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quarta-feira, 13 de setembro de 2023

A vida na cidade mais pobre e subdesenvolvida do Maranhão

Ideias - Bruna Komarchesqui

Menor IDHA - Apenas 3% com emprego formal: 

 Imagem do governo maranhense divulgando obra de pavimentação da MA-012, que liga Fernando Falcão a Barra do Corda

Imagem do governo maranhense divulgando obra de pavimentação da MA-012, que liga Fernando Falcão a Barra do Corda - Foto: Divulgação/ Agência de Notícias do Maranhão [algo como ligar o NADA a LUGAR NENHUM.] 

[apenas para registro: o atual ministro da Justiça, Flávio Dino, governou o estado do Maranhão por 8 anos - 2015 a 2022.]

Entre os quase 11 mil habitantes de Fernando Falcão, cidade mais pobre e subdesenvolvida do Maranhão, apenas 343 (pouco mais de 3%) têm ocupação formal, sendo 333 deles (ou 97%) listados na folha de pagamento da prefeitura — é isto mesmo: apenas dez habitantes trabalham formalmente no setor privado, 0,1% da população. 
O município, que somou 78% de votos em Lula no segundo turno das últimas eleições, amarga o pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do estado mais pobre do Brasil e só perde no ranking nacional para Melgaço (PA) ficando em um patamar comparável ao de países miseráveis como Afeganistão, Etiópia e Serra Leoa. 
O resultado é a população vivendo abaixo da linha da pobreza, com baixo desempenho escolar, além de saneamento, saúde e infraestrutura precários.
 
Com uma parcela ínfima do território urbanizada (quase 6 km2 dos 5.086,589 km2 totais), boa parte da população de Fernando Falcão (que fica a 542 km da capital São Luís) está no campo, o que explica em alguma medida a pequena taxa de ocupação formal. 
A maioria dos cidadãos (82%), no entanto, é beneficiada por transferências do Programa Bolsa Família. Segundo o Ministério da Cidadania, até o fim de agosto, 8.958 dos 10.873 fernandenses recebiam algum benefício federal, totalizando um investimento de R$ 1.970.889,00 (uma média de R$ 220 por pessoa ou R$ 785 por família).
 
O IDH de 0,443 evidencia baixo desempenho municipal em dimensões básicas do desenvolvimento humano, como renda, educação e saúde. 
No quesito renda, por exemplo, o PIB per capita de Fernando Falcão é de R$ 8.051,53, o que equivale a menos de um quarto da média nacional (R$ 35.935,74). “Se Fernando Falcão fosse um país, estaria entre os 15 mais pobres do mundo. Abaixo do Sudão. De Ruanda. Do Zimbábue. Não tem nem dez mil habitantes e mais de 70% estão abaixo da linha de pobreza", dizia um texto publicado pelo governo do Maranhão em 2018. De acordo com a publicação, a renda per capita mensal na cidade era de R$ 106,99.
 
Segundo dados de 2015 do IBGE, 94 % das receitas de Fernando Falcão são provenientes de transferências federais e estaduais. A título de comparação, o município de São Paulo tem apenas 30% de suas receitas oriundas de fontes externas. 
Em 2020, Fernando Falcão estava entre as dez piores cidades em desigualdade social no Brasil, segundo o Índice Brasileiro de Privação (IBP), criado pela Fiocruz.

Saúde precária
De acordo com o Plano Municipal de Saúde de Fernando Falcão (2022-2025), a cidade conta com cinco Unidades Básicas de Saúde (UBS), um hospital e uma unidade móvel terrestre, todos administrados pela prefeitura, além de dois Postos de Saúde Indígenas, de competência federal. O Hospital Municipal de Fernando Falcão conta com 23 profissionais da saúde, sendo três médicos, seis enfermeiros e seis técnicos/auxiliares de enfermagem. São 18 leitos, nenhum deles cirúrgico, para clínica geral (10), obstetrícia clínica (4) e pediatria clínica (4).

O documento mostra que, em 2021, a cidade registrou 355 mortes hospitalares, sendo 60 por doenças infecciosas e parasitárias, 46 por gravidez, parto e puerpério, mais oito por afecções originadas no período perinatal, 56 por lesões, envenenamento e algumas outras consequências de causas externas. “No perfil morbidade do município de Fernando Falcão, as doenças [sic] gravidez, parto e puerpério foram as mais destacadas, no período 2018-2021, seguidas de algumas doenças infecciosas e parasitárias e lesões, envenenamentos e algumas outras consequências por causas externas. Nesse quadro, evidencia-se inúmeros problemas na deficiência da assistência ao pré-natal, parto e puerpério. Embora realizando de seis a sete consultas no pré-natal, questiona-se a qualidade dessas consultas, a época que são iniciadas e o acompanhamento, assim como alta segura, no parto", detalha o plano.

Já o fato de doenças infecciosas e parasitárias representarem a segunda maior causa de morbidade no quadriênio anterior é “influenciada pelas condições ambientais”. “A falta ou precariedade do acesso ao saneamento básico favorece o aumento do contágio de doenças. Deve-se considerar iniciativas de gestão para manter adequadas as condições de vida da população: abastecimento permanente de água segura, coleta de resíduos sólidos, coleta e tratamento de esgoto, infraestrutura rodoviária, condições adequadas de moradia, oferta de serviços de saúde eficaz, entre outras condições, são fatores determinantes para evitar a proliferação de agentes infecciosos e vetores”, completa o documento.

Em 2021, a taxa de mortalidade infantil média na cidade era de 29,13 por mil nascidos vivos. Ou seja, a cada cem crianças nascidas em Fernando Falcão, cerca de três morrem antes de completar um ano de vida. No Brasil, a média no período era de 11,9 óbitos por mil nascidos vivos. Um relatório do projeto Primeira Infância Primeiro aponta que, enquanto em nível nacional 73% das gestantes tiveram mais de sete consultas pré-natal em 2021, no município maranhense esse índice foi menos da metade (32%).

No mesmo ano, o país registrava 13% de partos de adolescentes (até 19 anos), já em Fernando Falcão as mães adolescentes representaram 30% do total dos partos.  
A cidade também tem índices piores que os nacionais nos quesitos “percentual de peso baixo ou muito baixo para a idade -- 0 a 5 anos” (7,43% x 4% no Brasil) e “crianças de 0 a 5 anos muito baixas para a idade” (17,3% x 5,35% no Brasil).
 
No início de 2021, uma mulher de 29 anos de idade, grávida de sete meses, morreu durante uma transferência clínica de Fernando Falcão para a capital maranhense, São Luís, com um quadro grave de insuficiência respiratória aguda. 
Antes disso, ela chegou a ser atendida na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do município vizinho de Barra do Corda. Ela e o bebê morreram dentro da ambulância na BR-135, próximo ao município de Santa Rita.

Saneamento e urbanização
Dados do DATASUS/ IBGE (2010) presentes no Plano Municipal de Saúde apontam 0% de domicílios com esgotamento sanitário adequado, 0% de domicílios urbanos em vias públicas com urbanização adequada (presença de bueiro, calçada, pavimentação e meio-fio) e 86,5% de domicílios urbanos em vias públicas com arborização. Imagens do Google Street View, de 2020, mostram que Fernando Falcão tem grande parte de suas vias com pavimentação esburacada e sem calçada.

Apesar de garantir que o fornecimento de água é normal em sua casa, Antonio Wecto Carvalho, 31 anos, dono de um depósito de materiais para construção na cidade, diz que "a falta é frequente” no bairro vizinho. “No meu comércio é frequente a visita de clientes do bairro vizinho, Vila Resplandes, comprando bomba, comprando mangueira, com problema de água no bairro. É o bairro mais novo aqui da cidade", afirma.

