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quinta-feira, 10 de outubro de 2019

O presidente fabrica crises - Míriam Leitão

Coluna no Globo

Bolsonaro é um fabricante de crises 

Com o PSL e os militares o presidente Jair Bolsonaro organizou seu governo. Nove meses depois, ele já demitiu vários militares, alguns em situação humilhante, e atacou o PSL, pedindo que o esquecesse e afirmando que seu presidente está “queimado pra caramba”. Analistas achavam que ele, após a posse, trabalharia para consolidar sua base política atraindo mais quadros para o PSL e que, na eleição municipal do ano que vem, ele tentaria dar ao partido capilaridade para sustentar seu projeto de reeleição.

[FATO: o Presidente Bolsonaro promovendo algumas reformas inadiáveis, consertando a economia, trazendo de volta o pleno emprego, será reeleito em 2022 COM ou SEM o PSL;

não realizando as reformas e a economia piorando - já está melhorando, apesar da torcida em contrário dos adeptos do quanto pior, melhor - o Presidente Bolsonaro não será reeleito. 

O prejuízo, ainda que na pior situação para o presidente Bolsonaro, será maior para o PSL.

Sugerimos LER TAMBÉM: O DITO PELO NÃO DITO - Merval Pereira - O Globo]


Na avaliação do cientista político Jairo Nicolau, o presidente Jair Bolsonaro está fazendo um movimento irracional da perspectiva das suas ambições políticas. Saindo do PSL ele abre mão da bancada, do fundo eleitoral e de horário de televisão nas eleições municipais, momento que seria estratégico para o partido: — Seria a hora mais lógica de ele consolidar o partido de extrema-direita para apoiar seu projeto. Eles não gostam que se defina o grupo político como de extrema-direita, mas essa é a definição correta. O PSL terá um volume grande de recursos através dos fundos eleitorais, mais de R$ 300 milhões. E para uma eleição municipal será necessário ter tempo de TV e dinheiro.

A possibilidade de mudança partidária sem risco de perda do mandato se dá em duas situações. Primeiro, se uma nova legenda for criada. Segundo, na próxima janela partidária, o que só ocorrerá em 2022, seis meses antes das eleições. Um partido novo, como esse, o Conservadores, não terá recursos porque o dinheiro é distribuído conforme o número de parlamentares que elegeu na última eleição. O Patriotas terá uma fração pequena dos fundos eleitoral e partidário: — É difícil entender o que ele está querendo fazer. Só se ele estiver achando que com a mídia social e a família repetirá em 2022 o desempenho que teve em 2018. Ele não fez uma base de sustentação, agora fala em sair do partido que foi um fenômeno eleitoral por causa dele.

Bolsonaro trocou de partido várias vezes ao longo da sua vida política. Ficou 11 anos no PP, de Paulo Maluf, e de muitos condenados do Mensalão e da Lava-Jato. Agora encena que está reagindo às denúncias de corrupção no PSL. Não é convincente. Ele nunca demonstrou qualquer reação às muitas denúncias de candidaturas-laranja no partido, nunca quis demitir o ministro do Turismo e tem usado o que pode para favorecer o filho Flávio, investigado por suspeita de rachadinha. É isso que o líder do PSL, Delegado Waldir, quis dizer quando afirmou que o quintal dele (Bolsonaro) estava sujo também.  — Os bolsonaristas chegaram no PSL no começo do ano passado, povoaram o partido, viraram esse fenômeno eleitoral, mas o curioso é que o partido não atraiu ninguém depois das eleições. Achava-se que Bolsonaro trabalharia para levar mais parlamentares para a legenda e assim se fortalecer no Congresso. Isso não aconteceu. Nem os parlamentares demonstraram vontade de ir para o partido do presidente, o que é surpreendente — diz Jairo Nicolau.

Ontem, depois que o presidente do PSL, Luciano Bivar, endureceu, o próprio Bolsonaro recuou numa entrevista ao site Antagonista. Disse que não pretende sair “de livre e espontânea vontade” e tentou minimizar a fala dele do dia anterior contra o PSL. Depois comparou a crise à briga entre marido e mulher. Mesmo que ele não saia, essa crise desgastará mais o PSL, que já vive em brigas internas. — Ele sair do partido não tem problema algum. Itamar Franco se desfiliou do PRN e governou sem partido. Mas e os parlamentares? O presidente já não tem base de sustentação. Se, além disso, ele ficar sem partido será demais, né? Ele talvez se considere uma pessoa que não precisa de organicidade. Deve achar que basta ele, seus filhos e as redes sociais — explica Nicolau.

