao impeachment. Casada com o empresário Gustavo Halbreich, que nada tem a ver com a família do ex-presidente, Thereza pretende ser candidata a deputada pelo PSDB de São Paulo. Para João Caldas, a candidatura é apenas combustível para mesa de botequim. “Ela sempre diz que vai ser candidata e, no final, desiste”, desdenha. Por ora, ela leva o projeto adiante.

Musa do impeachment
A “musa do impeachment”, como ficou conhecida a bela morena à época casada com Pedro Collor, pretende marcar a sua campanha no discurso de combate à corrupção, pontuando exatamente a lembrança dos tempos da briga fratricida entre os Collor de Mello. Em entrevista recente, ela ironizou a candidatura do ex-cunhado à Presidência: “O Fernando tem o direito de querer ser presidente, mas se naquela época ele teve problemas com um Fiat Elba, agora vai ter com uma Masserati, uma Ferrari e um Porsche. Achei que com o tempo e a maturidade, ele poderia ter aprendido um pouco mais”. Thereza refere-se a dois momentos. No processo de impeachment, uma das provas de sua participação foi o fato de um dos “fantasmas” (personagens fictícios com os quais o tesoureiro PC Farias abria contas bancárias) de PC ter comprado para Collor um Fiat Elba. Agora réu na Lava Jato, Collor viu seus carros de luxo, das marcas mencionadas por Thereza, serem apreendidos na Operação Politeia, da PF.

 Se Fernando Collor em 1989 introduziu o marketing na política brasileira, desta vez não há ainda marqueteiro escolhido, e Daniel Tourinho imagina que desta vez nem haja um grande nome da área por trás da campanha. Como Collor se recusou a receber ISTOÉ para falar sobre seus planos, não foi possível saber detalhes de como ele estruturará a estratégia eleitoral deste ano. Outro profissional-chave que ele ainda não definiu é o tesoureiro. Para o PTC estão reservados R$ 6,3 milhões. Um problema a menos na nova tentativa de Collor regressar ao poder, uma empreitada hoje totalmente improvável. Os clãs perderam força e não seduzem mais como em outrora. Melhor assim.

 IstoÉ

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Após 8 anos, credores disputam R$ 14 milhões de Romário = que sempre foi mal pagador; Romário já foi até preso por não pagamento de pensão alimentícia





[pergunta boba = o POVO NÃO SABE E QUER SABER:  Romário é senador da República e está sujeito ao decoro parlamentar; sua conduta, devedor contumaz não configura quebra de decoro?

e o advogado particular dele - que o defende no rolo das dívidas - trabalhar no gabinete do senador é certo? advogado dele e recebe salário pago pelos cofres públicos? 

não é uma mistura entre o público e o privado?]

Credores disputam R$ 14 milhões de Romário e advogado de Romário sumiu com documentos de processo sobre patrimônio do senador, só devolvendo os autos a cartório depois de ser alvo de mandado de busca e apreensão


Após 8 anos, Justiça não define destino do valor arrecadado com leilão de cobertura

Justiça não define destino do valor arrecadado com leilão de cobertura


Mais de oito anos depois do leilão da cobertura onde o senador Romário (Podemos-RJ) morava na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio, a Justiça ainda não definiu o destino do montante arrecadado com a venda do imóvel eram R$ 8 milhões em agosto de 2009. Recursos apresentados em tribunais superiores e a disputa entre credores do ex-jogador pelo direito de receber travaram o andamento da ação. Só com a correção pela taxa básica da caderneta de poupança, o valor depositado em juízo já supera os R$ 14 milhões.
 O senador Romário - Jorge William / Agência O Globo



O processo que levou ao leilão foi movido pelo empresário Levi Sotero contra Romário e uma de suas ex-mulheres, Mônica Santoro. Sotero era dono do apartamento localizado abaixo da cobertura do senador e alugava o imóvel para um executivo. Uma obra realizada por Romário provocou vazamentos e uma série de danos ao apartamento

MATÉRIA COMPLETA, clique aqui

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Schumacher mostra ‘sinais encorajadores’, diz Ross Brawn

Ex-diretor da Ferrari não deu detalhes sobre o progresso na saúde do ex-piloto, em respeito à privacidade da família Schumacher

Uma pessoa bem próxima a Michael Schumacher quebrou, ainda que de forma discreta, o pacto de silêncio em relação ao estado de saúde do heptacampeão mundial de Fórmula 1. Ross Brawn, ex-diretor técnico da Ferrari, afirmou nesta quinta-feira que o ex-piloto alemão apresentou alguns “sinais encorajadores” em sua recuperação de graves lesões na cabeça sofridas em um acidente de esqui, em novembro de 2013.