Menos verba para educação
De acordo com o Censo Escolar, até o ano passado, Fernando Falcão tinha 34 escolas, sendo 30 rurais e quatro urbanas, com 2.816 estudantes matriculados (incluindo vagas de creche, EJA e educação especial).  
Os dados mais recentes do QEdu apontam apenas 9% das crianças com aprendizado adequado em português (a média nacional era de 34%) e 5% em matemática (eram 16% no Brasil). 
No ano passado, foram 65 reprovações e oito abandonos nos anos iniciais do ensino fundamental, 104 reprovações e 38 abandonos nos anos finais e 13 reprovações e um abandono no ensino médio. 
A cada 100 crianças, aproximadamente 22 estavam com atraso escolar de dois anos ou mais na cidade.

Segundo a Lei Orçamentária Anual (LOA), o orçamento total da cidade aumentou em 10,4% de 2022 para 2023, indo de R$ 21,6 milhões para R$ 23,8 milhões. Por outro lado, o orçamento destinado à Educação caiu cerca de 17,7% no mesmo período: são R$ 3,27 milhões para este ano, R$ 705 mil a menos em relação ao orçamento do ano passado.

Emprego e renda
O Cadastro Central de Empresas
, publicado pelo IBGE, mostra apenas 27 empresas ativas em Fernando Falcão, e a média salarial dos empregados formais da cidade, dois salários mínimos. Já o Painel do Mapa de Empresas do Governo Federal, afirma que há 122 empresas ativas na cidade, sendo 12 filiais e 110 matrizes, entre as quais mais da metade (61) são MEIs.

Antonio Wecto Carvalho conta que “neste novo governo” o comércio está mais fraco, com uma queda de 60% das vendas neste mês, em relação ao mesmo período do ano anterior. “Ano passado eu não trabalhava com material grosso (tijolo e telha). Hoje eu tenho, e ainda assim a venda caiu. Aqui como a cidade é pequena... o Brasil todo está sofrendo com a queda do gado de corte. Querendo ou não, o gado é o carro chefe, principalmente no interior. O que fazia girar o comércio era a compra e venda de gado. E hoje fracassou. Quem morava no interior e criava um gadinho, hoje para vender é a maior dificuldade e fica nisso: dependendo só de Bolsa Família e aposentadoria. Se você pegar o número de empresas registradas em Fernando Falcão é um dos piores do Brasil”, afirma.

Josi Lemos, por outro lado, lamenta que a população seja “pobre de consciência” e não aproveite o potencial e as belezas naturais da cidade para empreender. “A própria população não coloca um restaurante top na beira do rio, não tem aquele atendimento muito bom, o pessoal reclama muito sobre o atendimento. E eu não ganho nada, se eu te falar que eu não ganho um real, e todo dia eu estou lá passando contato de hotel, de pousada”, diz, em referência a indicações que faz de estabelecimentos em sua página nas redes sociais. “Infelizmente, 80% da população de Fernando Falcão dá lucro em Barra do Corda. Porque o povo aproveita, querem comprar mais barato e acabam vindo pra cá", afirma.

Pobreza
As cenas de pobreza e de suspeita de corrupção
na cidade já estamparam reportagens como uma do Fantástico em 2013, que mostrava a vida de Francielle Silva, que criava duas filhas ganhando em média R$ 30 por mês. No mesmo ano, o UOL noticiou que moradores denunciavam a pobreza da cidade assistência médica precária, como a falta de saneamento básico, iluminação pública e estrutura nas escolas municipais — em uma página na internet. Na época, segundo relatos, as sessões na Câmara municipal ocorriam uma vez por semana e não chegavam a durar dez minutos.

Em 2015, uma reportagem do programa Record Investigação, vencedora do prêmio Vladimir Herzog de direitos humanos, apontava Fernando Falcão como "uma das cidades mais isoladas do Maranhão”
A matéria trazia a rotina da família de Carmen, que tinha cinco filhos e morava em uma casa de barro. 
O café da manhã da família era apenas uma xícara de café, e uma das crianças chorava porque não tinha farinha para comer.

(...)

Para os moradores, uma parte do problema da pobreza na cidade estaria ligada à questão indígena, já que “eles têm apoio do governo”, “produzem muito pouco e vivem só de Bolsa Família”. “Eles têm um cartão e tiram um valor x de mercadoria e deixam o cartão penhorado. O dono do comércio saca o dinheiro", afirma Carvalho.

Controvérsias políticas
Fernando Falcão é dominada por um mesmo grupo político há cerca de 20 anos. Dos nove integrantes da atual Câmara de Vereadores, seis são do PDT e três são do PCdoB, partido ao qual pertencia Flávio Dino quando governou o estado.  
Um mesmo grupo está no comando da prefeitura da cidade há mais de duas décadas. 
A atual prefeita é Raimunda da Silva Almeida, a Raimunda do Josemar (PDT), que ganha um salário bruto mensal de R$ 18 mil.
 
Em agosto, o Ministério Público do Maranhão abriu procedimento investigatório sobre a situação precária das ambulâncias doadas entre 2015 e 2022 pela União e pelo Estado a Fernando Falcão e municípios vizinhos.  
Um mês antes, um blog local denunciava a contratação pela prefeitura de uma empresa de eventos por R$ 2.717.450,00 para a realização de shows artísticos na cidade.

Denúncias envolvendo ex-prefeitos e grilagem de terras ou compra de votos por meio de terrenos em loteamentos também aparecem em sites locais, nos últimos dez anos.

A Gazeta do Povo entrou em contato com a prefeitura de Fernando Falcão, que informou, por e-mail, que "não chegou ao conhecimento" do município qualquer informação sobre denúncias de compras de votos por meio de loteamentos. "Não há, na municipalidade, distribuição de senhas para recebimento de lotes, uma vez que sequer lei de autoria do poder Executivo existe para tanto". Acerca da investigação das ambulâncias, a assessoria de imprensa disse que o município "ainda não foi notificado para apresentar alegações de defesa" e que há, atualmente, três veículos do tipo em Fernando Falcão, um deles em "manutenção corretiva".

No quesito saneamento, a prefeitura confirma que "ainda não há coleta de esgoto em Fernando Falcão". Questionada sobre os problemas de abastecimento de água em alguns bairros, relatados por moradores, a assessoria disse que "a prefeita de Fernando Falcão busca junto aos órgãos executores do Governo Federal recursos a fim de custear tais benfeitorias, uma vez que os recursos próprios do município são insuficientes para tanto".

(Colaborou com a reportagem David Ágape)

Atualização: O texto foi atualizado com as respostas da assessoria de imprensa da prefeitura de Fernando Falcão.