Em relação aos militares, ele tem feito dois movimentos. Concedeu aumento de soldo, principalmente para os oficiais, embutido na reforma da Previdência. Limitou o poder que eles têm no governo, demitindo vários por pressão de lobbies ou grupos ideológicos. Foi assim com o ex-ministro Santos Cruz, com os militares no Ministério da Educação, nos Correios, com o general que comandava a Funai, e agora com o presidente do Incra. Esses dois saíram por pressão do seu amigo Nabhan Garcia, que diz falar pelos ruralistas. Essa crise, como a maioria das que abalaram seu governo, foi criada pelo próprio presidente. Bolsonaro é um fabricante de crises.

Blog da Míriam Leitão - Com Alvaro Gribel, de São Paulo - O GLOBO

 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Com MP de Bolsonaro, Ministério da Agricultura demarcará terra indígena

Em medida provisória divulgada na noite desta terça-feira (1º), em edição extra do Diário Oficial da União, o governo de Jair Bolsonaro estabelece que o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) passará a fazer a identificação, a delimitação e a demarcação de terras indígenas. Até então, o processo ficava a cargo da Fundação Nacional do Índio (Funai).

A publicação também transfere do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) para a pasta a responsabilidade pela regularização de terras quilombolas.  A medida provisória se restringe a indicar qual órgão ficará encarregado da tarefa, sem informar como funcionará o processo de demarcação.

No caso de terras quilombolas, o processo, atualmente, envolve sete etapas, começando pela abertura de um processo no Incra. Na sequência, estudos e relatórios sobre a área reclamada são elaborados, até que um decreto presidencial oficialize a concessão do título de propriedade, se o entendimento for de que a região pertence, de fato, a descendentes de escravos.  A Agência Brasil procurou a Funai, o ministério e a Fundação Cultural Palmares, que faz levantamentos sobre as comunidades quilombolas, e aguarda retorno.

Agência Brasil

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

As instituições testam o país

Poderes da República colecionam erros, reativam privilégios, aprovam pautas-bombas e ameaçam as minorias 

[defender ditadura comunista é um absurdo; defender ditadura das minorias substitui, em termos de absurdo a defesa do comunismo.

O essencial é que a Soberania Nacional seja preservada a qualquer custo.]

As instituições brasileiras têm escolhido errar sistematicamente, como se quisessem testar os limites do país em diversas áreas. Depois de usar o auxílio-moradia como moeda de troca para ter um aumento em época de crise, o Judiciário aprovou ontem o novo auxílio-moradia. O governo Bolsonaro nomeou um ruralista para cuidar de índios, quilombolas, licenciamento ambiental e reforma agrária, para três horas depois recuar, mas deixar ameaças no ar. O Congresso tem usado as últimas sessões do ano para aprovar medidas que ampliam os gastos públicos e limitam o espaço da administração que nem começou.
Um juiz enviado temporariamente para uma comarca na qual ele não mora, pode ter auxílio-moradia, claro. Mas são casos específicos e poucos. A ideia que vigorou nos últimos anos, de que todos os juízes tinham direito a que o estado lhes pagasse a moradia, porque não receberam reajustes, é espantosa. O Brasil está em crise, teve dois anos consecutivos de queda do PIB. Está saindo dolorosamente da recessão que encolheu a receita e devastou o mercado de trabalho. Há 12 milhões de brasileiros neste momento procurando emprego e sem encontrar, e outros cinco milhões desalentados.  
Os que têm estabilidade, os servidores públicos, pressionam o Congresso e conseguem reajustes. O Judiciário que está na elite do funcionalismo aprovou para si mesmo o aumento de 16,38%, e não se deu por satisfeito. 
[mais uma vez,  ou outras vezes, lembramos: 
- o reajuste de 16,38% foi exclusivo para os MEMBROS do Poder Judiciário e do Ministério Público - podendo, ser estendido - no Brasil o 'podendo' quase sempre  é sinônimo de 'será estendido' aos membros do Poder Legislativo e ao presidente da República;
em razão do salário dos ministros do STF ser referência para  o teto constitucional dos SERVIDORES  públicos (fundamentação para o abate teto) alguns SERVIDORES que tem direito - por inúmeras razões - a um salário limitado pelo abate teto - receberão reajuste adaptando seus salários ao novo limite do abate teto.] 
A cassação da liminar do ministro Luiz Fux, por ele mesmo, e o aumento do Judiciário foram apresentados como se um anulasse o custo do outro. É um engano. O aumento impacta a despesa de pessoal e foi concedido também aos inativos. Um mês depois volta agora o auxílio-moradia. Eles avisam que é com restrições. Mas é só uma questão de tempo para as interpretações se alargarem. E já há outro movimento em marcha, o de compensação pelo fato de que quando era auxílio não se pagava imposto de renda sobre esse valor. Sendo salário, há incidência do IR.
A preparação do governo Bolsonaro não poderia ser mais tumultuada. [o excesso de transparência é a única causa de todo esse tumulto.] Diariamente lança-se uma ideia, como se o Brasil fosse um campo de teste. Foi isso que aconteceu com a defesa da pena de morte feita pelo deputado Eduardo Bolsonaro, desmentida horas depois pelo pai. Tem sido feito sistematicamente. O presidente eleito lança afirmações como fez esta semana sobre a reserva Raposa Serra do Sol sem explicar como, de que maneira e com que instrumentos legais pretende reverter uma decisão tomada pelo Supremo Tribunal Federal. Só consegue criar intranquilidade.