 Michael Schumacher durante evento com a Força Aérea Italiana, em 11 de dezembro de 2003 (Franco Origlia/Getty Images/VEJA)

“A família decidiu conduzir a convalescença de Michael de forma particular e devo respeitá-la”, disse o britânico, que ajudou o alemão Schumacher em todos os seus títulos e trabalhou com ele na Benetton, Ferrari e Mercedes, em entrevista à BBC. “Há sinais encorajadores e todos estamos rezando a cada vez que vemos mais estes sinais. Então é difícil para mim dizer muito e respeitar a privacidade da família.”

"Tudo o que eu diria é que há muita especulação sobre a condição de Michael. A maior parte dela está errada e nós apenas rezamos e esperamos todos os dias que continuemos a ver algum progresso e que um dia possamos ver Michael recuperado das lesões terríveis”, completou.


Schumacher está sendo tratado em casa na Suíça desde que saiu do hospital, e pouquíssimos detalhes foram tornados públicos desde então. A situação real do ex-piloto de 47 anos ainda é desconhecida. Em entrevista a última edição de VEJA, Jean Todt, ex-­chefe de Schumacher na Ferrari, presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA) e um dos amigos mais próximos do campeão, disse que as pessoas que falam sobre sua saúde “não conhecem a situação e os que conhecem não falarão nada”.

“Felizmente, Schumacher não está morto, mas sua vida e a de sua família mudaram. Ele é bastante reservado, e nós consideramos que sua vida privada deve ser respeitada. Schumacher não é mais um personagem público”, completou Todt.

Fonte: Revista VEJA 

 

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Da tribuna do Senado, Collor chama Janot de filho da p...

Ofensa foi feita durante a defesa do senador diante das acusações da PGR

Inconformado com a operação que resultou na apreensão de carros de luxo em sua residência em Brasília, o senador Fernando Collor (PTB-AL), em discurso ontem da tribuna do Senado, xingou o procurador geral da República, Rodrigo Janot, de “filho da puta”. No discurso, o senador que é investigado na Operação Lava-Jato reclamava de despacho do procurador, negando a devolução dos carros. Collor disse que os carros foram comprados por empresas legalmente constituídas e das quais é sócio majoritário.

[pergunta que não quer calar: qual a razão ou razões, fundadas em fatos, nada de suposições, para os veículos terem sido apreendidos e permanecerem presos?

- a possível futura denúncia de recebimento de suborno não justifica a apreensão?

- não pagamento do IPVA também não suporta a apreensão já que os veículos não estavam circulando quando foram apreendidos !!!

também não existe ordem de busca e apreensão por acusação de depositário infiel ou de qualquer outra natureza!]

Em documentado enviado ao Supremo Tribunal Federal, Rodrigo Janot disse que não há razão para devolver os carros de luxoLamborghini, Ferrari, Bentley e Land Rover — apreendidos no mês passado na casa do senador. Janot também afirmou que o grupo do parlamentar recebeu, ao todo, R$ 26 milhões de propina no período entre 2010 e 2014.

Segundo Collor, as empresas não são de fachada, foram legalmente constituídas. E se existem parcelas de pagamento dos carros em atraso isso é uma questão comercial que só diz respeito a ele e ao credor. - Não podendo, jamais, em tempo algum, sob risco de grave ação judicial a quem afirme que tal atraso se deve a falta de recursos escusos. Afirmações caluniosas e infames! Filho da puta! - diz Collor entredentes, mas o som foi captado no microfone e em vídeo divulgado na internet.

No discurso inflamado, o senador alagoano disse que nada mais lógico e justo que bens de sua propriedade “adquiridos de forma lícita” lhe sejam devolvidos.