Bruna Komarchesqui, colunista  - Gazeta do Povo - Ideias

 

quinta-feira, 9 de março de 2023

O nascimento do “império do mal” (Primeira parte) - Ana Paula Henkel

Revista Oeste

Sob a nova economia estatal, tanto a produção industrial quanto a agrícola despencaram. Estima-se que 5 milhões de russos morreram de fome em 1921 

 Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lenin e Josef Stalin | Foto: Domínio Público

 Karl Marx, Friedrich Engels, Vladimir Lenin e Josef Stalin | Foto: Domínio Público
 
Na edição da semana passada de Oeste, resolvi trazer para a nossa resenha o descalabro da apologia ao comunismo que testemunhamos no Carnaval no Brasil
Escolas de samba homenageando a nefasta ideologia, que matou mais de 110 milhões de pessoas no mundo, e figuras como Flávio Dino, atual ministro da Justiça, usando roupas e acessórios que brindam ditadores que sustentaram regimes totalitários através do comunismo. 
A pergunta que fazemos hoje é o que não estão ensinando nas escolas para que nossos filhos não questionem esse grotesco enaltecimento de homens abomináveis que assassinaram milhões de homens, mulheres e crianças?
escola de samba comunismo
Escola de samba faz apologia do comunismo, 
durante desfile de Carnaval em Florianópolis – 19/2/2023 - 
 Foto: Reprodução
Em 1987, em um discurso numa convenção dedicada a melhorar a vida de crianças pelo mundo, o então presidente norte-americano, Ronald Reagan, um dos homens que bravamente lutaram contra o comunismo durante toda a sua vida, disse:  
“A liberdade nunca está a mais de uma geração da extinção. Nós não passamos a liberdade para nossos filhos na corrente sanguínea. Devemos lutar por ela, protegê-la e entregá-la para que façam o mesmo”. 
Ou seja, a liberdade não será protegida se não protegermos a história daqueles que tentarão reescrever as páginas da humanidade manchadas pela maldade e pelo sangue de milhões de mortos. 
Como também disse Reagan, você difere um comunista de um anticomunista entre alguém que lê Marx e Lenin e alguém que entende Marx e Lenin.
 
Não podemos mais esperar as escolas. Temos de tomar as rédeas do que está ficando de fora de currículos e dos debates escolares. Já a Escola de Frankfurt fez o seu trabalho como planejado, infiltrou brilhantemente a revolução marxista e o pós-modernismo onde as sementes são germinadas. 
O meio acadêmico — dos pequenos aos grandes — está infestado de professores doutrinadores que empurram sem pestanejar o “manual da bondade” de Marx e seus discípulos. 
Nossos alunos não apenas sofrem com uma verdadeira lavagem cerebral, mas são privados do conhecimento dos fatos. Faça um teste: pergunte a um jovem o que aconteceu com o Muro de Berlim. Não se surpreenda se ele apenas responder que o “muro caiu, como um celeiro velho”, sem mencionar que, na verdade, ele foi derrubado.

Então, mãos à obra. Farei a minha parte aqui na companhia de vocês. É claro que seria impossível em poucos textos mostrar todas as nuances da covarde história do comunismo no mundo. Mas também não economizarei palavras e parágrafos neste artigo — e no que será publicado na próxima semana. Aqui em Oeste, jamais deixaremos que adoradores do regime mais bárbaro da humanidade apaguem o que fizeram. Honraremos o legado de líderes como Ronald Reagan, João Paulo II e Margaret Thatcher, que lutaram bravamente contra o “império do mal”, como o presidente norte-americano certa vez definiu a ideologia.

Ronald Reagan segurando a camiseta Stop Communism 
Central America, em South Lawn, 7/3/1986 - 
Foto: Wikimedia Commons

O comunismo se espalhou durante o século 20 e foi uma parte fundamental da Guerra Fria. Mas, exatamente, o que é comunismo? Embora o significado exato possa variar de acordo com o contexto, o comunismo é uma ideologia política e econômica que geralmente busca a criação de uma sociedade “sem classes”, por meio da intervenção do Estado e do controle sobre a economia e a sociedade. Os políticos comunistas procuram assim eliminar as hierarquias tradicionais e criar uma sociedade “livre da desigualdade de classes” e da “exploração dos trabalhadores”.

(...)

Sob o comunismo de guerra, Lenin rapidamente nacionalizou toda a manufatura e a indústria em toda a Rússia soviética, até confiscando grãos excedentes de camponeses para alimentar seu Exército Vermelho

Desde seu início, há mais de um século, o comunismo, que diz clamar por uma sociedade sem classes, na qual tudo seja compartilhado igualmente, passou por uma série de mudanças nos métodos revolucionários para que os objetivos fossem alcançados, mesmo em 2023. 
O que começou em 1917, na Rússia, se tornou uma revolução global sinistra, criando raízes em países tão distantes quanto a China e a Coreia, o Quênia e o Sudão, Cuba e Nicarágua. 
Lançado a partir da Revolução de Outubro, de Lenin, a ideologia se espalhou para a China, com a ascensão de Mao Zedong ao poder, e para Cuba, com a chegada de Fidel Castro. O comunismo foi a ideologia por trás de um lado da Guerra Fria e teve um declínio simbólico com a queda do Muro de Berlim, embora atualmente ele venha ganhando adeptos e defensores exatamente pela falta de conhecimento histórico.

Karl Marx e a semente do comunismo

A linha do tempo do comunismo começa a ser delineada em 21 de fevereiro de 1848, quando o filósofo alemão Karl Marx e Friedrich Engels publicaram O Manifesto Comunista, convocando uma revolta da classe trabalhadora contra o capitalismo. 
Seu lema, “Trabalhadores do mundo, uni-vos!”, rapidamente se tornou um grito de guerra popular. Marx e Engels pensavam no proletariado como os indivíduos com força de trabalho, e na burguesia como aqueles que possuem os meios de produção numa sociedade capitalista. O Estado sonhado por Marx e Engels passaria por uma fase, muitas vezes considerada como um socialismo, para, finalmente, estabelecer-se em uma sociedade comunista pura.

Capa da primeira publicação do Manifesto Comunista, 
em fevereiro de 1848, em Londres | Foto: Wikimedia Commons

Clique Aqui, para matéria completa - Liberada Revista Oeste

Leia também “Uma festa sem máscaras e sem vergonha”

Ana Paula Henkel, colunista - Revista Oeste


segunda-feira, 10 de outubro de 2022

Bolsonarismo na clandestinidade - Gazeta do Povo

Luiz Felipe Pondé  

 
O que podemos aprender passado o primeiro turno das eleições? De forma imediata, que as pesquisas não capturam os votos bolsonaristas. Não erram tudo, mas de modo específico. E não capturam porque, apesar de a esquerda fazer discurso de resistência, os bolsonaristas é que estão na clandestinidade. Votam em segredo em quem querem e viram as costas para falas de risco de golpe.

  Bolsonaro discursa - Foto: Reprodução.

Há muito a esquerda perdeu a noção da realidade, tornando-se uma igreja dos belos e dos bons. Quando uma ideologia fala abertamente que os "homens brancos não prestam" e que o Brasil estaria melhor se fosse só feito de negros e mulheres, ela está indo para guerra fingindo-se de santa.

Os bolsonaristas usaram a competição por votos para se manifestar. E agora os petistas estão fazendo xixi nas calças. A agressividade bolsonarista é explícita, seu voto é invisível e silencioso. A agressividade petista é invisível, seu voto é confesso e orgulhoso.

Como toda clandestinidade, o bolsonarismo se esconde nos esgotos, mas sabe muito bem manipular as estratégias de guerrilha quando você não detém o lugar de fala. Sei que os inteligentinhos não entenderão o que eu acabei de dizer, mas eles nunca entendem nada mesmo, paciência.

Sim, a esquerda hoje tem todos os vícios de uma aristocracia burra. Ocupa praticamente todos os espaços da inteligência pública e não consegue ter um milímetro de inteligência para entender como grande parte da população se sente diante da desconstrução moral contemporânea.

Sigmund Freud (1856-1939) já havia dito que deveríamos levar a sério assuntos sobre o que temos no meio das pernas. A burrice da aristocracia intelectual pública, que não é só brasileira, se manifesta numa auto apreciação estética peculiar – ela se considera sublime nas suas intenções.

A histeria ao redor dessas eleições como um plebiscito a favor ou contra a democracia é uma prova cabal da inapetência da aristocracia intelectual pública. A apreensão popular da democracia é sua natureza procedimental: ganha quem levar a competição por votos – as eleições – e, nesse sentido, vale tudo para vencê-la. Todos mentem. A esquerda mente com garfo e faca, a direita mente falando de boca cheia.