Pior do que as afirmações sem substância têm sido as decisões sem sentido. A escolha do ruralista Luiz Nabhan Garcia para cuidar da identificação e demarcações de terras indígenas, do licenciamento ambiental, das terras quilombolas e da reforma agrária foi uma ideia tão ruim que bateu o recorde: sobreviveu a apenas três horas. Foi desmentida pelo próprio Ministério da Agricultura que a havia divulgado. Mas ficaram dúvidas no ar. Afinal, para onde vão as áreas responsáveis pela política indigenista? Depois de vagar entre vários ministérios na Esplanada, a Funai foi destinada ao Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos.

Mas ontem foi o Ministério da Agricultura que soltou nota anunciando e, depois, desanunciando o ruralista Nabhan Garcia como o responsável pelas questões indígenas e quilombolas e de licenciamento ambiental. Há um conflito de interesses insanável em nomear ruralistas para cuidar da questão fundiária brasileira. Há também um risco enorme de entregar o assunto indígena a uma pessoa, no caso a ministra Damares Alves, que tem a convicção de que a religião deve governar o país. [o que parece estar esquecido é que seja qual for o destino da Funai e do Incra, são órgãos que devem subordinação a ministérios - seja qual for o(s)  penalizado(s), com o 'presente', são subordinados diretamente ao presidente da República.]
No Congresso em fim da legislatura, com tanta renovação, é um absurdo a aprovação de pautas-bombas que vão recair sobre o próximo governo. E foram muitos os projetos ruins que avançaram nos últimos dias. O Congresso aprovou uma medida permitindo que municípios excedam o limite de gastos com pessoal, renovou os incentivos fiscais do Norte e Nordeste e incluiu o Centro-Oeste, fez novas concessões nas dívidas rurais. E há outras bombas engatilhadas. O país está entrando no sexto ano de déficit primário e com a dívida pública em nível alto.


Nos três poderes são tomadas decisões que desconhecem a crise econômica, os conflitos de interesse e os riscos que o país corre.

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Incra - fim da era Stédile

Assentados não são produtores autônomos, mas objetos de uma política assistencialista, voltada à criação de uma clientela 

[aos poucos Temer desmonta o que o imbecil do Lula chama de 'exército de Stédile', quando sabemos que nada mais é que um amontoado de vagabundos, inúteis e ladrões.]

O noticiário político está tão voltado para questões urgentes, como a da aprovação da PEC do teto dos gastos públicos e a da Reforma da Previdência, que iniciativas importantes terminam por serem relegadas a segundo plano. Neste caso, encontram-se mudanças importantes no Plano da Reforma Agrária que estão sendo implementadas, mostrando uma outra face do governo Temer. A reforma fiscal tem, aqui, uma contraparte essencialmente social. 

O presidente tem dado orientações explícitas a esse aspecto social de sua atuação, enfatizando todo um novo processo de aprimoramento dos instrumentos de obtenção de terras, de titulação dos assentamentos, de novo processo de seleção dos beneficiários e de regularização de terras cultivadas sem a anuência do Incra. No dizer do presidente deste órgão estatal, Leonardo Góes: “O governo federal busca dar maior segurança jurídica àqueles que têm terra e produzem, além de promover o acesso à terra a quem quer produzir alimentos.” 