MPF PREPARA DENÚNCIAS CONTRA CUNHA E COLLOR
O Ministério Público Federal deve denunciar ainda este mês o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), por corrupção e lavagem de dinheiro supostamente desviado de um contrato entre a Samsung Heavy Industries e a Petrobras. Na denúncia, Cunha deverá ser acusado também de coação de testemunhas. O presidente da Câmara é suspeito de receber suborno para viabilizar os negócios da Samsung com a Petrobras. Só uma das propinas teria sido de US$ 5 milhões. Também estão praticamente prontas na Procuradoria-Geral da República pelo menos mais quatro denúncias contra políticos com direito a foro privilegiado — uma delas contra o senador Fernando Collor (PTB-AL). Cunha e Collor negam envolvimento nas irregularidades apuradas na Operação Lava-Jato.

Fonte: O Globo
 

quarta-feira, 15 de julho de 2015

Os inocentes úteis e inúteis que saem em defesa da truculência da PF e do MP estão é no movimento “Fica Dilma!”

A Operação Lava Jato se transformou num “work in progress”. As versões de depoentes e delatores vão mudando ao sabor dos ventos e de acordo com as mais variadas conveniências. Imagino a trabalheira dos advogados de defesa, não? Nunca se sabe qual é a nova história do dia. Uma coisa é certa: há, como se diz em Dois Córregos, gente de butuca lá no Palácio do Planalto.

[Uma pergunta dos editores do Blog Prontidão Total: como andam as investigações sobre o governador e consultor-fantasma Fernando Pimentel?]

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), presidente da Câmara, sabe que está na mira. Dez entre dez governistas empedernidos vivem hoje à espera do grande momento: quando é que uma ação espetacular da Polícia Federal vai invadir o seu gabinete ou arregaçar sua casa em Brasília e seu apartamento no Rio? Alguns bobos estão convictos de que isso poria fim à crise política.

Na entrevista que concedeu na segunda passada ao programa “Os Pingos nos Is”, que ancoro na Jovem Pan, afirmou o deputado sobre o fato de ser um dos investigados da Operação Lava Jato: “Não descarto que ainda possam existir desdobramentos políticos. Até porque, a gente está no meio da eleição do Ministério Público, e querem me usar nesse processo. Inclusive, o meu advogado, que é o ex-procurador-geral da República, que fez a denúncia do mensalão, o doutor Antonio Fernando, me recomendou que não falasse de público no assunto até a eleição do Ministério Público. Ele mesmo quer falar”.

Vamos ver. O doleiro Alberto Youssef acusou Cunha se ser beneficiário do pagamento de propina no aluguel de navios-sonda para a Petrobras em 2006. Que evidência ele tem? Afirmou que isso lhe fora relatado em 2011 pelo empresário Júlio Camargo, da Toyo Setal. Camargo fez acordo de delação premiada — logo, para obter um benefício, tem de falar a verdade, certo? Pois bem, em depoimento, ele negou ter pagado propina ao agora presidente da Câmara. Ocorre que estamos diante da chamada “obra aberta”, e uma versão sempre pode ser corrigida por outra. Chegou a Cunha a informação de que Camargo teria mudado de ideia e agora o acusa de ter recebido propina. Pergunta: ele vai receber o prêmio por ter negado ou por ter confirmado o pagamento de propina?


Cunha está convencido, embora se negue a tratar publicamente do assunto, de que José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça, e Rodrigo Janot, procurador-geral da República, atuam para torná-lo réu da Operação Lava Jato. Nessa lógica, ao mandar o presidente da Câmara para a fogueira, o agora procurador-geral estaria prestando um favor ao Planalto, que, por sua vez, o recompensaria não criando dificuldades para reconduzi-lo ao cargo.

A operação espetaculosa desta terça contra os senadores que, insista-se, não começaram a ser investigados ontem teria soado como um sinal de advertência: ninguém está a salvo. Afinal, PF e MP estão dispostos a demonstrar que se vai fazer justiça “erga omnes” (para todos) e que o Brasil vai virar “A República”, de Platão… Para quem se conformou com o latim mal aplicado e para quem não conhece “A República” de Platão, a coisa parece bem arranjada.

Mas ainda falta a peça que completa o quebra-cabeça. É importante alvejar Cunha só porque o governo perde todas no embate com ele? Não exatamente. É que, na possibilidade de haver uma denúncia à Câmara contra Dilma, o que é melhor para o Planalto? Um presidente com o controle de boa parte da Casa ou obrigado a se explicar?