O PT nunca foi um partido democrático. Sua violência é implícita. Coloniza instituições da República, persegue seus desafetos no espaço público, cala a oposição com elegância, tudo isso sob as palmas da inteligência pública enviesada.

A estridência ideológica da esquerda pode custar caro para ela diante do espírito disciplinado do protestantismo popular nacional. A elite é sempre cega, porque não suporta o cheiro de ônibus e trem.

Uma das armas dos bolsonaristas é o silêncio e o desprezo pela inteligência pública. E quem é ela? Intelectuais e jornalistas que se prestam ao ridículo de ficar há meses falando para si mesmos, gemendo que haveria golpe e uma violência terrível no dia das eleições.

Os bolsonaristas usaram a competição por votos para se manifestar. E agora os petistas estão fazendo xixi nas calças. E com os resultados do primeiro turno, vem a vergonha dos intelectuais e jornalistas que choram no ombro do Lula. "O que será de nós?" É humilhante ver essa choradeira.
Há muito a esquerda perdeu a noção da realidade, tornando-se uma igreja dos belos e dos bons.

Diria para os chorões que não conseguem dormir, que estão xingando o país, que se sentem em meio de uma guerra mortal contra o mal, que comprem um pacote "war experience", ou experiência de guerra, e vão passar umas semanas no Afeganistão ou no Sudão para ter uma real noção do que é viver entrincheirado num pesadelo contínuo.

A mídia profissional precisa abandonar a preferência ideológica se ainda quiser ser relevante. É triste ver as ginásticas que jornalistas, comentaristas e afins fazem para fingir imparcialidade – alguns nem mais fingem, escondidos atrás da mantra ridícula da "ameaça golpista", e berram aos quatro cantos do Brasil os seus horrores a quem cheira a "sangue de Jesus tem poder".

Pontualmente, vale dizer que ninguém iria mesmo dar bola para os mortos da pandemia – Bolsonaro demonstrou zero empatia com a agonia das pessoas. Apesar do mimimi, ninguém lembra desgraças passadas. A CPI da pandemia foi parte do circo institucional que é a vida política nacional.

A resposta bolsonarista veio pelo voto, não pelo golpe. Uma vergonha, não?

Luiz Felipe Pondé, colunista - Gazeta do Povo - VOZES

 

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Ebola: o vírus assassino que ressurge de tempos em tempos

África Ocidental

Ao contrário da gripe, esse vírus não é transmitido pelo ar. Portanto, é menos contagioso do que muitas outras doenças virais. Mas taxa de mortalidade é assustadora: de 50% até 90% no caso de algumas epidemias, segundo a OMS

 O vírus do ebola, que ataca novamente na Guiné após três mortes, é um assassino que ceifou mais de 15.000 vidas desde 1976. Até agora, foram identificados cinco subtipos do agente infeccioso e houve onze epidemias causadas por três deles.

De onde vem o vírus?
O vírus do ebola foi identificado pela primeira vez em 1976 na República Democrática do Congo (RDC, então Zaire). É um vírus da família filoviridae (filovírus). Seu nome vem de um rio no norte do país, próximo ao local onde eclodiu a primeira epidemia.  Desde então, cinco "subtipos" do vírus do ebola foram identificados: Zaire, Sudão, Bundibugyo, Reston e e Floresta de Tai. Os três primeiros causaram graves epidemias no continente africano.
 
Como é transmitido?

O vírus circula entre morcegos frugívoros, considerados o hospedeiro natural do ebola, mas eles não desenvolvem a doença. Outros mamíferos, como grandes símios, antílopes ou porcos-espinhos, podem ser portadores e transmiti-los às pessoas.

Durante uma epidemia, o ebola é transmitido entre humanos por meio de contato próximo e direto. Uma pessoa saudável é infectada pelos "fluidos corporais" de um doente: sangue, vômito, fezes...  Ao contrário da gripe, esse vírus não é transmitido pelo ar. 
Portanto, é menos contagioso do que muitas outras doenças virais.
Mas esse vírus é assustador pela alta taxa de mortalidade: em torno de 50% e até 90% no caso de algumas epidemias, segundo a OMS.

Quais são os sintomas?
Após um período de incubação de 2 a 21 dias (cerca de cinco dias em média), o ebola se manifesta com febre repentina, fraqueza, dores musculares e articulares, dor de cabeça e dor de garganta e, em alguns casos, hemorragia.Os sobreviventes costumam ter sequelas: artrite, problemas de visão e audição e inflamação dos olhos.
 
Existe vacina?
Uma primeira vacina, fabricada pelo grupo norte-americano Merck Shape and Dohme, mostrou-se altamente protetora contra o vírus, segundo ensaio realizado na Guiné em 2015. A OMS pré-qualificou esta vacina em novembro de 2019 para ser homologada. Mais de 300.000 doses foram administradas em uma campanha de vacinação direcionada durante a última epidemia na República Democrática do Congo.

Uma segunda vacina experimental, do laboratório norte-americano Johnson & Johnson, foi introduzida preventivamente em outubro de 2019 em áreas onde o vírus está ausente, e mais de 20.000 pessoas foram vacinadas.

A pior epidemia (2013-2016)
A pior epidemia da história surgiu no sul da Guiné em dezembro de 2013 e se espalhou para os países vizinhos da África Ocidental. Causou mais de 11.300 mortes entre os quase 29.000 casos registrados, de acordo com a OMS, que declarou o fim da epidemia em março de 2016.

Mais de 99% das vítimas foram registradas na Libéria, Serra Leoa e Guiné.

Décima e décima primeira epidemia na RDC
A décima epidemia começou em 1º de agosto de 2018 na província de Kivu do Norte. A OMS declarou emergência sanitária de alcance internacional em julho de 2019, quando ameaçava países vizinhos.

As autoridades do país proclamaram o fim desta epidemia, a segunda mais grave da África (com cerca de 2.280 mortes) depois da de 2013-2016, em junho de 2020. Sem ligação com esta epidemia, em junho de 2020, uma décima primeira epidemia de febre ebola estourou na província de Equateur. O país declarou seu fim em 18 de novembro (55 mortos).

"Reaparecimento" na RDC e "situação epidêmica" na Guiné
A República Democrática do Congo anunciou no dia 7 de fevereiro um surto da doença no leste, para onde a OMS enviou uma equipe de epidemiologistas após a morte de uma mulher.Uma semana depois, no dia 14, a Guiné anunciou que estava novamente "em situação de epidemia", depois de ter confirmado o aparecimento no sudeste do país de sete casos, três deles fatais.
São as primeiras mortes pela doença desde 2016 na Guiné. A OMS vai implantar meios "rapidamente", como doses de vacinas, para ajudar a Guiné. [o desempenho medíocre da OMS na pandemia em curso, mostra  a velocidade do "rapidamente" da OMS. Descoberta há 44 anos, o peste do 'ebola', com transmissibilidade bem menor que os vírus da família H, uma vacina efetiva ainda não foi descoberta.
O índice de transmissibilidade do ebola é dezenas de vezes menor que o da peste SARS.]
 
Mundo - Correio Braziliense

sexta-feira, 15 de novembro de 2019

O novo B do Brics - O Estado de S.Paulo

Eliane Cantanhêde

Criado contra o ‘mundo unipolar’, o Brics passa a contar com um forte aliado dos EUA

A reaproximação do Brasil com a China e o entusiasmo do ministro Paulo Guedes com acordos bilaterais de livre-comércio são bons passos para corrigir dois erros da política externa, um bem recente, do início do governo Bolsonaro, e outro lá atrás, do início da era PT. Esses passos vêm em boa hora. A política externa e comercial do governo Lula, fortemente pautada pela ideologia, impediu a discussão séria e pragmática da Área de Livre Comércio das Américas, a natimorta Alca. Poderia ter sido bom ou ruim aos interesses brasileiros, mas nunca saberemos. O próprio debate foi bloqueado.