Em pouco tempo será publicada uma medida provisória, voltada para o equacionamento destas questões. Ela caracteriza-se por seu perfil eminentemente técnico, avesso a problemas de ordem ideológica. Só este ponto já seria suficiente para caracterizar a nova gestão do Incra. Em vários momentos das gestões anteriores, com a ressalva da gestão Guedes, este importante órgão deixou de ser propriamente um órgão de Estado para tornar-se um instrumento dos movimentos sociais. Agora, a orientação técnica é predominante, com um sentido de Estado. 

A questão da titulação é, certamente, uma das mais importantes em pauta. Uma característica dos assentamentos da reforma agrária, até aqui, consistia no fato de serem tutelados pelos movimentos sociais, que aí fincaram um dos pilares de sua militância e de recrutamento de membros para invasões. Um assentado é, assim, não somente tutelado pelo Estado, mas, principalmente, pelo MST. Não são produtores autônomos, mas objetos de uma política assistencialista, voltada para a criação de uma clientela política. Não são, propriamente ditos, agricultores familiares por não possuírem a propriedade de suas terras. 

Com a titulação, abre-se a possibilidade de se tornarem verdadeiramente agricultores familiares, com melhores condições de obtenção de crédito, de compra de maquinário e de assistência técnica. Um agricultor familiar entra em uma relação de mercado, tendo melhores condições de trabalho e de educação para seus filhos, vislumbrando-se um futuro melhor.
Contraste-se, por exemplo, a condição dos agricultores familiares no Sistema Integrado de Produção no sul do país, envolvendo as cadeias produtivas do tabaco (pioneira), de aves e de suínos, estendendo-se a outros setores produtivos, a dos assentados. Uns são prósperos, outros vivem em favelas rurais. 

Muitos assentamentos têm assentados produtivos, que almejam tornar-se agricultores familiares, mas se veem impedidos por não poderem adquirir terras de seus vizinhos, que não produzem e vivem da assistência estatal. Por exemplo, pelos critérios atuais, ao cultivarem as terras destes seus vizinhos, que podem tê-las cedido mediante um contrato informal de arrendamento ou de compra e venda, eles encontram-se em situação irregular. Aliás, ambos estão por não serem proprietários de suas respectivas terras.
São tutelados, não possuindo liberdade de escolha. Segundo a nova MP, poderão regularizar tal situação, aumentando a produção de alimentos e a terra sendo cultivada por quem quer realmente produzir. É urgente este novo reordenamento fundiário, corrigindo tais anomalias, ainda defendidas por movimentos sociais ideologicamente obtusos. 

A nova seleção de beneficiários almeja, também, ser técnica e transparente, deixando de ser um instrumento do MST, que tinha a função de escolher os beneficiários, aumentando assim a sua militância. Várias denúncias, inclusive, têm aparecido, envolvendo pessoas que já são proprietárias, funcionários públicos, militantes etc. O TCU, apropriadamente, exigiu medidas, que estão sendo atendidas pela nova presidência do Incra. Chegou a impedir novos assentamentos para que essas anomalias fossem devidamente corrigidas. O descalabro era enorme, produzido, principalmente, pelo viés ideológico e político-partidário que presidia o processo seletivo. Haverá, agora, um papel mais importante das prefeituras e, sobretudo, uma maior publicização de todo este processo. 

Outro ponto diz respeito à obtenção de terras para a regularização fundiária, por exemplo, na Amazônia Legal ou para os assentamentos da reforma agrária. Há a necessidade de agilização dos trâmites administrativos, visando a dar celeridade a este processo. Imagine-se a situação de um proprietário que tem a sua terra invadida, enquanto decisões judiciais de reintegração de posse não são cumpridas. O Pará é um estado que vive uma enorme crise, em uma situação que poderíamos caracterizar como a de uma terra sem lei. 

Um tal mecanismo de obtenção de terras, a preços vigentes, e com pagamento em dinheiro — e não necessariamente mediante TDAs (Títulos da Dívida Agrária) seria um instrumento que poderia facilitar o equacionamento de tais conflitos, além, evidentemente, de um maior respeito à lei, não seguida em vários estados do país. Seriam compras nas condições de uma economia de mercado.

O campo brasileiro foi, nos governos petistas, um terreno privilegiado de conflitos, como se tivéssemos aqui uma “luta de classes”, que terminaria com a vitória “revolucionária” dos ditos “movimentos sociais”. O setor rural, a despeito dos ideólogos esquerdistas, foi, porém, objeto de uma verdadeira reforma, que tornou o país um dos maiores produtores mundiais de alimentos. A realidade mudou completamente nas últimas décadas. Cabe, agora, uma nova legislação e uma nova política que reflitam e deem conta desta nova situação. O caminho abre-se à pacificação nacional. 