Não se trata de uma hipótese conspiratória, mas apenas da natureza do jogo. Alguns tontos que atuam como animadores de torcida do pega-pra-capar da PF e do MP, confundindo a defesa do estado de direito com a defesa da impunidade, mal sabem será que não sabem mesmo? que estão é atuando como linhas auxiliares do Palácio do Planalto e do “Fica Dilma”.

Querem ficar chocados? Pois não! A PF e o MP exageraram, sim, apesar dos carrões de Collor. O Estado de Direito é coisa mais séria do que isso
Nada a perder senão os grilhões, não é mesmo? Fernando Collor de Mello já me processou, contei aqui. Perdeu. Meu advogado foi o brilhante e nunca suficientemente elogiado Manuel Alceu Affonso Ferreira. O que penso sobre esse político? Recorram ao arquivo. Mas o façam também para saber o que eu disse quando achei que havia exageros da Polícia Federal e do Ministério Público contra Eliana Tranchesi, Celso Pitta, Paulo Maluf e, ora vejam, José Dirceu, entre outros. Eu tenho princípios. Não penso isso ou aquilo a depender da ideologia do objeto da minha análise.

Eu me espanto com o sucesso empresarial de Collor? Ah, eu me espanto. O jornal “Gazeta de Alagoas” deve ser o mais lucrativo do mundo. Na Casa da Dinda, foram apreendidos um Porsche avaliado em R$ 400 mil; uma Ferrari, de R$ 1,5 milhão, e um Lamborghini, de R$ 2,5 milhões. É claro que tudo gera, vamos dizer, certa estupefação, não é? Especialmente para quem acabou se dando mal por causa de uma Fiat Elba.

Sim, a operação de busca e apreensão foi autorizada pelo STF, eu sei. O que me incomoda é a ação espetaculosa. Desculpem-me o conservadorismo, mas, na democracia — QUE É O CONTRÁRIO DA REPÚBLICA DE PLATÃO NA MAIORIA DOS ASPECTOS —, é preciso tomar mais cuidado, muito especialmente com quem detém a representação popular.

Acho Collor uma figura política desprezível, mas, na sua reação, ele aponta uma questão absolutamente correta: ele não foi nem mesmo ouvido. “Ora”, dirá alguém, “isso não é preciso. Pode-se deflagrar uma operação, com intervenções dessa natureza, antes de qualquer depoimento. Assim, impede-se que a pessoa possa destruir provas.”

Concordo. Com a devida autorização judicial, não há nada de ilegal nisso. Mas esperem aí. A Operação Lava Jato, de que a Politeia é desdobramento, é de março do ano passado. Sabendo-se investigado e tomo Collor como um caso emblemático porque é a mais midiática das figuras —, se quisesse destruir provas, convenham, ele já o teria feito, não é mesmo?

Eu me pergunto se a operação desta terça foi deflagrada, de fato, em benefício da investigação ou para ser exemplar. Dada a lógica, parece-me difícil que estejamos diante do primeiro caso. Na democracia, o estado é um exemplo, mas não atua para exibir cabeças como exemplo, mesmo quando a personagem é Collor, que igualmente deve desprezar o que penso. No dia 14 de julho, no aniversário da Queda da Bastilha, é um alívio poder escrever isso.

As ações da Polícia Federal e do Ministério Público têm despertado a preocupação em muita gente responsável. Rodrigo Janot está em campanha eleitoral para ser reconduzido à Procuradoria-Geral da República. Collor e seus carrões de luxo servem como uma luva ao descaminho do estado de direito.  Estou no jornalismo desde 1986. Há 29 anos torno público o que penso por intermédio de textos na imprensa. Ao longo desse tempo, mudei, sim, de ideia algumas vezes. Mas nunca condescendi com um estado que não dá bola para os limites legais.

Nem Collor me faz abrir mão dos meus princípios. Quem está a fim de textos hidrófobos certamente encontrará a página do seu agrado. Eu me oponho ao petralhismo, e sou muito antigo nisso, porque não confiro a nenhum ente o poder de agir acima da lei e da razoabilidade.

Fonte: Blog do Reinaldo Azevedo - Revista Veja