Além de inviabilizar a Alca, o Brasil foi decisivo para vetar acordos bilaterais dos parceiros do Mercosul, ficando subentendido que não fazia e não permitia que Uruguai, Paraguai e Argentina fizessem acordos de livre-comércio diretamente com os Estados Unidos. Sem Alca e sem bilaterais, a grande aposta foi na Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC), que nunca saiu. Ou seja, não sobrou nada.

Agora, depois do anúncio (por enquanto, um mero anúncio) do acordo Mercosul-União Europeia, o governo Bolsonaro atira para todos os lados. Já acenou com livre-comércio com os EUA, com a China e, depois das duas maiores economias do planeta, sabe-se lá com quantos mais. A palavra de ordem de Guedes é abertura.

De outro lado, a obsessão em desvincular o Brasil do Tio Sam correspondeu a uma ilimitada aproximação com a China, que começava a desbravar todos os continentes e ultrapassou os EUA como nosso principal parceiro comercial. E com vantagem objetiva enorme: o Brasil é superavitário nas relações com os chineses, ou seja, vendeu mais do que comprou. Pois não é que Jair Bolsonaro, eleito, já passou a – também fortemente pautado pela ideologia como Lula, mas às avessas – cutucar e provocar a parceira e gigante China. Quanto mais se assumia pró-EUA, ou melhor, pró-Trump, mais Bolsonaro desdenhava a China, que “queria comprar o Brasil”.

Ao ser recebido com pompas em Pequim e agora no seu encontro com Xi Jinping em Brasília, o presidente corrige seu próprio erro, recoloca as relações nos eixos e, mesmo sendo a China uma ditadura de esquerda, passa a agir com pragmatismo. O regime da China é um problema dos chineses, as trombadas entre Washington e Pequim são problema dos dois e o que nos diz respeito são os interesses brasileiros nas relações. E isso parece estar, enfim, prevalecendo.

Quanto ao Brics, há uma mudança importante. Ao se unirem em 2006, Brasil, Rússia, Índia e China (África do Sul veio depois) tinham uma ambição econômica e uma estratégia política: se rebelar contra um “mundo unipolar”, ou seja, contra a hegemonia acachapante dos EUA. Hoje, porém, o B mudou de lado.

Quatro dos cinco países estão entre os dez maiores, mais ricos e populosos do planeta, logo, capazes de reequilibrar o jogo mundial. O Brasil, porém, abre uma fenda na unidade do grupo. Assim como rompeu sua histórica postura independente para seguir os EUA em votos sobre Cuba e sobre direitos humanos na ONU, o Brasil age para o Brics incomodar o mínimo possível os EUA.

Assim, o Brics continua sendo forte e importante na economia mundial, mas a unidade política e o futuro do grupo parecem incertos e não sabidos, com China e Rússia de um lado, o Brasil sonhando com um alinhamento automático com os EUA e a Índia e a África do Sul tentando se equilibrar entre os parceiros. Só isso explica que a declaração final da cúpula de Brasília tenha se ocupado de Síria, Coreia do Norte, Sudão e Iêmen, sem uma única linha sobre Venezuela e Bolívia. Os negócios vão muito bem, mas os EUA pairam sobre o Brics e as visões de mundo dos cinco são hoje claramente muito diferentes.
Eliane Cantanhêde, colunista - O Estado de S. Paulo
 
 

sábado, 10 de novembro de 2018

O Itamaraty deve servir ao Brasil

O Brasil precisa de uma política externa. Não a do PT que alinhou o nosso país ao que há de pior no mundo


O Brasil precisa de uma política externa. Não a do PT que alinhou o nosso país ao que há de pior no mundo. Não custa recordar que durante os treze longos anos do reinado petista, o Itamaraty acabou se transformando em um puxadinho dos interesses partidários do PT. Foi uma guinada à esquerda. E à serviço dos interesses do partido-mãe do petrolão. Na América Latina, Cuba foi privilegiada. Recebeu generosos empréstimos do BNDES e foi defendida em vários fóruns internacionais pela nossa diplomacia. Os países bolivarianos acabaram sendo tratados como aliados preferenciais. 

Bolívia pode encampar refinaria da Petrobras pagando indenização simbólica. A Venezuela foi considerada aliada preferencial. Foram estabelecidos acordos de cooperação que não acabaram descumpridos, empréstimos não foram pagos e a ditadura chavista encontrou no Brasil um fiel aliado. Não é possível esquecer o episódio de Honduras e a invasão da nossa embaixada por Zelaya, uma espécie de Cantinflas da política do século XXI. Também vale recordar o apoio entusiástico de Lula às FARC, grupo terrorista colombiano.

Na África ficou célebre as relações com as ditaduras que receberam doações simuladas em empréstimos. Tudo, segundo a justificativa petista, para estimular a venda de serviços de empresas brasileiras que, por sinal, receberam o pagamento com recursos oriundos dos contribuintes brasileiros, enquanto as ditaduras pediram – e a maioria obteve — o perdão das dívidas. Tudo sob o manto da solidariedade com o continente de onde o Brasil recebeu milhões de escravos entre os séculos XVI a XIX. No norte da África a aliança mais comemorada foi com a Líbia, que, à época, estava tiranizada pelo ditador Muamar Khadafi.

A ênfase da política externa era o estabelecimento das relações Sul-Sul. O afastamento em relação aos Estados Unidos fazia parte do projeto estratégico petista. Também foram abertas dezenas de embaixadas e consulados — em países sem nenhuma tradição comercial com o nosso país — e nos órgãos internacionais o Brasil votava à favor das ditaduras basta recordar o episódio de Darfur, no Sudão. Lula apoiou um antissemita para a direção da Unesco — candidatura que acabou derrotada. O objetivo final era obter um assento permanente no Conselho de Segurança da Onu. Deu tudo errado. E, pior, o Brasil acabou tendo sua diplomacia desmoralizada, não ampliou sua presença nos fóruns internacionais e bilhões de reais foram desperdiçados.


Marco Antonio Villa, historiador, escritor e comentarista

domingo, 18 de março de 2018

O Brasil líder em mortes de ativistas de direitos humanos é “fake news”; Marielle era psolista. E não tinha de morrer por isso

Leio na Folha o seguinte:
“Relatórios de 2017 da Anistia Internacional, da Comissão Interamericana de Direitos Humanos e da ONG Front Line, que monitoram direitos humanos no planeta, colocaram o Brasil entre os quatro líderes globais em homicídios de ativistas, ao lado de Colômbia, Filipinas e México.”

Sempre que o Brasil aparece acima do Sudão, do Norte e ou do Sul, nesses rankings que dizem respeito à agressão aos direitos humanos, fico um tanto espantado. Não se veem entre os quatro o Irã ou os países árabes. Nada de China, Rússia, Coréia do Norte, Venezuela ou Cuba. A lista seria gigantesca.
Pra começo de conversa, seria preciso definir exatamente o que é um “ativista” dos direitos humanos. O texto fornece algumas pistas. Transcrevo:
  “Segundo a Comissão Interamericana, ligada à Organização dos Estados Americanos (OEA), três a cada quatro assassinatos de defensores de direitos humanos no mundo aconteceram na América Latina em 2016, concentrados no Brasil e na Colômbia.
Naquele ano, 66 defensores foram assassinados por aqui –um a cada cinco dias, em média–, segundo o Comitê Brasileiro de Defensores e Defensoras de Direitos Humanos. Em 2015, foram 56.
‘Há um aumento evidente da violência contra quem luta por direitos no país, apesar da subnotificação desses casos’, avalia a advogada Layza Queiróz Santos, que integra o comitê
.”