Fonte: Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul


quinta-feira, 19 de maio de 2016

Aparelhamento e desvios no poder público


Governo Temer deve mesmo reverter a infiltração de militantes na máquina pública, não só devido a custos, mas também como medida de segurança

Entre as heranças malditas deixadas pelo lulopetismo para o governo do presidente interino Michel Temer, uma das mais intrincadas é o aparelhamento da máquina pública, executada com método pelo PT e aliados no decorrer de 13 anos. Equívocos de política econômica podem ser equacionados por meio de medidas corretas, mais ainda se houver apoio no Congresso, como é o caso. Já o aparelhamento é impossível ser eliminado de uma hora para outra.
Mas era preciso começar, e uma primeira medida correta foi a exoneração, pelo ministro da Secretaria de Governo, Eliseu Padilha, do diretor-presidente da Empresa Brasileira de Comunicação (EBC), Ricardo Melo. Caso exemplar de aparelhamento, a EBC, controladora da TV Brasil, rádio e agência de notícia, fora convertida em instrumento de propaganda lulopetista. A um custo anual de R$ 750 milhões, dinheiro que estaria sendo várias vezes mais bem empregado se de fato a empresa se pautasse pelo interesse público e não partidário.

E nem isto ela fazia bem, pois a audiência de seu veículo potencialmente mais poderoso, a TV, é traço. Não alcança sequer a militância, servia apenas para abrigar apaniguados. Na Europa e Estados Unidos há bons exemplos do que é uma empresa pública de comunicação. Os espaços existentes na máquina do Executivo e estatais à disposição do governante de turno são generosos. Foram inclusive ampliados. Apenas os cargos comissionados de remuneração mais elevada, os DAs, eram 18 mil no final da gestão de FH e chegaram a 23 mil.

Costuma-se alegar que muitos servidores concursados ocupam estes postos. Mas isso não significa que não haja entre eles militantes do partido. É quase certo que aqueles que fizeram uma manifestação contra o novo ministro da Educação, Mendonça Filho, na frente dele, no dia seguinte à posse, eram servidores estáveis.  Há vários casos emblemáticos nesses tempos. Um deles, o do Ministério de Desenvolvimento Agrário e Incra, onde representantes de organizações sem terra têm passe livre. Inclusive, e prioritariamente, nos respectivos orçamentos.

No momento, está em curso mais uma história típica patrocinada pelo conhecido aparelho há muito tempo instalado na Secretaria de Patrimônio da União (SPU).
Dominada pelo menos por parte do PT fluminense, ela se recusa a aceitar determinações judiciais, do TCU e até do governo para que o Jardim Botânico recupere toda a sua área, afinal em fase de legalização. A SPU ainda tenta, com manobras, regularizar a propriedade de imóveis dentro do JB, apesar da decisão contrária já tomada em várias instâncias.

Há, ainda, o aparelhamento com fins pecuniários, de corrupção, em que o exemplo imbatível é o da Petrobras, mas não só, conforme tem sido relatado pela Operação Lava-Jato. O potencial de descalabros neste universo de cargos comissionados é enorme. Pois, ao todo, chegam à faixa de 100 mil. O novo governo tem de se preocupar com esta infiltração gigantesca. Não só devido ao aspecto financeiro, mas também por segurança, autoproteção, pois cada aparelho mantido deverá funcionar com intenções de sabotar a administração.


Fonte: Editorial - O Globo
 

sábado, 6 de dezembro de 2014

O nojo de tanta corrupção que caminha a passos largos para a impunidade

O nojo

O troféu da roubalheira deveria ser nosso. Pelo gigantismo das empreiteiras, das obras e do país

É injusta a posição do Brasil no ranking mundial de corrupção da Transparência Internacional, divulgado na semana passada. Vamos protestar. O Brasil está em 69o lugar numa lista de 175 países considerados mais limpos, ou livres de corrupção. Tem alguma coisa errada aí. A avaliação foi feita em agosto, bem entendido. Ninguém do júri viu ou leu os depoimentos da Operação Lava Jato.

Se tudo for verdade, devemos ser campeões do mundo em volume de dinheiro roubado dos cofres públicos. Não tem para mais ninguém. O Brasil deve ser mais corrupto que os lanterninhas desse estudo, Somália, Coreia do Norte, Sudão e Afeganistão. O ministro do Superior Tribunal de Justiça Felix Fischer, presidente do STJ até setembro, concorda: “Acho que nenhum outro país viveu tamanha roubalheira”.