Como se nota, ou os países em guerra civil da África são, não obstante, respeitadores de direitos humanos, ou a turma é meio fraca por lá nesse quesito. Poderíamos lembrar ainda as, como direi?,  notáveis democracias árabes ou, mais amplamente, muçulmanas, para incluir paraísos como o Paquistão e o Afeganistão… Mais uma vez, a militância política vem a serviço da distorção, e a “fake news” com pedigree se espalha.

No Brasil, os “atividades de direitos humanos” que são mortos costumam estar ligados, por exemplo, a conflitos agrários. Deveriam morrer por isso? Não! Nem matar! Mas luta por terra e o MST é o dono dessa agenda — não é luta “por direitos humanos”. Até porque o movimento tem uma agenda política. O mesmo se diga sobre lideranças indígenas. Não se trata de condescender com a morte dessas pessoas ou de afirmar: “Ah, quem está na chuva é mesmo pra se molhar”. Nada disso. É que aquele que luta por “direitos humanos” não pode estar atrelado a projetos de poder, inclusive partidários. Não por acaso, a Colômbia, que ainda sob a égide da luta contra a narcoguerrilha, aparece no topo da lista, junto com o Brasil. Militantes das Farc ou que serviam de porta-vozes informais da guerrilha eram e são tidos como “ativistas dos direitos humanos”.

Não! Não é para matar ninguém! Eu sou contra a pena de morte, ainda que aplicada por sistemas judiciais de países democráticos. Logo, não poderia condescender com justiçamentos e afins.  Ocorre que é preciso chamar as coisas pelo nome que elas têm.
Marielle Franco, por exemplo, era uma vereadora do PSOL. Pertencia a uma organização que tem um projeto de poder e que atua não segundo a ótica dos “direitos humanos”, como se esse fosse um conceito que habita no empíreo, de que ela, Marcelo Freixo, Chico Alencar e Jean Wyllys fossem a perfeita expressão terrena. Era uma política.
“Então ela merecia morrer?”
Reitero: ninguém merece morrer.
Ocorre que quem a matou estava pouco se lixando para a sua “militância em favor dos direitos humanos”. Ela só foi morta porque se tornou uma voz estridente contra a intervenção e porque seus assassinos, também contrários à dita-cuja, contavam que isso levaria as esquerdas para a “luta”, com a adesão, sem filtro, da esmagadora maioria da imprensa.
[Ser do PSOL, descontando raras exceções, não é boa recomendação nem torna o psolista 'defensor dos direitos humanos'.
Só um exemplo: tem um terrorista italiano, Achiles Lolo - em ações terroristas na Itália tinha como 'hobby' incendiar seres humanos quando estavam dormindo;  
Lollo foi condenado, fugiu e veio para o Brasil - que nos governos Lula e Dilma se tornou valhacouto de diversos tipos de marginais, com destaque para terroristas - e foi ser assessor do PT - foi dispensado, nem o partido dos traidores teve estômago para suportar Lollo.
O PSOL de imediato o contratou para prestar serviços de assessoria - não sabemos se o demitiram, até recentemente estava prestando assessoria.
Por aí se ver que o PSOL tem um conceito de direitos humanos que torna válido empregar  terroristas incendiários (de seres humanos, não de coisas).
De qualquer forma, Marielle ou qualquer outro que seja psolista não merece morrer.]

Blog do Reinaldo Azevedo 

SABER MAIS:  Militância de minorias obscurece o fato de que país é dos mais violentos também para as maiorias. E cria obstáculos à ação oficial

[aproveitando o gancho para mostrar, MAIS UMA VEZ, que o 'estatuto do desarmamento' tem que ser revogado e todo brasileiro tem o direito inalienável de possuir/portar armas de fogo;
quanto mais os bandidos terem a certeza que em suas ações criminosas encontrarão cidadãos aptos a enfrentá-los, mais desestimulados ficaram para cometer crimes - e os que tentarem nunca terão a certeza que sairão ilesos.
...
O Brasil e a Síria
Costuma-se dizer por aí que se mata no Brasil praticamente o mesmo do que se mata na Síria, um país em guerra. Essa conta está errada, como já http://www3.redetv.uol.com.br/blog/reinaldo/guerra-nao-declarada-no-brasil-mata-quase-o-quadruplo-do-que-mata-a-guerra-civil-na-siria/
demonstrei neste blog no dia 30 de outubro do ano passado. Explico por quê.

Do início da guerra civil na Síria até março de 2017, ao longo de seis anos, morreram 321.358 pessoas. Uma barbaridade? Sim! Uma barbaridade! Ocorre que esse número reúne todas as vítimas, incluindo soldados do Exército oficial e insurgentes, que estão em guerra. O dado que interessa na comparação com o Brasil é outro. São civis nesse grupo 91 mil indivíduos. No mesmo período, em nosso país, foram assassinadas 320 mil pessoas. Entenderam? Mata-se em Banânia não “o mesmo de uma Síria em guerra”, mas quase o quádruplo. A taxa de homicídios em 2016 chegou a 29,9 por 100 mil habitantes, uma das mais altas do mundo. 
... 
Os Estados Unidos, país em que o direito do cidadão portar armas atinge o status de sagrado, a taxa de homicídios é  pouco superior a 4 por 100.000 habitantes.
Sete vezes inferior à taxa do Brasil e aqui só os bandidos e policiais podem possuir/portar armas.]


quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Rússia: “epidemia” de mortes misteriosas atinge diplomatas


Uma estranha “epidemia” atinge o corpo diplomático russo, escreveu Alain Rodier, diretor do Centro Francês de Pesquisa e Informação (CF2R), especialista em terrorismo islâmico e criminalidade organizada, em artigo para a revista Atlantico.  Em menos de um ano, sete diplomatas russos perderam a vida em circunstâncias pelo menos estranhas. A morte mais conhecida aconteceu em 19 de dezembro de 2016: Andrei Karlov, embaixador russo na Turquia foi assassinado por um fanático islâmico que fingia ser policial.

A ocorrência foi testemunhada e registrada pela imprensa em um museu da capital turca. O matador alegava querer vingar-se de colegas mortos em Alepo, Síria. Foi o único caso explicável e esclarecido. Nos outros paira a sombra da contraespionagem e da polícia secreta russa FSB, também encarregada de livrar o amo do Kremlin de adversários reais ou potenciais. No mesmo dia, Petr Polshikov, responsável pelo Departamento Latino-americano do Ministério de Relações Exteriores, foi encontrado morto em seu departamento moscovita com uma arma na mão. A FSB falou de suicídio, mas nunca se conheceram os pormenores. No silêncio, todas as hipóteses ficaram em aberto.

No dia 9 janeiro 2017, Andrei Malanin, cônsul da Rússia em Atenas, foi achado morto por arma de fogo no toalete de seu apartamento em circunstâncias misteriosas. Nenhum sinal foi registrado, apesar de a rua ser habitada por numerosos diplomatas e estreitamente vigiada pela polícia grega.  No caso dos diplomatas, os investigadores locais estão limitados e as averiguações deveriam ter sido feitas pelos responsáveis russos que, entretanto, guardaram silêncio. Em 27 de janeiro de 2017, Alexander Kadakin, embaixador da Rússia na Índia, morreu vítima de uma doença fulminante, segundo o serviço diplomático moscovita, que não forneceu circunstâncias exatas do drama.

Em 20 de fevereiro de 2017, Vitaly Tchurkin, embaixador extraordinário de Moscou na ONU, caiu desmaiado em seu escritório de New York e faleceu após ingressar num pronto socorro.  Estreito colaborador de Vladimir Putin, ele era considerado da linha dura do Kremlin e sucessor potencial do atual ministro de Relações Exteriores, Serguei Lavrov.
Mais recentemente, Mirgayas Shirinsky, embaixador da Rússia no Sudão, foi achado morto na piscina de sua residência.

Quase todos os falecidos estavam na faixa etária em que se extingue a esperança de vida dos homens russos 64,37 anos, em 2014 –, nível baixo atribuído ao generalizado alcoolismo, o mais alto do mundo. O único fator comum nas ocorrências provém da relação das vítimas com os serviços russos de espionagem. E essas não foram as únicas mortes estranhas.  No dia 8 novembro de 2016, Sergei Krivov foi morto no consulado da Rússia em New York. Segundo a primeira versão, ele teria caído do teto; na segunda, a morte teria sido por causa “natural”. Krikov era “oficial de segurança” do consulado. A função é vaga e esconde muitas vezes atividades ligadas à espionagem.

O corpo sem vida de Oleg Erovinkin apareceu em Moscou no dia 26 de dezembro 2016, no bagageiro de um carro da estatal Rosneft. Ele foi general e serviu na KGB e na FSB antes de tornar-se chefe de gabinete de Igor Sechin, estreito conselheiro do presidente Putin e oligarca chefe da Rosneft. As autoridades sugeriram uma crise cardíaca, mas suspeita-se seriamente que ele teria sido informante das relações de Putin com Donald Trump. No dia 5 novembro de 2015, Mikhail Lesinne, ex-conselheiro de Putin, ex-regulador da imprensa russa e fundador do Russia Today, uma joia da desinformação no exterior, apareceu morto por overdose de álcool em seu quarto de hotel em New York. Ele exibia numerosos hematomas. A imprensa americana focou o presidente Putin e seus serviços, mas nada foi apurado.

Ainda está viva a lembrança do envenenamento com polônio de Alexandre Litvinenko, opositor de Vladimir Putin, no ano de 2006 em Londres; da morte de Alexander Perepilichny, refugiado na Grã-Bretanha, em 2012, bem como a de Boris Berezovsky, estrangulado em sua casa de Berkshire em 2013. Londres concluiu que Litvinenko foi assassinado, mas não quis correr riscos pronunciando-se sobre os outros dois casos. O alcoolismo é uma das grandes causas das mortes prematuras na Rússia. Há um segundo fator muito importante: o crime organizado das “máfias vermelhas”, também chamadas Bratva, onipresentes desde o tempo da URSS.

Tais máfias – escreve Alain Rodier – penetraram profundamente nas engrenagens da economia russa e são conhecidas como os Vory v Zakone (ladrões na lei). Numerosos agentes dos serviços secretos trabalham nelas devido às suas “qualificações técnicas”, e são largamente pagos pela Nomenklatura putinista formada nos mesmos ambientes.

Desde o início do ano, dezenas de diplomatas americanos e canadenses tiveram que abandonar seus postos em Cuba, com estranhos problemas de audição, e outros relacionados à saúde, atribuídos aos serviços secretos cubanos alimentados pela Rússia.
A Rússia de Putin não abandonou os métodos criminosos desenvolvidos pela falida URSS. Continua a aplicá-los com a mesma frieza assassina. Se existe alguma diferença entre os tempos da antiga e da “nova URSS”, ela deve ser procurada na ingenuidade tola dos ocidentais que acreditaram que o “comunismo morreu”.


quarta-feira, 8 de novembro de 2017

China comunista, Brasil vermelho

“Os chineses compraram a África e estão tentando comprar o Brasil” – disse, em 2010, Antonio Delfim Neto, raposa velha que já foi e já fez de tudo por essas bandas (inclusive assessorar Lula, o Chacal). 

Hoje, passados quase oito anos da denúncia premonitória do ex-titular de algumas pastas ministeriais (entre elas, as da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento), a China – sempre fazendo “negócios da China” – não só comprou e ocupou boa parte do território nacional, como fincou suas garras nos mais diversos setores da nossa economia, a destacar, além de hidrelétrica e refinaria, empresas automotivas e de transportes pesados, de mineração, siderurgia, gás, petróleo, construção civil e até bancos afinados com o mais refinado capitalismo de Estado, mil vezes mais deletério do que o moribundo capitalismo selvagem.
(Antigamente se falava do “imperialismo ianque”, mas reina silêncio absoluto em torno da nociva invasão chinesa que, agora, para inocular a peçonha comunista, usa a retórica do globalismo).

A coisa chegou a tal ponto que o próprio diretor-geral da FAO,  agência da famigerada ONU para Alimentação e Agricultura, chamou a atenção do mundo para o avanço do neocolonialismo chinês no território africano – neocolonialismo tido pelos nativos como “predatório, odioso e animalesco”.  Os africanos protestam contra o que chamam de “mercantilismo de palitinhos”, caracterizado como pura e simples pilhagem dos seus recursos e commodities, em geral lastreada por contratos obscuros modelados pelos chineses.

Só para exemplificar o modus operandi dos asiáticos na África: tornou-se célebre o caso de uma mina de carvão na Zâmbia em que, devido a manifestação de protesto contra  baixas condições de segurança e de salários, dezenas de trabalhadores foram dispersos a bala pelos gerentes chineses – o que gerou comoção nacional e o repúdio da população.
Por sua vez, numa outra vertente, a militarista, autoridades do Quênia, esbulhados pelos asiáticos na construção de uma ponte, asseguram que o governo chinês negocia com qualquer regime, inclusive os repressivos, fornecendo jatos, veículos militares e armas para países belicistas como Zimbabwe, Sudão e outros que tais. “Em alguns casos, a China opera” – dizem os líderes africanos – “sem escrúpulos morais ou limites éticos”. No ramo do agronegócio, para plantar soja, milho e outras cositas, os chineses já compraram, desde o alerta do Delfim, terras em profusão no oeste baiano e num extenso conjunto de áreas do cerrado do Maranhão, do Piauí e do Tocantins conhecido pela sigla “Mapito”.

Recentemente, o próprio Michel Temer viajou à Pequim (cidade mais poluída do mundo) para oferecer a Eletrobrás e outras empresas, provavelmente a preço de banana, tal como fez FHC com a Vale do Rio Doce. Qual é o problema? – questionarão esquerdistas e progressistas de toda ordem. Precisamos sair da crise e dinheiro novo é sempre bem vindo, sobretudo neste quadro de insolvência em que o País se desmancha. Concordo, pois sou a favor da redução do Estado e, quando à frente da pasta da Cultura no escorraçado governo Collor, lutei dia e noite para fechar a corrupta Embrafilme e dezenas de fundações parasitárias a serviço da subversão na área cultural.

Mas o problema é que, por trás dos homens de negócios chineses, com seus “investimentos estratégicos”, se escamoteia a fúria expansionista de um regime comunista de linha marxista-leninista, consagrada pela recente elevação de Xi Jinping ao trono do império chinês, em tudo semelhante à exercida pelo ditador (pedófilo) Mao Tse Tung, o “Grande Timoneiro”, que atingiu a apoteose na era da sangrenta Revolução Cultural (quando expurgou e mandou fuzilar  cerca de um milhão de professores, estudantes, intelectuais e artistas considerados dissidentes).