Esse troféu só pode ser nosso, pelo gigantismo do país, pelo poder das empreiteiras e pelos danos infligidos a 750 grandes obras públicas – segundo a planilha do doleiro Alberto Youssef. Essa planilha, “perturbadora” nas palavras do juiz Sergio Moro, foi apreendida no dia 15 de março! Imagine a ansiedade do PT para ganhar no primeiro turno. Só depois da eleição, descobrimos o significado da sigla PAC: Programa de Aceleração da Corrupção. O “C”, de crescimento, está desmoralizado pelo PIB abaixo de 1% neste ano.

Ninguém no mundo pode disputar o título de mais corrupto com o Brasil,
caso as investigações comprovem a amplitude da “suruba” – mais conhecida como “corrupção ativa e passiva” de empresários, governo federal, governos estaduais, e os “agentes” públicos e privados, financeiros e políticos. Desviando bilhões. O troféu deve ser nosso, se ficar comprovada a propina oficial “doada” ao partido que governa o país há 12 anos, o PT – que acabou de ser reeleito, legitimamente, por pouco mais da metade do eleitorado.

É inoportuno e negativo o coro de “Fora, Dilma”, ou a torcida por impeachment. [a Justiça pode e deve ser realizada a qualquer hora, por isso clamar por ela, JUSTIÇA, NUNCA é ou será inoportuno ou negativo.] A oposição tucana não deve se rebaixar aos métodos da oposição raivosa petista. Em 1998, comandada por Lula, ela gritava “Fora, FHC” em manifestações na Esplanada. Lula, brandindo a bandeira da ética, chamava os parlamentares de “300 picaretas”. Quem acusava o “golpismo” contra a democracia? Dilma hoje interpreta as críticas como atentado a seu governo. Ministros ladeiam a presidente “estarrecida”, como se fossem guarda-costas dela e do tesoureiro sumido do PT. Os tucanos também têm escândalos para chamar de seus. Um deles, o cartel do metrô e dos trens, em governos estaduais do PSDB de 1998 a 2008, criou até ferrugem. Os valores são baixos se comparados aos estratosféricos da Lava Jato. Mas o roteiro imoral é o mesmo, com ex-servidores, executivos, lobistas e doleiros entre os 33 indiciados. O mais correto agora é não arquivar nada e punir os culpados. O partido tem de pedir perdão.  

Devemos ser campeões mundiais da roubalheira e da arrogância, porque temos até notas fiscais de propinas pagas na maior estatal, a Petrobras. Que outro país lida com a suspeita de alta corrupção de 35 parlamentares, cujos nomes não foram divulgados nem pelo juiz da Lava Jato, nem pelo procurador-geral da Repúblicae hoje disputam sombras sob as togas do Supremo Tribunal Federal? Cadê os nomes dos 35 parlamentares citados pelo ex-diretor da Petrobras e atual delator estrela Paulo Roberto Costa?  “O que ocorre na Petrobras ocorre no país inteiro: portos, aeroportos, hidrelétricas, ferrovias e rodovias. É só pesquisar”, disse Costa. Ele é o único personagem, até agora, a se dizer “profundamente arrependido” e “enojado” com o que ocorria. Os outros negam ou se fazem de tontos. De uma forma ou de outra, Costa comove. Porque só pode ter falado a verdade. E ela dói em cada brasileiro honesto.

Sempre tivemos o pressentimento de que a corrupção, o suborno e a propina estavam entranhados no modus vivendi do Brasil e, especialmente, de Brasília. Nunca antes na história do país olhamos na cara da serpente, nem conhecíamos a potência de seu veneno. O veneno apodrece órgãos maiores e menores. Na última terça-feira, o superintendente do Incra no Maranhão, Antonio César Carneiro de Souza, foi preso por cobrar R$ 2,5 milhões por mês de propina a madeireiras ilegais para liberar devastação de terras indígenas. Assumiu o cargo em outubro por indicação do PT. E foi secretário de Meio Ambiente do Maranhão, nomeado pela ex-governadora Roseana Sarney. Algum espanto?

Novo governo, velhas ideias, novas metas maquiadas, velhas manobras, novos juros, velho “toma lá dá cá”. A sujeira que sai dos bueiros do Poder e as pantomimas no Congresso provocam nojo. Ainda não dá para voltar a ser uma indignada otimista. Falta o desfecho.

 Fonte: Revista Época - Ruth de Aquino