Embora apontado como secretário-geral por 2.300 delegados presentes no XIX Congresso do PCC, em outubro, Xi Jinping, seguindo o dogma do “centralismo democrático” soviético, já comanda a cúpula do Politburo chinês (composto por 18 vassalos) com mão de ferro, apelando para o total controle da sociedade pela prática da espionagem, da censura, da brutalidade do Estado policial e, no plano externo, da inevitável escalada armamentista para implantação de uma “nova ordem mundial”.
Na agenda de Xi, como é notório, gays, lésbicas, muçulmanos, ecologistas, religiosos, internautas e suas redes sociais continuarão sendo caçados com porretes, prisões e penas de morte. Dissidentes e ativistas, por sua vez, continuarão sendo empurrados, aos milhares, para campos de trabalhos forçados e de reeducação política e ideológica, exatamente como fizeram Lenin e Stalin.

O mais curioso em tudo isso é que, no Brasil, o pessoal dos “direitos humanos”, legiões de gays, lésbicas, ambientalistas, movimentos sociais e a mídia amestrada permaneçam de bico calado, deixando pra lá o drama de um bilhão e trezentos milhões de chineses – 600 milhões dos quais sobrevivendo, esquecidos e abandonados, na sombria miséria do meio rural.

Quanto a mim, penso que poucos políticos brasileiros possam se antepor ao neocolonialismo chinês em marcha e estimular, na alma da sociedade, a criação de uma agenda de resistência comprometida com desenvolvimento sem coação e sem medo de assegurar as liberdades fundamentais que dão substância ao indivíduo.
Aponto Bolsonaro como um deles.
Até.

Ipojuca Pontes, cineasta, jornalista, e autor de livros como ‘A Era Lula‘, ‘Cultura e Desenvolvimento‘ e ‘Politicamente Corretíssimos’, é um dos mais antigos colunistas do Mídia Sem Máscara. Também é conferencista e foi secretário Nacional da Cultura.


quarta-feira, 16 de agosto de 2017

Mutilação genital feminina e a loucura suicida do multiculturalismo

Os advogados de defesa de dois médicos de Michigan, naturais da Índia e uma de suas esposas, que foram indiciados pelo júri em 22 de abril e acusados de mutilar os órgãos genitais de duas meninas de sete anos, pretendem apresentar o argumento de liberdade religiosa na representação de seus clientes muçulmanos.

Os réus são membros da Dawoodi Bohra, uma seita islâmica de sua terra natal. Na esfera federal, sendo este o primeiro caso desde que a mutilação genital feminina (FGM em inglês) foi proibida em 1996, a defesa afirma que a prática é um ritual religioso e, portanto, deve ser protegido pela lei dos Estados Unidos.

A petição revela involuntariamente as falsas alegações feitas por proeminentes muçulmanos – como o estudioso/apresentador de TV iraniano/americano Reza Aslan e a ativista palestina/americana Linda Sarsour, que insistem que a FGM não é “uma prática islâmica”.

A mutilação genital feminina, também conhecida como circuncisão feminina, é o corte ou a remoção do clitóris e/ou da lábia, como forma de eliminar o desejo e o prazer sexual de uma menina, garantir que ela seja virgem até o casamento e permanecer fiel ao seu marido. De acordo com a Organização Mundial da Saúde:
A FGM não traz benefícios à saúde, além de causar danos às meninas e mulheres de diversas maneiras. A prática significa remover e lesar o saudável e normal tecido genital feminino, interferindo com as funções naturais dos corpos das meninas e das mulheres. De modo geral os riscos aumentam quanto maior for a severidade do procedimento.

Os procedimentos são realizados, na maioria das vezes, em meninas que estão entre a infância e a adolescência, ocasionalmente em mulheres adultas. Estima-se que haja mais de 3 milhões de meninas em risco de sofrerem a FGM por ano. Mais de 200 milhões de meninas e mulheres vivas hoje foram mutiladas em 30 países da África, Oriente Médio e Ásia, onde se concentra a FGM.

O influxo de imigrantes e refugiados dessas regiões do planeta para países ocidentais teve como consequência um aumento dramático e perigoso da FGM na Europa, Grã-Bretanha e Estados Unidos. De acordo com as estatísticas do Serviço Nacional de Saúde, pelo menos uma menina a cada hora está sujeita a este procedimento agonizante somente no Reino Unido – e já faz quase 30 anos que a prática lá é ilegal.

Concomitantemente, um Relatório da Comissão Europeia revelou que cerca de 500 mil mulheres na Europa foram submetidas à FGM, muitas outras correm o risco de serem forçadas a se submeterem a ela. Na Alemanha, por exemplo, foi inaugurada uma clínica em 2013 para fornecer tratamento físico e psicológico às vítimas do procedimento, cerca de 50 mil mulheres passaram pelo procedimento, sendo cerca de 20 mil em Berlim. Chamado de Desert Flower Center, o empreendimento foi encabeçado e financiado pela supermodelo/atriz natural da Somália Waris Dirie, proeminente ativista anti-FGM.

Em 15 de maio, na esteira do caso dos médicos da FGM em Michigan, a Câmara dos Deputados de Minnesota e o Senado de Michigan aprovaram uma legislação que estenderá aos estados as leis federais anti-FGM existentes aos pais de meninas que foram sujeitas ao ritual. Afinal de contas, são as mães e os pais que forçam as filhas a se submeterem ao ritual – como no caso da autora somali, Ayaan Hirsi Ali, foi a sua avó.

Em uma entrevista concedida ao Evening Standard, do Reino Unido em 2013, Hirsi Ali – ex-muçulmana que renegou sua fé e se tornou uma crítica que não faz rodeios quando se trata do Islã e da Lei Islâmica (Sharia), principalmente quando afeta as mulheres – explicou porque tem sido tão difícil processar membros da família envolvidos na FGM:
“Passei por isso aos cinco anos de idade e 10 anos mais tarde, mesmo 20 anos mais tarde, eu não teria testemunhado contra meus pais”, ressaltou ela. “É uma questão psicológica. As pessoas que estão fazendo isso são pais, mães, avós, tias. Nenhuma menininha vai mandá-los para a prisão. Como viver com uma culpa dessas?”

O problema maior, no entanto – que deve ser abordado juntamente com a legislação – abrange o multiculturalismo ocidental que enlouqueceu. Tomemos por exemplo a decisão por parte da editora da coluna Ciência e Saúde, Celia Dugger do New York Times, em abril, de parar de usar o termo “mutilação genital feminina”, alegando que ele está “culturalmente carregado”.
“Há um abismo entre os defensores ocidentais (e alguns africanos) que fazem campanha contra a prática e as pessoas que seguem o rito, eu senti que o linguajar utilizado ampliou ainda mais esse abismo”, salientou ela.

A FGM não é um crime menos estarrecedor do que o estupro ou a escravidão, no entanto as autoproclamadas feministas no Ocidenteincluindo muçulmanas como Linda Sarsour e ativistas não muçulmanas se engajam em uma cruzada contra a “islamofobia” – silenciam quando se trata de práticas bárbaras ou negam sua conexão com o Islã. Será que elas também apoiam a escravidão, outra prática respaldada pelo Islã, ainda praticada hoje na Arábia Saudita, Líbia, Mauritânia e Sudão, bem como pelo Estado Islâmico e pelo Boko Haram?

É por isso que a legislação anti-FGM, por mais crucial que seja, é insuficiente. Chegou a hora de estar vigilante não só contra praticantes e pais, mas também para expor e desacreditar qualquer um que tente proteger essa brutalidade.

Khadija Khan é jornalista e comentarista paquistanesa, atualmente radicada na Alemanha.
Publicado no site do Gatestone Institute https://pt.gatestoneinstitute.org
Tradução: Joseph Skilnik